Senhora Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 4
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

E o outro capítulo.



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Capítulo 4 – Daniel Gonzales

Senti um alívio indescritível quando pisei em casa. Tudo o que eu havia passado na área sul, queria que nunca mais se repetisse. Toquei no meu colar , sentindo-o formigar um pouco em minhas mãos. Eu era o protegido de uma vampira. E não qualquer vampira, mas, nada mais, nada menos que a Senhora Sulista.

Dinnie Ray.

Por que esse nome não me era estranho? Era como se eu já o tivesse escutado, mas a muito tempo. Tantas coisas me surpreenderam lá. Sua autoridade com aqueles vampiros. Os estilos de roupa. A preocupação deles com ela.

Mas principalmente essa última. Nunca havia visto tantos vampiros em lugar só vivendo pacificamente. Geralmente, o Senhor da área vivia no quartel general e só iria lá quem tinha algum problema e eu não acreditava que ele era resolvido a não ser que interferisse com a realeza.

Mas essa Ray parecia se importar tanto quanto não deveria. Mas isso não justificava ela ter me soltado e nem me nomeando como seu protegido. Mas , tinha outra coisa me incomodando além de assuntos vampíricos. Por que meu avô havia mentido sobre a presença de vampiros no lado sul da cidade?

Bem, isso eu iria descobrir agora.

“Vô!”, gritei assim que pisei em casa. Nunca gostei de perder tempo e todos que me conheciam sabiam disso. Meu avô apareceu um pouco mais pálido do que o normal. Seus olhos cinzas estavam preocupados e seus cabelos grisalhos pareciam ter embranquecido mais. Tudo isso porque eu saí sem dar satisfações.

“Onde você estava , Daniel?”, ele me perguntou segurando-me pelos ombros com força. Mesmo nos seus quase setenta anos de vida, meu avô ainda era forte e esperto.

“Hei, calma , Barão.”, eu disse começando a me afastar, mas sem desviar dos seus olhos. “Estava dando uma volta no lado sul da cidade.”, disse com ironia. Se antes o meu velho já estava pálido, agora estava parecendo um fantasma.

“O-o que você foi fazer na área sul a essa hora?”, ele perguntou e se eu não estivesse enganado, ele estava respirando com uma certa dificuldade. Fiquei encarando-o por um longo tempo, até que ele ficou irritado e esbravejou. “Responda, Daniel”

Pisquei forte , como se saísse de um transe e suspirei. Ele sabia e nunca havia me contado. Por que? Me joguei no sofá de modo preguiçoso e voltei a encarar seus olhos cinzas.

“Dar uma volta. Conhecer a área.”, eu disse fazendo um gesto de desinteresse com a mão. “O básico. Mas, tem algo que me intriga.”, disse coçando meu queixo revelando a minha barba por fazer. “Encontrei alguns vampiros por lá, até conheci a Senhora da área, Dinnie Ray, mas como isso seria possível se você me disse que na área sul não tinha vampiros?”

Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu e fechou como a de um peixe. Ficamos ali, encarando um ao outro e o silêncio queimava os meus ouvidos. Até que meu avô relaxou e suspirou pesadoramente.

“É muito complicado.”, ele disse e balançou a cabeça, como se fosse me contar algo e desistisse na última hora. Então , fui eu que suspirei.

“Tudo bem.”, eu disse e passei a mão pelo meu cabelo bagunçado. “Estou cansado e amanhã tenho que ir para a oficina.”, então estreitei meus olhos afiadamente para meu avô. “Mas não pense que escapou fácil, Barão. Amanhã iremos conversar e quero essa história em detalhes.”

Não vi se ele assentiu ou não. Apenas queria ir para a minha cama e descansar. Amanhã seria um dia cheio., mas não chagaria aos pés desse.

******

Eu estava voltando do trabalho quando a vi. Era impossível confundi-la , mesmo na confusão de fim de dia do leste de Seattle. Tinha uma certa majestade no modo que ela andava e no modo que seu cabelo escuro balançava e sua mecha vermelha brilhava no sol de fim de tarde.

Mas suas roupas estavam diferentes das que eu tinha visto ontem. Era uma calça jeans escura, uma regata branca simples e saltos baixos. Mas nem mesmo a mudança de estilo de roupa fazia seu corpo ficar menos sensual. Pareciam cair como uma luva em suas curvas quase perfeitas.

