- VALEU LONDRES! – Axl gritou meio rouco no microfone, saindo em seguida, sob gritinhos histéricos das fãs, que estavam morrendo de peninha dele naquelas muletas. Ele veio saltando amparado por Izzy e Steven até os bastidores.

- E aí? – ele perguntou ansioso – O que acharam?

- O que eu achei? Axl! Foi brilhante! O melhor show que eu já presenciei! – falei empolgada.

- Foi legal – Glister confirmou – Mas o show da Madonna no ano passado ainda continua na primeira posição da minha lista de melhores shows.

Duff que vinha acompanhado de Slash fez uma careta.

- Madonna, querida? Isso é sério?

- Sim. E é bom já se acostumar com o nome, Michael, caso for uma menina vai...

- Ah, por favor, Glister! – Duff pediu – Tudo menos esse nome!

- Vai começar... – comentei indo abraçar Slash.

- Esses dois não se cansam de brigar? – ele perguntou me pegando no colo.

- Acho que não... – ri e o beijei – Sabe, eu gostei principalmente do seu solo em Rocket Queen...

- Você sabe que faltou o essencial. – ele disse.

- Sei. Seria de mau tom perder os Stones para reproduzir o essencial.

- Seria sim – Izzy se intrometeu – Quero dizer, são os Stones! Vocês tem a vida inteira para transar, mas poucas oportunidades para ver os Stones.

- Esse é fã mesmo... – Slash reclamou quando em sai de perto dele para acompanhar Izzy em sua obsessão louca.

- Tome – ele me deu uma camiseta dos Stones – Põe por cima da sua manga longa. Eu trouxe camisetas para todo mundo! – anunciou.

Ninguém se manifestou.

- É... – ele pareceu levemente despontado – Vamos assistir só nós o show.

- E mais uma multidão surtada de mais ou menos 20 mil ingleses que resolveram enfrentar a neve e o frio para vir vê-los.

- É. Ah! Eles vão entrar no palco!

- O casaco o Jagger é de leopardo mesmo? – perguntei.

- Quem liga? SÃO OS STONES!

Ri. Izzy, mesmo sem se juntar a massa, se comportava pior que algumas das mais fervorosas fãs.

- Hey, Izzy, vou comer alguma coisinha – avisei – Não gosto de beber de estomago vazio.

- Tudo bem – ele falou sem prestar muita atenção – Só não mexa nos meus biscoitos de chocolate.

- Sem problemas... – falei já indo para o camarim da banda.

Entrei e fechei a porta atrás de mim.

- Tem alguma coisa para comer? – perguntei para Steven que estava deitado preguiçosamente no sofá.

- Sei lá. O Duff estava comendo umas bolachas de chocolate...

- Ótimo, o Izzy vai pirar... – suspirei me encaminhando para a cozinha improvisada, onde Axl, Duff, Slash e Glister comiam alegremente as bolachas de chocolate.

- Isso era do Izzy... – comentei puxando uma cadeira e me sentando.

- Ah era? – Duff comentou desinteressado – Você vai querer?

- Uma. – me rendi a gulodice. – Ainda temos macarrão instantâneo ou alguma comida que eu possa fazer sem destruir o lugar?

- Tem torta de frango no frezer... – Glister indicou.

- Por que você não disse pra nós que tinha torta? – Slash se indignou.

Glister deu os ombros.

- Esqueci.

Pus a torta no forno e deixei esquentar por uns dez minutos.

- Vou pegar só um pedaço... – avisei. Axl olhava a torta como se fosse uma mulher nua.

- Eu também quero um pedaço! – ele disse pegando uma fatia.

- Sinto cheiro de torta? – Steven chegou de surpresa.

- Mas vocês são um bando de mortos de fome! – Glister brigou.

- Você queria o que? – Duff reclamou de boca cheia – Passamos quase nossa vida inteira comendo enlatados e macarrão instantâneo!

Glistei bufou e pegou a ultima fatia da torta.

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- Ainda não acredito que não sobrou torta nem bolacha pra mim! – Izzy brigou.

- Desculpe cara... – Duff falou apresentando um falso pedido de desculpas.

Izzy emburrou.

- Em que pub os Stones vão estar? – perguntei.

- O Keith disse um pub por perto. Só tem um, que é aquele. – Glister apontou, ajeitando ser casaco de pele. Parecia algo haver com urso.

- Parece legal – Slash reconheceu.

Vesti o meu casaco e enfiei minha cabeça numa touca. A neve caia lá fora, e ninguém se sentia muito animado a enfrentar aquele gelo para beber umas doses com os Rolling Stones.

Exceto Izzy.

- Vamos, então? – ele disse alegremente. Com sua boina e uma cigarro entre os dedos, não parecia mais feliz. Axl murmurou algo inteligível.

- Vamos... – bufou – Minhas muletas vão congelar, escutem o que eu digo.

- Sem reclamações, Axl... – Glister pediu enfiando luvas em mim. Ela parecia minha mãe, quando viajamos para a Suíça – Hum... Onde está seu cachecol, Draffy?

- Preciso dele? – choraminguei – Glister, eu estou bem!

- Mas está tão frio! Você pode morrer congelada e...

- Eu esquento ela... – Slash disse me abraçando. Mostrei a língua para Glister. Ela rolou os olhos.

- Francamente... Duff, me esquenta também?

- Quem? Eu? Ah... Meu casaco mal me esquenta e...

