Na rua o vento soprava agitadamente enquanto o tic-tac do relógio seguia um compasso irritantemente certo. O silêncio trazia a sensação de medo e quanto mais ela descia as escadas, mais o suor descia pelo seu corpo demonstrando o receio de ser apanhada.

Os seus passos eram dados com firmeza o que contrariava o facto da garota estar ligeiramente amedrontada. Ela sabia que não podia parar, ela tinha que lutar até ao fim para conseguir salva-lo.

O perigo continuava à espreita e mesmo assim ela seguiu em frente. O ruído da chuva agora batia incessantemente nas janelas que ali haviam, o barulho do exterior era abafado pelo bater do seu coração que se tornava cada vez mais rápido.

O seu interior parecia desfeito, o corpo simplesmente reagia à adrenalina que permanecia no seu organismo mas o seu físico deixava muito a desejar. Não iria aguentar muito mais e o seu instinto tomou posse do seu ser.

Um tiro soou no ar. Ela observou atentamente o espaço que a rodeava e pensou que a sua única opção era correr. Quanto mais fugia, mais alguém se aproximava.

Como é que deixara as coisas chegarem aquela situação? Ela não queria nada daquilo mas era preciso. Ela não podia deixá-lo morrer. Correu ainda mais rápido antes de tropeçar em algo no meio do caminho. Parou subitamente, olhou em volta mais uma vez e soube que era o seu fim.  

Se ao menos tivesse dito o quanto se importava com ele. Esperava que ele soubesse mesmo que essas palavras nunca o tenham sido ditas.

 Tudo começou por ela e nada mais justo do que acabar com ela. Só pedia a Deus, com todas as forças que lhe restavam, que o ajudasse. Ele merecia sobreviver e retomar a sua vida.

A culpa era dela, por e simplesmente dela, e aquilo acabaria ali.

O último som que ouviu foi o do disparo e mesmo sem saber quando a inconsciência a levou, sussurrou baixinho, Eu te amo.