Ela parecia não ter me notado e eu fiquei um pouco curioso com o motivo dela ter vindo para a parte leste de Seattle a plena luz do sol, por isso a segui. Ela andava pelo meio das pessoas sem destino e nunca olhava para trás. Será que eu não tinha me enganado com a pessoa?

Não, eu tinha certeza que era ela.

Mas fiquei um pouco confuso quando a vi andando até a parte mais deserta da cidade e entrando no primeiro beco que encontrou. A segui sem hesitar, mas quando cheguei na entrada fui puxado por duas mãos ,pequenas e delicadas ,com força para dentro. E quando dei por mim, minhas costas estavam pressionadas na parede de tijolos e o rosto de Dinnie Ray estava a poucos centímetros do meu.

Suas presas estavam a mostra, mas assim que notou que estava segurando, ela as guardou, mas seu aperto não frouxou. Seus olhos, eu notei primeiro, estavam violetas, um resultado de lentes azuis por cima de seus olhos vermelhos. A segunda coisa que eu notei foi a ironia daquela situação.

Eu, um caçador de vampiros treinado com um metro e setenta e cinco de altura, sendo pressionado em uma parede por uma vampira dez centímetros mais baixa do que eu e em plena luz do dia, quando eles estão mais fracos.

“Você estava me seguindo.”, ela disse. Raiva tomava conta daquele lindo rosto.

“Precisamos conversar.”, eu disse entrando no seu jogo de ir direto ao assunto. “O que você está fazendo na área leste?”

Ela frouxou seu aperto , ainda me encarando, até que me soltou e se afastou bruscamente. Então se encostou do outro lado do estreito beco e colocou uma das pernas na parede, mesmo que esse movimento tivesse feito nossas pernas roçarem levemente.

“Vim almoçar, por que?”, ela revirou os olhos violetas e cruzou seus braços. “É proibido?”, então ela agora fazia piadinhas? Mas antes que eu pudesse responder ela começou a se afastar e ir para a saída.

“Precisamos conversar.”, eu tornei a falar.

Ela me olhou por cima dos ombros como se esperasse alguma coisa. Ela tinha me dado esse mesmo olhar ontem, quando disse seu nome. Era como se ela quisesse algo de mim, mas eu ainda não sabia o que era. E aquele sentimento de novo brincava no meu peito como se me insultasse e me chamasse de burro.

“Vamos almoçar.”, ela disse , interrompendo meus pensamentos e saiu andando esperando que eu a seguisse. Por um momento, hesitei, mas então pensei que se quisesse respostas, teria que segui-la.

Andamos em silêncio até um restaurante local. Muitas pessoas passavam do lado de fora, mas assim que entramos, vi que tinha poucas pessoas se sentavam ali. Tinha apenas mais duas mesas ocupadas, sem contar a nossa.

Dinnie Ray se sentou na minha frente e me estudou. Eu estava tão simples quanto ela hoje e por um momento me perguntei se aquela roupa de ontem era apenas para se apresentar aos vampiros. Eu estava com uma calça jeans simples e uma blusa branca. Meu cabelo preto bagunçado e tinha uma bolsa pendurada no meu ombro.

Quando abri a boca para começar a fazer as perguntar, Dinnie se inclinou na minha direção. Por um segundo eu fiquei parado e tenso. O modo como ela se inclinava deixava o seu sutiã lilas bem amostra. Então ela esfregou o polegar na minha bochecha esquerda.

Deveria estar sujo de graxa. Ela voltou para o seu lugar antes que eu percebesse e se recostou na cadeira enquanto me estudava. O modo que ela me olhava, me deixava um pouco embaraçado e eu demorei um pouco para finalmente começar a falar. Tive que limpar a garganta duas vezes para a minha sair. Eu não sabia se essas reações eram pelo fato de eu estar frente a frente com um vampiro, ou por estar frente a frente com uma vampira bonita e Senhora da área.

“Por que você me soltou ontem?”, eu disse tirando a bolsa dos meus ombros para que pudesse evitar os seus olhos. Ela ficou em silêncio tanto tempo que eu me obriguei a encará-la.

Dinnie continuava a me estudar como se esperasse algo. O olhar dela era duro, mas, ao mesmo tempo, eu via um pouco de dor, até mesmo pesar ali também. Então ela suspirou fechando os olhos por um minuto e os abriu, passando a mão pelos cabelos escuros. Eu queria tanto poder a sua mente naquele momento. Daria tudo por um segundo dentro de sua cabeça.

