A noite tinha sido longa para Pucca. Apesar de ter parecido forte, falando na frente de todos, a garota passou a noite toda chorando enquanto jogava tudo que tinha haver com Garu dentro de uma caixa. E não eram poucas coisas: blusas, fotos, quadros, almofadas, pelúcias, etc. A única coisa que não foi jogada fora, foi a pulseira que tinha ganhado de aniversário dele.
Seria muito bom se eu pudesse esquecê-lo.. Pensava enquanto arrumava as coisas.
Mas é difícil esquecer aquilo que fez parte da minha vida por tanto tempo, o coração nem a mente esquece aquilo que foi verdadeiro, em vez de esquecer, eu vou superar você...

Apesar da noite conturbada, Pucca não deixou de ir a escola. Levantou-se no mesmo horário de sempre, colocou o uniforme: uma saia cinza de pregas e uma blusa preta onde havia o símbolo da escola; fez a maquiagem leve do dia-a-dia, e bem como ela deveria amarrar o cabelo como de costume, mas já que estava mudando, porque também não mudar seu visual? Deixou os longos cabelos negros soltos. Olhou para a pulseira em cima da penteadeira, não sabia se colocava ou a deixava ali. Era melhor não, pensou, pegou-a e colocou em uma caixa junto com outras jóias.

Pegou a caixa com o que ia jogar fora e dirigiu-se até o restaurante. Deu bom dia ao seu pai e aos tios, que já estavam trabalhando na cozinha. Mesmo tentando não aparentar eles estavam preocupados com Pucca, pensavam que a garota não voltaria a falar antes de Garu, e essa mudança só podia ter haver com o mesmo, mas eles não sabiam o que fazer, apenas poderiam apoiá-la.

Pucca tomou o café calmamente e foi ate a entrada do restaurante, mas não desceu as escadas, ficou ali olhando o horizonte. Deixou que o sol toca-se a pele branca e o vento leva-se os cabelos negros. Que sensação gostosa... Pensava.

I found a place where I can lose myself
[Eu encontrei um lugar onde eu posso me perder]

Nunca tinha parado para notar isso. Todas as manhas eram tão corridas para poder alcançar Garu e ir com ele para a escola.

And I just leave your memory on a shelf
[E simplesmente deixei suas lembranças em uma prateleira.]

E por falar no diabo. Garu passava umas duas ruas a frente com Abyo. Naquele momento ela sentiu vontade de correr, mas não era até ele, e sim dele. Correr pra longe, onde não pudesse vê-lo, mas seria inútil. Manteve-se firme olhando para o garoto até ele sumir de vista.

See I'm fine, no, I don't need anyone else
[Veja, eu estou bem, não, eu não preciso de ninguém]

– Pucca.. – a voz de Ching tirava a garota de seus pensamentos. – Vamos logo, ou vamos perder a primeira aula.

Pucca desceu rapidamente as escadas e deixou a caixa perto do lixo.

– O que era aquilo ??

– Nada, apenas lixo..

'Cause I'm going, I'm going, I'm going
[Porque eu estou indo, estou indo, estou indo...]

– Quem diria que a voz dela era tão bonita em Garu ?? – Abyo e Garu estavam encostados no muro da escola esperando as meninas, mesmo Garu não querendo estar ali, ficou fazendo companhia ao amigo que insistiu muito. – Sabe, eu acho que a Pucca voltou a falar por alguma razão, do nada, ela não iria fazer isso, já que ela fazia aquilo por você.

Garu apenas deu de ombros, não ligava se ela havia voltado a falar ou não, isso não ia mudar em nada, ao menos era o que ele pensava.

Ao avistar as duas chegando Garu se escondeu atrás do amigo já esperando o pior. Mesmo sendo o mais velho, com 17 anos e já no ultimo ano escolar, Garu aturou todas aquelas histórias de sempre com Pucca, já tinha se acostumado a tudo, só não deixava mais a menina beija-lo, quando eram crianças até que era ‘normal’, mas já naquela idade.

Ching abraçou o namorado, que a beijou levemente em retribuição.

– Bom dia Abyo.. – dizia Pucca com um leve sorriso nos lábios.

– Bom dia Pucca, quem diria que eu iria ouvir sua voz antes da do Garu. – Abyo puxou o amigo de trás dele, deixando-o do seu lado. Já temente ao pior, ele só ficou esperando a reação da menina ao vê-lo.

– Verdade não ? – Pucca via Garu sendo arrastado para o lado de Abyo. – Bom dia Garu. – a menina o cumprimentou com o mesmo sorriso de antes.

Meio que por natureza Garu já estava abaixado esperando a menina se jogar em cima dele, mas ao ouvir o ‘bom dia’ dela, e nem uma outra reação, ele se levantou e assentiu com a cabeça.

Serio? Só isso? Nem uma tentativa de me agarrar, beijar ou qualquer outra coisa? O que será que aconteceu com essa menina hoje?

Pucca sorria ao vê-lo se levantar.

– De hoje em diante será assim.

O sinal tocou e todos foram para suas salas. Dos quatros apenas Abyo e Ching estavam na mesma sala. Garu estava no 3 ano, Pucca no 1 ano e Abyo e Ching no 2 ano.

Para a infelicidade de todos, Ring Ring também estudava ali, e para a piorar na mesma sala de Pucca.
A menina continuava a mesma, mimada, riquinha e com inveja de tudo que Pucca tinha, e até do que ela não tinha: Garu. Saber que sua rival tinha voltado a falar foi uma ótima noticia para ela, isso só podia significar que ela não estava mais interessada em Garu, ou ele tinha colocado um ponto final em tudo aquilo, e agora era a hora certa para ela poder atacar seu grande amado.

– Bom dia Pucca querida. – Dizia em um tom de voz irônica.

– Bom dia Ring Ring. – A garota já sabia como era a figura, e não ligava mais para as provocações dela, apenas sentou-se em seu lugar esperando a aula começar.

– Fiquei sabendo que o Garu te deu um pé na bunda.

– Como pode ter fim algo que nunca começou?

– Que bom, pois agora ele será meu...

–Boa sorte, eu tentei por 5 anos e não deu em nada. – O olhar de Pucca parecia triste, mas conformado, era verdade mesmo, ela não podia fazer nada.

– Ring vá para o seu lugar. – dizia o professor ao entrar na sala, logo dando inicio a aula.

As palavras de Ring Ring não abalaram tanto Pucca quanto ela queria, a garota parecia normal ao seu olhos, e estava mesmo, estava conformada com aquilo, agora só queria seguir em frente.
As aulas acabaram e Ching e Abyo acompanharam Pucca ate em casa, aproveitando para almoçar no restaurante, Garu, como sempre foi para sua casa treinar.