Com certo receio abri a carta, ainda fechada com o selo real o papel aparentava completa brancura e delicadeza, a letra tão bem formada do meu pai esta a mostra, toquei delicadamente o papel como se com meu toque as letras poderiam sumir, era tão surreal pensar que meu pai era um rei, o conto de fadas dos livros era minha realidade de vida. Não conseguia controlar meu coração quando comecei a ler a carta.

Eva.

Se estiver lendo isso é porque já estarei morto. Todo esse tempo que escondemos a sua verdadeira identidade tentamos protegê-la do perigo que corre tendo nas veias o sangue real de Gales, sei que deve estar preocupada com toda sua vida de agora em diante, pensei a mesma coisa quando escrevi isto, e me preocupo contigo por não estar do seu lado.

Gostaria de estar contigo nesse momento difícil, mas não posso mudar o passado, quero que siga seu coração, não importa para que lado ele mande você ir. Sua avó tem o temperamento difícil e tenho certeza que você não esta conseguindo entende-la, nem eu nunca entendi, mas agora ela é aquela que vai te ajudar.

Sou um rei e conseqüentemente você minha pequena é a minha princesa, e nosso conto de fadas não é somente felicidade, com minha morte você devera assumir a coroa depois de maior idade com vinte um
anos, não sou a favor disso, gostaria que ficasse afastada dos perigos que a rodeiam nessa intriga de poder, mas você precisa enfrentar a realidade e essa nova vida vai pedir muito de você.

As responsabilidades aumentarão e você terá que abrir mão de algumas coisas para poder ser o que lhe é direito, não precisa mudar drasticamente só quero que siga as regras da coroa e obedeça a sua avó,
pois ela esta encarregada de colocá-la na realeza, sei que minha mãe é muito diferente de mim, mas faça o que ela mandar, até certo ponto.

É difícil para você obedecer a uma mulher ao qual nunca viu e esta presente agora em sua vida, acredite quando digo que minha mãe é uma pessoa de bem, e agora posso entender o quando ela dizia que o melhor é proteger a quem amamos, e foi isso que fiz quando decidi não lhe contar sobre sua verdadeira identidade, mas agora é a hora para você assumir
sua coroa.

Sei que não estava muito presente em sua vida nesses últimos tempos, mas fazia de tudo para estar mais ao seu lado, o reino também precisava de mim, e as responsabilidades não são tão fáceis, tenho certeza que nesse momento John estará contigo para ajudar-te nessa situação, ele será seu parceiro nessa jornada e com ele você vai conseguir superar todos os desafios impostos na sua vida, eu te garanto.

Sentirei saudades suas minha pequena flor, não fique triste por eu partir, pois saiba que te amo e sempre te amarei, cuide de sua mãe e diga a ela sempre que eu a amo, você é a minha princesa agora faça o que eu não pude fazer. 

Com amor, papai.

As ultimas palavras fizeram meu coração sofrer, meu pai se fora e agora só restara essa simples carta de lembrança, uma recordação do que um dia foi uma família feliz...

Pensei pelo resto da noite o que faria a respeito do que estava escrito na carta, não sabia como agir diante de tanta confusão, não podia contar com Clara nem Dark porque eles nunca entenderiam a situação ao qual me encontrava, minha mãe estava fora de questão, ela só queria a filha perfeita que eu nunca seria, nem tentaria ser. Precisava esfriar a cabeça e dessa vez beber não era a melhor solução, a única coisa que me acalmava era a musica, só que nem isso podia mais fazer por causa da lei do silencio nessa casa.

A casa da arvore ficava em uma parte escondida nos fundos do jardim da casa principal, meu refugio secreto quando estava precisando de um lugar sozinha ou ficar a sós com um namorado, fui parar lá no meio da madrugada com meu violão nas costas, meu primeiro violão ainda intacto e conservado, um presente do meu pai.

Sentei na poltrona velha limpando a barra da calça, aqui longe de todos eu poderia cantar sem ninguém incomodar. Comecei a tocar uma das minhas musicas, aquela ao qual criei com meu pai. Agora precisava pensar...

Acordei com a cabeça doendo e o corpo dolorido, havia dormido na casa da arvore e tinha certeza que todos á essa hora estariam me procurando, e precisava voltar logo para a casa principal pra comunicar minha decisão.

Talvez me arrependesse depois, mas o melhor a se fazer era isso, e como meu pai sempre dizia seja você mesma e nada vai mudar o que você tem dentro, isso era certo, eu anunciaria minha escolha, mas não seria totalmente correta com essa decisão.

Desci com meu violão nas costas, o movimento podia-se ver ao longe e com certeza ate a CIA estaria ali para me procurar, um exagero da família, aposto que tem ate repórteres avisando na TV que eu estava fugitiva. Dã!

Cheguei na casa escoltada por dois dos pingüins que procuravam perto de onde estava vindo, avisaram pelo radio que estava a salvo e segura, o desespero havia acabado e com certeza minha família estava uma fera comigo, tenho absoluta certeza disso.

E não deu outra, quando entrei na casa principal, minha mãe correu para me abraçar depois me deu um tapa no braço chorando, velha melodramática! Comecei a rir do seu comportamento vendo-a começar a reclamar desesperadamente, uma gralha que não parava mais. Charlotte parou em nossa frente, surpreendendo a mim ela me abraçou fortemente, ainda em choque lembrei das palavras de meu pai. Ela era uma pessoa difícil de se entender.

-       Onde esteve? Por que não ligou? Eva! Você sabe como nos deixou preocupada? – continuava mamãe ainda estressada.

-       Mãe, eu estava na casa da arvore, não precisei ligar porque estava tão perto. – reclamei me afastando – Tomei uma decisão.

-       E qual seria? – questionou Charlotte.