Na verdade, não era bem um apartamento, não havia divisão de cômodos além da do banheiro.

                O bom era que ficava perto de casa. Dois quarteirões de distancia apenas. Arrumei minhas coisas no armário e tomei um banho, fui até o sofá escovando os cabelos e liguei a TV. Fiquei trocando de canal por um bom tempo até descobrir que nada que passava me interessava. Desliguei o aparelho. Sem nada para fazer decidi ler um livro das dezenas de livros que havia ali. Aproximei-me da estante e comecei a ler os títulos arrumados em ordem alfabética. Li até a letra B, depois decidi escolher um aleatoriamente.

                Deitei-me na cama de casal e olhei pela primeira vez para a capa.

                Comecei a ler.

                Era um dos famosos contos de Sherlock Holmes. O título era “Um Estudo em Vermelho”. Passando a segunda pagina não consegui mais me concentrar, minha mente vagava para a distância de dois quarteirões, mais exatamente para a segunda a segunda porta a esquerda no segundo andar, nos olhos profundamente negros do homem que roubou meu coração.

                Pov Caspian.

                Ficou um silêncio monótono depois que ela foi. Lucia esquentou o jantar (a sorte que Susana tinha o deixado pronto). Comemos em silêncio. Ajudei-a levar a louça suja para a pia, ela lavava e eu enxugava.

                - Caspian, é verdade que Aslam o mandou por que a Su precisa de você? – perguntou ela.

                - Sim. – respondi.

                - E você tem ideia de como vai ajudar? – entregou-me um prato.

                - Estou pensando em algo. – pus o prato já seco no escorredor, pegando o copo que ela me entregava.

                - Bem, de qualquer modo, lhe desejo boa sorte e pode contar comigo para o que precisar. – sorriu para mim.

                - Pode deixar. – concordei pondo o copo no escorredor.

                - Acabamos. – avisou sacudindo as mãos molhadas dentro da pia. – Obrigada.

                - Disponha. – entreguei o guardanapo para ela se secar e saí.

                Cheguei à sala onde Pedro cochilava no sofá. O silêncio era tão profundo que eu podia ouvir o som distante de Edmundo cantando no banho.

                Não havia realmente nada para fazer.

                Resolvi deitar no outro sofá, apoiei a cabeça no braço do mesmo e cobri os olhos com o meu. O sono começou a vir, mas eu não queria dormir, queria pensar, queria lembrar, era como uma anestesia interagir com minhas lembranças.

                Para piorar minha situação começou a chover, intensificando a vontade de dormir.

                Querendo ou não eu devo ter cochilado.

                Espantei-me sentando no sofá. Pisquei. Pedro não estava mais no sofá e não havia ninguém por perto. Olhei pela janela, já escurecia. Levantei e fui tomar um banho. Ou melhor, tive que esperar Edmundo sair do banheiro.

                Já estava se formando uma pequena fila para tomar banho. Fiquei escorado na parede, aguardando. Incrível como eu estava com sono. Devo ter cochilado em pé.

                A porta se abriu e Edmundo saiu cantarolando.

                - Até que fim! – resmungou Lucia. Ela estava atrás de mim na espera. Passei por Edmundo enquanto ele revirava os olhos.