Amor. Um Sentimento Terrível. escrita por camila_guime


Capítulo 15
As Lembranças do Pobre Menino


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu postei logo esse por que talvez eu demore uns dois ou três dias tudo bem?
Aproveitem queridas!



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Cap. 15

Hermione entendeu por que Harry prezava tanto sua capa da invisibilidade. Queria poder garantir que não seria vista enquanto caminhava sorrateiramente por Hogwarts. Só sabia um lugar no castelo que tinha o que ela precisava, e temia ser o lugar mais vigiado de todos: o escritório de Dumbledore.

Quando chegou ao último corredor até lá, e começou a subir as escadas, imaginava que a qualquer momento McGonagall a flagraria, e em pleno sétimo ano, a expulsaria da escola. Mas por sorte, chegou às portas de Dumbledore ainda sozinha. Até que de repente elas se abriram, como sempre acontecia quando Dumbledore previa que seria visitado. Logo, o cérebro de Hermione começou a confabular dezenas de desculpas caso desse de cara com o diretor ou McGonagall, ou seja lá quem fosse...

Pisando em ovos, Hermione adentrou na sala do diretor. Estava sombria, como nunca esteve antes. As velas apagadas, os retratos sem iluminação especial. Não havia ninguém. Mas uma coisa reluzia ao feixe de luar que perpassava as vidraças, e era aquilo que Hermione queria: a penseira de Dumbledore.

Enquanto isso, na ala hospitalar, Hermione não foi a única com planos secretos noturnos. Draco já pressentia Neferet e não era de hoje. Mas naquela hora, foi capaz de ouvir seu chamado, o atraindo para fora da enfermaria. Coberto com uma capa negra comum, o rapaz seguiu o silvar da serpente até perto do saguão lateral de Hogwarts. O que Draco não sabia, era que ele não era o único ofidioglota naquele lugar. Que o chamado de Neferet atraíra Potter, logo atrás, completamente invisível sob sua capa.

Hermione nunca havia feito aquilo, usado uma penseira... Não podia ser tão difícil assim. Então, colocou o rosto devagar dentro daquela bacia e foi como se caíssem em outra dimensão. Tudo ficou anuviado, um misto de sombras e luzes prateadas, até que o cenário foi limpando, e mostrando uma casa realmente linda. Janelas em formato de losango no térreo eram os únicos pontos iluminados do lado de fora. Sentindo como se suas pernas a conduzisse sozinhas, Hermione foi adentrando no hall e alcançando a sala de visitas da mansão Malfoy.

Um cômodo de dimensões imprecisas por conta da escuridão se abriu à sua frente. Nos pontos onde havia velas, cada objeto parecia ser extremamente caro. No meio da sala, sentado no chão e lendo um exemplar de Hogwarts Uma História, um garotinho de rosto magro, cabelos extremamente louros e expressão vazia, não fossem dois olhos muito azuis atentos à leitura, dando a ele um ar de intelectualidade prematura.

“Draco!” – Chamaram a um ponto incerto. Então, um homem de aparência e modos sublimes apareceu de uma segunda porta do outro lado da sala. Draco ergueu os olhos para o pai.

“Sim?”.

“O que está fazendo?” – Perguntou a voz nada agradável de Lúcio.

“Lendo” – Draco respondeu displicentemente, como se já fosse óbvio.

A boca do Sr. Malfoy se entortou em desgosto pelo tom do filho. Draco pareceu parar de lhe dar atenção, então Lúcio se aproximou do garoto mais parecendo flutuar que andar. Pegou a bengala inútil que trazia na mão direita e acertou uma pancada com certeza dolorida na altura da nuca de Draco.

“AU!” – Exclamou o menino se levantando com a mão no baque.

Hermione arfou ruidosamente levando as mãos à boca. Parecia estar vendo uma cena de oito anos atrás. Draco teria uns dez. Sentiu um nó no peito por ter presenciado aquilo.

“Sua insolência só lhe custa caro, Draco. Você não aprende a quem deve ou não respeito?”.

“Ao senhor e ao Lorde”. – Respondeu Draco a contragosto.

“E a quem deve desprezo?” – Insistiu Lúcio contorcendo os lábios numa tentativa de sorriso.

“Aos sangues-sujos e traidores-do-sangue, qualquer criatura não-bruxa ou semi-mágica, e aos trouxas” – respondeu Draco como um robô.

Lúcio ergueu uma sobrancelha em aprovação.

“Seus treinos começam agora...” – Informou em tom arrastado, empurrando Draco com a bengala para fora da sala.

