Redenção escrita por Mimisinha


Capítulo 6
Capítulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/146815/chapter/6

No dia seguinte sai mais cedo, não queria lhe encarar.Cheguei na obra ainda mais cedo e peguei firme, queria logo finalizar.Eu tinha que emassar as paredes e pintá-las mas não estava conseguindo, o trabalho estava ficando torto.

-Caio, esquece isso vai carregar material vai filho.

-Tá.

-Quer conversar?

-Não pai, valeu.

Talvez ele tivesse um bom conselho que me ajudasse, mas...

O dia foi passando e eu começei a ficar p. da vida com meu almoço que nunca chegava, Luciana nunca deixaria de levar meu almoço, mesmo zangada ela não podia me deixar com fome, sabia como meu trabalho era pesado. As horas foram passando e eu tive que comer salgado no lugar de almoço, isso me deixou muito, muito puto. No fim da tarde, estava decidido a conversar sério com ela para resolvermos todos os nossos problemas, tinha certeza que me deixar sem almoço era algum tipo de retaliação.

Cheguei em casa e ela não estava, mas suas malas permaneciam no mesmo lugar desde de manhã. Liguei no seu celular e tocou no quarto, tinha esquecido o celular, várias ligações perdidas de sua irmã.

Liguei pra casa dos pais dela e contei que não a estava encontrando, e sua irmã disse que estava esperando seu telefonema pra ir buscá-la. Foi aí que estranhei.Os vizinhos disseram que não a tinham visto desde que saiu de manhã pra ir pra creche, como fazia toda manhã.Foi então que ouvi seu celular tocando, número desconhecido. 

-Boa noite. É o Caio marido da professora Luciana Mendonça? - era a diretora da escola.

-Sou eu sim porque?

-Senhor Caio... - sua voz chorosa me assustou.

-Fala logo, cadê minha mulher?

-A professora Luciana sofreu um acidente e, foi hospitalizada.

-Onde é que ela tá?

-No Central.

Saí correndo de bicicleta, não quis saber de nada o vento gelado na minha cara foram secando minhas lágrimas, eu não podia perde-la, não podia.

Chegando lá me identifiquei e logo um médico veio falar comigo de cabeça baixa.Cada músculo do meu corpo parecia ter paralisado.

-Sinto muito. Fizemos tudo, absolutamente tudo ao nosso alcance.

-Doutor, é minha mulher Doutor. - disse com a voz embargada.

-Ela não resistiu. Foi um acidente muito grave. Ela sofreu politraumatismo.

Senti o ar faltar e não vi mais nada.

Quando acordei estava numa maca no corredor com meu pai do meu lado.

-Pai, diz que não é verdade Pai. Por favor.
Ele me abraçou, não me disse nada.

-Caio, toma. - me entregando uma mochila.

-Que isso Pai?

Quando abri, as lágrimas desceram sem controle, senti falta de ar novamente.Era minha marmita, com um pano de prato amarrado, estava amassada pela queda ao chão.

-Ela tava indo levar meu almoço Pai. E eu puto com ela. Pensando que ela tava com raiva de mim, que tava revidando.

Chorei, chorei como nunca chorei na minha vida. Nem mesmo quando minha mãe morreu.

Me sentia culpado, me sentia ridículo, me sentia um merda.

A família dela chegou e me viram, definhar em lágrimas.

Voltei pra casa e meu pai ficou comigo. 

Começei a olhar nas coisas dela, tentando manter comigo um pouco dela, seu cheiro, seu jeitinho de fazer as coisas e acabei achando uma carta, que provavelmente ela deixaria pra mim quando fosse embora.

"Acredito que jamais na minha vida voltarei a amar alguém como eu te amo.Peço como último pedido que voce encontre alguém que o faça verdadeiramente feliz como eu não consegui. E que voce consiga suprir seu orgulho para fazê-la feliz, e expressar por ela seus sentimentos.Talvez estejamos destinados um ao outro, talvez não nesse momento, talvez nem nessa vida...Sempre o amarei.
                                                                                                     Lú "

-Parece uma despedida... - eu não conseguia parar de chorar, me fez lembrar quando uma vez ela me perguntou se alguma vez na vida eu já tinha chorado, ela nunca tinha visto escorrer uma lágrima no meu rosto, nem mesmo de tanto rir.

-Caio, vai fazer o que com a casa?

-Vender.

-Vender meu filho? Que isso! A um ano voce vem trabalhando nela sozinho, e indo buscar seu almoço lá na minha empreitada. É uma casa muito boa.

-Que sentido faz agora Pai? Fazer surpresa pra quem? Vou vender tudo, a casa, os móveis, o vestido...tudo. -Tenho certeza que ela ficaria muito feliz.

-Não tem mais sentido nenhum, nada. 

-Caio...

-Não Pai, não quero saber, põe a venda, faz um bazar, não quero saber.

-Me levantei tentando ver um rumo a seguir. - A mulher da minha vida morreu. E eu nunca disse sequer um eu te amo. Ela fazia tudo dentro de casa, trabalhava, estudava e ainda se mantinha linda pra mim...eu até a fiz se sentir nojenta...- lavei meu rosto com as lágrimas que escorriam sem controle - Eu nunca cheguei e disse o quanto ela estava bonita, o quanto sua comida estava gostosa, o quanto ela era gostosa.

-Não se culpe meu filho. Vai ser pior se voce fizer isso.

-O acidente Pai, eu sei que não foi minha culpa mas, e o sofrimento que a fiz passar? A única coisa que ela queria era o meu amor, e eu me travando de medo, de orgulho supervalorizando meus sentimentos, como se ela não fosse digna deles.Isso vai me perturbar pra sempre.

Passaram meses e meses, mantive algumas coisas em casa do jeito que ela fazia.Enfiei a cara no trabalho, e comecei a ler livros de psicologia.Tinha tantos livros em casa de autoajuda, que sempre li por ler, nem lendo um livro eu admitia que aquela mensagem poderia me ajudar de fato. Era orgulho demais!!!

Hoje fazem cinco anos que a Luciana se foi. Estou namorando a pouco mais de um ano uma garota tão doce quanto ela. Estamos grávidos a 5 meses, e não passa um só dia que eu não busque uma forma de expressar meu amor por ela. Mais importante do que ela sentir e ver meu amor, sou eu mostrar, falar, fazer, escrever pra ela.

O orgulho e o medo nos trava de muitas coisas, tudo que fazemos para algo ou alguém volta em dobro para nós mesmos, fazendo o outro feliz voce se faz feliz, com simples e pequenos atos de carinho, atenção, companheirismo,  amizade...tudo que compreende o amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!