1997 escrita por N_blackie


Capítulo 69
Leonard




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159907/chapter/69

“A educação envolve sofrimento, Sr. Black. Infelizmente, adolescentes como o senhor são desordeiros por natureza. Correm pelos corredores, fogem do código de uniformes, xingam e rabiscam tudo o que conseguem por as suas mãos.” Dolores Umbridge circulava a cadeira em que Leonard fora amarrado, ignorando os arquejos do garoto por um ar que não chegava a seus pulmões. “Mas dessa vez, o Senhor passou dos limites. Tudo o que eu queria fazer era restaurar uma Hogwarts melhor! E pobre de mim por sonhar com isso! Mas o Senhor, que se acha acima das leis, do ministério, de mim, até, resolveu estragar uma unidade pela qual venho trabalhando há anos! Não estava feliz? Eu te frustrei?”

Aquele discurso seria hilário para Leo se ele não estivesse passando tanta dor. Caso Umbridge tivesse um relógio em sua sala, poderia precisar quantas horas já haviam se passado desde que a tortura começara, e assim talvez pudesse calcular o quanto de sanidade ainda lhe restava. A primeira maldição lhe atingira de surpresa: a sensação de milhares de lâminas rasgando suas costas, penetrando em seus músculos e tirando todo o seu ar fora apenas o começo. Por fora, não queria se deixar abalar. Por dentro, queria sair dali.

“Está prestando atenção, Senhor Black?” A voz falsamente doce da mulher fez Leonard ficar enjoado. Queria estar com as mãos livres pra te esganar, pensou. Ela achava que iria tirar dele a informação que queria. Os escombros das masmorras foram retirados. Nenhum corpo fora encontrado. Ouviu o comando dela de longe, e a dor veio em uma nova onda agonizante. “Quero que ouça o que estou dizendo, Black!”

Respirou fundo.

“Eu... Não lhe devo... Satisfações.” Arfou. Umbridge sorriu.

“Ah, mas é aí que o Senhor se engana. Como diretora desta instituição de ensino, é minha obrigação – digo, meu dever! – de prezar pelo bem estar dos nossos alunos. Quero saber quem foi que explodiu a ala prisional. Quero que confesse.”

“Pode... Esperar... Sentada...”

Oura onda de dor, dessa vez concentrada em seu peito. O rosto da bruxa diante de si estava tão rosa quanto a decoração horrenda de sua sala. “Quem retirou os alunos infratores das celas?”

Leo usou o resto de sua força física para dar de ombros, e em vez de uma nova rodada de sofrimento, recebeu um tapa no rosto. “Quem retirou os alunos infratores das celas, Black?”

“Não... Sei.”

“Com quem anda se encontrando escondido, então?” Ela circulou a cadeira, e com um toque da varinha, apertou as cordas que prendiam os pulsos de Leonard. O garoto diminuiu a respiração. “Quem está nesse seu grupinho? As Potters? Aquele menino Prewett? Longbotton? Quero nomes, ou quem vai pagar sozinho é o senhor!”

“Vai... me mandar... Para Azkaban?” Zombou, esboçando um sorriso sarcástico para ela. Outro tapa deixou sua bochecha esquerda quente.

“Eu vou ter ordem nesse colégio, Black, o senhor querendo ou não. “

Por uma fresta da janela cerrada, Leo viu uma faixa de luz. Estava amanhecendo.

“O senhor se acha muito inteligente, não?” ela aproximou o rosto do dele. “Pois vai ver só.”

“Se... me matar... O próximo alvo... Vai ser esse lugar.” Prometeu.

Algo cutucou a janela, e Umbridge se afastou de Leonard para abri-la. Junto da luz solar que inundou o aposento, veio uma coruja uniformizada com o logo do ministério enrolado no pescoço. A diretora, olhou de relance para Leonard, e abriu um rolo de pergaminho timbrado. Leo aproveitou a leitura dela para tentar recuperar o fôlego e se desamarrar, mas logo uma sensação horrível tomou conta de si. Umbridge estava sorrindo.

“Passamos a noite toda conversando, “ela finalmente disse, com o pergaminho em mãos, “e sem eu saber, o senhor já foi punido.”

O sorriso dela esbanjava triunfo. Leonard a encarou, sentindo como se seu sangue tivesse se transformado em água gelada. Umbridge, subitamente bem-humorada, puxou uma cadeira e sentou-se diante de Leonard, empertigando o pergaminho.

Hem, hem, vamos ler as notícias?”

