Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 11
ONZE




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/156615/chapter/11

Christian andava de um lado para o outro, seus passos fazendo um barulho úmido na terra molhada.

 – O mais importante é o foco. A magia é uma parte da sua mente. Não necessita de força. – Ele fez uma pausa, olhando nos rostos de cada um.

Mia, Jill, Christian, Evette Ozera e Andrew Szelsky estavam em um campo aberto da Corte – uma exceção, já que a Corte não dispunha de muitos lugares assim – e eu estava de guarda, mesmo um ataque sendo improvável. Em uma localização descoberta como essa, qualquer um que viesse em nossa direção com o objetivo de machucar Jill ou qualquer outra pessoa seria vista a um quilômetro de distância.

E ainda sim, era isolado dos olhares do povo. Foi o melhor lugar que Lissa e Dimitri conseguiram encontrar para se realizar essas sessões de treinamento. Mas, se eu pudesse dar a minha opinião, iria sugerir que fosse perto de onde Lissa fez seu primeiro teste para ser rainha. Era mais isolado e os Moroi correriam menos riscos de serem descobertos e fazerem danos.

- É claro - Christian continuou - que em situações complicadas e que requerem um uso maior da força, é impossível não dar o máximo de si. Mesmo assim, é importante manter a magia separada das suas emoções.

Sete alvos estavam posicionados na grama, e Christian ficou a uns dez metros de um deles. – Por exemplo - ele disse - eu vou direcionar o fogo até o centro do alvo, sem queimar mais nada.

Eu senti a dúvida de todos, se ele realmente seria capaz de fazer isso.

Dois segundos depois, e a resposta estava dada. Formando uma bola de fogo em sua mão, Christian jogou-a perfeitamente no alvo, e um buraco queimado ficou em seu lugar. Mia e Jill aplaudiram, com expressões pensativas no rosto.

- Água é difícil de controlar - Mia disse. – Sempre quer se libertar, e isso numa batalha não ajuda.

- Verdade - apontou Christian. – Mas talvez você não deva controlá-la, e sim direcioná-la. Tente.

Mia fechou os olhos em concentração, e uma bola de água inquieta se formou em sua mão direita. Ela olhou para o alvo mais próxima dela, e uma torrente de água saiu do seu corpo em direção ao centro do alvo. Tecnicamente, atingiu o objetivo, mas sua força foi excessiva. Resultado: Todos se molhando, e um membro do conselho muito incomodado.

- Ora, vamos - Evette disse, passando as mãos pelos braços salpicados com água. – Eu concordei em vir para supervisionar o treino, não tomar um banho.

Jill cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha. – Gotas de água ou um pescoço quebrado, o que você escolhe? Esse é o nosso futuro se não começarmos a lutar.

Toma, eu pensei. Ser colocada em seu lugar por Jill devia doer. Evette suspirou. – Você chama isso de lutar?

- Para andar, é preciso engatinhar primeiro, certo? Nos dê tempo, - Christian interferiu, e se voltou para Mia. – Tente de novo, sem prender a água. Deixe-a fluir; é por isso que você perde o controle da magia.

Ela assentiu, e na segunda vez, conseguiu. A água não foi forte, dessa vez, e sim leve e fluindo naturalmente, exatamente como Christian tinha descrito. Mia sorriu quando viu que tinha feito certo. Christian encorajou-a a trabalhar mais em outro alvo, e ele foi até Jill.

Christian deu as mesmas instruções a Jill, e juntas, ela e Mia praticaram água por quase uma hora, vendo até onde se podia controlar o elemento, e como intensificar o fluxo, ou fazê-lo tão fino a ponto de poder beber dele.

Enquanto praticavam, Christian treinou fogo com Andrew, o protegido de minha mãe, que também tinha vindo. Juntos, eles criaram redemoinhos de fogo, atacando o outro para ver como o elemento adversário responderia. Na maioria das vezes, eles se encontravam em pleno ar e se dissolviam. Fogo com fogo não tinha um efeito tão explosivo quanto o esperado.

