Terno Negro escrita por Ana Carol M
A garota acordou cedo e ficou a olhar pela janela que cercava a cama. Ainda chovia e havia varias pessoas andando com guarda-chuvas pela rua de pedra.
Peter levantou calmamente do sofá confuso, os cabelos bagunçados, os olhos inchados e as calças folgadas de um moletom. Ficou fitando Amber por um momento.
- Bom dia – sussurrou ela tentando ser gentil.
- Bom dia – disse ele por obrigação.
Novamente o café da manha fora de silencio profundo.
- Eu tenho algum dinheiro, vou procurar algum lugar para morar por enquanto – disse Amber subitamente enquanto voltava para frente da lareira.
- Você fica aqui o quanto quiser – disse Peter secamente.
- O que faremos? Não há instrução nem uma naquela carta.
- Vou tentar localizar seus pais. Você pode ligar para os seus pais adotivos – Peter foi até o balcão e pegou um mapa muito velho. Há anos não o usava. Esse era o momento certo. Esticou o mapa sobre a mesa de centro e esperou que Amber usasse o celular que a poucos segundo estava no ouvido da garota.
- Mãe? – perguntou ela inocentemente – É a Amber. Eu estou bem. Estou na casa de um amigo e – suas feições mudaram subitamente para uma cara de choro.
A garota desligou o celular e correu para o banheiro.
Peter ficou aturdido e preocupado, fazia anos que não vivia com pessoas, não sabia o que fazer.
Depois de alguns minutos ele levantou e bateu levemente na porta do banheiro.
- Amber? Você esta bem? Abra a porta garota
Amber abriu a porta e ficou olhando com pavor Peter.
- Estou bem, mas eles pegaram os meus pais. – ela voltou a se sentar no sofá tremula.
Peter a olhou incrédulo.
- O que disseram? – perguntou ele.
- Era uma mensagem “Sabe o que tem que fazer para salva-los”.
- Vamos ter que ir até a aldeia mais cheia, talvez alguém tenha alguma informação.
- Como eles nos darão respostas?
- Eu tenho meus métodos – e Peter riu.
O garoto pegou um frasco com pó branco e assoprou em cima do mapa. Os grãos rolaram e se aglomeraram em certos pontos do mapa. Havia um lugar, um bairro, onde havia mais pó do que nos outros cantos com apenas pequenos grãos espalhados.
- Um mapa radar. – sussurrou Amber. Seu nervosismo acabara de cessar, ela faria alguma coisa para ajudar. - Quando a pessoa fez parte da sua vida por um bom tempo, você as encontra ou o ultimo lugar em que elas estiveram.
- Certamente iremos para esse bairro – apontou ele para o montinho de pó. Depois espalhando com o dedo e o nome pôde ser visto. Tarath.
- Fica do outro lado da cidade, não imaginei que teriam tantos em um mesmo lugar. Provavelmente devem estar em baixo da cidade.
- Isso significa que...?
- Partiremos em breve, se você quiser seus pais vivos e manter sua cabeça grudada no pescoço.
- Acha que eles vão querer me decepar?
- Acho que você pode tomar um banho se quiser, enquanto organizo o que vou levar – disse Peter.
Amber acentiu, pegou sua mochila e foi para o banheiro.
Peter estalou os dedos e a cama se organizou, depois aumentou o fogo da lareira e guardou o pó do mapa nos frasco e o mapa em uma bolsa de couro de touro.
Ele estava pensando em o que mais poderia levar quando escutou um barulho estranho, alguém caindo, depois um vidro batendo no chão.
Sem pensar duas vezes ele correu até a porta do banheiro e bateu varias vezes.
- Amber? AmBER? AMBER VOCÊ ESTA BEM?GAROTA O QUE ESTA ACONTECENDO?- o volume de sua voz foi aumentando conforme seu nervosismo, o barulho do chuveiro ligado era audível, mas algo estava errado.
O garoto forçou a fechadura e ao entrar no banheiro tapado de fumaça e escorregadio se deparou com uma garota tremula com os cabelos recém lavados enrolada em uma toalha jogada ao chão, o chuveiro ainda ligado. Mas o que chamou mais a atenção, era a enorme marca - no ombro da garota - vermelha e sangrando. O vidro jogado ao chão era um perfume. Provavelmente ela estava passando quando a marca se contraiu, pensou Peter. Ela estava com o rosto lambuzado de lagrimas e com hematomas enormes. Ela girava a cabeça como se não estivesse realmente ali. Parecia com frio.