E, ainda sorrindo, leu:

REBELDES MORREM EM EMBOSCADA BEM SUCEDIDA

Por: Elena Scabior

Na noite de ontem (20), um grupo de agentes ministeriais foi bem sucedido em uma missão de apreensão de rebeldes dissidentes da organização conhecida como “Ordem da Fênix”, acusada de associação para conspiração e crimes de guerra. O grupo foi encontrado pelos agentes numa tentativa de roubo ao Boticário Unidade Beco Diagonal, e no duelo que se seguiu, morto pelas autoridades.

As casualidades, Harry J. Potter (17), Adhara M. Black (17), Romulus J. Lupin (17), Lewis Pettigrew (17), Hermione J. Granger (17), Ronald A. Weasley (17), e Jacques O. M. Black (15) foram mortos após resistirem à prisão. “Foi uma missão não programada, mas que certamente contribuiu para o reestabelecimento da paz em nosso mundo.” Disse o Agente Especial Phillip Travers em entrevista coletiva no ministério ainda na noite de ontem. Quando perguntado acerca dos corpos, Travers foi eficiente: “Os corpos foram carbonizados. Como podem ver pelas fotos, o Boticário explodiu, e se por um lado temos o prejuízo para o dono do estabelecimento, a quantidade de substâncias explosivas do local foi de grande ajuda para o ministério fazer este importante abate.”

“Para detalhes, página dez.” terminou a mulher. “Pode ir, Senhor Black. Acho que nossa discussão acabou por hoje.”

Ela jogou o jornal nos pés de Leonard, e os olhos marejados do garoto viram a foto de seu irmão cruzada com uma tarja. “ABATIDO”. Seu estômago embrulhou, e quando as amarras em torno de si se soltaram, não conseguiu se mover.

O mundo parou de girar, e o chão sumiu de seus pés. Ignorando Umbridge, pegou o jornal do chão, e não conseguiu conter o choro quando viu o rosto da irmã. Adhara sorria para a câmera, sorria para ele. Era como se alguém rasgasse seu peito e tirasse seu coração de dentro.

Sem pensar, se levantou e começou a sair, a dor no corpo inteiro insignificante se comparada ao que lhe destruía por dentro. Viu Adhara pequena arrastando uma vassoura pela sala, tentando espantar um gato que entrara na casa. Viu Jack desenhando enquanto ele aprendia a ler. Viu a irmã lhe dando um cascudo, e viu seu rosto orgulhoso quando seu artigo fora aceito por um periódico de jovens bruxos talentosos.

“Finalmente fez algo decente!”

O som da voz dela, das risadas histéricas de Jack, nublou sua visão, e Leonard se escorou na parede do corredor, enterrando o rosto nas mãos. Nunca mais veria os irmãos. Nunca mais escutaria Adhara reclamando. Nunca mais veria Jack. Não poderia visitar seus túmulos.

Era como se uma nuvem negra estivesse entrando em sua cabeça, e percebeu que queria voltar à sala de Umbridge. Não queria ir embora. Queria mata-la.

Iria mata-la. E a Travers. E a Voldemort.

Sentiu os nós dos dedos arderem, e percebeu que socara o chão, deixando uma mancha de sangue ali. O luto deu espaço para algo mais forte, algo que Leonard nunca sentira na vida. Algo que não o corria mais.

Secou as lágrimas, e se levantou com os dentes cerrados. No bolso, apertou a varinha. Em sua cabeça, repetiu três vezes.

Avada Kedavra.

Avada Kedavra.

Avada Kedavra.

Marchando, seguiu pelo corredor. Não sentia mais nada.

Na porta do salão principal, encontrou Violet. Estava apoiada num esfregão, e soluçava alto. Seus gritos ecoavam pelo salão. Seus olhares se encontraram, e Leonard assentiu.

“HARRY!” Ela chorava, e quando Leonard se aproximou, jogou o esfregão no chão. “Onde está ela? CADÊ ELA, LEONARD?”

Samantha e Richard correram até nos dois. Os dois tinham os olhos inchados. Sam tentou abraçar a irmã, mas Violet se desvencilhou dela. “NÃO ME TOCA! LEONARD, CADÊ ELA?”

Leo percebeu o olhar dos colegas, e os cochichos cruéis. Procurou Pollux, mas ele não estava na mesa da sonserina. Andou até Violet, e pegou em seus ombros.

“Vamos pegar as varinhas de vocês. Acabou a brincadeira. “

“Leo, eu vou matar esses homens.” Respondeu ela, os olhos castanhos escorrendo de raiva, “eles vão se arrepender disso!”

Leonard encarou a namorada. Hogwarts nunca mais iria se esquecer do que ele começara a planejar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "1997" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.