Ele me deixou, eles me deixaram. A frase se repetia inúmeras vezes em minha mente, eu estava confusa, por quê? Depois de todas as vezes que ele disse que me amava, depois de todos os beijos. Meu corpo se rendeu em soluços enquanto lembranças surgiam, e eu me deixei chorar no chão da floresta, enrolada em uma pequena bola.

 Chorei, chorei até que não houvessem mais lágrimas.

 Senti mãos leves me levantando, mas não consegui encontrar minha voz e estava muito cansada para lutar.

 “Está tudo bem.” Disse a voz de uma mulher. “Pode dormir agora, vamos cuidar de você, querida.” Adormeci ao som daquela voz suave.

 “Eu não te quero mais, você não é boa o suficiente para mim. Não é boa o suficiente, não é boa o suficiente.”

 “Não!”

 “Nós nunca te amamos, você é patética! Uma aberração, nosso brinquedinho.” Disse Esme, os outros riram.

 “Adeus, você nunca mais nos verá.”

 “Não, Edward, NÃO!”

Acordei com um sobressalto. Uma garota da minha idade com cabelos castanho-avermelhados e olhos de um amarelo prateado me olhava com um ar de preocupação, ela me lembrou deles e as lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto.

 “Shii, está tudo bem agora.” Ela me abraçou como uma mãe faria. Enterrei minha cabeça em seu pescoço enquanto chorava e meu corpo tremia em soluços, ela tentou me acalmar da melhor maneira possível.

 Aos poucos os soluços cessaram e apenas algumas lágrimas escapavam de meus olhos. “Me desculpe.” Eu disse enquanto as enxugava. Tomei algum tempo para avaliar o local.

 Estava em uma tenta quente e confortável. Mantas de seda e almofadas cobriam o chão. No centro, um braseiro dourado parecia queimar sem nenhum combustível ou fumaça. Nas paredes, estendiam-se peles de vários tipos de animais. Um pouco atrás da menina, várias garotas entre dez e quatorze anos nos observavam, elas tinham expressões difíceis de decifrar.

 “Quem são vocês?” Eu perguntei com uma voz pequena, com medo de parecer ingrata.

 “O que você sabe sobre mitologia grega, Bella?” Sua pergunta me pegou tão de surpresa que nem me preocupei em como ela sabia meu nome.

 “Não sei muita coisa.” Admiti. “Só sei que havia Cronos, o rei Titã, que foi destronado por seus três filhos, Zeus, Poseidon e Hades. Depois nasceram os outros olimpianos, Athena, Apolo..” Um trovão soou muito longe.

 “Cuidado, Bella, nomes são poderosos. Mas tudo que você disse é verdade, os deuses existem.” Demorei apenas alguns segundos para digerir a informação, afinal, se vampiros existem, por que não deuses? Mas se o que ela está dizendo é verdade.. olhei para a tenda mais uma vez e as palavras saíram da minha boca involuntariamente.

 “Você é Ártemis, a deusa da caça!” Me arrependi das palavras no mesmo instante, os deuses não tinham uma boa reputação em relação à paciência. Mas ela sorriu para mim.

 “Isso mesmo, querida, e essas são minhas caçadoras.” Uma por uma, as meninas se apresentaram.

 “Bella, acredito que gostaria de me explicar por que cheira a vampiros.” Uma única lágrima desceu pela minha bochecha. Contei-lhes toda a história, quando acabei algumas mostravam expressões de raiva enquanto outras de aceitação.

 “Não opinarei sobre quanto isso foi perigoso, Bella, mas posso oferecer uma alternativa que a ajudará a lidar com a dor.” Ela fez uma pequena pausa. “Minhas caçadoras me seguem em minhas aventuras. Elas são minhas criadas, minhas companheiras, minhas irmãs de armas. Uma vez que juram lealdade a mim, tornam-se imortais, a menos que tombem em batalha, o que é improvável. Ou quebrem seu voto.”

 “Que voto?”  

 “De renunciar o amor romântico para sempre, de nunca crescer ou se casar. De ser eternamente uma donzela.”

 “Como a senhora?” Ela assentiu. “Você está me oferecendo um lugar entre suas caçadoras?” Ela sorriu.

 “Estou, você é uma donzela, Bella. Já passou por experiências pelas quais não são permitidas às minhas caçadoras, mas ainda é uma donzela, o que é raro em sua idade.”

 Tentei digerir todas essas novas informações, ser imortal, era tudo o que eu queria até poucos dias, mas, agora, sem.. eles. Eu teria uma nova família, uma família que não iria me abandonar.

 “Tudo bem, o que eu tenho que fazer?” Perguntei decidida.

 “Repita.” Zoe, a mais velha disse. “Eu me comprometo com a deusa Ártemis.”

 “Eu me comprometo com a deusa Ártemis.”

 “Dou as costas para a companhia dos homens, aceito a virgindade eterna e me junto á Caçada.” Repeti.

 “É isso?” Zoe assentiu.

 “Se a Senhora Ártemis aceitar vosso compromisso, então está valendo.”

 “Eu aceito.” A deusa disse e as chamas do braseiro se avivaram. Fechei os olhos, senti uma onda de poder, eu estava ficando mais forte, mais resistente, mais feliz.

 “Bem vinda, irmã.” Zoe disse quando abri os olhos.