Dorian me encarou confuso enquanto eu o olhava demoniacamente, me aproximei lentamente encarando-o friamente, precisava tirar minhas duvidas, bati com meus dedos na bancada da escrivaninha, rodeando-o com cuidado, enquanto ele me observava cauteloso, eu era uma fera prestes a atacar.

- Sabe Cales, uma coisa me intriga desde que te conheci. – sussurrei batendo meus dedos na escrivaninha

- Abra a porta princesa, vai ser melhor pra você. – disse ele me encarando friamente.

- Preciso de algumas respostas, e nada melhor que uma conversa decente para isso. – sorri falsa.

- Você é uma garota, não temos nada pra conversar. – continuou implacável.

- Será mesmo que essa "garota" não esta disponível para uma conversa contigo? Faz tempo que não sou mais menina, a mulher aqui na sua frente sabe o que quer, e agora você me dará respostas para as perguntas que tenho pra lhe fazer.

- Faça-as. – respondeu frio.

- Sabe não consigo compreender essa atração que existe entre nós, você faz questão de se afastar, mas é mais forte. – disse me aproximando dele – Por quê?

- Você não consegue compreender a situação, você é neta da rainha de Gales, um simples chefe de segurança não pode se envolver com uma jovem, pois isso que você é, uma garota eu sou mais velho, e isso seria errado, completamente errado.

- Idade não importa você não consegue compreender que minha avó sendo rainha ou não ela deseja minha felicidade não importa com quem seja. – sussurrei com melancolia.

- Não pode acontecer. – sussurrou triste – Entenda a mim, isso estragaria com minha vida, diriam que me aproveitei de você ser jovem para ficar com algum cargo da realeza.

- Você desistiria da sua felicidade por causa dos outros?

- O que sinto por você é diferente do que senti por qualquer outra, você é diferente. – tocou meu rosto – Mesmo sendo jovem você é totalmente o contrario de mim, correto, serio forte.

- Então por que se afasta? – perguntei fechando os olhos com seu toque.

- Esse sentimento é tão forte que fica difícil controlar. – aproximou seus lábios nos meus.

O beijo era terno cheio de sentimentos aos quais ainda não sabíamos se era verdadeira, uma mistura de emoções que não conseguíamos dizer nem expressar. Afastei-me escondendo o rosto onde teimava em cair lagrimas de dor, com a voz rouca perguntei pela ultima vez.

- Por quê?

- É impossível de acontecer, me desculpe. – sussurrou contra meu cabelo.

- Não peça desculpas, se não tem coragem de lutar por esse sentimento não sou eu que vou fazer isso por nós. – disse levantando decidida limpando as lagrimas – Se você é covarde para não assumir que gosta de mim, não deveria tentar se aproximar. Um dia talvez quando tiver a coragem de seguir seu coração vai ser tarde de mais.

Sai de cabeça erguida com lagrimas escorrendo, mas com a dignidade que tenho direito, não fiz nada de errado, não me arrependo de ter feito isso, nem nada mais que fiz essa tarde. Entrei no meu quarto me jogando na cama, a única coisa que podia fazer agora era respirar um ar onde não estivesse gente ao meu redor para fazer cena, levantei novamente procurando uma roupa qualquer no closet, tirei o vestido e soltei novamente meus cabelos, era hora de fugir um pouco.

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Desci tentando não chamar a atenção, saindo pela parte de trás do Chateau que dava direto na garagem, peguei minha Ferrari preta e dirigi para fora daquele presídio de gente falsa, dirigi lentamente pra algum lugar de Londres, não sabia ao certo onde iria parar, mas apenas estacionei em um parque onde me sentei em um banco a observar o movimento, havia crianças brincando, casais namorando, família feliz mesmo sendo imperfeitas eu queria ser assim, normal.

Uma bola rolou ate meus pés quando um menininho de quatro ou cinco anos aproximou-se para pegar quando estendi para criança loirinha a minha frente. Era tão parecido com John, isso me fez lembrar-se de outros tempos, vendo-o se afastar suspirei quando se sentaram ao meu lado.

- Eu ia ter uma menina. – sussurrei olhando as crianças brincarem.