Evette era uma usuária de terra, por isso, depois de treinar algumas vezes, Christian chamou Andrew e ela e disse, - Vamos ver como nos comportamos em uma luta. Evette, Andrew e eu tentaremos jogar o máximo de fogo em cima de você sem te queimar, e o seu objetivo é nos impedir, com terra. Forme uma parede de terra, ou intercepte as chamas de algum jeito.

Evette ergueu uma sobrancelha. – Como sei que vocês não vão perder o controle?

- Porque temos duas usuárias de fogo, e uma Guardiã bem ali - Christian disse e apontou para onde eu estava observando. Abri um sorriso mais falso que nota de três e acenei para eles. – Se isso sair do controle, tudo que Hathaway tem que fazer é dar dois ganchos de direita, e você está a salvo de novo.

Evette não pareceu convencida, mas pelo jeito que ficava mudando o peso de um pé para o outro, estava impaciente para começar com o treino.

Andrew e Christian usaram seu poder ao mesmo tempo, duas barreiras de fogo subindo e indo em direção à Evette. A usuária de terra franziu a testa em intensa concentração, e o solo ao redor dela se ergueu, formando um buraco ao redor do seu corpo. Somente a área em que ela estava ficou intacta, como uma mini-ilha.

Sem muito controle sobre o elemento, toda a terra voou em direção aos usuários de fogo, não fazendo muita coisa além de espalhar um cheio de queimado. Evette não sabia usar magia como Andrew e Christian.

– Ok, pare - Christian disse. Os outros dois soltaram o controle sobre o elemento. – Primeiro, quero que você treine - ele murmurou para Evette.

Ela ficou nervosa, mas não reclamou. Sabia que não tinha a mínima chance de derrotar alguém como Christian.

Meia hora depois, Evette já sabia o suficiente para pelo menos atrasar a ação corrosiva do fogo. A terra se movia sem jeito, vários grãos caindo no caminho. Christian e Andrew pressionaram-na o máximo possível, até que gotas de suor marcarem sua testa. Então, eles deixaram Evette descansar, e praticaram o mesmo exercício com Mia.

Eu ajeitei minha postura quando o elemento forte de Mia encontrou a força devastadora do fogo. O resultado foi uma explosão de fumaça, e minha pele formigou com o poder dos três. Mia era claramente hábil com seu elemento, tendo praticado por horas depois das dicas de Christian. Ela estava com o conhecimento fresco na cabeça.

As chamas rodearam as ondas, procurando por uma abertura, enquanto rolos de fumaça branca saiam do encontro entre os dois elementos. Mia moveu seu pulso direito, e uma impulsão pareceu fazer a água avançar, obrigando Christian e Andrew a recuarem.

Eu estava impressionada. Mesmo querendo dar minha opinião e participar no treinamento, sabia que isso era território desconhecido para mim, e trabalho de Christian ensiná-los. Por isso, me contentei em simplesmente observar a batalha fascinante que se desenrolava na minha frente.

Meu celular vibrou, e sorri quando vi o nome de Dimitri na tela. Uma única mensagem: Como vai o treino?

Escrevi a resposta em poucos segundos. Bom. Te conto tudo mais tarde.

Mal posso esperar, ele respondeu assim que apertei o botão Enviar.

Sorri novamente e guardei o telefone.

- Não ataque-a mais - Christian instruiu Andrew. – Vou segurar o fogo o máximo que puder. Mia, tente apagá-lo.

- Tem certeza que vai funcionar? – ela perguntou, sua voz exausta.

- É isso que vamos ver. – Andrew fez um único movimento, e as chamas diminuíram de intensidade, só o elemento de Christian ainda ativo.

Mia esticou seus braços para frente, e fechou seus olhos com força. A água retraiu por um segundo, e em seguida se lançou para frente. Ela se fechou em volta das chamas que agora pareciam calmas. A água foi em direção a elas com força, e Mia deu um passo à frente.

