Prólogo

            “Antes da queda do titã Cronos, os Noxprasteas habitavam a Terra e alimentavam-se de toda a discórdia, desespero, medo, pânico e destruição de todos os seres do planeta. Quando a Grande Guerra entre deuses e titãs começou, todos esses monstros, essas misturas de almas perdidas, fantasmas, seres místicos, animais e humanos, esperaram que ela acabasse tranquilamente, sempre sob controle d’Ele. Então, os monstros retornaram à Terra, porém, dessa vez, eles levaram o inferno com eles até a população do mundo, provocando a extinção de cidades, vilas, famílias e, portanto, da felicidade. Eram tão poderosos que até os Três Grandes os temiam. Depois de quase um milênio de lutas abafadas pela Névoa e pelo controle mental que aos deuses cabiam, Zeus finalmente conseguiu jogá-los na área mais escura e temida do tártaro. Para que estes não mais voltassem, ele selou aquela parte do tártaro com o próprio sangue.”

            - Isso é o que dizem as histórias. Parece que a página 666 do meu livro está com um pequeno erro. - Murmurou a deusa, após ler em voz alta uma citação de certo livro, enquanto observava o espelho a sua frente, apesar de não ver seu reflexo. Depois se voltou novamente para a página do livro que havia lido e passou o dedo em sua borda, com um sorriso frio e amarelo na boca, e continuou:

            – Afinal, não foram somente os Noxprasteas que ficaram presos lá. Ele foi selado junto com aqueles monstrinhos nojentos sem motivo algum e por pura arrogância daquele mal-agradecido deus, o tão temido Zeus.

            Uma fumaça negra se aproximou da deusa, mas ela não se espantou ao ver os conhecidos olhos e o sorriso carregados de ódio e vingança.

            - Tem razão, minha cara. - A mulher disse sorrindo com maldade. - Mas ele irá voltar. Voltará ainda mais poderoso do que o próprio Cronos. Com mais sede de vingança. E para isso precisamos daqueles filhotes de deuses.

            Aquela que carregava o livro retribuiu o sorriso e as duas se transformaram em fumaça cinza e negra, deixando a sala pensando que haviam deixado apenas o fogo crepitante da lareira. Mas haviam deixado mais.

            Haviam deixado mentes confusas. Mentes de pessoas cujas vidas iriam mudar num piscar de olhos.