- Esquece... – Glister retrucou nervosa. Algo no olhar dela dizia que hoje a groupie se vingaria.

Atravessamos a avenida, tomando cuidado para não escorregar na neve e repetir o feito de Steven, que havia ido raspando a bunda até a calçada.

O Pub, que se chamava The Kinks, parecia vazio e agradável. Entramos e já nos deparamos com os Rolling Stones, sentados em uma mesa e acompanhados de pelo menos três garotas, que apesar do frio cão, não dispensavam as mini saias.

- Ah! Eles estão aqui! – Izzy parecia a ponto de dar pulinhos.

- Que bom, cara! – Duff ironizou. Axl foi até eles e estendeu a mão para Mick.

- Axl Rose.

Mick Jagger sorriu.

- Te vi cantando. Muito bom.

- Obrigado – Axl disse com o peito estufado se sentando ao lado do vocalista.

Glister se aproximou dos dois e sentou na frente de Mick.

- A quanto tempo, Mick... – falou. Mick a olhou confuso.

- O que?

- Não lembra de mim? – ela perguntou divertida – Verão de 83, show que vocês fizeram em Los Angeles... E aí?

Mick estalou os dedos.

- Ramona Rapidinha?

Glister sorriu.

- Sou mais conhecida como Glister, agora.

- Garota! Eu não pensava te encontrar novamente! Quanto tempo!

- Pois é... – ela riu.

- E que barrigona é essa? Não me diga que...

- Sim! – ela confirmou.

- Quem é o sortudo?

- Não tenho certeza ainda, é um dos dois... – indicou Axl e Duff.

- Caramba! Vocês viram como essa gatinha é na cama, não viram? Louca!

- Eu que o diga... – Duff resmungou enciumado.

Keith que observava a conversa virou sua atenção para mim.

- E então, gracinha? Vai querer um cigarro?

- Sim, obrigada – agradeci recebendo um já acendido por ele.

Slash parecia absorto na conversa de Mick e Glister. Dei uma tragada.

- Você não me disse seu nome... – ele comentou.

- Dafne. Mas me chame de Draffy.

- Nome legal...

- Não acho – retruquei.

Ele sorriu levemente.

- Você é sempre assim?

- Assim como?

- Tem uma resposta na ponta da língua?

- É o que dizem... – soprei a fumaça – Não me considero dona de uma língua ferina.

- Quanta humildade... – foi sarcástico – Bebe?

- Com certeza. Quero uma dose de Daniel´s.

- Claro... – ele pôs um pouco e Jack Daniel´s num copo para mim.

- Valeu – entornei a bebida e tossi um pouco.

- Algum problema?

- Acho que é o frio... – respondi fumando logo em seguida.

Ele me olhou de cima a baixo novamente.

- Tem namorado?

- Que pergunta discreta... – ri pondo mais whisky no meu copo.

- Você não me respondeu a pergunta...

Olhei de soslaio para Slash e mordi o lábio.

- Não sei exatamente definir o que eu tenho.

- Entendo... – Keith acendeu outro cigarro – Acho que ele também não.

- Por que diz isso? – franzi o cenho. Ele indicou Slash com a cabeça. O olhei.

Uma das vadias o beijava como se sua vida dependesse disso. Abri a boca num perfeito ‘O’.

- O que é isso? – gritei me levantando bruscamente. A loira soltou Slash, ainda confuso.

- Não se intrometa, queridinha... – ela falou.

- Eu me intrometo onde eu quiser. Quem é você para ficar o beijando?

- Seu nome está escrito nele, por acaso? – ela desafiou.

- Tem razão – falei dignamente pegando a garrafa de Jack Daniel´s e arrancando protestos da parte de Steven – Não temos nada mesmo.

- Draffy! – Slash me pegou pelo braço – Ela me beijou. Eu... Eu não quis!

- Hey! – a vadia protestou.

Puxei meu braço e sai furiosa do bar.

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- OH GOD SAVE THE QUEEN! AND HER FASCITS REGIME! IT MADE YOU A MORON... A POTENTIAL H BOMB!

Eu estava no limite da depravação. Sem rumo, longe do pessoal, mais precisamente em frente ao palácio de Buckingham, tentando chamar a atenção daqueles soldados idiotas.

- HEY! NÃO VÃO ME PRENDER, SEUS PUTOS? – provoquei erguendo a garrafa meio vazia de Jack.

Eles continuaram parados. Bufei e cantei:

- OH GOD SAVE THE FUCKING QUEEN! AND HER TITS HANGING OUT!

Nenhum movimento. Apenas um carro, cheio de adolescentes que passava.

- CALA A BOCA, PUTA! – Um deles gritou.

- PUTA É TUA MÃE! – devolvi atirando a garrafa contra o carro que já se afastava.

- Ótimo, perdi minha Jack... – resmunguei chutando um pouco de neve e em seguida sentando na calçada e chorando descontroladamente.

Ele não me amava. Ou achava que eu era um brinquedinho. Ele havia me chamado para vir nessa porra de turnê, e agora ele ficava se agarrando com groupies safadas?

Um outro carro parou há uns centímetros de mim. A porta se abriu, e por um segundo, eu tive a esperança de ser ele, me buscando. Para depois pedir desculpas e me abraçar forte, dizendo que aquilo não iria mais acontecer.

- Entra no carro – Keith Richards pos a cabeça para fora – Está frio aí.

Enxuguei minhas lágrimas e entrei no carro.