Pouco a pouco, o elemento de Christian foi sendo pressionado, até que somente uma única chama fraca sobrou. Christian sorriu, e o fogo desapareceu. O elemento de Mia caiu no chão, nos molhando mais uma vez.

Evette nem reclamou dessa vez. Ela estava boquiaberta com a demonstração e exercício.

Uma ideia me ocorreu. Dei um passo a frente.

– Talvez possamos usar os elementos em uma luta de verdade - eu disse.

- Como? – Evette perguntou, erguendo uma sobrancelha em desconfiança. – Você acabaria conosco. Somos Moroi, e você é uma Guardiã. Seria uma luta injusta.

- Não se você usar seu elemento como defesa, - Christian murmurou.

- Além disso, - Jill disse, falando pela primeira vez desde sua lição com Christian, - o elemento também pode ser usado como ataque. Rose, me ataque.

- Eu acho que-

- Sério, ­­­- ela me interrompeu, com um sorriso. Jill olhou para Evette e assentiu, quase imperceptivelmente. – Eu sei o que fazer.

Respirei fundo, e relaxei minha mente, me focando em Jill. Disparei meu punho, tentando um gancho de direita, preparada para recuar se Jill não se defendesse com sucesso. Ela pulou para trás, mais rápido do que eu esperava.

Ergui minha perna esquerda, dessa vez mirando sua cintura, e desferi um chute angular. Estava prestes a fazer contato quando senti o solo embaixo do meu pé se mover para trás, me dando uma rasteira. Tentei abaixar a perna levantada e manter meu equilíbrio, mas uma rajada de água me jogou para trás.

Cai de costas no chão, surpresa e encharcada, e meu corpo reagiu instantaneamente, e eu dei um impulso para me recuperar da queda. A terra ao meu lado se ergueu e passou em volta do meu peito como tentáculos, me prendendo no lugar. Me movi furiosamente, odiando a sensação de vulnerabilidade que a posição me dava. Depois de alguns segundos, parei.

Estava respirando com dificuldade por causa do esforço, mas quando levantei o olhar, vi Evette e Jill me observando, concentradas. Sorri levemente e balancei a cabeça. – Bom, - murmurei, - muito bom.

Christian assentiu e olhou para elas, orgulhoso e surpreso pela força que as duas juntas proporcionavam. – Fantástico, - ele disse. Era a palavra que mais se adequava àquele treino.

Por mais de meia hora, treinei com cada um deles. Evette não tinha muito controle do seu elemento ainda, mas isso ajudava na hora de uma luta corporal. Ela manipulava a terra ao meu redor para que me deixasse sem equilíbrio e dificultasse minha visão. Eram poucas as vezes que eu conseguia acertá-la, e mesmo assim, eu o fazia sem força.

Christian e Andrew eram aterrorizantes em uma luta. Sempre que meu punho ia se conectar com o rosto de um deles, eu tinha que retrair minha mão, por conta de uma chama me queimando.

Jill e Mia conseguiam usar a força da água para me empurrar para trás, desviar um golpe, e tirar meu equilíbrio. O elemento não era tão forte, mas mesmo assim, foi interessante lutar com elas.

Mesmo com as lutas insistentes, nenhum de nós se feriu seriamente. O elemento mais perigoso era o fogo, mas Christian e Andrew sabiam manipulá-lo para que não me causasse mais do que queimaduras temporárias e superficiais. A terra e água não faziam muitos estragos. Ainda assim, tanto para eles quanto para mim, foi tremendamente proveitoso as lutas.

No fim, estávamos exaustos e sem forças para lutar de novo.

Conversamos o caminho todo de volta até a área mais urbana da Corte. Eu tinha mandado uma mensagem a Dimitri, avisando que o treino tinha acabado. Eu estava louca para vê-lo de novo, mas precisava acompanhar Jill e os demais até os prédios administrativos. Quando saíssemos do campo, sete guardiões iriam com eles até o resto do caminho, e eu deveria fazer um relatório a Lissa sobre o treino.

– Então, - eu murmurei para Evette, - esse treino todo valeu a pena?

