Lótus Negra escrita por Remmirath


Capítulo 17
Capítulo XVI – Ressentimentos




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Estava apoiado na parede, pensativo, olhando para o teto branco. Tudo ali era branco, ou tinha tons pastéis. Péssima escolha de cores, mas não era nisso que ele pensava. E sim no que teria acontecido se não tivesse se controlado, despertado, na última hora. Lançou um olhar para o corte avermelhado no pescoço dela, que dormia na cama ao lado. Como uma pedra.

Qualquer um diria que estava morta. Mas não estava, felizmente, para alívio de sua consciência. Por que ele se importava, afinal? Ela não é ninguém para mim, só alguém a quem devo respeito e subserviência. Mas as imagens em sua cabeça lhe diziam o contrário, e ele retrucava dizendo que odiava todo mundo. Que ele não se importava com ninguém. Nunca se importou, agora não seria diferente. Nunca? A palavra ecoou por sua cabeça, e lembrou daquele sonho estranho. Daquela Pessoa.

Não…— ouviu o sussurro suplicante vindo dela, que começara a se mexer levemente, o rosto antes inexpressivo agora retorcido em dor. – Guardas!

— Aqui. – respondeu Kanda mecanicamente, e só depois percebeu, e balançou a cabeça. Com o que ela está sonhando? Perguntou-se, franzindo o cenho, ao chegar mais perto da cama.

Me soltem!— pediu ela agoniada, mexendo as pernas como se tentasse se livrar de algo. Asqueroso. Pela expressão de pânico em seu rosto.

Tsk. — resmungou Kanda, lançando um olhar para a porta. Se ela continuasse se debatendo desse jeito, logo A Enfermeira voltaria. Mas o que ele faria, afinal? Expirou o ar, bufando. E estendeu sua mão para o rosto dela, receoso, o tocando. Estava gelado. E ela parou de se mexer subitamente, e ficou com uma expressão serena no rosto. Ele sentiu um frio em sua espinha, e retirou rapidamente sua mão, a escondendo no bolso do sobretudo. A olhando confuso, enquanto ela esboçava um sorriso pálido. De derrota. E voltou a ser uma pedra.

Droga.— praguejou Kanda, estendendo a mão para tocá–la novamente. Enquanto em sua mente, memórias apagadas e desconexas se confrontavam.

— Ei, Yuuu… – cantarolou, adivinhem quem, olhando estranho para um Kanda congelado.– Que você tá fazendo?

— Nada! – exclamou o outro, colocando sua mão do lado do próprio corpo rapidamente, tentando fazer cara de paisagem.

— Seeeiii… – disse o ruivo, o analisando enquanto tinha alguns pensamentos inapropriados.

— O que você quer? – perguntou, seco, Kanda. Lançando-lhe um olhar frio.

— Só entregar isso aqui. – respondeu o ruivo, levantando uma cesta… caixa… enorme. E a colocando na mesa ao lado da cama de Serenhiel.

— Quem mandou isso? – rugiu Kanda, olhando para o conteúdo da caixa. Doces! Em embalagens coloridas, caixinhas, e barras, chocolates e bombons de muitos tipos. E cartões, muitos cartões de melhora. Ele cutucou um deles, com um coração, e leu a frase escrita: Agradeço pela surra que você deu naquele demônio.

Difícil dizer, sabe. – comentou Lavi, coçando o queixo. – Depois que a notícia da luta de vocês se espalhou, eles começaram a chegar.

— Como assim se espalhou?— inquiriu Kanda, pegando no cachecol do outro. – Não fazem nem quatro horas! Quem é o louco que manda essas coisas para ela, a essa hora da madrugada?

— Não é só por que eu sou um Bookman que eu sei de tudo, Kanda. – disse o ruivo, desamassando o cachecol e indo para a porta, lançando um olhar para a jovem na cama. – Mas eu tenho uma ideia do por que eles mandaram isso para ela.

Tsk! – Lançou um olhar de repulsa para a caixa.

E um neutro para ela, que o observava. Em seus lábios, cerrados, sumira os vestígios daquele sorriso apagado. Os olhos cinzentos estavam inexpressivos, fitando-o de lado.

— Deixaram isso aqui, para você. – informou o moreno, apontando a caixa. Ela olhou-a por um momento, desinteressada, e voltou a fitá-lo com cara de paisagem. Ela estava lhe ignorando? Definitivamente. Agora ela olhava para o teto, enquanto a mão esquerda passeava pela ferida no pescoço. Cortado por um estranho. Ecoou a frase na mente de Kanda.

— As ondas sonoras desse quarto estão emanando muita raiva e ressentimentos. – avisou alguém do lado de fora. – Eu sugiro que volte outra hora, mestre.

— Bobagem, Ma–kun~~! – retrucou uma voz sonhadora. – Eu vou ver o meu filho agora, e ninguém vai me segurar! Yuuu–kun~~ espere por mim, eu já estou indo, não precisa chorar!

— Agora mais essa! – reclamou Kanda, olhando para a porta apreensivo, e Serenhiel sentou–se na cama, sem entender nada resolveu pegar a caixa ao lado, analisando os doces.

Do lado de fora vinham sons de luta, coisas se quebrando e a Enfermeira gritando com os que estavam lá. Depois de um minuto de puro silêncio, surge pela porta um velho bronzeado de óculos, sorridente e com cabelo esquisito, segurando um buquê de rosas vermelhas proporcionais ao seu corpo.

— Yuuu–kunn~~ – cantarolou o velho General Froy Tiedol. – Você não deveria sair da cama, devia ter esperado o seu pai vir lhe visitar!

— Eu não sou seu filho! – gritou Kanda, com irritação evidente.

— Mas é como se fosse! E isso não é jeito se de tratar o seu velho pai, você morre sem avisar e quando volta nem me dá um abraço! – choramingava Froy, segurando o sobretudo de Kanda. E então percebeu a outra presença no quarto, que os assistia enquanto comia os bombons. – E ainda por cima nem me avisa que arrumou uma namorada!

Era só o que faltava. Pensou Serenhiel, enquanto tentava desengasgar.

— O QUÊ? – berrou o samurai enfurecido, após o choque.

— Mas eu te perdoo, Yuu–kun~~! – Falou Tiedol, dando um tapinha nas costas de Kanda e piscando para a namorada dele. Desviando de coisas que Kanda começava a jogar nele, ele foi até ela e pegou suas mão galantemente, e ela o olhou como se ele fosse um louco. – É bom ter uma moça tão bonita entrando na nossa família!

— Errrr... – o que ela ia dizer? O velho era doido de pedra. Olhou de para Kanda que pegava uma mesa, para o velho e o empurrou levemente para o lado.

E o general viu patinhos voando em volta de sua cabeça antes de acordar no outro dia com um enorme galo na cabeça, amarrado dentro de um caixote à deriva no oceano. Ou quase isso.

 


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