Então a visão de Hermione escureceu como num redemoinho, parecendo que tudo se misturava e depois se abria. Outro lugar. Um jardim incrivelmente ornamentado. Uma fonte de pedras cinza jorrava uma água cristalina, que refletia o luar como se houvesse lantejoulas brilhantes misturadas ali.

Draco, ainda escoltado por Lúcio, apareceu de uma parte escura que deveria ser a casa, e parou no meio do jardim. Um terceiro homem veio do outro lado, parando em frente a eles. Era Yaxley. O estômago de Hermione deu uma compressão tão forte que ela pensou que colocaria para fora toda a janta e os remédios que tomara.

“Boa noite, Lúcio” – Yaxley cumprimentou, e em seguida olhou de cima a baixo o jovem Draco. “E o pequeno Sr. Malfoy”...

“Boa noite, Yaxley. Sugiro começarmos logo de uma vez. O que acha? Draco tem lição amanhã cedo”.

E então Yaxley despiu a longa e inadequada capa negra, aparecendo com um uma camisa de mangas frouxas e calça preta (lembrando o estilo de Jacques, só que bem mais antiquado). Desembainhou uma longa espada que reluziu ao luar. Draco pareceu apreensivo. Lúcio teve que dar uma pancada com a ponta da bengala na altura do calcanhar do garoto para que ele fizesse o mesmo, desembainhando uma espada em seguida, que parecia maior que o tamanho do seu próprio braço.

“Primeiramente, Draco” – dizia Yaxley, “os duelistas devem fazer uma reverência, por educação e respeito ao oponente...”. Yaxley se curvou para frente, mas ainda mantendo os olhos em Draco.

“Reverencie!” – Comandou Lúcio. Antes de levar outra dolorida bengalada, Draco curvou as costas. “Até a cabeça, Draco” – E Lúcio empurrou a cabeça do garoto para baixo incomodamente.

“Depois”, prosseguiu Yaxley, “você deve tomar postura, e, se você foi convocado para o duelo, você deve esperar o ataque do outro primeiro. Senão, você começa. Então Draco, quem de nós dois faz o primeiro movimento?”.

“Eu”.

Então Draco segurou o punho da espada com as duas mãos e, num giro aéreo, lançou-a contra Yaxley, que a aplacou num golpe sobre a cabeça. O tilintar do choque foi tão forte que Hermione pôde imaginar a intensidade, que fez Draco vacilar e cair de costas na grama. Ela pensou que Yaxley pararia e esperaria Draco tomar postura novamente, mas não. Se o garoto não rolasse para o lado na mesma hora, teria sido golpeado. Draco se arrastou e correu para perto da fonte e, subindo nela para tentar ficar à altura de Yaxley, investiu como se quisesse cortá-lo ao meio. Yaxley espantou a espada de Draco com a sua, como quem espanta um inseto no ar, e aproveitando o mesmo movimento, na volta, a ponta da espada atingiu a camisa branca de Draco na altura do ombro, onde longo uma linha de sangue começou a manchá-la.

“Espera!” – Pediu Draco sentindo a instantaneidade da dor.

“Ação, Draco!” – Comandou Yaxley.

Outras investidas do bruxo fizeram Draco cair, se machucar nas pedras da fonte, na irregularidade do chão, mais arranhões pelos braços, costas e peito... Hermione teve o impulso de procurar a varinha nas vestes para tentar ajudá-lo, mas se tocou de que era só uma lembrança. Cruel, mas imutável.

“Você quer ser forte? Quer saber se defender? Então deixe de frescura Draco, e dê um mínimo de orgulho!” – Brado Lúcio nas sombras.

A escuridão engolfou a cena de novo, reabrindo numa outra ocasião. Draco estava maior alguns centímetros. Hermione reconheceu King’s Cross. Draco estava parado ao lado do malão. Olhava para o chão como se estivesse absorto em pensamentos. Nada mais ali chamava sua atenção até que Lúcio apareceu ladeado de Narcisa Malfoy.

“Tudo certo Draco?” – Era a voz arrastada de Lúcio.  Não parecia realmente querer saber se Draco estava bem. A pergunta tinha outro sentido.

“Claro.” – Respondeu indiferente.

“Boa sorte, querido...” – Disse Narcisa parecendo com medo de demonstrar emoções.

“Lembra-se de tudo que lhe contei?” – Inquiriu Lúcio.

“O Menino que Sobreviveu é o indesejável nº. 01. Devo tentar trazê-lo para meu lado, mas não insistir. Os Weasley são os principais traidores-do-sangue que vou encontrar em Hogwarts. Não devo perder meu tempo com eles. O guarda-caça é um semi-bruxo repugnante. O diretor... Um bruxo prepotente e mentiroso. E a Sonserina deve ser minha casa” – concluiu Draco lembrando de maneira torta a própria Hermione quando decorava uma citação de um livro ou algo assim.

