Olhei pela décima vez o relógio, marcando três horas, o momento que esperava para fugir, uma mochila com algumas roupas e a minha guitarra que infelizmente poderia atrapalhar minha fuga, mas eu nunca abandonaria minha Deusa Rosa! Coisa brega de a minha parte dar nome a minha guitarra, mas ela era a única que me compreendia. Momento drama! Cara eu estou mesmo precisando sumir um pouco! Ou será
que um cara gostoso resolveria? Aposto que Dorian cuidaria bem de mim! Xô! É melhor pensar em coisas construtivas!

Desci as escadas cuidadosamente vendo meu ponto de ataque em cima do balcão da cozinha, a térmica de café prontinha e cheia, sem fazer ruído caminhei até lá tirando o frasquinho de sonífero do bolso da calça, sempre ocupei um desse pra dopar minha mãe quando fugia pras baladas, agora teria muito mais eficiência.
Coloquei praticamente todo o frasco dentro do café quente, isso faria com que eles caíssem na hora que beberem, limpando a bagunça que deixei, guardei o frasco no bolso e subi pra quarto observando pela janela quando um dos seguranças foi buscar o café pra servir pros outros, ótimo os três tomaram com gosto e eu sorrindo abri a janela pra fugir!

Seria muito arriscado pegar o carro, e não estava disposta a ser pega logo agora, decidi catar à moto estacionada na parte mais fácil da garagem, minha adorada motinho me esperava brilhando quando entrei para pegá-la, apesar de estar apavorada por dentro, criei coragem pra fugir, só que tinha a impressão que estava esquecendo alguma coisa...

Procurei a chave da moto na parede junto com as outras, e pra meu azar a chave não estava lá, tinha que voltar pro quarto pra pegar a reserva na estante de porcaria! Sem animo e tentando não fazer barulho, o que era impossível com a droga da grama molhada, voltei pro quarto caçando a maldita chave, jogada no meio de tanta tranqueira que guardava achei à maldita, quando fui pegar o celular começou a tocar. Pulando alto tentei desligar, mas já era tarde o barulho estava em todo o quarto, quem mandou colocar rock como toque? Bendita hora pra Clara ligar! Desliguei
na sua cara, quando pulei de novo pela janela, percebendo que as luzes do andar de baixo estavam ligadas, o desespero me fez encolher quando um vulto passou do lado da janela quando estava descendo, só a marca do meu All Star apareceu, sorte eu acho! Sempre achei que esse tênis me traria sorte! Pirei total, de novo!

Molhando meu adorado tênis cheguei de novo à merda da garagem torcendo para não chamar mais atenção do que já tinha feito, liguei a moto escutando o motor roncar alto, que ótimo! Quem mandou comprar uma moto barulhenta, isso não estava dando certo. Parei reclamar subindo na droga da moto, olhando o visor.

-         Que porra! – chiei vendo ela sem gasolina – Só me faltava essa!

-         Ainda bem que esvaziei sua moto. – disse uma voz rouca.

-         Filho da puta! Assustou-me! – reclamei vendo Dorian parado na porta da garagem.

-         Você não vai fugir, não tem como. – disse bravo – Volte para dentro e seja uma boa menina comportando-se como uma dama.

Tentando parecer derrotada desci da moto deixando a guitarra no chão, caminhei relutante para perto dele, não tinha como pensar agora, precisava fugir e esse desgraçado não iria me impedir! Com um golpe certeiro no meio de suas pernas o fiz cair no chão quando passei correndo para a saída, uma droga de fuga fracassada!

Corri como se minha vida dependesse disso, uma besteira pra se pensar por estar fugindo de um gostoso que quer você presa na mesma casa que ele, mente poluída! Muito poluída! A grama molhada ajudava e muito pra eu escorregar e tombar no chão duas vezes antes de chegar do outro lado do jardim, o gigantesco murro fazia meu estomago se contorcer pensando que teria que pular sobre ele.

Calma Eva! Você consegue! Pensei malucamente, quando me joguei pra cima, caindo de bunda no chão, que beleza esta perdendo a batalha pra um bando de tijolo! Tentei de novo vendo o resto dos pingüins saírem da casa a minha procura. Com um ultimo esforço alcancei a parte de cima do murro, mas já era tarde de mais, cai no chão! De novo!

-       Mãos pra cima! – apontou a arma Dorian pra mim – Você não vai a lugar nenhum!

-       Sinceramente! Acho que já estou ralada de mais pra tentar fugir a pé dessa merda de casa! – reclamei levantando – E você baixa essa droga! Não sou bandida!

-       É melhor entrar princesa, vai pegar um resfriado. – disse outro segurança me encarando risonho.

-       Não me olhe como se fosse criança! Sou muito mais mulher do que você pensa! – reclamei cruzando os braços – Por que vocês não
tomaram café?

-      Já havia tomado de mais. Sou Ackel, prazer! – disse oferecendo sua mão.

-       Prazer uma ova! Você acha que estou satisfeita por vocês me pegarem no flagra? Quer saber, esquece! – bufei relutante – Cales você vai me pagar!

-       Sua avó mandou vigiá-la e estamos fazendo isso, agora entre. – ordenou serio.

-       Você não é meu pai pra mandar em mim! E nem vem com essa historia da rainha me obrigar a ficar encarcerada nessa merda de
casa! Ela não vai me impedir de sair! Tenho uma lista de shows pra fazer!

-       Está cancelada sua lista, de agora em diante você estará sobre a vigilância vinte quatro horas por dia. – sorriu Dorian – Da escola pra casa e vise versa, você não vai fugir. – disse quando passei pelos dois.

-       Isso é o que veremos. – sussurrei – Mas uma coisa eu digo, minha vida como espiã acaba aqui.
       Derrotada voltei pra dentro da casa esperando as reclamações das duas poderosas da família, devia ter planejado bem, para não ter nenhum risco de acontecer essa droga de me pegarem, mas pedi a batalha, não a
guerra. E se eles querem a guerra então vou fazer de suas vidas o inferno.