Ela pareceu pensativa por um tempo. – Depende do seu ponto de vista.

Eu assenti. – Mesmo assim, agora você entende por que Lissa insiste tanto nisso. Por que os Moroi devem lutar.

- Admito que possa ser uma boa vantagem numa luta. Os strigoi não teriam nenhuma chance em uma luta, se o Guardião com quem estivesse lutando também tivesse um Moroi ao seu lado. Ainda assim, tem pessoas que usariam isso para proveito próprio. Uma guerra civil explodiria, uma hora ou outra, se os Moroi tivessem esse tipo de poder.

Eu fiquei em silêncio por um tempo, ponderando suas palavras. – Os Moroi sempre tiveram esse poder. O problema é que alguns escolhem usá-lo; outros preferem ignorá-lo.

- Nem sempre, - Evette disse. – Alguns não tem essa facilidade. Estamos sem prática, Guardiã Hathaway. Durante séculos, os elementos foram excluídos de nossa agenda. Trazer isso à tona seria perigoso.

- A raça está morrendo. Acho que é hora de deixar as superstições de lado e pensar na sobrevivência.

- O que adianta a extinção dos Strigoi, se iremos partir para cima do outro, assim que a guerra acabar?

Eu balancei minha cabeça. – E o Conselho acha melhor sermos exterminados pelos Strigoi? Eles preferem isso à possibilidade de uma vida melhor? É claro, uma guerra civil pode explodir a qualquer segundo, e o controle dos elementos só adiantaria esse processo. Mas é por isso que Lissa está aqui.

- Vasilisa é uma sábia Rainha, mas a oposição está aumentando. Se ela conseguir aprovar algum tipo de lei que permita que os Moroi lutem, haverá atentados todo dia.

Eu sorri lentamente. – E é por isso que eu estou aqui, Sra. Ozera. Para acabar com qualquer um que tente chegar até a Rainha.

- Você é uma ótima Guardiã, Rose - ela disse. Foi a primeira vez que Evette disse o meu nome. – Mas isso ainda não muda os perigos que essa lei trará. O treino de hoje foi... Esclarecedor. Mas ainda estou em duvidas sobre a minha opinião.

Ficamos quietas depois disso, andando lado a lado, mas sem dirigir a palavra à outra. Evette estava certa; uma guerra civil aconteceria mais cedo ou mais tarde. Mesmo assim, uma guerra civil com esperança era melhor do que um massacre.

Eu só esperava que o Conselho percebesse isso antes que um banho de sangue acontecesse.

Só isso.

***

- Isso é um assassinato, não execução! – ouvi alguém sussurrar enquanto até a cafeteria. Já era rotina, ouvir um Moroi fofocando sobre a sentença de Tasha. Eu fazia questão de tornar essas palavras um barulho de fundo da minha mente. Pensar e quebrar a cabeça por causa dessas pessoas simplesmente não valia à pena. Não mais.

Eu tinha acabado de sair de um dos meus treinos de tiro. Estava ficando melhor a cada aula, embora não tão boa como Dimitri. O jeito como ele pegava na pistola, tirava a recolocava as balas, a precisão de seus movimentos – tudo isso só me lembrava como ele era bom em tudo.

Sortudo, eu pensei, me recordando de como tive que corrigir a postura do meu braço direito três vezes. Meus ombros sempre ficavam doloridos depois dos treinos, mas eu não me importava. Atirar na cabeça de um Strigoi seria valioso se estivessem Moroi em perigo.

Como sempre, esforço físico equivalia a fome, por isso estava sonhando com um bom sanduíche no momento. Ao ver que não tinha muita fila, acabei pedindo dois, e uma garrafa de água. Refrigerante não me deixava em forma, e o suco da cafeteria era um pouco aguado.

A Moroi atrás do balcão me olhou com cautela quando fiz o pedido, mas foi rápida ao cobrar. Tudo ali era feito na hora, por isso tive que esperar um pouco.

