Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 16
Capítulo 16




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 16:

 

– Jesse! Charlie! Venham comer, o jantar está pronto! – Gritou minha mãe.

 

Nem preciso dizer que eu dei um pulo de quase três metros com o susto, preciso? E com isso acabei batendo com a cabeça no queixo de Charlie, que ainda estava sentado ao meu lado, com o braço passado sobre meus ombros.

 

– Você é mesmo cabeça dura, moleque. – Ele reclamou, passando a mão pelo lugar dolorido.

 

Levantei apressado, pedindo desculpas diversas vezes. Ele se limitou a resmungar algumas palavras ininteligíveis enquanto descíamos as escadas.

 

Como já era de se esperar, uma enorme embalagem de lasanha para microondas estava disposta sobre a mesa, com alguns potinhos de molho a rodeando. Provavelmente os mesmos estavam lá só enfeite, afinal, quem come lasanha com molho shoyo?

 

Sentamo-nos e minha mãe serviu nossos pratos. Qualquer um perceberia que o centro das atenções naquela casa no momento era o Charlie, que já estava comendo e fingia não perceber tantos olhares sobre si. Ele já deveria estar acostumado com isso.

 

Quer dizer, não com a família dos seus amigos o olhando como se fosse uma atração de circo. Mas em chamar tanta atenção. Não só por causa da beleza... Algo em seu olhar vago parecia fazer com que eu continuasse olhando. Ou ao menos é o que eu acho.

 

– E então, meu jantar foi aprovado? – Perguntou minha mãe, abrindo um largo sorriso para o convidado especial da noite.

 

– Mãe, é lasanha de microondas. Você deveria ser dez vezes pior na cozinha do que já é para fazer ela não dar certo. – Falei, um pouco enojado com aquele olhar que ela direcionava ao Charlie. Certo, ela deveria estar feliz por eu ter trago um amigo que não fosse o Max em casa... Mas já está exagerando um pouco.

 

Charlie nesse momento pareceu ficar um pouco incomodado. Mas podia ser só impressão minha.

 

– Você não pode dizer nada, já queimou miojo. – Redargüiu minha mãe, num tom vitorioso. É, sobre isso eu não podia me defender.

 

– Mãe! Você o deixa entrar na cozinha? Crianças não deveriam brincar com o fogão... E a idade mental dele é cinco.  – Replicou Kate, zombeteira.

 

Aí você espera que, como qualquer outra mãe normal faria, ela brigasse com minha irmã e pedisse para fazermos silêncio enquanto comemos. Quem dera.

 

– Não é que a idade mental dele seja baixa... É que na verdade ele é um porífero1 super desenvolvido. – Disse minha mãe, abafando o riso. Kate quase cuspiu o suco de tanto rir e Roxie, ainda no fundamental, balançou a cabeça, sem entender.

 

– Estou satisfeito. – Discorreu Charlie, após dar a última garfada.

 

Quase pulei de susto quando ele colocou a mão sobre a minha e se levantou, murmurando um “licença” e me puxando para o andar de cima, mais precisamente para o meu quarto.

 

– Ta machucando. – Reclamei, já não podendo sentir a circulação em minha mão, pela força empregada por ele em meu pulso.

 

– Você diz que quer deixar de ser idiota e deixa eles te tratarem assim? – Ele indagou, ignorando o que eu havia dito anteriormente e me segurando com ainda mais força.

 

– São a minha família. – Respondi, simples. – É assim que funciona, sendo eu um sem-cérebro ou não. Eu sei que apesar de tudo eles me amam.

 

O que eu não entendia era aonde ele queria chegar com aquilo. Quer dizer, com tantas criancinhas inocentes sendo espancadas e estupradas dentro de casa e ele se preocupava justo comigo? Só por causa de uma piadinha infame envolvendo biologia?

 

Mas... Não pude deixar de notar que, pela expressão em seu rosto, ele estava realmente preocupado. Comigo. Por que diabos eu estava tão feliz com isso?

 

– Eles não deveriam te tratar assim. Você realmente não se importa? – Ele parecia indignado com a minha aparente indiferença.

 

– Me importo. Quer dizer, se eles me vêem assim, que dirá o resto? Mas não é com a opinião deles que eu estou preocupado. – Falei, soltando um pesado suspiro e abrindo um espaço no colchão para me sentar.

 

– Como você espera conseguir o respeito da Zoey sem conseguir o dos outros primeiro? – Ele disse calmo, como quem lida com uma criança.  Continuava em pé à minha frente, as mãos enfiadas displicentemente no bolso da calça.

 

Tudo o que pude fazer foi permanecer sentado, brincando quase que inconscientemente com um fio solto no lençol. O que dizer? Ele estava certo, afinal.

 

E então eu sorri.

