Estávamos no shopping há algum tempo e cheias de sacolas, como sempre fomos rindo e caçoando uma das outras, eu amava sair com elas fazia com que eu me sentisse leve e em paz, era nessas horas que eu me sentia humana e sem muitas responsabilidades nas costas, sei que muitas adolescentes reclamam por não poder fazer nada ou por terem muitas responsabilidades e para ser sincera tenho pena delas, pois não sabem nada da vida ainda, quem dera se eu e as minhas irmãs tivéssemos essa vida, seus pais estariam vivos e a minha mãe não sofreria o que sofreu nesses anos todos por causa do meu pai.

Meu pai, a pessoa que eu mais sinto falta nesse mundo. Para proteger a mim e a ele minha mãe desistiu de seu grande amor, apesar de já ter se passado dezessete anos ela ainda sofre por não poder ficar ao seu lado, e por causa dos meus poderes preferi me distanciar dele com medo de colocá-lo em perigo, mas só Deus sabe como é difícil não correr para Forks em todas as férias e matar a saudade dele, de correr pelas praias de La Push sem preocupações ou medos, ficar parada na chuva daquela cidade. Lembrar disso tudo fez meu peito doer de saudades e fiz uma nota mental de ligar para ele mais tarde, apenas para ouvir a sua voz que tanto me faz falta.

-Bella olha aquela blusa, ficaria perfeita em você. – disse May me tirando dos meus devaneios, apontando para uma blusa tomara que caia azul.

-Linda mesmo, vamos entrar e ver, quem sabe não acho uma para mim também. – disse Kênia puxando eu e a May para a loja.

Estávamos vendo as roupas quando Kênia do nada soltou uma blusa que estava em suas mãos, encarando o nada, sabia muito bem o que aquela cena significava, era uma visão e pela cara dela de espanto não era uma coisa boa.

-O que foi Kênia? – perguntei sussurrando depois que ela voltou ao normal.

-Vamos sair daqui e te conto. – disse já agradecendo a vendedora e nos puxando para fora.

-Conta logo Kênia, está nos deixando aflita, é alguma coisa em relação aos demônios? – disse May meio tensa, estávamos nos divertindo depois de dias de tensão com os caídos, eles haviam dado bastante trabalho, estavam procurando pela Kênia e eu ajudei a exterminá-los.

-Infelizmente tem sim May, eles descobriram onde moramos e vão atacar a casa procurando por mim e pela Bella, eles nos querem mortas a qualquer custo. – disse Kênia sussurrando por causa da minha mãe e da tia Anna que estavam um pouco próximas de nós.

-Mas se eles forem em casa verão que vocês não estão lá e irão recuar não é? – perguntou May tentando animá-la.

-O pior vem agora May, Gabriel vai lutar junto com os outros anjos que estão em reunião lá em casa e sairá gravemente ferido, por ele ser um anjo em forma humana poderá até morrer. – disse ela segurando as lágrimas, nós três gostamos muito de Gabriel e mesmo que ele seja forte, vê-lo em perigo sempre nos deixava com medo, ele foi o mais perto de pai que tínhamos.

-Temos que ir embora agora e avisá-lo. – disse já me levantando do banco onde tínhamos nos sentado, não ficaria de braços cruzados vendo o meu melhor amigo e anjo da guarda ser morto por esses seres desprezíveis e seria a chance perfeita para testar as minhas habilidades em cima deles.

-Não vai dar tempo Bella, o ataque acontecerá daqui a quinze minutos. – disse Kênia segurando meu braço.

Nessa hora tive uma idéia, sei que seria bem louca, mas teria que tentar pelo bem dos anjos e de Gabriel.

-Posso tentar avisá-lo pelos meus pensamentos, vou baixar meu escudo e chamá-lo.

-Boa idéia, você está progredindo muito nos treinamentos, e tenho certeza que vai dar certo. – disse Kênia confiante e May concordou com ela.

-Vou fazer isso agora, mas não tenho certeza em como isso vai afetar o meu corpo, pois o escudo é muito forte e tenho que fazer muito esforço para baixá-lo então distraia a minha mãe e a tia tudo bem? – elas assentiram e se posicionaram mais perto de mim.

Fechei meus olhos e concentrei minha força no meu escudo e lentamente senti uma espécie de elástico se esticando para fora da minha mente, quando o senti totalmente fora da minha mente chamei por ele.

“-Gabriel? Gabriel, está me ouvindo? - perguntei desesperada por sua resposta.

-Bella? É você mesma? – perguntou ele me fazendo sentir um alívio por ouvir a sua voz.

-Sou eu sim Gabe, olha não tenho muito tempo, a Kênia acabou de prever um ataque dos caídos aí em casa, eles irão tentar matar a mim e a Kênia só que o ataque acontecerá daqui uns quinze minutos, eu vou pegar o carro e ir te ajudar.

-Não acredito nisso, eles devem estar desesperados para matar vocês. Bella não venha para cá, se eles querem te matar não seria o mais aconselhável você estar aqui, deixe que nós cuidamos disso.

-Não Gabriel, eles vão te matar se eu não for, a Kênia previu isso. – disse segurando o choro, não poderia me desesperar agora, faria  de tudo para mantê-lo a salvo.

-Não se preocupe meu anjo, eu ficarei bem e quando vocês puderem voltar eu aviso. – disse tentando me acalmar, ele sempre foi amoroso desse jeito.

-Como vai me avisar se não ouço vocês? – perguntei me acalmando um pouco, mas ainda temia por ele.

-Quando você sentir uma leve pontada na cabeça saberá que sou eu.

-Tudo bem então, por tudo que é mais sagrado Gabriel, todos vocês tenham cuidado. Te amamos muito Gabe.