- Aproveitando o cheio de comida? – ouvi uma voz atrás de mim. Me virei e fiquei de frente com os olhos azuis esverdeados de Blake Lazar.

Nunca tinha conversado com ele, mas já ouvi uma conversa que ele teve com Lissa e meus outros amigos. Eu sabia exatamente que tipo de cara ele era só de olhar para suas roupas caras e sorriso torto. Apesar de ser um Moroi bonitinho, especialmente por causa dos olhos, dos músculos – uma coisa que pouquíssimos Moroi possuíam – e por ser um pouco mais velho que eu, ele era um flertador barato, além de amante de várias mulheres da realeza.

- Não sou uma fã disso - respondi e me virei de volta para observar meu lanche sendo preparado. – Você é?

Ele se apoiou no balcão bem ao meu lado, desconfortavelmente perto. Me movi um pouco para o outro lado, sem que ele percebesse. Blake suspirou. – Não. Gosto mesmo dos sanduíches.

- Eu também - disse. – Embora se eu soubesse como fazer um, não teria vindo aqui. Fofocas demais.

Ele assentiu, entendendo o que eu queria dizer e mexeu no seu cabelo preto meio encaracolado. – Com certeza. A semana não foi uma das melhores.

- Eles estão se preocupando com a coisa errada - murmurei, incapaz de esconder minha frustração. – É com os Strigoi que deviam se preocupar, não com o governo da Rainha. Estão se focando no lugar errado.

Blake ficou silencioso por alguns momentos. - Concordo. Eu, particularmente, não gosto de mulheres que se focam nos lugares errados. As que olham para as coisas certas e as que atraem os homens são as melhores.

Foi só aí que desviei meu olhar para ele. Blake estava me observando atentamente, com um meio sorriso curvando seus lábios. Seus olhos brilhavam. Que cara de pau, pensei. E não no sentido literal.

- Você está me cantando? – murmurei baixinho, mentalmente pensando o que aconteceria se Dimitri visse isso. Seria um espetáculo o jeito que ele quebraria a cara de Blake. Simplesmente imperdível.

Blake abaixou os olhos até o meu decote. – Só apreciando o que vejo. Uma bela mulher merece isso.

Estreitei meus olhos. Bem nesse momento, a Moroi do balcão me deu um pacote, com meus sanduíches e uma garrafa d’água. Abri um sorriso de deboche, não tirando meus olhos de Blake, enquanto peguei a comida. – Vindo de você, uma mulher não merece nada. E eu já estou sendo apreciada por outra pessoa. Agora, se me dá licença...

- Na verdade - ele murmurou, pegando no meu ombro e me virando. – Eu acho que não é só isso. Eu percebi o jeito que você olha para mim.

Dessa vez, minha surpresa não dava para ser escondida. – Pois não?

Blake ergueu uma sobrancelha. – Ora, vamos, Rose. Todos sabem como você é.

- Para você falar isso, então com certeza você não sabe como eu sou. E me deixe te dar uma dica, - eu disse, abaixando o tom de voz, - se estivesse na sua pele, eu não manteria sua mão no meu ombro. Talvez ela fique com uns ossos quebrados.

Era uma ameaça vazia, e ele sabia disso. Mas meus olhos mostravam tudo o que eu achava daquela palhaçada toda. – Se você estivesse na minha pele, vendo o que eu estou vendo - seus olhos voaram para meu decote de novo. – Então faria a mesma coisa.

Cara, que insistente. Eu revirei meus olhos. – Não, eu só seria um idiota pomposo que se acha o pegador.

O olhar que Blake me deu tornou claro exatamente o que ele queria fazer comigo. – Eu não acho.

- Oh, não. Você imagina. Seu nível de QI só te permite isso.

Blake sorriu maliciosamente. – Poderíamos pular a fase da imaginação, e ir direto para a realidade. Eu sei que você quer. Dá para ver nos seus olhos.

Minha comida estava esfriando, e meu humor estava variando entre irritação e divertimento. Eu olhei fundo em seus olhos. – Eu já passei dessa fase com outra pessoa. Agora, se me dá licença...

