- Você não pode... - eu disse tentando engolir o choro. Justin desta vez me soltou devagar e me olhou.

- Você não quer ficar comigo, é isso Sophia? 

- Não - eu disse engolindo a seco - Claro que não, era o que eu mais queria.

- Como assim era o que eu mais queria? - Ele franziu o cenho, eu encarei seus olhos cor de mel, que suplicavam por uma resposta.

- Justin, eu vou para São Francisco... semana que vem.

- Como assim? - Ele irrigeceu - Passar as férias?! Então vamos - ele sorriu - vamos juntos pra lá comemorar nosso noivado e... - ele me dava selinhos mas eu o afastei .

- Não Justin, eu vou pra lá passar o resto da minha faculdade. Eu vou estudar em uma universidade interna de lá, nós não vamos nos ver mais. E não quero que vá atrás de mim, você tem sua vida pra seguir aqui. Você nunca pensou em abandonar essa cidade e não quero que mude seus planos, por favor me entenda. Vai ser melhor pra mim... e pra você também. Eu sei que vai.

Ao ouvir minhas palavras os olhos de Justin automaticamente se inundaram, duas lágrimas correram pelo rosto dele. Ele estava intacto, ele abaixou a cabeça em choque e eu engoli a seco.

- Me desculpa não ter dito isso antes pra você, eu fiquei sabendo a alguns dias atrás. Era esse o motivo no qual eu não queria aceitar que você me amava, eu te amo e agora vou ter que ficar longe de você, eu não vou poder fazer nossa história, não vou poder curtir, não vou poder te amar.
Eu acariciei a cabeça de Justin que nem sequer olhou pra mim, meu coração estava em pedaços . Eu via as lágrimas despencarem do rosto dele, eu queria desabar em choro mas eu precisava ser forte.

- Eu vou descer - eu disse quando soube que nada eu poderia fazer - Não demora, eles não podem desconfiar de que estivemos aqui. - eu beijei seu rosto e Justin parecia estar sozinho no quarto, como se ninguém falasse com ele. 

Eu peguei minha faixa e envolvi no meu corpo com dificuldade, coloquei meu vestido, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo já que não dava para ajeitá-lo e saí da janela e pulei pra árvore. Justin me olhou pela ultima vez, eu engoli a seco e abaixei meu olhar dando atenção a cada passo que eu dava na árvore pra não ter de cair.

Quando cheguei na sala eu tentei mostrar meu rosto o mais sereno possível, faltava cinco minutos pra meia noite. Mas não sei se consegui disfarçar, todos me olharam de forma estranha e a patricinha se referiu a mim com um olhar horrível: 

- Cadê o Justin? 

- O noivo é seu, você quem deveria saber - eu disse sentando ao lado da minha mãe e prendendo o choro. Pathy ficou me olhando por um tempo mas desviou o olhar quando Dr. Jeremy decidiu subir pra procurar o filho, ela disse que ia ao banheiro e eu fiquei com meus pais e a Pattie na sala. 

Eu abaixei o rosto no ombro da minha mãe sem mais controlar as lágrimas e desabei em um choro profundo e de soluços. A senhora Pattie pensou em interferir mas hesitou quando viu o meu estado. Justin só desceu a 00:05, junto com o pai. Ele estava com a cara fechada, nem se quer olhou pra mim, foi seguindo direto para um cômodo da casa onde a senhora Pattie nos chamou para acompanhá-la.

Eu já não chorava tanto, mas ainda sentia o nó preso em minha garganta. A Pathy chegou alguns minutos depois e abraçou o Justin, seu olhar se fez um ponto de interrogação quando viu o rosto sério dele. 

- Bebê, o que está havendo? 

- Nada... - ele disse tirando os braços dela de envolta dele.

- Bom, vamos fazer a oração da meia noite de natal não é? - disse a senhora Pattie querendo abafar a situação.

Fechamos os olhos e oramos, isso só fez com que todos os momentos meus e do Justin juntos viessem como flashback em minha mente e senti mais lágrimas rolando sobre meus olhos. Era pra ser uma noite feliz mas eu só conseguia chorar e quando terminamos a oração eu fitei Justin que passava as mãos no rosto como se quisesse esconder suas lágrimas.

- Acho que... - ele disse com uma voz rouca provando o fato que ele havia chorado - Acho que eu tenho um pedido a fazer esta noite aqui, como eu prometi. - ele pigarreou e os olhos da Pathy reluziram.

- Bom... - ele me olhou, seus olhos pediam para que eu ficasse com ele, mas eu não podia, eu não podia. - Eu gostaria de... - ele dizia entre pausas tirando a caixinha de aliança do bolso, ele não tinha coragem de continuar. Meus olhos transbordaram de lágrimas, eu não podia presenciar aquela cena também.

- Eu queria pedir a Pathy em noivado - ele cuspiu as palavras - você aceita? - ele a olhou e ela sorriu com um sorriso tão largo que chegou a alcançar as orelhas.

- SIM SIM, EU ACEITO! AAAAAH - ela pulou no colo de Justin, ele a tirou devagar do colo e desta vez eu vi as lágrimas caindo do rosto dele. Ele saiu daquela sala com as lágrimas desenhando no seu rosto uma cicatriz que doeria pra sempre em nós dois.

[...]

O dia seguinte foi um dos mais difíceis da minha vida, foi pior do que lutar contra piratas, do que lembrar de meu corpo queimando na fogueira, do que lembrar da morte de Elize. Eu não conseguia comer, nem dormir, muito menos conversar. Taluca já tinha desistido de me fazer me sentir bem e agora ela treinava seu arco e flecha em um quadro meu de quando era pequena.

Nesta mesma tarde, Ryan - o amigo do Justin - foi lá em casa convidar Taluca pra sair e era a minha oportunidade de perguntar sobre Justin a ele: 

- Como ele está? - Perguntei enquanto taluca não vinha.

- Eu não sei dele Sophia... - ele disse - Ele não sai mais pra festas, não me liga mais pra sair, e sempre que vou na casa dele a mãe dele dá uma desculpa que ele está indisposto. Eu nunca vi o Justin assim.

Aquilo só serviu pra me deixar ainda pior. A semana se passou arrastando-se só prolongando a minha dor, mas finalmente chegou o dia da minha viagem. Todas as lembranças de Justin naquele lugar iriam se afastar, eu iria embora, viver minha vida sem dar trabalho a ele, sem fazer ele sofrer mais. Antes de sair de casa minha mãe segurou meu braço e acariciou meu rosto: 

- Você pode desistir minha filha, você sabe que amor não encontramos mais de uma vez na vida. Essa pode ser sua única chance de ser feliz com um alguém que você realmente ame e que gosta de você de verdade.

- Mãe, mas essa também pode ser minha única chance de estar em uma faculdade como aquela. Eu não quero mais tocar nesse assunto, está decidido, eu vou. Justin já está noivo e não há mais nada que eu possa fazer.

- Se você disser a ele que fica, tenho certeza que ele abre mão de tudo pra ficar com você. Mas olhe pra dentro de si... você abriria mão de tudo pra ficar com ele? - seus olhos fixaram nos meus de modo que me fez arrepiar e lá de fora meu pai me chamou: 

- Anda filha, vamos! Você vai se atrasar pro vôo.

Eu engoli a seco e passei pela minha mãe levando as malas que eu carregava, coloquei no carro e me sentei no banco de trás onde taluca já estava. Eu olhei cada canto daquele lugar ali como se eu pudesse fotografá-los com minha mente, eu tão cedo não veria tudo aquilo de novo e isso me lembrava o Justin também, eu não o veria tão cedo.