Acordei no dia seguinte ainda nos braços de Justin, ele ainda dormia quando acordei. Reparei que minha respiração agora estava bem mais calma e isso fez com que eu me sentisse melhor. Olhei pro Justin, ele estava deitado, sua expressão parecia cansada, ele deveria ter tido muito trabalho comigo no dia anterior.

Eu levantei devagarinho de cima dele para que ele não acordasse, me vesti e procurei por água, o cantil já estava vazio, então resolvi ir na cachoeira pegar mais um pouco. Eu me sentia um pouco incompleta, um pouco sem forças, mas não queria dar trabalho ao Justin, devo ter assustado ele demais na noite passada.

Entrei no meio do mato e fui andando sem pressa, meu corpo parecia pesar e eu não tinha forças para sustentá-lo até que me lembro de ter fechado os olhos e ter caído no chão e depois disso mais nada.

Quando abri meus olhos com dificuldade eu não reconheci o lugar que eu estava, meus cílios estavam grudados um ao outro. Fiz força e consegui olhar a minha volta, eu estava em um lugar escuro, como uma toca , e apenas um buraco no meio das palhas mostrando a luz do dia.

Eu forcei minha vista e olhei mais uma vez ao meu redor. Havia muitas redes e lá no final duas mulheres, elas estavam quase apagadas junto com a escuridão, eu fui tentar esfregar meus olhos mas não consegui, percebi que eu estava amarrada.

– O que está acontecendo?! - eu me debati.

Só aí eu percebi que eu estava em uma espécie de mesa e uma corda ma amarrava a ela, eu não podia me movimentar mais do que a cabeça. Isso chamou a atenção das mulheres e elas vieram até a mim, deram um sorriso com dentes estragados o que me fez fazer careta. Não só isso, além do mais elas estavam nuas.

Tinham mais ou menos uns 40 anos as duas, embora aparentavam ter muito mais. Tinham uma franja reta na testa e cabelos negros longos e lisos, suas peles eram pardas, seus olhos pretos e pintados com uma faixa vermelha, a bochecha das duas eram pipocadas com pintas que mais pareciam ser tintas formando o mesmo símbolo.

Elas tinham peitos caídos e horrorosos pra dizer a verdade, olhei meu corpo e graças a Deus eu estava ainda com a minha velha companheira: A camisola.

– Onde eu estou? - Perguntei meia tonta - Porque estão me prendendo?!

Não vou dizer o que elas falaram porque na verdade eu não entendi nada, era algo como ''SHANGFBSNDHUSGR'' e eu provavelmente não sabia o que significava. Deitei minha cabeça na mesa onde eu estava deitada e suspirei. Uma senhora com aparência bem pior e cansada entrou na tenda e sorriu agradavelmente pra mim.

– SHANGFBSNDHUSGR HSJGUAGSHGHERT? - só entendi o tom da pergunta, eu olhei assustada pra ela, mas antes que eu podesse responder qualquer coisa ela enfiou um líquido pela minha boca que estava em um copo ao meu lado, e que me fez tossir por longos minutos, depois ela me disse mais alguma coisa e saiu da toca junto com as duas mulheres de peito caído.

Quando elas se viraram vi que a velha senhora estava pelada também, você não sabe como é desanimador ver uma bunda flácida como aquela. Vi o dia escurecer alí, deitada e amarrada naquela mesa sem receber nenhuma visita.

Cantei todos os tipos de músicas que me vieram na cabeça: pagode, forró, samba, até Roberto Carlos se querem saber. As vezes eu cansava e dava um grito pra ver se alguém vinha ver como eu estava, mas ninguém aparecia, pareciam que tinham sido abduzidos ou algo do tipo, e aí eu voltava a cantar.

[...]

A noite caiu e eu estava me sentindo mais forte agora, acho que o líquido que a velha tinha me dado estava me ajudando bastante. A mesma mulher de quarenta anos de hoje mais cedo, entrou na tenda e me desamarrou cantarolando uma música que eu tinha cantado em meu repertório anterior, mas claro que não com as mesmas letras que eu.

Eu segurei nos braços da índia e olhei em seus olhos.

– ME DIGA O SEU NOME - falei bem devagarinho.

– Nome... - ela repetiu meia lerda.

– Isso. - falei devagarinho.

– Inakura - ela respondeu se soltando dos meus braços, depois voltou a cantarolar e me trouxe uma toalha.

Sem dizer nada ela me puxou pelo braço e me levou pra trás da tenda onde tinha um chuveiro, me jogou a toalha e eu não precisava falar a língua deles pra saber que era pra eu tomar um banho.