- Sempre tem o botão restart, se você quiser, Rose. – Blake disse, e eu sacudi meu ombro, para que sua mão caísse e deixasse de me tocar.

- E também tem o game over, para quem não tiver cuidado - eu avisei.

O rosto surpreso de Blake me fez balançar a cabeça enquanto saia da cafeteria. Algumas pessoas não tinham senso algum.

Enquanto andava até um dos inúmeros jardins da Corte para comer meu almoço, fiquei pensando nas palavras de Blake, e percebi que já não tinha tanto apetite assim.

Ir para o meu quarto parecia uma ideia melhor e mais atraente, especialmente porque Dimitri estaria lá a essa altura.

- Hey – eu disse quando vi Dimitri sair do banheiro vestindo apenas uma calça. Aquela visão que ele me proporcionava de seu peito nu e cabelos molhados eram de tirar o fôlego. Isso sem falar do cheiro delicioso da sua loção pós-barba que pairava no ar. Era completamente intoxicante.

Algumas mulheres poderiam me chamar de louca por ter dado um fora em Blake Lazar, mas era porque elas nunca olharam para o deus que estava na minha frente. Muito menos quando ele estava com muita pouca roupa, ou totalmente nu, como agora.

- Rose, pare de me olhar desse jeito. Parece que foi abduzida – ele brincou depois de ter me cumprimentado com um beijo e sentado na cama.

Eu sentei do seu lado e sorri – Não posso nem admirar a beleza do meu namorado?

- Para depois compará-la com a de Blake Lazar?  - notei o tom zombeteiro que sua voz tinha e me afastei, surpresa.

- O que quer dizer com isso?

Ótimo, pensei desgostosa. Eu acabara de me livrar de Blake Lazar quando o próprio Dimitri resolveu tocar no assunto. Eu juro que iria a caça do maldito Moroi mais tarde e atirá-lo num ninho de Strigoi. Quem sabe só assim eu poderia viver em paz.

- Não se finja de santa. Eu vi Lazar assediando você hoje a tarde.

- Você acha que eu deixaria Blake encostar um dedo em mim? Que eu iria ficar toda assanhada só porque ele tentou me levar pra cama? – eu estreitei meus olhos, de repente me sentindo irritada pela falta de confiança de Dimitri. – Sabe, camarada, eu achei que você me conhecesse de verdade. Porque saberia que no segundo que ele tentou me cantar pela segunda vez, eu o peguei pelo pescoço como um frango. Só faltava ele criar penas pra sair voando de lá.

Por um segundo, eu notei que ele tinha acreditado no que eu disse, na verdade. Mas esse sentimento sumiu mais rápido ainda. Ele não estava brigando comigo e nem me acusando de ‘adultério’, apenas conversando. E cara, não era um assunto que eu queria discutir naquele momento mesmo que eu não tivesse aprontado nada.

Mas quando ele disse sobre ter me visto rindo de alguma coisa que Blake me dissera – eu me refiro a quando eu ri de zombaria quando ele me disse suas intenções – eu não consegui evitar uma estrondosa gargalhada. Uma que deixou meu antigo instrutor com uma expressão assassina.

- Oh meu deus! – eu me joguei para trás, afundando no colchão da cama – eu não acredito no que estou vendo!

Porque senhoras e senhores, o grande e perigoso Dimitri Belikov, que é o mestre em dar lições de vidas zen e em esconder suas emoções a ponto de você achar que ele é um deus anti-social, estava com ciúmes. Ciúmes de um Moroi mimado.

Isso sim era uma coisa que eu jamais esperaria vir dele.

- Dimitri – eu consegui dizer quando parei de rir um pouco. – Você não precisa ficar com ciúmes de Blake. Eu não gosto dele e nunca vou gostar. Você é o único homem da minha vida. – era mentira, porque meu pai estava no meio. Mas bem, Abe era a figura paterna que eu tinha,oras!