“A Sonserina já é sua casa. Ponha isso na cabeça, apesar de eu não achar que aquele chapéu idiota ousaria te pôr em outra...”.

E então Draco suspirou fundo e se preparou para entrar no trem. A cena escureceu de novo. Quando reacendeu, parecia um quarto. Mal iluminado, mas muito bonito. Cama de espelho trabalhado em uma madeira escura. Ao lado, uma janela ampla. Pela paisagem lá fora, Hermione reconheceu o jardim da mansão Malfoy.

Draco caminhou de um canto escuro até a cama, onde sentou. Estava mais velho. Devia ter treze ou quatorze anos. Estava sem camisa, e apesar de magro, parecia muito resistente. As marcas de cicatrizes nas suas costas eram inúmeras, e pareciam contar a história de diversos tipos de golpes, maus tratos, etc. Draco tinha um espelho na mão, e olhou para seu rosto no reflexo.

“Granger...” – Sussurrou.

Por um momento Hermione deu um guincho, tapando a boca em seguida. Pensou que Draco a tivesse visto pelo espelho, mas logo racionalizou: era uma lembrança. Só uma lembrança! Mas aquilo não aliviou. Draco pensava nela durante suas férias?

Draco segurou o nariz com a mão e foi quando Hermione recordou: deveria ser o terceiro ano, quando ela o socara no nariz. Estava explicado.

Logo, Lúcio Malfoy entrou no quarto. Hermione correu para outro canto. Sabia que era invisível e talvez imaterial naquele lugar, mas não queria a sensação de Lúcio perpassando por ela.

“Granger não tem nenhum histórico bruxo na família pelo menos a sete gerações atrás!” – Informou Lúcio.

“Cem por cento trouxa, então...” – Concluiu Draco.

“O que me intriga, é por que essa garota está se tornando tão... Evidente.”

“Tem alguma coisa nela, pai”.

“O que o faz achar que ela precise de atenção especial?”.

“Granger não teria capacidade suficiente para ser a bruxa que é. O senhor mesmo me contou: um bruxo, para conseguir coisas excepcionais precisa no mínimo ter histórico de sangue mágico na família numa escala de três a cinco gerações atrás!”.

“E ela executa feitiços muito além dos básicos?” – Perguntou Lúcio ainda em dúvida.

“Você não imagina nem metade!” – Comentou Draco.

A cena voltou a escurecer e re-abrir. Agora era uma sala esquisita, anuviada de incenso e de luz azulada baixa. Uma vidente se encontrava sentada numa cadeira. Uma mulher velha, acorrentada pelos pulsos.

Uma passagem se abriu no teto, como um alçapão, e dela, Draco, Lúcio e Narcisa desceram.

“Ela estava tendo um acesso.” – Informou Draco parecendo assustado. Estava ainda mais velho. Quinze ou dezesseis anos.

Lúcio foi até perto da mulher, que parecia desacordada, até quando abriu os olhos sem íris para Malfoy, e sua voz esganiçada começou a bradar parecendo vim do além:

Há uma ferramenta... Uma ferramenta muito poderosa. É uma pessoa. Ela será agraciada com um dos poderes mais raros que existe no mundo. Vai estar sob seu arbítrio escolher como prosseguir. Ela possuirá um poder tão raro e puro que pode trazer a alma do Amaldiçoado de volta...” A mulher sugou o ar pela boca ruidosamente, como se algo estivesse a torturando por dentro. “A menina... A menina de dons infelizes poderá definir um novo renascer. Um instrumento que deve ser guardado sob profunda segurança, virá à tona quando chegar à hora. Será quase impossível escondê-la, mas ainda assim, o Tolo atrás de vingança tentará”... Drago fez um som amedrontado enquanto a mulher começava a se tremer inteira. “Sangue atrai sangue... O Tolo virá. Ele vai desencadear o poder da menina... Guardem-na! Senão o Amaldiçoado poderá reascender das trevas, e meio caminho será percorrido num instante... Quem sobreviveu... Poderá morrer”.

E então a velha mulher despencou a cabeça para trás deixando a mostra seu pescoço repuxado. Draco engoliu ruidosamente enquanto seu pai virava de frente para ele.

“A hora de falar com o Lorde chegou”.

A cena se anuviou ao ponto de escurecer totalmente. Hermione não queria mais continuar ali, era macabro demais! Mas as memórias dolorosas de Draco pareciam não terminar.

Logo, ela estava num gabinete muito sóbrio, onde Lúcio andava de um lado para o outro.

“’O Tolo virá’, o que aquela maldita bruxa quis dizer? ‘Sangue atrai sangue? ’, sangue de quem?” Dizia ele pensando em voz alta.

