Finalmente, voltar para casa. Eu estava com muitas saudades de Seth, mas, para ele, era como se não tivesse demorado tanto. Eu nem sei mais ou menos quanto tempo, já que tudo isso às vezes dá um nó no meu cérebro.

Mas, quando ele chegou em casa após correr com seus amigos lobos pela floresta, e me encontrou na cozinha, foi como se não nos víssemos há meses. Ele correu para me abraçar, e foi maravilhoso estar nos braços dele depois de tanto tempo, ao menos para mim.

Deitada em seu peito, ele acariciava meus cabelos, e meus pensamentos voavam.

"Sabe, Seth, às vezes eu fico pensando, não seria bom viajar tanto no tempo."

"Desta vez foi complicado?" ele perguntou.

"Bastante. Jasper morreu. No passado, como humano. Então, ninguém se lembrava dele. Era como se ele não tivesse existido como vampiro."

"Nossa, isso é difícil de imaginar."

"Foi tão complicado salvá-lo!"

"Mas você conseguiu."

Fiquei pensativa, em silêncio.

"Seth, eu sempre te conto tudo... você não fica confuso com isso?"

"Às vezes, é difícil acompanhar o raciocínio, entender o curso de tudo, essa coisa de interferir e ter que ir e voltar, futuro e passado, para consertar, é complicado. Tirando o fato de que somos personagens de um livro, e eu tive uma impressão com uma criatura mística como você."

Eu desatei a rir. "Eu é que sou a criatura mística?" Ele riu também. Então fiquei séria. "Sabe, Seth, tem uma coisa que preciso te contar."

"E o que é?"

"Jasper... bem. Para roubar meu camafeu e sair daqui, Jasper usou sua... persuasão emocional."

"Hum... o que isso quer dizer?"

"Ele... me fez sentir coisas, coisas por ele... me fez sentir como se eu... e ele..."

Ele colocou um dedo nos meus lábios para me calar.

"Nada disso importa, ok? Não era real."

"Eu juro, Seth, não era real mesmo. Eu amo você e só você."

"Eu sei disso, minha linda, não se preocupe. Tudo está bem, eu não te culpo. Pra falar a verdade, nem mesmo a ele eu culpo."

Ele sorriu com seus dentes brancos perfeitos contrastando com a linda pele morena e quente.

Eu quase não dormi, pensando nas coisas que haviam acontecido, a decisão de Jasper, tudo o que ele fez. E mais ainda. Não me saía da cabeça o fato de que, em determinado momento, o somatório de memórias tenha falhado, ou demorado a acontecer. Não sabia, não conseguia descobrir ou sequer imaginar a razão para isso acontecer.

Será que estávamos exagerando nas idas e vindas? Mary Poppins costumava entrar e sair de obras de arte, mas isso faz parte dela, ela era um personagem de livro, e era assim que ela vivia, era sua história. E quanto a mim? Eu vivia entrando e saindo de vários livros, passei a viver em um deles, inclusive me casar com um personagem. Talvez isso fosse uma razão para as coisas terem tido uma falha.

E se isso se agravasse? Uma falha que fosse se tornando maior, a cada vez que entrássemos e saíssemos dos livros?

E se um dia não tivéssemos mais o somatório, e as coisas ficassem realmente feias?

E sobre o que Mary Poppins falou? Será que ela acha que, em algum momento eu terei que deixar Seth para viver em Londres real novamente?

Não. Eu não faria isso nunca.

Pela manhã, uma batida na porta nos acordou. Seth demorou a acordar, então, me levantei e fui atender à porta. Era Sam.

"Pois não?"

"Seth está?"

"Dormindo. Quer que o acorde?"

"Não... não é necessário. Bem, Lisa, podemos falar?"

"Sim, claro, entre."

Ele entrou e sentou-se no sofá. Trazia consigo uma grande caixa de papelão. Estava um pouco úmida.

"Encontramos isto numa cabana, no meio da floresta, mas não estava do lado dos vampiros na fronteira. Estava do nosso lado."

Eu ia questioná-lo, mas ele levantou a mão para que não interrompesse.

"Nós estamos em trégua, não se preocupe. Podemos, ambos, ir e vir da fronteira, isso ainda está de pé. Não é essa a questão."

Continuei olhando, sem entender.

"Na verdade, esperamos que você saiba o que é isto." Ele colocou a caixa entre nós, no chão. Abri.

Lá estavam cerca de dez garrafas.

Todas com um líquido vermelho dentro.

"O elixir da imortalidade!"

TO BE CONTINUED.