Kanda estava ficando desconcentrado, sua memória começava a entrar em colapso novamente, e se perguntava o por que de ter começado aquela briga idiota, por que lhe incomodava tanto o fato de que ela estava comendo doces. Quando deu por si, estava com Mugen no pescoço de Serenhiel, de onde escorria um filete de sangue, e as pontas das asas dela estavam perfurando suas costas.

— Sangueee.... – sussurrou um exorcista com dentes pontudos, Arystar Krory, que chegara a pouco e se escondia junto dos outros.

— O Quê? – gritou a exorcista alemã, Miranda, desesperada pensando que fosse um ataque do Conde do Milênio, pôs-se a chorar.

— Sinto cheiro de sangueeeee. – cantarolou Krory, a franja branca levantada como uma antena, fazendo todos se espremerem pela janela do balcão da cozinha, para tentarem ver alguma coisa além de asas negras envolvendo os dois exorcistas. Do local em que estavam, não conseguiam ver nada revelador.

— Tem certeza, Kuro-chan? – perguntou preocupado Lavi, mas emendou. – Pra mim aquilo parece outra coisa~

Mas então eles viram, as asas destapando os dois lentamente, revelando manchas rubras nas pontas, e a Mugen que estava no pescoço da dona das asas, sendo afastada lentamente, o brilho de sangue escorrendo pela lâmina. Dando passos para trás, Serenhiel segurou o próprio pescoço, sentindo o sangue escorrer de uma pequena ferida, o que a deixou aliviada, mas o olhar com que encarava Kanda era o dos mais coléricos.

E ele, com o olhar estupefato para o sangue nas mãos dela, pensando o pior, sentiu os joelhos fraquejarem, pela dor em suas costas e por perceber o que havia acabado de fazer, em meio ao seu descontrole.

— Seren… – sua voz saiu falhada, enquanto tentava se desculpar com os olhos.

— Não. – sussurrou ela, dando as costas para ele e recolhendo as asas. E falou, com o mais profundo desgosto. – Só volte a falar comigo quando você voltar ao normal.

— Seu pesco…

— Foi cortado por um estranho. – cortou ela, gélida. Saiu a passos apressados, não se importando para onde ia, começou a sentir seu corpo fraquejar.

— Merda! — praguejou Kanda, sentia o sangue ainda quente dela em seus dedos enquanto desativava a Mugen.

— Kanda, o que deu em você? – repreendeu Lenalee ao lado dele, irritada.

— Você se excedeu, Yuu. – comentou Lavi sério. – Por mais que você brigasse com a gente, até mesmo com o Allen, nunca havia tirado nosso sangue antes.

— Sangueee... – ecoou Krory ali perto, enquanto acudia Miranda.

— Vá atrás dela, BaKanda! – gritou Allen, lá da cozinha.

— Não posso. – rosnou o samurai, o orgulho falando mais alto.

— Kanda! – gritou Lenalee, batendo com uma bandeja na cabeça dele. – Vai atrás dela, agora.

Ele empurrou o braço de Lenalee, que estava preparando-se para lhe dar mais uma bandejada, e olhou para a saída. Apurando seus ouvidos, procurando os sons dos passos dela. E então, veio o baque surdo de um corpo colidindo com o mármore do chão.

— Enfermeira, enfermeira!… – todos ouviram o grito de alguém ecoando pelos corredores. Ele não esperou a sentença da frase terminar, saiu correndo na direção da voz. E encontrou o corpo dela, no chão. Ao lado estava um pesquisador de óculos fundo de garrafa, debulhando-se em lágrimas. Empurrando-o bruscamente, Kanda se abaixou para recolher o corpo daquela que deveria proteger e a carregou até a enfermaria.