A neblina densa cobria todo o céu de Forks, enquanto o meu bebê deslizava pela estrada molhada em uma velocidade gratificante, o que me acalmava. Não consegui pegar no sono na noite passada, os pés machucados e o medo enchiam minha mente sempre que meus olhos se fechavam.  Esses pesadelos estão acabando comigo. 

 Vovó já começou a se preocupar, eu tento relaxar e digo que são apenas sonhos indesejados, entretanto... os pés machucados cada vez mais me parecem familiar...

 O borrão de um volvo prata passou por mim em uma velocidade que me deixou zonza. Uma expressão indignada moldou meu rosto no mesmo instante que me lembrei de quem pertencia aquele carro: Os Cullens.

-Jasper, Edward, ou seja lá quem for, ninguém ultrapassa Alice Brandon. –Sussurrei para me mesma, sentindo meu pé descer com toda a força para o acelerador.

 Apertei o volante em meus dedos e em poucos segundos os dois carros estavam em uma corrida silenciosa pela pacata estradinha da cidade de Forks.

 Encarei o ponteiro do velocímetro enquanto ele passava de duzentos quilômetros por hora, se continuássemos assim logo estaríamos fora da cidade.  Apreciei a adrenalina bombardeado meu corpo quando enfim meu bebê tomou a liderança. Obvio que eu tinha certa vantagem, já que provavelmente o volvo estava abastecido com toda a família Cullen.

 O carro atrás de mim oscilava entre as duas pistas e eu seguia os mesmos movimentos tentando continuar na liderança, eu realmente não sabia quando a corrida começou ou onde ficava a linha de chegada, mas eu não pararia.

 Minha visão tremeu por alguns segundos, tentando me mostrar algo do futuro próximo, a ignorei, infelizmente esses poucos segundos foi o que bastou para novamente colocar os dois carros lado a lado.   

  Minha cabeça doeu, o que era estranho, eu normalmente consigo controlar minhas visões, a dor foi tão... insana que em uma reação impensada, soltei o volante e segurei a cabeça com as duas mãos.

    A floresta escura não parecia a mesma, parecia mais... perigosa, a garota corria, os pés passavam sobre pedras ponte agudas, folhas secas e galhos finos, ela não se importava com os machucados, eu podia sentir a angustia e o medo que era causado pelo... “predador” a garota não fugia de um animal, era uma pessoa, descalça, de pele branca e extremamente pálida, era nisso que se resumia a cena: Eu só conseguia ver os pés que corriam em circulo ao redor da vitima, ela não sabia, mais não importava a velocidade ou a força que ela usava, o predador sempre estava ao redor dela.

Voltei para a realidade com um suspiro que foi rapidamente substituído por um grito de horror, o carro não estava mais na estrada ele adentrava descontroladamente floresta adentro.  Apertei o volante entre meus dedos tentando controlá-lo, meu pé trocou o acelerador pelo freio, o que não adiantou muito, já que o carro continuava a se movimentar entre as arvores.

 Tentei esvaziar a mente. –O que era praticamente impossível, já que diversas imagens enchiam minha cabeça– me concentrei apenas na terra úmida da floresta, tentando ao Máximo elevar o nível da terra e assim ela fazer o carro parar. No mesmo instante tentei criar uma barreira com o vento forte que circulava, uma espécie de parede de vidro que fizesse o carro parar, infelizmente nada adiantava eu não conseguia me concentrar.

 Sentir as asas se movimentarem lentamente, era isso, minha salvação. E no instante que elas iriam se libertar, meu corpo foi jogado para frente enquanto o carro parava bruscamente, tirei a alguns fios de cabelo do meu rosto, ainda tentando controlar a respiração, meus olhos congelaram na imagem que aparecia no espelho retrovisor, o garoto alto e louro sustentava todo o peso do carro com apenas uma das mãos, sua face continuava impecável não demonstrava nem o mais remoto sinal de esforço.

-Jasper! –Sussurrei saindo do automóvel. -Jasper... como?... como você?...  –Minhas perguntas ou palavras ficariam sem respostas –Pelo menos por hora– tão misteriosamente como apareceu, ele desapareceu, ele não estava mais lá.

 Meus olhos continuavam a vagar pela floresta tentando entender o que havia acontecido, ele esteve aqui, eu sei, por mais maluco que pareça, eu o vi.

