Eu passei o dedo sobre seus lábios que se flexionaram e ele fechou os olhos, perguntei baixo:

– Porque está me beijando?

– Não gosta? - ele beijou meu dedo.

– É estranho... - eu mordi meus lábios e os braços de Justin se afastaram de minha cintura.

– Estranho porque? - seus olhos pareciam perdidos.

– Você nunca sentiu interesse por mim - eu disse subindo novamente na pedra, meu vestido pesou desta vez por causa da quantidade de água, eu torci a borda dele enquanto Justin me olhava.

– Ainda não sinto.. - Ele disse por fim o que fez meu coração gelar, eu parei de torcer o vestido e olhei pra ele quase fuzilando-o com o olhar, uma vontade doida de enforcá-lo me subiu, mas eu tinha que mudar minha expressão. Justin não podia perceber que eu não gostei do que ele disse.

– Nós estamos presos a muito tempo juntos... - ele explicou - Você sabe que eu não consigo ficar sem uma garota, tô longe da Pathy minha namorada, e de todas as meninas da cidade, e você está presa aqui comigo!

– Ah, então você tá me usando? - Eu perguntei, soltando o vestido amarrotado de tanto que torci.

– Pensei que você estava levando pro mesmo lado - ele se afastou um pouco da pedra - Ou você está... - ele me olhou com olhos que claramente diziam "Por favor, não diga que está gostando de mim, sério".

– CLARO QUE NÃO! - eu disse falando automaticamente, a raiva estava falando no meu lugar. Eu não estava acreditando que o Justin estava me dizendo aquilo, eu não podia acreditar - Nunca iria me apaixonar por você... - eu abaixei o tom de voz e dei um sorrisinho forçado e trêmulo de lado, eu não sabia se tinha enganado a ele muito bem.

– Que bom - ele disse mechendo na água - Eu não quero que pense que está rolando alguma coisa entre a gente, eu tô cheio de desejos, sabe?! Coisas de homem...

Eu balancei os ombros e mexi em meu cabelo agora sentindo um pouco de vergonha da minha aparência. Eu deveria estar horrível e Justin já não se interessava por mim e do jeito que eu estava, nem tinha como.

– Eu também tenho lá meus desejos... - eu menti - Tinha que satisfazê-los com alguém.

– Sério?! - Justin sorriu de lado - Então tem mais coisas que deseja, certo?

– Justin... - eu pigarreei levantando da pedra sabendo muito bem onde aquele assunto ia chegar - Eu vou voltar pra nossa cabana.

– Ok - ele disse nadando de costas e me olhando - Vai lá! - ele piscou.

Eu dei as costas e subi o barranco que levava de volta pra cima da floresta, com lágrimas nos olhos. No caminho eu gritava de raiva, esfaqueava qualquer planta que estivesse na minha frente me torturando por pensamentos: "Como você pôde criar esperanças, Sophia? Como?!".

Cheguei em uma parte da praia onde não estava nossa barraca, eu não tinha marcado o caminho, então teria que percorrer a ilha toda pra achar a barraca, mas eu não me importava, eu precisava pensar. Enquanto eu andava pela areia eu deixava as lágrimas caírem, seria em vão prendê-las dentro dos meus olhos. Eu as secava sempre, nenhum garoto merecia minhas lágrimas, muito menos o Justin.

Olhei minha camisola úmida e vi o quanto estava transparente meus seios naquela camisola branca e molhada, suspirei pensando em quantas vezes Justin me desejou apenas para satisfazer suas vontades, depois de tanto tempo que estava sem ninguém.

Quando cheguei na cabana eu despenquei, meus olhos já não queriam mais despejar lágrimas e eu fiquei olhando o mar por um longo tempo em silêncio. Deixei as ondas com um ritimo gostoso me levarem pra cidade onde eu morava.Talvez se eu não fosse buscar os raios das correspondências eu não teria que estar passando por tudo isso agora.

Pela primeira vez eu pensei em como estariam meus pais agora com meu sumiço, como eles deveriam estar preocupados comigo.

Fui sugada novamente pra realidade quando meu estômago roncou, procurei ao redor qualquer coisa que eu pudesse comer mas não encontrei nada e xinguei baixinho. Deitei então meu corpo na areia e fechei os olhos, eu não podia fazer muito movimento enquanto eu estivesse com fome se não eu passaria mal, mas pela minha sorte, Justin chegou alguns minutos depois com a camisa cheia de frutas - ele a fez como uma cesta.

– Encontrei várias frutas.. - ele disse deixando a camisa no chão, peguei uma maçã e comecei a comer, fechei meus olhos e lembrei da última vez que eu comi uma maçã, foi antes de eu e Justin ficarmos presos.

Ele também não disse nada, sentou ao meu lado e eu só ouvia o barulho das ondas e o som suave da respiração dele.

– É um tédio ficar presa aqui não é? - Ele quebrou o silêncio.

– Ainda mais com você... - Falei de mal humor e ele sorriu pequeno de lado levantando-se.

– Sabe dar cambalhota?

– Não sou macaco - respondi revirando os olhos e ele riu.

Justin correu na areia e começou a dar vários mortais e cambalhotas. Eu fiquei observando ele e comecei a pensar que Justin não tinha culpa de não me querer. Eu não era tão bonita, eu não era simpática, não tinha nada de atraente e eu não poderia forçá-lo a me amar, então o que me cabia era aceitá-lo como amigo e meu ''peguete'' pra matar meus desejos por enquanto.

Comi uma laranja e mais quatro acerolas e depois corri até onde Justin estava, e ele ainda brincava sozinho.

– Quero aprender - eu disse.

– Mesmo? - Ele riu meio tonto, depois me puxou pela mão e começou a me ensinar a dar cambalhotas, confesso que fiquei bastante enjoada, mas eu era forte pra ele, não era?! E isso não podia mudar.

Ficamos horas e horas aprendendo a dar cambalhotas, eu estava cheia de areia por todo o corpo o que fez Justin rir.

Nessa brincadeira toda quando dei por mim já estávamos no mar jogando água um no outro, rindo muito e completamente felizes.

Voltamos pra areia exaustos, eu ainda ria e sentia cada músculo do meu corpo arder, eu estava muito cansada. Mais cansada do que a maioria das pessoas ficariam. Mas eu estava acostumada com a minha doença, eu sentei e dei um longo suspiro com dificuldade pra pegar o ar.

– Muito cansada? - Ele perguntou sentando ao meu lado

– Não... - eu sorri de lado - pronta pra mais algumas brincadeirinhas.

Acho que isso soou como maliciosidade pro Justin, que me olhou com os olhos sérios e seus lábios se contorceram em um sorriso malicioso.