Ele agora assumiu uma expressão estranha de ser decifrada. – Quem te disse que estou com ciúmes?

- Deu pra ver nos seus olhos que você estava!

Ele começou a me dizer que eu estava enganada, que ele nunca sentiria ciúmes por causa de um Moroi quando eu o peguei de surpresa ao agarrá-lo e beijá-lo, fazendo ele cair em cima de mim.

Eu fiquei grata por ele ter afundado o beijo, mais ainda quando senti suas mãos me apertando contra seu corpo, transformando aquela faísca em um fogo ardente que apenas seria apagado com ele. Mas seria um fogo difícil de apagar, especialmente porque tínhamos guardado essa necessidade durante um bom tempo.

Em um piscar de olhos, nossas roupas estavam jogadas no chão e nossos corpos estavam unidos, se movendo ritmicamente. Os lábios e as mãos de Dimitri se apossaram do meu corpo, assim como os meus se apossaram do corpo dele. O que fazíamos era pura energia de vida, misturada com luxúria e uma fome que parecia ser insaciável. E ambos tivemos que nos segurar para não chamar a atenção de alguém quando um orgasmo violento nos atingiu, seguidos por muitos outros.

Era tão bom podermos nos entregar um ao outro depois de semanas sem poder nem se beijar direito.

Eu me aninhei contra seu peito quando terminamos, ouvindo sua respiração pouco a pouco se estabilizar assim como a minha. Ele me puxou mais para perto dele com um braço que permaneceu ao meu redor.

- Acredita em mim agora quando eu digo que você é o único homem pra mim? – perguntei.

- Eu sempre soube que isso era verdade, Roza.

- É? – eu me virei para encarar seus olhos  -Não foi bem essa impressão que tive meia hora atrás.

Seus longos dedos tiraram uma mecha que caíra no meu rosto. – Eu não estava com ciúmes. – ele disse fazendo uma careta. – Só estava... – sua expressão ficou pensativa.

Eu dei uma risadinha quando vi que ele não soube como terminar a frase. Exatamente porque ele sabia que realmente esteve com ciúmes.

- Pare de rir – ele tentava manter a postura de sério, mas não conseguia. Eu mordi o lábio para reprimir minhas risadas. – Rose, eu juro que se você não parar com isso eu vou...

- Me amordaçar? Me asfixiar com os travesseiros? Eu posso te emprestar a lista de sugestões que eu tenho em mente para me fazer ficar de boca fechada.

Ele se inclinou, pairando em cima de mim. – Eu tenho uma outra coisa em mente.

Eu me senti quente com o tom de voz que ele usou e como seus passaram a beber cada detalhe do meu corpo nu. Meu cérebro me disse que ele iria usar algum tipo de tortura sexual para me manter calada. E de repente eu me vi perguntando sobre o que era.

- O que você tem em mente, camarada? – murmurei com a melhor voz sedutora que eu tinha, apesar de tremer por dentro. Tracei o contorno de seus bíceps – Me dê pelo menos uma pista.

- Hm... – ele abriu um sorriso maroto. – Envolve dois dedos. Não vai mantê-la calada, mas pelo menos o que vou ouvir vai me agradar.

A resposta que ele me deu, me fez corar como um tomate e arregalar os olhos porque nunca ninguém me sugeriu algo como aquilo. E porque vindo de Dimitri, era algo que me excitava até os extremos.

Especialmente quando ele me disse isso com a voz rouca e carregada do seu sotaque. Oh cara, isso deveria ser fruto da minha imaginação, tinha que ser.

Ele riu e pegou minha mão que tinha congelado em seu braço depois da sua declaração e a beijou com ternura.

- Roza, só você mesmo para me divertir num momento como esse. – ele deu outro beijo – Tem ideia do quanto eu amo você?

Meu coração estava prestes a explodir quando ele disse que me amava. Eram poucas as vezes que nós dizíamos isso um para o outro, mesmo que não precisasse de palavras para dizer que nos amávamos. Os próprios gestos mostravam que era verdade, assim como a conexão que nossas almas possuíam.

