Assim que Alice foi trazida ao nosso mundo, fora dos livros, ela estava com o rosto e o olhar em branco.

"Alice, o que está vendo?" Perguntei.

"Jasper." Foi apenas o que ela disse. Mais um tempo em silêncio. Impaciente, perguntei.

"Onde ele está?"

"Não sei... parece um velho armazem. Não está muito longe, mas também não está muito perto."

Mais silêncio. Alice continuou.

"Ele... ele está tomando uma decisão, o futuro está mudando. Ele vai sumir."

"Isso significa que ele vai entrar em um outro livro. Alice, você consegue ver esse momento em que ele virá à biblioteca? Consegue ver o livro que ele escolhe?"

Alice começa a andar pela biblioteca ainda fechada. Mary Poppins não a abriu esta manhã, e alguns clientes passam pelo lado de fora e estranham a situação.

"Precisarei abrir a livraria, ou todos irão desconfiar."

"Mais alguns minutos, Miss Poppins" pedi.

Seguimos Alice pela livraria. Ela subiu ao terraço de livros no primeiro andar e entrou no corredor entre duas de nossas estantes. Há tanto tempo não estive ali que aquele cheiro de livros me deu saudades.

Alice parou de andar. Seus dedos percorreram uma das estantes. Até parar em um determinado livro. Alice retirou-o. Eu li o título.

"Os Imortais."

Alice continuou em branco, e abriu as páginas, até chegar em uma específica.

"É aqui que ele some."

Mary Poppins pega o livro e olha a página. Todos ficamos esperando, até ela terminar de lê-la.

"Eu não sei exatamente o que ele pretende... mas é muito intrigante."

"O que quer dizer? O que está acontecendo nesse livro?" Perguntei.

"Aqui conta uma cena, em que uma garota de nome Ever, invade a casa de um rapaz, uma mansão em um condomínio fechado. Ao que tudo indica, ele é um rapaz estranho, e ela desconfia que ele seja um vampiro. Ele mora sozinho aos dezessete anos, é emancipado, mora num condomínio luxuosíssimo. Mas sua casa não tem nada. Nenhum móvel. Aqui mostra ela entrando pela janela da cozinha. A sala está vazia, há apenas uma TV enorme de tela plana e uma mesinha com suporte para iPod. Ela sobe as escadas, blá blá blá, encontra um quarto secreto que, diferente do resto da casa, está decorado com obras de arte legítimas, onde mostram o rapaz em vários séculos diferentes, pintado por artistas como Pablo Picasso, Boticcelli, e Van Gogh."

Os vampiros se olham surpresos.

"E tem mais." continuou Mary Poppins. "Ele também possui exemplares originais, primeira edição, de livros como o Morro dos Ventos Uivantes, de Emille Brontë, com a dedicatória da autora, para ele. Não só dela, mas de diversos autores, que viveram e morreram em épocas diferentes."

"Só pode ser um vampiro." disse Carlisle. "Mas um muito antigo."

Mary Poppins continuou. "Há página ao lado, isto é, na mesma abertura de livros, então não sabemos exatamente onde ele vai aterrisar. Essa outra página mostra quando ela encontra na geladeira apenas garrafas e mais garrafas com uma bebida vermelha, que ele toma o tempo inteiro, e ela já percebeu que ele não come."

"Um vampiro." disse Esme. "Um que toma sangue gelado?"

Alice fez cara de nojo.

"Eu não sei." disse Mary Poppins. "Eu nunca li esse livro. Faz parte de uma coleção nova que recebi esta semana. Os Imortais. Assim como a saga Luz e Escuridão, a que pertencem os livros Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse, Amanhecer e Sol da Meia-Noite, aos quais vocês pertencem. Este livro em questão é o primeiro da saga Os Imortais, e se chama Para Sempre."

"Acho que posso ajudar" disse Alice, tomando o livro nas mãos. Então, rápida como um raio, Alice folheou todas as páginas do livro, de uma capa à outra. Abriu novamente na página onde Jasper planejava entrar e devolveu o livro a Mary Poppins. "É uma linda história de amor. Mas o rapaz em questão não é um vampiro. É um imortal. Na história dele não existem vampiros."

"Um imortal, apenas?" Eu perguntei. Alice assentiu.

"Não apenas. Ele tem alguns poderes adquiridos com a imortalidade. Na verdade, este rapaz tem seis séculos de existência, e sua imortalidade deve-se ao elixir que seu pai preparou antes de morrer, este que ele guarda a fórmula a sete chaves, e cujo conteúdo fabricado por ele está em várias garrafas na geladeira, que ele toma regularmente ao invés de comer. O suco da imortalidade."

"Alquimia" falou Carlisle. "Ouvi falar disso há algumas décadas. Mas isso é uma lenda."

"Não neste livro" disse Alice. "Provavelmente Jasper também ouviu falar disso, ele deve conhecer os princípios da Alquimia, e resolveu pesquisar sobre isso. Encontrou o livro e a oportunidade de ir até lá. Só não entendi ainda quais as razões para fazê-lo."

Eu estava pensativa. As conexões estavam feitas na minha mente e tudo já estava claro como água. Ao mesmo tempo que Carlisle também entendeu.

"Ele vai roubar o elixir" dissemos juntos.

"Se ele pretende mudar o passado, deixará de ser um vampiro." disse Carlisle.

"E precisará do elixir para ser um imortal, não vai mais sentir o frenesi por sangue, não terá as características de um vampiro e poderá viver como um humano comum com poderes especiais." eu falei.

"E poderá viver o suficiente para conhecer Alice e viver seu grande amor." completou Miss Poppins.

Todos olhamos para Alice. Ela estava emocionada.

"Mas isso não será uma coisa boa, Alice." Miss Poppins falou, seu olhar para mim demonstrando que não queria ser uma estraga prazeres. "Ele interferirá em duas séries inteiras de livros. Além do que pode dar errado."

"E confie em mim nisso." Eu terminei. "Interferir sempre dá errado."