Crônicas de Forks II - Emocional escrita por Débora Falcão


Capítulo 8
Deslumbramento




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Era a primeira vez que tínhamos a chance de impedir uma interferência antes que ela acontecesse. Os livros de Crepúsculo estavam intactos, visto que a saída de Jasper se deu após Amanhecer, aliás, bem depois, e só o meu diário seria alterado. Mas começar toda aquela caçada por um vampiro novamente, só para consertar tudo, já estava me dando nos nervos. Por isso eu queria tanto resolver tudo antes das coisas piorarem.

Durante o dia inteiro ficamos escondidos. Apenas Miss Poppins estava lá, atendendo os clientes, como sempre. Percebi que ela estava muito atarefada com minha ausência e precisava de uma outra pessoa para me substituir.

O dia passou sem problemas, e Jasper não apareceu. Alice ficava no canto, o tempo inteiro com os olhos no futuro.

"Estamos atrapalhando tudo" ela falou.

"Como assim?" perguntei. Eu ainda não havia captado a essência do que estava acontecendo.

"Jasper acabou de circular a livraria. Ele percebeu que estamos aqui e não vai entrar. Mas sua decisão de entrar no livro está de pé. Ele só ainda não sabe como fazê-lo, mas ainda posso vê-lo desaparecer."

"Não pensamos nisso" falou Esme. "E agora que ele já sabe que estamos aqui, por que não paramos de nos esconder? É noite, não temos que nos preocupar com o sol e com os clientes."

"Ok," eu falei. "Vamos nos misturar e aguardar que Jasper apareça."

Descemos e ficamos no café da livraria. Miss Poppins estava se servindo de um chá com bolinhos, quando Jasper entrou, magnificamente em todo seu esplendor.

E eu não senti nada do que havia sentido anteriormente. Ele olhou para mim, meus olhos curiosos direcionados a ele.

"Me desculpe por tudo. Era necessário."

Olhei para seu pescoço. O camafeu não estava lá, e em nenhum lugar à vista. Observei-o olhar para todos, acredito que testando suas emoções. Seu olhar pausou em Alice. E eles ficaram quietos, com sua comunicação íntima e silenciosa.

"Preciso ir." ele falou, finalmente.

"Não vá" disse Alice. "Você vai alterar tudo. As coisas vão ficar feias."

"Pense, Alice, como seria. Eu não teria passado pelos horrores da guerra no sul, não seria um vampiro, não teria destruído tantas e tantas vidas. Mais ainda: não colocaria a vida de outros em risco por causa da minha dificuldade de manter a dieta vegetariana. Eu simplesmente não seria atraído pelo frenesi, pelo sangue. Isso não me afetaria."

"E nós?" ela perguntou.

"Nossos destinos estão ligados. Você mais do que ninguém sabe disso. Você me encontrará, do mesmo jeito, imortal como serei, forte como serei, no mesmo lugar, naquele bar, há sessenta anos. E viremos juntos novamente, encontrar os Cullen, e faremos parte dessa família."

Ela parecia titubear.

"Alice, Jasper não pode fazer isto." eu falei. Mas ela não prestava a atenção em mim, ou simplesmente me ignorou. Ela só estava focada em Jasper e sua nova história. Eu senti. Ele estava influenciando-a com seu dom, fazendo-a sentir-se confiante, confiando nele, sentindo-se segura a continuar.

"Vamos, Alice, vamos meu amor, comigo. Você vai me ajudar em tudo."

"Não podem!" Eu falei, mas ninguém me deu atenção. Todos eles estavam tentados a ajudá-lo. Eu não sabia, mas Jasper tinha uma arma poderosíssima. Tanto podia desestabilizar o emocional das pessoas, como fazer com que elas fizessem o que ele quisesse. Bastava que as deixasse sentir o que precisavam sentir para obedecê-lo. Era fácil para ele. E ele andara praticando bastante ultimamente.