E eu juro que se ele dissesse outra coisa fofa e cheia de afeto seguida por uma provocação, eu derreteria mais rápido que um sorvete no deserto. Aliás, eu meio que já estava derretendo só pelo fato de estarmos nus na cama.

Levantei meu rosto para poder beijá-lo. – Eu também te amo, sempre amei. – eu o puxei afim de aprofundar o beijo, mas ele se afastou divertido ao ver minha cara de descrença.

- Nós temos um jantar para guardar, lembra?

Eu afundei nos travesseiros. Hora de voltar ao serviço pelo qual você jurou, Rose. Nada de passar o resto da noite deitada com Dimitri e fazendo todo o tipo de coisa que vocês tinham em mente, eu lembrei com uma pontada de irritação.  – Merda. Eu tinha esquecido.

- Eu duvido muito com aquele vestido – ele gesticulou onde tinha um vestido azul de alças e saltos igualmente azuis. Eu balancei a cabeça, exasperada.

- Lissa vai me xingar quando ver que eu fui com o uniforme sem-graça dos guardiões. – eu me levantei, revelando todo meu corpo nu quando me livrei dos lençóis.

A reação de Dimitri foi a que eu esperava: os olhos dele se arregalaram enquanto me media milímetro por milímetro, e eu pude ver que tinha despertado aquela fome novamente. E que ele me olhava como se eu fosse algum tipo de deusa que ele faria qualquer coisa para agradá-la, até mesmo se jogar aos seus pés. Eu mentalmente considerei usar isso para ficar ocupada com ele pelo menos pela próxima meia hora.

Infelizmente, meu lado racional falou mais alto e eu me enrolei numa toalha pronta para pegar minhas roupas e tomar banho. Dimitri apenas continuava a olhar para mim, fascinado.

- Levante essa bunda daí, camarada. Se você me quiser mais tarde, vai ter que se aprontar. – eu provoquei. – Porque senão eu acho que vou ter que cortar qualquer divertimento que esteja nas nossas pequenas folgas.

- E o que te faz pensar que isso vai resolver as coisas? – desafiou, ainda deitado na cama.

- Você me prometeu provar que seu auto-controle era mais forte que o meu. E eu ainda estou esperando pela prova, mesmo sabendo que eu vou ganhar a aposta. – isso o fez sufocar um riso.

- Rose, Roza. Você é tão ingênua. – disse sorrindo – Nunca te disseram que não se deve provocar um homem a respeito de seus desejos?

Eu ignorei o tom provocativo que suas palavras trouxeram.

- E você sabe que eu não sou uma boa ouvinte quando se trata de regras e de escutar conselhos práticos – lembrei-o.

Ele apenas assentiu. – Claro, e é isso que vai deixar as coisas mais interessantes quando acontecer.

Notas finais:

Oi, pessoal! \o É a Bia aqui!

Estamos de volta, a Feeh já está melhor, e aquela Feira Cultural gigantesca da minha escola já passou, também =P

A gente tentou mostrar mais a fundo o que a lei que a Lissa tá tentando passar mudaria no mundo dos Moroi. Esse treino foi divertido de elaborar!

Nos mande reviews, porque isso estimula MUITO a escrita.. além disso, a quantidade de reviews tá caindo =/

Esperamos que gostem do capitulo!

Então, os spoilers pra vocês:

- Saia daqui! – ordenei a Lissa, que apenas cobria a boca com as mãos e apontou para um lugar perto da mesa onde estavam os doces. Eu arregalei os olhos, tanto surpresa quanto apavorada.

.....

- Ninguém duvida da sua capacidade, Rose, - Dimitri murmurou, - muito menos Hans. Vocês dois estão agindo como imaturos. Hans, pare com isso agora.

.....

- Ele fez mais do que isso – o exaspero na voz dela me fez virar bruscamente para olhá-la. Aqueles olhos verdes escondiam um segredo poderoso. Um que começou a me fazer queimar de curiosidade.

Bjooos!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!