Mayumi sente um frio na barriga, mas não entende o porquê daquilo. E essa sensação só aumenta, ainda mais quando Vagner insiste na resposta.

 - Mayumi? Planeta terra chamando japinha! – diz estalando os dedos na frente dela.

 - Oi desculpa, tava pensando.

 - E aí? Vamos?

 - De moto?

 - Não, to com o carro do Vitinho ainda. Depois que te trazer de volta pra casa passo na casa dele e pego minha moto de volta.

 - Tudo bem então, vou me arrumar e já volto. – diz Mayumi correndo para o quarto.

Quase que vinte minutos depois ela sai. Está com uma calça jeans, uma bata preta e sandália da mesma cor.

 - Desculpa a demora. – diz para Vagner, que a olha de cima a baixo.

 - Ta totalmente desculpada.  – diz a olhando enquanto fala. – Vamos?

Eles vão até o carro e entram. O frio na barriga de Mayumi continua, mas ela não sabe o motivo, pelo menos não por enquanto.

 - E então, como foi seu domingo até agora? - pergunta Vagner.

 - Muito bom. Lembrei definitivamente dos meus pais e de coisas que fizemos juntos. Estou muito feliz.

 - Que ótimo, isso é muito bom. Sair tem te ajudado a lembrar das coisas. Quem sabe você não se lembra de nada agora?

 - Pode ser. – diz meio sem jeito.

 - Ta tudo bem japinha? Você parece nervosa, sei lá.

 - Não é nada, só to tentando lembrar de mais alguma coisa, só isso.

 - Só isso mesmo? Não tem nada a ver comigo tem?

 - Claro que não, porque teria?

 - Pensei que você estava com medo de mim.

 - Medo? Não nada a ver. Não tenho medo de você, pelo contrário. – responde sem graça.

 - Bom saber. – diz com um sorriso enquanto continua dirigindo.

Após chegarem e estacionar o carro, eles vão comprar os ingressos. A fila estava até que de um tamanho razoável para um domingo. Eles decidem juntos que filme assistir e na hora de pagar os ingressos, Mayumi é impedida por Vagner.

 - O que você pensa que vai fazer?

 - Pagar meu ingresso. – diz confusa.

 - Não precisa, eu pedi dois, não ouviu?

 - Ouvi, vou dar o dinheiro pra você.

 - Não quero seu dinheiro, eu que te chamei não foi? Até parece que ia te chamar pra você pagar. Se liga!

Mayumi inicialmente fica sem graça, mas sente algo com aquilo que acabou de ouvir. Um flash rápido veio a sua mente. Nesse flash ela tirava dinheiro da bolsa e dava para alguém que estava com ela no cinema. Enquanto tenta se recordar de quem era essa pessoa, Vagner a chama.

 - Mayumi, acorda, já podemos sair da fila. O que deu em você? Lembrou de mais alguma coisa?

 - Mais ou menos. Acho que eu costumava vir ao cinema com alguém, mas eu sempre pagava a minha entrada.

 - Não era comigo. Sua entrada é por minha conta certo?

 - Tudo bem. E a pipoca, isso eu posso pagar pra gente?

 - Se quiser, pra você porque eu não curto pipoca.

 - Sério?

 - Sério, não vejo graça, mas se você quer eu compro pra você também.

 - Não, deixa que a pipoca eu compro então, vou comer sozinha mesmo.

 - Ta você que sabe. Vem logo antes que a sala encha e tenhamos que sentar lá na frente.

Mayumi compra pipoca e em seguida entra com Vagner na sala, que ainda estava praticamente vazia.

 - Quer sentar onde? – pergunta Vagner.

 - Eu acho que no fundo é melhor.

 - Isso garota! Vamos pro fundo então.

Eles sentam-se e começam a conversar. Mayumi não se sente tensa ao lado de Vagner, mas não entende o porquê. Das amigas que diziam a conhecer tão bem ela ainda ficava um tanto constrangida, mas com ele não. Enquanto viajava em seus pensamentos Vagner lhe faz uma pergunta.

 - Você não comprou refrigerante? Vai ficar com sede com essa pipoca toda.

 - Bem que vi que tinha esquecido alguma coisa!

 - Você está boa pra esquecer as coisas hein? – diz Vagner rindo. – Fica aqui, eu vou lá comprar pra você e já volto.

Mayumi vê Vagner de longe e só então nota como ele é atraente. Sente seu coração bater mais rápido ao ver que ele está voltando.

 - Pronto sede não vai ser um problema pra você. – diz lhe entregando o copo.

Eles conversam por mais um tempo até que o filme começa.

