Um bom tempo se passou até que as lágrimas secassem, Laura se sentia confortável dentro daqueles braços, ela podia sentir o queixo em sua cabeça enquanto ouvia palavras confortadoras, a mão acariciava seus cabelos e a camisa estava totalmente encharcada.

Estava mais calma e com vergonha de descobrir quem era seu Anjo da Guarda, na verdade já sabia de quem se tratava pela cor da camisa, só não sabia como ele havia entrado em seu quarto e como tratá-lo depois dessa cena.

- Obrigada Henrique – disse por fim muito sem graça. – Estou melhor.

- Que bom! – ele disse meio rouco. – Me pediram para trazer o seu lanche e fiquei surpreso por sua porta estar trancada.

- É uma mania... – disse omitindo a verdade – como conseguiu entrar?

- Pela janela da varanda – Laura olhou para o local e ele riu – o seu quarto fica bem do lado do meu.

Laura se afastou do conforto e ainda sem coragem de encará-lo ficou a observar a colcha.

- Eu devo estar horrível! – riu de si mesma e tocou a camisa de Henrique. – Ele está todo molhado.

- A camisa é o de menos – ele ainda acariciava seus cabelos. – Que tal recomeçar do zero?

Ela não pôde deixar de encará-lo, a expressão de Luiz Henrique era serena e amigável, era um outro Henrique e tudo na expressão de seu olhar indicava sinceridade.

- Luiz Henrique Vieira – ele sorriu carismático estendendo-lhe a mão. – Seja bem-vinda na minha vida.

- Laura Angélica Paes Diniz – sorriu ao apertar a mão estendida. – Igualmente!

- Assim é melhor! – desalinhou os cabelos Dela. – É melhor tomar banho e dormir, amanhã vai ter um dia e tanto na companhia de sua mãe.

Henrique se levantou para ir embora, mas antes apontou para o lanche sobre a mesa.

- Acho bom comer tudo – piscou maroto – ou vai ter uma inimiga mortal.

- É muito para mim! Não estou com muita fome – disse rápido antes a coragem se esvaísse. – Você come comigo?

Ele pareceu surpreendido com a proposta, cruzou os braços avaliando e por um momento pensou que Henrique não fosse aceitar, mas ele retrocedeu, pegou a bandeja deixando-a sobre a cama e arrastou o banco da penteadeira para perto dela.

- É acho que dá para fazer uma boca antes de dormir – pegou um pedaço do gordo sanduíche. – Pega logo esse outro!

- Você é muito mandão! – pegou o outro pedaço enfiando uma porção generosa dentro da boca. – Humm! Está bom.

- É verdade! – ele disse pensativo – mas eu não sei ser de outro jeito.

Henrique começou a comer e terminou em três tapas.

- Caramba! Você é muito devagar... – ele disse enquanto a observava e ria ao vê-la comer – Cuidado! Desse lado vai cair!

- É um chato também – ria enquanto a sua parte do sanduíche se desfazia. – Quero comer em paz!

- Foi você quem pediu companhia – ele olhou-a sério. – Meu jeito te incomoda?

- Um pouco... mas acho que é só uma questão de me acostumar – disse num tom conciliador e depois mudou de assunto. – Em que colégio vocês estudam?

- Colégio Santa Catarina Labouré – ele disse com certo entusiasmo. – Você vai gostar de lá.

- Eu vejo que você gosta de lá – suspirou de tristeza – pra mim vai ser difícil recomeçar...

- Que nada! – acrescentou sério. – Vai ser fácil! Eu prometo. Só não comente nada sobre o colégio para o Marco.

- Por que? – enrugou a testa sem entender nada. – Ele não gosta de lá?

- Ele é um aluno especial! Depois que... – ele se calou. – Ele nunca mais foi pro colégio.

- Espera! Mas, você disse que tinham dever pra fazer – continuava sem entender. – Por isso pensei que ele fosse também.

- É uma longa explicação! – suspirou exasperado. – Ele é aluno, mas não freqüenta. Eu trago pra ele todas as matérias e quando tem prova, o colégio manda alguém especial.

Laura ficou pensativa, para ela isso não fazia sentido e isso não estava certo, ficou calada, mas por fim se manifestou.

- Tudo bem! – lambeu os dedos sujos de molho – acho que agora eu realmente preciso de um banho!

Henrique pegou a bandeja e se dirigiu para a janela.

- Por que não sai pela porta? – seguiu-o até a varanda vendo-o transpassar sem dificuldade. – Você parece um ladino.

- Talvez eu seja! Mantenha a sua janela fechada também – riu com gosto ao vê-la corar e beijou-a na fronte. – Boa Noite! Tomara que você se divirta amanhã.

Viu-o entrar no quarto dele e após pensar que realmente gostaria de se divertir, entrou em seu quarto também.