Como Deixar de Ser Idiota em 30 Dias escrita por Lie-chan


Capítulo 15
Capítulo 15




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Como deixar de ser idiota em 30 dias.

 

Capítulo 15:

 

O que a desgraçada fazia ali, ou melhor, como ela havia ido parar ali, eu não fazia a menor idéia. Mas tinha uma leve impressão de que ela logo estaria sendo usada como pano de chão. Sim, às vezes eu sou extremamente vingativo, mesmo com objetos inanimados.

 

– Oi. – Respondi meio sem jeito, dando um sorriso automático. Podia até estar em uma posição ridícula, no entanto, mesmo com vontade de enterrar a cabeça no carpete, ainda tinha alguma percepção do mundo ao meu redor e era impossível não reparar no fato de que o Charlie estava escorado no batente da minha porta.

 

 O Charlie. Na minha porta.

 

Ainda não me acostumei em usar os dois substantivos na mesma frase! Principalmente quando o primeiro encontra-se incrivelmente bem vestido para quem se arrumou em tão pouco tempo. E algo em seu olhar me diz que ele tem completa noção do quão bem aquela calça jeans escura lhe caí, combinando impecavelmente com a camiseta vermelha de malha.

 

Não precisava nem me olhar através do espelho – que por sinal cobria uma parede inteira do meu quarto – para saber que estava com o rosto muito rubro. E estaria bem mais se não fosse pela leve camada de base que passei após o banho para esconder algumas manchas.

 

E foi impossível evitar que um bico se formasse aos poucos em meus lábios. Parecia ter alguma força além da compreensão humana me forçando a agir tão infantilmente. Sim, foi engraçado, e daí? Até parece que nunca viu um garoto caído no chão do quarto com uma cueca na cabeça... Okay, provavelmente nunca viu mesmo. E isso por acaso é motivo para rir? São essas coisas que levam as pessoas a considerar suicídio como opção... Não que esse seja o meu caso, claro.

 

Obviamente também me sentia constrangido pela situação, mas não é como se eu já não estivesse me acostumado com essas coisas. Elas já viraram uma constante em minha vida, uma a mais ou uma a menos nem faz tanta diferença. Ou pelo menos é nisso que eu tento acreditar, pelo bem da minha saúde mental.

 

– Sua mãe abriu a porta e me deixou subir... – Disse, como que para se explicar. Mas claro que isso só depois de uma longa pausa, onde ele fazia de tudo para conter o riso e eu olhava fixamente para o chão (ou pelo menos para a parte dele que podia ser visto entre a bagunça).

 

O rubor de minha face já deveria ser evidente, mesmo com a base. Sabia que deveria ter sido menos avarento e comprado uma a prova d’água! Com o desconto de revendedora da minha mãe a diferença de preços nem ia ficar tão grande assim... Mas não! Eu quis economizar... Agora tenho que agüentar essa merda que borra só deu suar um pouco.

 

E aquele maldito sorriso continuava estampado em minha cara, mesmo que tivesse sido retorcido em desaprovação por um instante.

 

Acho que preciso procurar urgentemente uma psicóloga... Se eu estivesse rindo de nervoso – o que costumo fazer nesses casos – ainda seria aceitável. Mas eu não ria, simplesmente sorria.

 

Definitivamente, só idiotas ficam sorrindo com cara de autista depois de cair na frente do garoto mais bonito da escola. Principalmente se levar em consideração o lance da cueca.

 

Sacudi a cabeça, tanto para afastar os devaneios inúteis quanto para me livrar do “charmoso chapéu”.  A peça caiu no chão do quarto – bem, tecnicamente caiu em cima de algumas revistas, já que o chão se encontrava a uns bons metros de profundidade – e logo eu estava me apoiando na beirada da cama para levantar.

 

– Está olhando o quê? – Objetei, tentando em vão demonstrar mal-humor. A frase, entretanto, acabou soando quase divertida.

 

Não é possível, acho que bati com a cabeça em algum lugar hoje! Afinal, sempre fui desastrado e esse não foi o primeiro tombo do dia. Vai ver a batida foi tão forte que eu fiquei com amnésia e nem lembro direito. Ou então... Já sei! Foi aquela gosma verde espalhada pela cozinha! Realmente não deveria ter experimentado...

 

– Não vou nem perguntar o que aconteceu... – Falou dando um sorriso de canto, com aquele mesmo cinismo de sempre. – Credo! Você não tem vergonha de deixar alguém ver o seu quarto nesse estado não? – Completou enquanto entrava no cômodo e dava uma boa olhada ao seu redor.

 

Sim, eu sentia vergonha.

 

Pilhas e mais pilhas com roupa suja estavam espalhadas pelo ambiente; e no pouco espaço restante podiam-se ver revistas velhas, sapatos e outros pequenos objetos como canetas ou CD’s. Na mesa do computador, o teclado estava quase soterrado por restos de comida e algumas latinhas de refrigerante amassadas. As paredes, todas pintadas de azul marinho, com exceção da coberta pelo espelho, estavam completamente lotadas por pôsteres e recortes aleatórios, quase não sendo possível ver sua cor original. Resumindo, um verdadeiro pandemônio.