 

– Mas o seu eu já tenho, pelo menos. – Constatei, com tamanha certeza na voz que surpreendi até a mim mesmo.

 

– Seu convencido. – Resmungou, dando um tapa de leve em minha testa e passando a mão em meu cabelo, o bagunçando. – Você tem. – Ele completou, sorrindo em resposta.

 

Quando dei por mim, já tinha o abraçado.

 

– Obrigado. – Disse, da maneira mais idiota e sincera que você puder imaginar.

 

Quando foi que eu me tornara tão dependente da opinião dele? Quando foi que o respeito dele se tornou mais importante do que o do monte de acéfalos que habitam a minha escola? Quando foi que eu passei a ser tão brega? Ah, certo, isso foi na quinta série, quando eu comecei a assistir a novela das oito com a minha mãe.

 

– Não consigo respirar direito. – Ele reclamou, sem me afastar, entretanto.

 

– Posso fazer uma pergunta? – Indaguei, depois de mais alguns segundos ali, com a cabeça escondida em seu peito. Como veio apenas o silêncio, entendi isso como um sim e prossegui. – Por quê?

 

– Por que o quê? – Ele rebateu e, mesmo sem ver seu rosto, eu sabia que sua sobrancelha estava erguida em sinal de desentendimento.

 

– Por que você aceitou me ajudar? – Perguntei, por fim, afastando-me um pouco para poder fitá-lo nos olhos.

 

– Ah, eu achei que ia ser engraçado. – Respondeu, abrindo seu típico sorriso cínico. – Estou brincando! – Completou, vendo que eu não havia exatamente gostado daquela resposta e estava prestes a estapeá-lo. – Foi porque você pediu olhando nos meus olhos. Você nunca desvia o olhar para falar alguma coisa.

 

Nesse momento eu pude sentir todo o meu sangue se concentrando nas minhas bochechas. Tentei ignorar. Não consegui.

 

Olhei para o alto do meu guarda roupa, onde estava a enorme caixa com os rolinhos de papel higiênico. Andei até lá, ficando na ponta dos pés para pegar a mesma. Alguma coisa eu tinha que fazer para garantir que ele não havia decidido me ajudar em vão, afinal. E, no momento, aquilo era o melhor que eu podia fazer.

 

Passei pela porta do quarto com a caixa e desci as escadas, direto, sem olhar para trás. Mas mesmo assim eu sabia que ele vinha logo atrás. Principalmente quando saí de casa e alcancei o meu objetivo, jogando a caixa na lata de lixo do quarteirão.

 

Quando entrei novamente em casa, todos me olhavam como se fosse uma aberração. Charlie sorria.

 

– O que foi? – Perguntei, vendo que eles apenas continuariam me encarando caso eu não dissesse nada.

 

– Nada. – Respondeu Kate, voltando sua atenção para a mesa novamente, onde eles ainda terminavam de comer. Apesar disso, pude ver que ela também sorria.

 

– Está ficando tarde, tenho que ir. – Disse Charlie, dando um aceno breve para minha família e se dirigindo à porta.

 

O abracei novamente, dessa vez de forma rápida, antes de abrir a porta. Fiquei parado, observando-o ir embora, fechando a porta apenas quando o perdi de vista.

 

Cheirei a manga de minha camisa, percebendo que a mesma havia ficado com o cheiro dele. Era o mesmo cheiro adocicado de perfume que eu sentira antes no casaco que ele me emprestara para cobrir-me da chuva no outro dia. Eu gostava desse cheiro.

 

No dia seguinte, quando acordei, Kate já tinha ido embora. No pé da minha cama, encontrei um pacote com os bob’s que eram dela.

 

Continua...

 

 (1) Poríferos (esponjas) se caracterizam de outros filos pela ausência de tecido verdadeiro e sistema nervoso. Ou seja, a mãe do Jesse quis dizer que ele não tem cérebro.


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Notas finais do capítulo

DESCULPEM DESCULPEM DESCULPEM!
E eu realmente não tenho como explicar essa ausência de quase um ano, me desculpe, mesmo.
Primeiro falta de computador, depois falta de tempo e, por fim, simplesmente falta de vontade para continuar.
Esse capítulo eu me esforcei muito para terminar por causa do aniversário do Sr. Yuri ♥ Acabei terminando uma semana depois do aniversario dele, mas pelo menos consegui retomar a fic.
Obrigada por me encher o saco todo dia por causa dessa fic, coisa ♥
A partir de agora vou tentar atualizar pelo menos a cada dez dias. Talvez demore um pouco mais, talvez um pouco menos.
Espero que vocês continuem acompanhando a história e deixando reviews! Agora mesmo começarei a responder os atrasados.
Espero muito mesmo que vocês gostem desse capítulo ;w;
beigos ~~