- Por que você saiu tão repentinamente do Chateau? – perguntou minha mãe não escutando o que dizia.

- Precisava pensar. – não conseguia olhar para outro lugar, só nas crianças – Sabe mãe houve uma época que pensei estar grávida.

- Como? – perguntou chocada.

- Quando eu tinha dezessete anos eu estava com sintomas de uma gestação. – disse sóbria – Todo dia eu enjoava matinalmente, sentia certa tontura e estava mais sonolenta, comecei a desconfiar.

- Por que não me contou?

- A senhora nunca esteve presente na minha vida, sempre papai ficou ao meu lado, ele era a minha família. – suspirei a encarando – Eu sempre fui mais apegada a ele, mesmo sendo distante nas viagens longas ele era meu porto seguro.

- Você nunca se propôs a se aproximar de mim.

- A senhora nunca teve essa iniciativa antes, agora estou aqui jogada em um mundo cheio de mentiras e intrigas onde nem ao menos sei qual é minha verdadeira identidade. – suspirei com lagrimas nos olhos – Não sei como superar tudo isso, não consigo esquecer o passado, todo esse trauma que vivemos esta acabando comigo.

- Vamos superar isso juntas, agora que seu pai se foi estaremos mais juntas para seguir nossa vida em diante. – sussurrou segurando minha mão – Você é minha filha e eu te amo nunca se esqueça disso.

- Não vou me esquecer mamãe, agora na minha vida só tenho você. – sorri abraçando-a com carinho.

- Agora me diga como seu pai reagiu com a noticia? – brincou ela ainda me abraçando.

- John e eu tínhamos nos esquecido de nos prevenir uma vez quando eu havia ficado na casa dele depois de uma festa, e depois disso eu... Estava estranha, sabe com enjôos, tonturas e muito sono. – confessei lembrando – Decidimos fazer o teste de gravidez, tirar sangue no ambulatório onde John sempre esteve comigo, o resultado sairia dentro de uma semana.

- Quando necessariamente foi isso?

- Quando a senhora tinha viajado para Phoenix ver uma amiga, tinha ficado duas semanas fora.

- E quando voltei você não estava mais em casa, seu pai tinha dito que você ia passar uns dias na casa do John, eu nem ao menos desconfiei, só reparei que ele estava estranho.

- Eu e John decidimos contar para ele, mas papai não reagiu como nós pensávamos, ele disse que éramos irresponsáveis por eu engravidar com dezessete anos, e que isso estragaria minha vida... Só lembro-me de brigar com ele, e sair de casa. – suspirei pesadamente – As únicas pessoas que sabiam era ele e Nina a irmã de John, os pais dele sempre me aceitaram com muito carinho e daquela vez não foi diferente, estávamos tão ansiosos pra saber do resultado que ate fazíamos planos para que se desse positivo nós tivesse os nomes prontos tanto para menino quanto para menina, éramos tão jovens que não pensávamos no lado ruim da historia.

- E o resultado?

- Uma semana depois fomos buscar o resultado, dera negativo, eu não estava grávida. – choraminguei limpando as lagrimas – Nós queríamos tanto um bebê, que nem duvidávamos que desse positivo. Foi um drama e tanto ter que jogar fora os livros de nomes pra bebês, as revistas de berçinho, era tudo que queríamos, mas não dera certo.

- Não acha que uma criança naquela época traria muita responsabilidade para sua vida?

- Acho mãe, mas ao menos hoje eu teria alguém para me apegar às lembranças de John, um filho dele em meu ventre era meu maior sonho, e agora que ele se foi eu fiquei só novamente. – chorei abaixando a cabeça – Minha vida volta a ser nada sem ele.

- Não fique assim querida. – sussurrou ela me abraçando – Você vai ficar bem, deverá encontrar um novo amor em breve, e ele fará com que seu coração se alegre novamente.

- Não acho que encontre outro amor que corresponda a meus sentimentos. – disse pensando em Dorian – É melhor irmos mamãe.

- Sim, mas me diga uma coisa. – perguntou se levantando ao me encarar – Qual seria o nome do bebê?

- Hagata. – sussurrei sorrindo.