Foi com horror quando o vi correr, praticamente um borrão em minha frente, de mãos dadas com Alice, subindo as escadas em direção à estante mencionada por Alice. Ela estava totalmente envolvida.

Levá-la era um plano interessante para ele, pois ela o ajudaria dentro do livro, e ainda mais, não nos ajudaria, o que nos deixaria no escuro.

Os vampiros os seguiram, mas, como eles estavam sob influência de Jasper, não fizeram sua parte. Ficaram lá, quietos, assistindo quando Jasper tomou a mão de Alice, e ergue o guarda-chuva de Mary Poppins, que eu nem tinha percebido que ele tinha roubado de suas mãos. Ela não tinha nenhuma chance contra ele, também praticamente hipnotizada pelo extase que ele fez a todos sentirem com a aparição de sua beleza. Exceto eu.

"Jasper!" Eu chamei. "Uma coisa, uma mínima coisa que você mudar, já será o suficiente para tudo dar errado!"

"Você está sendo pessimista. Não entende."

"Não Jasper. Preste atenção! Uma coisa que se tira do lugar. Uma pessoa que te vê sem querer. Qualquer coisa. Isso pode mudar drasticamente a história, evitar que alguma coisa aconteça que será crucial lá na frente para o acontecimento do enredo. A história está da forma que está porque é assim que deve ser. Mesmo você sendo um vampiro, tendo sofrido, é assim que tem que ser, é importante que seja assim. Se você mudar isso..."

"Eu serei mais feliz" diz ele. E, sem esperar por nada, gira o guarda-chuva, que cai no chão junto com o livro após o desaparecimento dele com Alice. No mesmo instante, o deslumbramento provocado por ele em todos os presentes se acaba. Eles piscam e percebem que Jasper se foi. E Alice também.

Não demora um único segundo. Ele está de volta com Alice e algumas garrafas de elixir.

"O que você fez..." eu começo, mas Jasper nos invade com sua névoa de sentimentos. Desta vez, eu sou incluída no pacote, ele não quer me ouvir. A única coisa que consigo fazer é ficar parada, deslumbrada por ele, observando como seus olhos são lindos, como seu cabelo emoldura seu rosto perfeito, como seus movimentos são claros e rápidos, enquanto ele e Alice descem as escadas. Todos nos movemos atrás deles, até a saleta.

Chegando lá, nós ficamos parados, observando a graça e a suavidade e precisão quando os dois pegam os livros. Eles os abrem e observam, procurando o momento exato de irem.

Mas então, algo acontece. Alice para. Seu rosto em branco.

"Eu ainda não posso ver o outro lado." ela diz, eu ouço entre minha névoa de deslumbramento, achando engraçado como eu nunca havia percebido como sua voz é bonita e doce, melodiosa.

"É porque mesmo seu destino agora estando ligado ao meu, você não pode ultrapassar a barreira que há entre os dois mundos." A voz dele era suave e grave ao mesmo tempo, e cantou em meus ouvidos me fazendo sorrir debilmente. Eu poderia ficar ali horas, só admirando sua beleza, tentando encontrar mil maneiras de descrevê-la, sem conseguir.

"Ande, Alice. Temos que ir agora."

Ele abriu um dos livros. Olhou para nós, demorando-se em Esme. "Eu a amo, Esme. A mãe que eu sempre conheci." E então, giraram o guarda-chuva e sumiram mais uma vez, nos fazendo despertar. Desta vez, eles não voltaram.

Ainda respirando e tentando me acalmar do último deslumbramento, não percebi que algo dera errado. Miss Poppins notou-o antes de mim.

"Eles ainda não voltaram."

Minha mente foi adquirindo a clareza. "Sim, não voltaram. Apenas alguns segundo se passaram mas... é bem mais que o suficiente. Se eles não voltaram, é porque não vão voltar. Algo aconteceu."

Abanei a cabeça para tentar focalizar melhor os pensamentos. Mary Poppins se debruçava sobre a página aberta para tentar compreender o que aconteceu.

E me olhou com cara de horror.


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