*-*-*-*

 Assim que conseguir me acalmar, foi fácil recolocar o carro na estrada e reconstruir o escudo protetor sobre meu corpo, entretanto não conseguir evitar o atraso, agora meus pés percorria apressadamente o corredor vazio. Se nesse momento minha mente não estivesse tão ocupada tentando achar uma solução logica para tudo que havia acontecido agora pouco, eu estaria surtando pelos diversos arranhões que marcavam as laterais do meu bebê!  

-Desculpe o atraso! –Sibilei ofegante pelo cansaço. Alguns dos alunos fixaram seus olhos em mim, entretanto, o que mais chamou minha atenção foi o olhar curioso de Jasper, era como se ele não esperance me ver. Se por pelo menos por um segundo eu duvidei da presença dele  na floresta, agora eu tinha certeza: Ele estava lá! 

-Senhorita Brandon... –Senhor John suspirou teatralmente. -Eu realmente estava imagino em que momento inoportuno você apareceria. –O sacarmos na voz do professor era tão evidente que se os olhos de Jasper não continuassem sobre mim, eu teria corado violentamente.

Enquanto seguia para o meu lugar, senhor John murmurou algo incompreensível.  Até que aos poucos voltou para seu “tom” habitual e continuou o monologo cansativo que sempre faziam parte de suas aulas.

Cruzei as mãos sobre a mesa, esperando ouvir algum tipo de explicação. Jasper ignorou-me e voltou sua atenção para o professor a nossa frente.

Bufei irritada, o que fez meu colega de classe se voltar novamente para mim.

-Como... como você fez aquilo? Eu... eu... vi... Você estava lá... Você me salvou! –Esforcei-me, tentando ao máximo fazer com que minhas palavras parecessem coerentes.

-O que? Como assim “Eu te salvei”? –A confusão em sua face e em suas palavras eram tão reais que eu fiquei tentada a acreditar que ele realmente não esteve lá!

-Para! Não se faça de idiota, eu o vi... você estava lá! Eu tenho certeza! –Afirmei sentindo no mesmo momento uma onda de confusão invadindo meu corpo.

-Você tem certeza? –Jasper perguntou estreitando os olhos. E naquele momento eu não tinha certeza de mais nada, a nuvem de confusão crescia em minha mente tentando cobrir completamente as certezas que eu julgava ter.

-Você estava lá! Não tente me convencer do contrario. Eu vi o carro de Edward, eu... eu tenho certeza!

-Do que você tem certeza Alice? –Ele perguntou, incoerentemente de uma forma que me fazia duvidar até do meu próprio nome.

-Os dois carros estavam na estrada... o volvo me ultrapassou e eu acelerei... aconteceu muito rápido, eu... eu perdi o controle do volante e acabai adentrando a floresta... eu pensei que ia... morrer, daí você apareceu muito rápido e segurou o carro... Você parou carro com a mão!

-Realmente, é uma historia fascinante, você já pensou em escrever livros? Tenho certeza que se sairia muito bem! –Debochou ele.

 Escondi minhas mãos debaixo da mesa, elas tremiam excessivamente tamanha a raiva e a confusão que sentia. Eu o vi... eu acho que o vi.

-Jasper você sabe que... –Ele não prestava mais atenção em mim, não só ele mais toda a turma incluindo o senhor John encaravam a janela de vidro. Alguns alunos saíram de seus lugares para observar melhor o que acontecia lá fora.  Uma ventania forte e intensa chicoteava sem piedade as paredes da escola, arrastando consigo alguns galhos, pedras, folhas, chegando a arrancar alguns trocos das arvores mais próximas.

-Oh Meu Deu! –Sussurrei pausadamente quando percebi que era eu que estava causando toda essa confusão!  -Calma Alice, calma! –Murmurei para me mesma. Jasper encarou-me sugestivamente.

 Fechei os olhos com força sentindo toda a energia ao meu redor, minhas mãos continuavam a tremer embora meu cérebro ordenava fervorosamente  que parassem. Uma onda insana de calma e tranquilidade tomaram conta de mim. Sentir o ar pesado lá fora e aos poucos pude desconectar a ligação entre os ventos da atmosfera e o meu estado de espirito!

Abrir os olhos lentamente, a maioria dos alunos se espremiam ao lado da janela para ver a repentina mudança no clima. A ventania havia dado lugar aos pacatos ventos de Forks.

Jasper encarava-me com um misto de curiosidade e fascínio estampado em seu rosto.