 

Mas é claro que eu não ia admitir isso em voz alta a ninguém. Nem para o Charlie.

 

– Nem está tão bagunçado assim. – Respondi contrariado, inconscientemente recolhendo algumas coisas do chão e as depositando em minha cama.

 

– Okay, okay, não sou eu que vou reclamar... – Disse levantando os braços em sinal de rendição. – Mas você podia pelo menos abrir um espaço para eu entrar.

 

Mais do que imediatamente eu estava recolhendo as pilhas de roupa suja – ou pelo menos a maior parte que eu conseguia carregar – e as levando para um cesto no banheiro, onde deveria ter as deixado desde o início. Quando passei pelo corredor na volta escutei alguns assovios e gritos de “aleluia” vindos do quarto de Kate, mas ignorei.

 

Ao chegar novamente no quarto, ele já tinha se sentado em minha cama e catado um travesseiro para usar de encosto. Olhava distraidamente para o teto, enquanto as mãos brincavam displicentemente com um fio solto do edredom.

 

Daquele jeito nem parecia a mesma pessoa que há minutos atrás me observava com escárnio. Na verdade poderia até parecer inocente, se não fossem pelos quatro furos na orelha direita. Não que eu tenha algo contra piercing’s – eu mesmo só não tenho um no lábio para não matar a minha mãe do coração – mas era inevitável que eles não transmitissem um ar de rebeldia.

 

 Entretanto, já que felicidade de pobre nunca dura muito, ao me aproximar percebi que ele não olhava para o teto – e sim para o alto do meu guarda roupa. Virei-me para ver o que ele tanta observava... Droga!

 

– Jesse... O que tem naquela caixa? – Perguntou, desencostando-se da parede e virando-se para me encarar. Ele tentava manter um tom casual, mas o interesse era nítido, assim como a descrença. – São mesmo rolos de papel higiênico? – Completou arqueando a sobrancelha.

 

– São. – Repliquei antes mesmo de perceber o que estava dizendo. Fico surpreso com o fato de o meu cérebro conseguir não colaborar nem um pouquinho comigo de vez em quando. Acho que alguma entidade superior estava com muito tédio no dia no qual eu nasci e decidiu embaralhar os meus neurônios para se divertir...

 

– E para que você guarda isso? – Indagou perplexo pela minha resposta, logo depois soltando um suspiro cansado. Provavelmente tinha se lembrado que aquilo não era nem de longe a pior coisa que eu já fiz.

 

– Eu uso no cabelo. – Mais uma vez só me dei conta do que havia dito depois das palavras escaparem por meus lábios. Espanquei-me mentalmente por isso.

 

Por um momento seu rosto se contraiu em desentendimento, como se eu estivesse falando em latim ou algo do tipo. Mas logo ele se lembrou que eu fazia bob’s e essa expressão deu lugar a uma de nojo.

 

– Certas informações não foram feitas para serem compartilhadas. – Disse, direcionando o olhar para a caixa novamente.

 

– Foi você quem perguntou... – Retruquei sentando-me na cama, tomando cuidado para manter uma certa distância do Charlie. Por mais que ele tenha se aproximado nos últimos dias, ainda acho meio estranho ele sentado tão perto de mim.

 

Fui surpreendido por seu braço, que me puxou pelo pescoço para mais perto, fazendo-me apoiar a cabeça em seu ombro. Não de um jeito romântico, claro, mas como um irmão mais velho que faz cafuné no mais novo.

 

– Você não tem mesmo jeito... – Murmurou divertido. E o que mais me surpreendeu não foi o “abraço” e sim o sorriso que eu podia jurar ter visto no canto de seus lábios, mesmo ele ainda estando com a cabeça virada em outra direção.

 

Vai ver ele finalmente reparou onde se meteu quando concordou em me ajudar.

 

E, pelo visto, tem a mesma opinião do tal ser superior que decidiu embaralhar os meus neurônios: Aparentemente a minha desgraça era bem divertida.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Nee, eu demorei muito mas não abandonei a fic! -apanha-
Desculpa mesmo, mas eu comecei a trabalhar e só pude digitar nos finais de semana... E do jeito qu eu sempre fui lerda... Deu nisso. .__.'
Estou tãão feliz por todos os reviews que tenho recebido! Eu sei que também demoro meio século para respondê-los, mas eu amo cada um de vocês que comentam - e os que não comentam também, mesmo que um pouco menos (sim Mah, isso foi uma indireta)- e vou fazer de tudo para respondê-los logo...
No mais, por favor continuem acompanhando!
Eu sei que esse cappy ficou meio enrolação, mas se eu fosse fazer maior ia demorar mais para postar (como já disse, sou muito lerda)...
Mas só para constar, o yaoi ainda vai demorar um pouco para aparecer... Porque na verdae eu já escrevi um esboço do final e ele só acontece depois dos trinta dias... Então até lá a história vai ser focada no Jesse tentando deixar de ser idiota, não no romance... *fugindo das pedras*
Nee, acho que já faleiu mais do que deveria...
Bye ;*