“M-meu querido...” – Começou Narcisa se levantando de um divã num canto. “Talvez você deva parar de ignorar a possibilidade de...”.

“Não venha com a história sobre Abraxas, Ciça!” – Lúcio parecia estressado como nunca. “O Lorde das Trevas já está pondo pressão demais para desvendarmos logo a premonição. Não faz sentido alguém vim assim do nada, do passado e ‘desencadear’ o poder da ‘menina’! Além do mais, a consagração de Draco está próxima, e o Lorde não vai gostar nada se nos atrasarmos”.

“Mas precisamos saber quem era o Tolo que a vidente previu. A final, ele vai trazer à tona o poder desse Instrumento que pode ou não devolver a alma de... A propósito, seu pai foi casado mais de uma vez, não foi? E a menos que nessa família tenha mais alguém além de nós, a geração de Draco, e o meu lado da família... Bem... Não consigo imaginar que Sangue atrairia sangue! Duvido que se refira à Belatriz... Ela já é nossa aliada. Quem de sangue poderia se reunir a nós? Não há mais ninguém além dessa possibilidade!”.

Draco, que estava escondido, saiu do escuro para pôr essa história a limpo.

“Há mesmo um parente, não há?” – Perguntou enfrentando pai.

“Não se intrometa Draco! Ouvir atrás das portas é um péssimo hábito, e muito mal visto pelo Lorde das Trevas!”.

“Dane-se os hábitos! Querem que eu me una a vocês! Pois bem... Expliquem sobre que parente de sangue podemos ter que eu não estou sabendo?”.

Hermione arfou começando a raciocinar junto com Draco.

Lúcio, estressado além do limite, desferiu uma bofetada no rosto de Draco pela insolência, jogando o menino para o lado. Teria caído no chão se não tivesse topado com Narcisa, que o abraçou pelos ombros.

Hermione já estava chorando de dor e horror havia um tempo, mas só percebeu quando soluçou desolada. Queria ouvir o que viria, mas a memória a arrancou dali, reabrindo em outra pior.

Era algo como uma caverna, onde havia uma espécie de salão esculpido pela natureza. Uma figura sob uma capa se movia como se flutuasse ao redor de um corpo jogado no chão de pedra. Com horror, Hermione o viu tentar erguer a cabeça. Era Draco, muito ferido e gasto, parecia incapaz de se levantar sozinho.

“Eu não posso... Não posso...” – Suplicava.

A voz do Lorde das Trevas invadia sua mente em vez de ressoar normalmente. Fazia doer sua cabeça ao ponto de sentir uma pressão achatando-o de fora para dentro.

Vai exxxterminá-lo. Antessss da primavera. E ainda antesss disssso... Prepare-ssse para uma nova ordem que essstou arranjando para vocccê, Drrraco...”.

E, deixando o garoto largado no chão, Voldemort virou-se para outro lado, onde Lúcio mantinha o rosto limpo de expressões, tentando evitar olhar o filho.

Lúccccio...” Silvou Voldemort. “Que notícias você me traz sobre o Instrumento?”.

“Estou praticamente convicto do que seja... Ou melhor, de quem seja”.

“Bom...” A criatura encapuzada deslizou para uma espécie de trono de pedra. “E quanto ao Tolo do sangue?”.

“B-bom, senhor...” Hesitou Lúcio. “Receio que Dumbledore tenha desconfiado de minhas buscas. Meus interesses...” Lúcio embranqueceu como papel. Viu uma bafejada de ar frio sair da boca do capuz, como se Voldemort suspirasse encolerizado. “Quer dizer... Ele...”.

“Já deu o primeiro passo?” Completou Voldemort. O silêncio de Lúcio foi confirmador. “Então o principal agente de toda essa história está nas mãos de quem eu menos queria?” Voldemort pareceu ainda mais perigoso.

“S-s-sinto mui-to Senhor...”.

“Eu sei que sente...” Voldemort ergueu a varinha num braço coberto pela capa. “Crucio!”.

Então Hermione foi arrancada de vez das memórias de Draco, acabando por cair de costas no chão de pedra da sala de Dumbledore. Sentia-se desgastada, e de fato chorava como se pudesse absorver todas as dores presenciadas ali.

Abraçou-se desolada no chão, ainda com medo de tudo o que vira. Até que uma mão tocou-lhe na testa, como se verificasse se estava ou não acordada.

— Srtª. Granger?

Hermione virou de uma vez, deparando-se com uma figura encapuzada, que tinha uma longa barba prateada pendendo e quase tocando o chão.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Sinceramente!
Dessa vez eu to precisando de opiniões!
Obrigada por ler!
Beijos!
Mila.