Peter respirou fundo controlando a raiva, não esperava ter que bancar a babá com ela. Desligou o chuveiro, jogou o vidro de perfume na mochila ali perto e carregou a garota completamente alucinada e molenga para a cama. Pegou uma frasqueira com ataduras e remédios (que não se encontraria em uma farmácia humana).
Ele limpou cuidadosamente o ombro dela e depois de passar uma poção para curar os hematomas, atou firmemente, tapou ela com todos os cobertores ali perto. Levantou novamente e botou água para aquecer. Pegou uma bacia e um pano, enquanto esperava a água ferver ele trocou a toalha úmida de Amber por uma camisa seca dele. Procurou secar o que pode do cabelo dela. E depois fez compressas de água quente na testa da menina. Ela não estava mais fria e a tremedeira começava a acalmar.
Peter novamente pegou a frasqueira e com um conta gotas colocou cinco gotas de um remédio verde vivo na boca da garota. Ela não pareceu sentir. Depois ele guardou tudo. Remangou as mangas e continuou com as compressas. Já eram quase três horas da tarde quando ela resolveu abrir os olhos. Que estavam pesados, a boca seca e sentia uma estranha sensação de fraqueza.
A primeira coisa que viu foi o garoto de cabelos escuros e pele clara a encarando com irritação evidente.
- Desculpe, o que aconteceu? – foi só o que conseguiu murmurar.
- Nada demais – disse ele no seu tom grosseiro. Guardou todos seus xingamentos na sua cabeça.
Peter deu água e logo depois mais uma poção para Amber. Em pouco tempo ela estava melhor e já de recostava na cama.
- O que aconteceu…?– falou ela envergonhada.
- Sua marca se retraiu e você deve ter tido alguns outros sintomas – disse Peter rudemente.
Amber olhou para a camisa branca em seu corpo e por um momento ficou com vergonha, a ultima coisa que lembrava era de tudo ficando nublado. Ela levantou da cama e procurou a mochila.
- Ela ainda esta no banheiro – disse Peter de costas pegando mais coisas para a viagem.
Amber deixou a porta entre aberta, caso algo acontecesse. Vestiu suas roupas. Saiu de lá nova em folha. O ombro tapado por uma jaqueta.
Peter tomou um banho relaxante enquanto a garota se aquecia na lareira. Colocou uma calça preta, coturnos confortáveis e um casaco grosso por cima.
Revisou o que ia levar. Alguns pergaminhos, penas, o mapa, algumas poções.
Eram sete horas da noite quando terminaram de jantar e iam começar a caminhada.
Eles saíram sorrateiramente da loja escura, andaram pela rua de pedras irregulares pela qual eles se encontraram, entraram em um beco estranho. Peter arrastou uma tampa de ferro do esgoto e pulou para dentro. Amber fez o mesmo, depois o garoto fechou o buraco com um estalar de dedos, e com mais um, acendeu uma luz que flutuava na frente deles.
O garoto carregava o mapa rente aos olhos, a bolsa de couro de touro atravessada ao peito e caminhava cautelosamente.
- Logo chegaremos a sociedade honrada.
- Mas você não disse que havia sumido? – perguntou Amber confusa.
- O governo sumiu, mas ainda há cidades subterrâneas ativadas. Tarath é uma delas. È maior que um bairro.
Chegaram a um lugar onde passava um rio. Completamente limpo.
- Vamos ter que pular e a correnteza vai nos guiar – disse Amber achando aquilo ridículo enquanto espiava o mapa. – Vamos pular juntos, não solte minha mão – disse ela, lutando contra todo os seus princípios.
Os dois apertaram com força as mãos e pularam.
Por um momento acharam que iam morrer, tanta água, se debatiam com os cantos de pedra. Até que chegaram a um porto. E
Conseguiram respirar.
Amber viu todas aquelas pessoas andando com roupas estranhas e familiares, como se fossem camponeses, lembrava o seu tempo de escola.
Eles subiram em um canto e Peter tirou da bolsa dois conjuntos de roupas secas. Alcançou a feminina para Amber e de costas um para o outro eles se vestiram.
- Vamos andar muito ainda. – disse Peter.
Os dois guardaram suas coisas em suas mochilas. Peter tentou não demonstrar o quanto Amber estava linda naquele vestido preto com capa cor de sangue e os cabelos molhados caindo sobre o rosto. Nem ao menos ela comentou o fato de ver um príncipe em sua frente muito mal humorado e rude, mas definitivamente ele era um príncipe.
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