-Pode deixar e também tenham cuidado, amo vocês.”

Deixei o elástico voltar para seu lugar protegendo a minha mente e abri os olhos encarando as duas e suspirei pesadamente.

-E aí, conseguiu? – perguntou Kênia nervosa.

-Eu consegui meninas, avisei a ele e pedi para ter cuidado, eu ia até lá para ajudá-los, mas Gabe achou melhor ficar aqui por medida de segurança.

-Ele está certo Bella, se são vocês que eles querem indo até lá só daria a chance que eles precisam. – disse May me segurando, o esforço que fiz com o escudo me deixou muito cansada. Assenti e deixei minha cabeça encostada no ombro da minha amiga.

-Eu vou abrir a janela do tempo onde o confronto está acontecendo e vou narrando para vocês, só não poderei mostrar, senão daria bandeira. – disse Kênia apontando discretamente para a minha mãe que percebe tudo ao seu redor.

-Faça isso, por favor, nos mantenha informadas. – disse sussurrando a última parte, vendo minha mãe e Anna se aproximarem da gente.

-O que aconteceu meninas? Vocês não estão com uma cara muito boa. – disse Renée se sentando ao meu lado.

-Não é nada não tia Renée só paramos para descansar um pouco. Andamos demais. – disse May sorrindo, se eu não a conhecesse tão bem até acreditaria nela.

-O que foi Bella, você não parece nada bem. – minha mãe disse colocando a mão na minha testa.

-Só estou cansada e com sono, parei para descansar porque hoje eu quero aproveitar o dia. – disse sorrindo, estava mesmo cansada pelo esforço feito para a retirada do escudo, mas o que estava me deixando mais incomodada era a luta entre a luz e as trevas perto da minha casa, por sorte moramos afastados da cidade não correndo o risco dos humanos saberem da nossa existência.

-Tudo bem então, eu e a Anna vamos ao mercado aqui perto para comprar umas coisinhas que estão faltando em casa, querem ir com a gente?

-Não tia Renée pode ir tranquila, vamos descansar mais um pouco e ir para o segundo andar comprar mais roupas. – disse May nos olhando e assentimos, a última coisa que vamos fazer nesse exato momento é olhar vitrine.

-Tudo bem então, depois vamos assistir um filme, vamos pegar a sessão das dezenove horas tudo bem? - disse minha mãe se levantando do banco e indo de encontro a Anna.

-Ok. – respondemos juntas as fazendo rir.

Depois que elas se distanciaram, Kênia focou seu olhar na linha do espaço-tempo, procurando algum sinal da batalha que acontecia nesse instante. Ela ia narrando as partes que ela conseguia pegar, sem chamar a atenção dos humanos no shopping, pois para acompanhar totalmente ela teria que ampliar seu campo gravitacional em volta de si, ampliando a busca pelo universo e em alguns minutos sua visão voltou ao normal.

-Não consigo ver mais nada, desculpe meninas. – disse Kênia desapontada consigo mesma, ela queria poder saber o que exatamente está acontecendo nessa batalha.

-Tudo bem irmãzinha, você fez tudo que pôde. – May falou amparando a irmã.

-Isso mesmo, agora só nos resta esperar o Gabriel me chamar. – disse a abraçando.

Depois de muito tempo esperando aflita por notícias sinto uma pontada na cabeça fazendo com que eu suspirasse aliviada.

-Meninas acho que o Gabriel está me chamando, cruzem os dedos para que estejam todos bem.

 Me concentrei novamente no meu escudo retirando  o elástico que o mantinha na minha cabeça e escuto a voz do meu anjo da guarda.

“- Bella está me ouvindo? – disse ele apreensivo.

-Estou sim Gabriel, você está bem? Todos estão bem? – perguntei aflita.

-Estamos sim meu anjo, nós os mandamos para o inferno, e de lá não sairão tão cedo. – disse com o tom de voz irritado, ele odiava os caídos por terem traído a Deus. Suspirei aliviada por saber que ele não tinha se ferido.

-Ainda bem, a Kênia estava olhando a linha do universo e do nada perdeu a conexão com vocês, pensei que tinham se machucado.

-Já acabou Bella, mas agora preciso que todas vocês voltem imediatamente, vamos reunir o conselho para uma reunião de última hora e preciso de vocês aqui. – disse ele sério, quando o conselho se reunia alguma coisa muito grave tinha acontecido.

-Aconteceu alguma coisa séria Gabriel? - perguntei nervosa.

-Nada de mais Bella, só precisamos de vocês aqui para discutir um novo plano de proteção.

-Tudo bem, daqui a mais ou menos trinta minutos estamos chegando.

-Estaremos esperando.”

Deixei o elástico voltar ao lugar e abri os olhos feliz por saber que todos estavam bem.

-E aí, estão todos bem? – perguntou May ansiosa, todas estávamos uma pilha de nervos nessas duas horas.

-Graças a Deus sim, só que o conselho se reunirá daqui a pouco e requer a presença de todas nós. – disse levantando do banco, me virando na direção das duas.

-Ele disse o porquê dessa reunião de última hora? – Kênia se levantou pegando as sacolas espalhadas pelo chão.

-Sim, ele disse que era para preparar um novo plano de proteção e mais nada. – disse dando de ombros, a única coisa que queria agora era ver todos eles bem.

-Então vamos, vou ligar para a tia Anna e avisar sobre a reunião. – disse May tirando o celular da bolsa e discando o número da Anna.

Assenti e fomos em direção a saída do shopping para esperar as duas perto do carro, minutos depois elas apareceram e fomos para casa. Por mais que esteja com receio do que acontecerá nessa reunião alguma coisa me diz que eu iria gostar e muito.