“O que você estava fazendo em minha área ontem?”, ela me perguntou. Então era isso? O que ela estava me escondendo? Porcaria de vampiros.

“Você não me respondeu.”, eu disse cruzando meus braços e fazendo minha voz ficar dura.

“Sabe que eu não te devo satisfações, não é?”, ela disse levantando sua sobrancelha perfeita e com o rosto perfeitamente neutro, mas algo em seus olhos gritavam para mim. “Você que estava em minha área para começo de conversa. Se alguém tem que dar satisfações , esse alguém é você, Gonzales.”

Vi, mesmo que por um curto tempo, algo diferente, tanto em sua voz , quanto em seus olhos quando disse o meu sobrenome. Se esse era o único jeito de eu conseguir as informações que eu queria, então seria assim. Ficamos nos encarando em silêncio, até que eu suspirei e resolvi responder.

“Meu avô”, eu comecei a dizer, mas ela me interrompeu.

“Barão”, ela disse solene.

“Sim.”, eu afirmei deixando uma nota mental para perguntar depois como ela conhecia meu avô. “Ele e eu somos caçadores de vampiros a algum tempo em Seattle, mas meu avô sempre disse, desde que eu era pequeno para nunca vir a área sul. Então eu fiquei intrigado e resolvi seguir a pista.”

“Dando de cara com os meus vampiros e tentando matá-los.”, ela completou. Estava tão difícil encarar a dor que pairava em seus olhos violetas que eu desviei o olhar por um tempo, refletindo.

“Você deveria agradecer a Abigail.”, Dinnie disse depois de uns minutos de silêncio. Então eu voltei a encará-la e lá estava de novo, o olhar frio e calculista de sempre.

“Deveria”, murmurei em resposta, ainda colocando meus pensamentos no lugar. “Mas, agora me responda. Por que você me soltou?”

“Por que você é meu protegido.”, ela respondeu sem mudar a sua expressão fria. “Caçadores em nossa área são raros nos últimos trinta anos, então eu não mataria o primeiro que aparecesse do nada”

Bom argumento, mas algo me dizia que aquilo não era toda a verdade. Não a verdade que eu esperava ouvir. Mas eu tinha outra carta na manga.

“Por que me colocar como seu protegido? Poderia apenas ter me libertado e ido embora.”, me recostei na cadeira e acidentalmente bati com a minha perna na dela. Esse movimento causou um tipo de formigamento, mas me obriguei a ignorá-lo. Eu a tinha posto contra a parede e ela sabia disso, mas ela deveria ter anos de experiencia, porque escapou sem nem mesmo pensar.

“Eu sabia que uma hora ou outra você voltaria para se meter em mais confusões e para me poupar de dores de cabeça indesejáveis, prefiro que entre na minha área com permissão. Mas se lembre.”, seu olhar ficou tanto acusatório quando cauteloso. “isso”, ela apontou para o colar com um pingente de meia lua vermelha que estava pendurado em meu pescoço. “é só até você fazer algo de errado ou trocarem de Senhor da área sul. Então se você matar algum vampiro, a culpa cairá diretamente para mim.”

“Então é isso!”, eu exclamei apontando para ela acusadoramente. “Eu sabia que tinha algo.”. Dinnie continuou coma sua expressão fria, mas eu sabia que ela estava se roendo de vontade de saber de que diabos eu estava falando. “Você só me deu esse colar para que parasse de matar vampiros, mas quero que você saiba que isso não me impedir de cumprir o meu trabalho.”

Se ela achava que um colar poderia me impedir estava muito enganada. Me senti muito esperto por ter desmascarado , finalmente, aquela mulher. Mas, quando a olhei, em vez de ver decepção, havia uma ironia, como se o que eu tivesse acabado de dizer fosse algo engraçado.

“Pense como quiser.”, ela disse se levantando e abrindo a carteira. Antes que eu a impedisse , ela jogou algumas notas em cima da mesa e começou a ir embora, mas não antes de dizer tão baixo que eu quase não escutei. “Você ainda não está pronto para a verdade, nem acredita em algo tão insignificante, quem dirá no segredo de sua vida.”

Quando me dei conta do que Dinnie havia dito, ela já estava na porta saindo. Corri tentado alcançá-la e deixando o dinheiro em cima da mesa, mas quando olhei porta a fora, ela já tinha sumido e tudo o que eu vi era as ruas movimentas de Seattle com pessoas normais e apressadas.


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Notas finais do capítulo

Agora só amanhã :/



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