Eu não queria explicar a ele o que o pirata Oscaliz queria de mim, eu falei o sentido de comer na maldade, mas acho que Justin não entendeu, na verdade ele não sabia de nada. Então não me dei ao trabalho de explicar a ele o que eu quis dizer naquela frase e continuei a esfregar o chão.

Não tínhamos lavado nem a metade do barco ainda quando apareceram as centenas de piratas, acho que estavam tomando seu café da manhã. Nos levantamos e lá de cima Oscaliz nos ordenou a voltar ao trabalho mesmo com todos aqueles piratas ali.

Ficamos um bom tempo ali lavando, meu estômago estava implorando por comida. Acho que eu não estava disfarçando isso muito bem, o meu mal humor era a prova viva disso. Justin conseguia se segurar muito bem, não sabia dizer se ele estava com tanta fome como eu.

– Justin, eu... - eu sentei no chão do navio, Justin parou de esfregar e me olhou.

– Você está pálida Sophia, o que está havendo?!

– Eu estou tonta.. - eu disse com a cabeça rodando.

– ALGUÉM, ALGUÉM! - eu ouvia a voz de Justin gritar bem no fundo do meu consciente - ELA ESTÁ PASSANDO MAL!

Muitos piratas se amontoaram atrás da gente, mas nenhum moveu um músculo sequer pra me ajudar.

– Isso é farça deles - disse um dos piratas.

– Eu vou te mostrar a farça.. - disse Justin entre os dentes com um tom ameaçador. Eu estava nos braços dele, e a essa hora eu sentia meu nariz entupir, e eu estava prestes a ter mais um ataque respiratório.

Alguém abriu espaço entre os piratas e eu sabia que era Oscaliz, ele afastou Justin com um empurrão e me pegou no colo e sumiu comigo no meio dos piratas, só ouvi um deles dizer ao Justin:

– Continue seu serviço!

Eu não queria deixar ele lá sozinho limpando todo aquele barco, mas se eu não comesse nada eu iria morrer de fome e de mal humor. Oscaliz me deixou em um lado do barco que eu não faço noção de como chegou ali, ele me colocou em uma mesa farta de comida:

– Coma.. - Ele ordenou e claro que eu não deixei que ele pedisse duas vezes. Comi tudo o que eu tinha direito, e até o que eu não tinha também.

Oscaliz ficou ali me vendo comer, até que um de seus piratas o chamou para alguma coisa que eu não entendi, alguns piratas falavam outras línguas - assim como os que eu lutei com o Justin no barco - Oscaliz me deu uma última olhada e saiu dali me deixando a sós com a comida.

Coloquei algumas frutas dentro da roupa para depois dar ao Justin, e enquanto eu fazia essa fassanha, a menina que ontem me levou comida passou por ali com uma cesta de frutas que me parecia fresca.

– Ei - eu a chamei, ela parecia não ter me notado antes. A menina me olhou e parou, não sorriu e não fez nada a não ser me olhar, parecia que nunca tinha me visto antes ou que não estava nem um pouco afim de me dar papo. – Tudo bem com você? - Perguntei levantando da mesa.

– Sim - ela assentiu com a cabeça e continuou a me olhar como se pensasse ''pode dizer o que você quer porque tenho trabalho a fazer''.

– Sabe, eu não entendi o que você quis dizer ontem.. - eu a olhei e ela abaixou o olhar, seu cabelo estava úmido, parecia que tinha acabado de tomar um banho. Ela usava uma bandana na cabeça da cor vinho.

– Você pode me contar o que aconteceu com você? - desta vez eu falei com mais carinho na voz , eu tinha de saber o porque aquela mulher estava tão maltratada.

– Você é a única mulher daqui?

– Tirando a senhorita - ela colocou a cesta de frutas na mesa e se sentou secando as mãos no avental, acho que ela estava se preparando pra me contar uma longa história. Eu me sentei na frente dela com o olhar curioso.

– Só irei te contar porque sei que a senhorita é muito bonita pra sofrer tudo o que eu sofri.

– Me conte então..

– Oscaliz vai fazer com você tudo o que fez comigo. Ele me achou perdida no mar, assim como você e o rapaz bonito que está no porão - ela mordeu o lábio como se voltasse no tempo - Mas é uma longa história como lá eu fui parar. Eu era bonita - um sorriso espandiu-se pelo rosto dela, um sorriso de ternura, um sorriso de como se ela sentisse saudades daquele tempo. – E Oscaliz era muito bonito e foi muito agradável comigo. Eu não era igual a você - sua postura irrijeceu-se novamente - Eu não era rebelde, eu era apenas uma menina meiga e vi que ele era diferente de todos os piratas, além de ser lindo.. ele era gentil. Ele cuidou de mim, ele me deu comida, me protegeu, nem deixou com que eu trabalhasse no navio e eu.. bom, eu.. enfim.. - Ela não disse o que iria dizer, mas eu sabia que ela iria dizer ''eu me apaixonei por Oscaliz'' mas deixei que ela prosseguisse - Aí ele me usou, fizemos noites e noites de amor, ele parecia tão apaixonado por mim assim como eu por ele.. - os olhos dela brilharam e marejaram ao mesmo tempo - Mas houve um dia em que ele se levantou e começou a me tratar mal, me desprezar e no mesmo dia mais tarde mandou que eu trabalhasse na cozinha, fizesse comida para todos os marinheiros - sua voz soou com amargura - e alguns dias depois me levou pro meio do barco e me entregou para todos aqueles piratas nojentos, para que se satisfazessem. Ele não me queria mais.