Fiquei muito feliz de poder me sentir novamente debaixo do chuveiro, e me sentia ainda mais tranqüila por saber que nenhum índio estava vendo as minhas partes íntimas, porque ao redor do chuveiro tinha um círculo de madeira me protegendo.

Tomei um banho bem demorado e vesti minha camisola, uma índia morena e nova me emprestou sua escova e eu penteei meus cabelos me sentindo cheirosa de novo e um pouco mais leve.

– Você fala a minha língua? - Tentei uma conversa com ela.

– I speak English - ela falou se sentando ao meu lado - You speak too? - Ela perguntou se eu também falava e eu dei um sorriso torto, afinal eu sabia um pouco de inglês.

– A little bit - eu entreguei a escova pra ela e ela me estendeu um pouco de perfume e eu passei - What they will do with me? - Perguntei querendo saber o que eles iam fazer comigo.

– They will prepare you to eat - ela disse olhando pro nada. Eu não sei se eu tinha entendido bem, mas de acordo com meu inglês ela disse que eles estavam me preparando para virar comida deles.

– Eu não acredito... - eu sussurrei comigo e a menina me olhou com o olhar perdido, ela não tinha entendido o que eu tinha dito.

– Sorry, but you.. you will eat me?

– I don't like humans - ela falou com cara de nojo dizendo que não gostava de humanos - I am different from everyone here, I just like animals. - Ela me disse que só comia animais, e isso me deixou um pouco mais aliviada, mas sabia que lá fora estava uma tribo toda a minha espera.

– I would like help you...

– But you can't - eu disse abaixando o olhar, sabia que ela não poderia me ajudar como ela tinha dito.

– Only if i had help of someone - ela disse que poderia me ajudar se tivesse alguém que pudesse ajudá-la e imediatamente lembrei do Justin, meus olhos se iluminaram.

– But you have. There are a boy in the Beach and he is my friend, i know he will help you with me. (tradução: Mas você tem. Há um garoto na praia e ele é meu amigo, eu sei que ele irá ajudá-la comigo.)

Depois de um tempo de conversa com ela, descobri que seu nome era Taluca, que ela tinha 15 anos e que me ajudaria amanhã a noite quando eu fosse fritada por índios e imediatamente disse que amanhã ao amanhecer procuraria o Justin.

Diferente de todos alí, Taluca usava uma saia minúscula - pelo menos não estava pelada - e um top. Seu cabelo estava amarrado em uma trança de lado e seus olhos pintados de vermelho como das outras.

Seu rosto ainda não tinha as pintinhas vermelhas, e eu perguntei a ela o que aquilo significava, ela disse que era o símbolo do canibalismo e eu arrepiei.

Ela disse que ao completar 16 anos ela teria que ficar presa em uma cabana escura por um ano sem sair, pra passar da adolecência a fase mais responsável, teria que cortar os cabelos, talhar o rosto, e diversas outras maldades que me fizeram arrepiar. Ela dizia "eu não quero isso pra mim" e eu a entendia perfeitamente, ninguém normal iria querer.

Enquanto a noite passava e eu estava sem sono, eu ensinava a Taluca falar português, era uma coisa bem trabalhosa mas não tinha nada mais interessante pra fazer.Taluca bocejou e eu entendi que ela queria ir dormir, então deixei que ela fosse me despedindo com um:

– Boa noite - ela sorriu de lado e com sotaque de quem acabou de aprender disse - Tenha bons sonhos.

Acho que essa foi a única frase completa que ela conseguiu formular, e era quase uma ironia. Como eu poderia ter uma boa noite sabendo que eu iria queimar em uma fogueira como Joana Dark?!

Ela se perdeu na escuridão e eu fiquei sentada alí na mesa. Dois índios fizeram a segurança da minha toca para que eu não fugisse, mas eu não era nem louca de fazer isso.

Me deitei sobre a mesa e fiquei olhando o céu estrelado ouvindo os grilos cantarem uma música que parecia sentimental e isso me fez lembrar que amanhã Taluca ia sair a procura de Justin. Senti um pouco de ciúmes invadir todo meu corpo.

– ahr, vocês são só amigos pra sexo - eu tentei me convencer, mas mesmo assim continuei pensando. Taluca era uma morena bonita, de corpo escultural, magrinha e tinha a pele da cor do pecado, olhos pretos, uma mini saia, um top e seios fartos pra sua idade. E Justin era só um garoto isolado querendo se satisfazer, e isso me ocasionava muitos problemas.