Vagner não tenta nada com Mayumi, mas está sempre atendo ao copo de refrigerante dela. Depois de um tempo, ele pega o copo e sacode, vendo que o mesmo está vazio.

 - Desculpa, bebi sem nem perceber, você queria? – pergunta Mayumi.

 - Queria que ele acabasse logo. – diz Vagner tirando o copo vazio e levantando o braço da cadeira que até então servia de apoio para o copo. Após fazer isso, ele se aproxima de Mayumi e coloca um dos braços em volta dela, tocando uma parte de seu braço.

 - Tudo bem se eu ficar assim? – pergunta ele sério.

 - Tudo, sem problema. – responde Mayumi o fazendo dar um meio sorriso.

Eles ficam assim até o fim do filme. Assim que ele acaba Mayumi vai se levantar, mas Vagner a segura.

 - Espera um pouco, deixa essa gente toda ir na frente, senta e espera mais um pouco.

Mayumi faz o que ele diz e fica olhando pra frente. Está visivelmente sem graça quando outro flash vem em sua mente. Ela também estava vendo um filme no cinema e mal o mesmo acabou e alguém a puxava para fora da sala, mas assim como na fila do ingresso, ela não conseguia se lembrar quem era essa pessoa.

 - Pronto, podemos ir agora. – diz Vagner levantado e lhe estendendo a mão.

Pra ela aquele gesto foi por pura educação, mas ele não solta a mão dela até saírem do cinema e ela também nem se esforça pra isso.

 - Quer fazer mais alguma coisa ou quer ir pra sua casa? – pergunta Vagner, ainda segurando sua mão.

 - Melhor você me levar pra casa, ainda tem que devolver o carro pro seu amigo, não quero atrapalhar.

 - Se for por isso nem esquenta, eu tenho uns esquemas com o Vitinho. Quer ir pra casa mesmo? Podemos dar uma volta antes.

 - Melhor não Vagner, preciso ir pra casa, deixa pra uma próxima.

 - Tudo bem, vamos levar a japinha em casa então. – diz destravando as portas do carro.

Eles vêm conversando durante todo o caminho de volta, sorrindo e fazendo piadinhas um com o outro. Ao chegar à porta da casa de Mayumi, Vagner desliga o carro e eles conversam por mais alguns minutos.

 - Posso falar uma coisa, você não vai rir de mim? – pergunta Mayumi.

 - Pode falar japinha, to ouvindo.

 - Mais cedo você perguntou se eu estava com medo de você e eu disse que não, pelo contrário. É verdade. Eu me sinto tão bem perto de você.

 - É bom ouvir isso.

 - Tem certeza que eu não te conhecia?

 - Absoluta. Se eu tivesse conhecido você antes com certeza não teria esquecido.

 - Você é bom fisionomista é?

 - Não, mas esquecer uma garota tão linda é impossível.

Mayumi fica envergonhada e sente a mão de Vagner sobre a sua.

 - Perguntei se você não queria dar uma volta e você disse pra deixar pra uma próxima, só que eu não queria dar uma simples volta com você e sei que você percebeu isso.

 - Eu to um pouco confusa Vagner, desculpa.

 - Sem problema, eu sei. E não quero te por pressão nenhuma também. Mas de boa, você acha que pode rolar alguma coisa em uma próxima vez, quando você estiver menos confusa.

 - Claro que pode, só não sei se você vai poder esperar eu colocar a minha cabeça no lugar, literalmente. – diz Mayumi sem jeito, fazendo Vagner sorrir.

 - Posso continuar te vendo enquanto isso?

 - Pode claro que pode.

Vagner sorri e dá um selinho demorado em Mayumi, que não se afasta.

 - Até depois japinha, se cuida.

 - Você também – diz dando outro selinho em Vagner e saindo do carro em seguida.

Assim que entra em casa, Mayumi corre para o telefone e liga para Manu.

 - Manu, é a Mayumi. Preciso falar com você urgente, tem como você passar aqui em casa? Ta bom, vou ficar esperando. Beijo.

Quinze minutos depois Manuela chega.

 - Pronto May, o que houve? Aconteceu alguma coisa?

 - Na verdade muitas, mas preciso que você me ajude.

 - Sempre amiga o que posso fazer?

 - Você me conhece faz tempo não é?

 - Um bom tempo. Por quê?

 - Com certeza você deve saber muitas coisas minhas, coisas intimas, segredos e tudo o mais. Preciso que você me diga umas coisas minhas. Coisas bem... Particulares minhas.

 - Hum, acho que entendi. O que você quer saber?