– O QUE ?! - Eu falei assustada, mas logo abaixei o tom de voz - Ele fez isso com você? - Eu me inclinei pra frente - Você ... Você - eu não sabia que palavras usar, mas ela assentiu e uma lágrima rolou no canto do rosto dela.

– Cada dia com um diferente.. - ela suspirou e secou a lágrima sofrida - Até hoje.

– E você nunca tentou fugir? - Eu perguntei indignada.

– Fugir pra onde? - Ela pareceu frustrada - Me tacar no mar e virar comida de peixe?!

– Eu com certeza preferia ser comida de peixe - eu assenti com firmeza. Ela abaixou o olhar como se ainda me escondesse alguma coisa, eu segurei a sua mão e acariciei devagar.

– Não importa se não fugiu.. - eu balancei os ombros - Você está sendo corajosa de me contar tudo isso. Muito obrigada mesmo.

– Não deixe que o charme dele te seduza assim como ele fez comigo moça, faça isso por mim.

– Ela não irá fazer mais nada por você! - Disse Oscaliz abrindo a porta da cozinha com força, a menina que mais parecia uma camponesa levantou assustada derrubando a cesta de frutas, olhei Oscaliz como se não soubesse o que ele iria fazer, mas a menina parecia saber.

– Você faria algo pros mortos, querida flor? - Ele perguntou me olhando.

– O que quer dizer com isso? - Eu perguntei meia perdida, a menina se ajoelhou no chão chorando.

– Tenha piedade Pirata Oscaliz, tenha piedade de mim.

– HOMENS ! - Ele ordenou, e logo em seguida três piratas entraram - aqueles eu conhecia, eram os mesmos que sempre me acompanhavam pra qualquer lugar - Preparem a ceia para os peixes.

– Por favor não - a menina chorava desesperadamente com o rosto escondido entre as mãos, os piratas andaram até ela mas eu me pus a frente dela.

– Vocês não vão fazer nada com ela!

– Ah, se você quiser você pode ir com ela. - Disse Oscaliz passando a mão no cabelo cheio de vaidade.

– Vai lá, me taca então junto com ela.. - Eu disse enchendo os pulmões de coragem.

– Saia daqui ! - a menina me empurrou com uma força surpreendente e caí contra a parede, eu a olhei sem entender e ela me reprovou com o olhar. Eu sabia que ela queria que eu lutasse e fizesse vingança contra Oscaliz.

Os piratas a pegaram e Oscaliz me segurou pelo braço me levantando do chão e me levando pra fora da cozinha me pondo de volta no chão ao lado de Justin no barco.

– Mais tarde você estarão convidados a assistirem a execução de Elize, ok queridinhos?

Eu olhei com desprezo pra Oscaliz mas ele pareceu não se importar e saiu, olhei pra Justin que tinha o olhar confuso. Seus olhos estavam cansados também e eu lembrei das frutas que eu tinha trago pra ele.

– Aqui - Eu retirei de dentro da minha camisola um punhado de uvas e uma maçã, achei também um pedaço de pão e dei a ele. Justin comeu tudo sem reclamar e deitou no chão do navio.

– Eu não agüento mais.. - ele reclamou - E o que aquele pirata estava falando sobre execução?

– Daquela menina que me serviu comida ontem - eu falei olhando o mar sentada no barco - Eles vão tacar ela no mar na hora do almoço.

– Meu Deus! - Justin pareceu apavorado - Mas porque?

– Porque ela me contou algo que não deveria, ela foi corajosa, ela sabia que isso ia acontecer com ela. Mas eu não vou deixar isso assim - eu disse olhando pra ele - Eu vou ajudá-la, ou melhor, nós vamos!

– São centenas de piratas, como você quer fazer isso?

– Acho que eu já sei mais ou menos o que fazer..

Contei meu plano pro Justin e ele entendeu tudo, omiti algumas partes de como eu faria pra adiar a execução de Elize mas ele não se importou.

Imediatamente me levantei dali e corri pro quarto no último andar do navio que era o quarto de Oscaliz.

Ele estava deitado na cama e quando viu que a porta se abriu, pulou com um salto erguindo sua espada. Quando seus olhos me indentificaram ele abaixou a espada e me encarou.

– Tenho uma proposta - eu disse fechando a porta, Oscaliz colocou novamente a espada na lateral do seu corpo e andou com passos lentos até a mim, ele me rodiou como se quisesse ver o que tinha de errado comigo e eu senti meu coração saltitar.

– Conte-me.. - ele disse por fim.

– Quero que você adie a execução de Elize.

– Por que eu faria isso? - Ele levantou uma sombrancelha.

– Porque não é justo você jogar a menina assim tão cedo no mar - eu inventei uma desculpa na hora - Acho que ela tem que se acalmar, pensar no que vai acontecer com ela, pensar no erro dela.

– E porque eu faria isso? - Ele perguntou pela segunda vez - E o que eu ganharia em troca?

– Primeiro promete que vai adiar a execução de Elize, eu tenho palavra e eu sei que a recompensa pra você vai ser boa.

– Tipo.. - ele se sentou na cama esperando que eu dissesse algo, um frio na espinha me fez arrepiar, mas eu precisava agir. Eu coloquei a mão no laço da minha camisola e desfiz o laço fazendo a gola cair um pouco, os olhos de Oscaliz brilharam, eu ainda os olhava fixamente.

– Promete que irá adiar a execução. - eu o indaguei - Por um tempo..

Oscaliz estava meio obcecado pela oferta que eu o ofereci e então assentiu rapidamente me pegando pela mão e puxando pra ele. Com um puxar apenas, a camisola deslizou no meu corpo todo como se fosse de seda e eu fechei meus olhos com força. Eu não estava acreditando que estava fazendo isso, eu não conseguia acreditar.