A Relíquia Perdida escrita por letter


Capítulo 17
Capítulo 16 - Ironizando




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            Era simples. Muito simples. Extremamente simples. Simplíssimo. Na verdade era simplicíssimo. O único problema era que ele complicava tudo.

            Racionalmente as pessoas nascem, crescem, vão pra Hogwarts, fazem bruxinhos, envelhecem e morrem. Às vezes, como no caso de Elizabeth, esse ciclo era interrompido na terceira parte do processo já pulando para a última. Mas isso era um caso a parte, e mesmo que não fosse, Elizabeth nunca antes ouvira falar de casos de bruxos que viravam fantasmas apaixonados. O único caso aparente disso era o Barão Sangrento, o fantasma de sua ex casa, Sonserina. Era de conhecimento geral que Barão Sangrento fora em vida apaixonada pela Mulher Cinzenta, e mesmo após a morte continuara apaixonado por ela. Mas aí é onde fica a questão, pensara Elizabeth consigo mesma enquanto vagueava sem rumo pela Floresta Proibida.   O Barão Sangrento estava morto, a Mulher Cinzenta também, se dependesse apenas dele, ambos poderiam viver o seu amor pela eternidade sem nunca serem separados, embora para a tristeza do Barão, mesmo em morte a Mulher Cinzenta não queria mesmo saber dele. Elizabeth fora apaixonada em vida por Charlus, e mesmo em morte continuara apaixonada por... Albus. Mas felizmente, esse por sua vez continuava vivo, e Elizabeth queria assim poder mantê-lo por muito tempo, embora seu coração que a muito já não batia aclamasse pelo moreno

     Para Elizabeth era tudo muito irreal. Um dia ela se lembra de estar correndo, sorrindo, feliz, com a capa de invisibilidade de Charlus, quando tudo escurece, quando ela se apaga. A próxima lembrança que tem é de acordar, suja e maltratada em meio às folhas e chão molhado da Floresta Proibida. Elizabeth lembra que ficou com vontade de gritar por Charlus, era a única coisa de que se lembrava, Charlus, mas antes que encontrasse sua voz, ele apareceu... Mas logo, ele não era ele, ele era bisneto de Charlus. Para completar Elizabeth descobrira que sem explicações toda sua vida fora tirada dela, e quando deu por si teve de aceitar a dura verdade que já não pertencia a esse mundo. E como se já não bastasse, Elizabeth se vê apaixonada por um garoto, que na teoria era anos mais novo que ela, que na teoria estava vivo... Era tanto pra se absorver de uma só vez!

     Elizabeth, quando viva, adorava contos de trouxas sobre amores impossíveis. Lembrava de um que sua amiga Dorea lhe dera em certo natal, sobre... O nome não lembrava, mas sabia que havia uma donzela que morrera envenenada por uma bruxa – Elizabeth sempre sorria consigo mesmo ao lembrar o modo como os trouxas retratavam os bruxos – mas logo seu consorte aparecera, e com um único beijo lhe trouxera de volta a vida.

    Como Elizabeth queria que isso fosse real.

    Mas não era, e nem chegava perto de ser.

    O único conto que às vezes poderia chegar perto de ser real, seria o dos três irmãos, o segundo irmão, ou no seu caso, o segundo filho dos Potter, a trouxera de volta, mas sozinha ela teria de ir, se não, como Meryl McLoren lhe disse... “Não é porque você não tem sua vida que você tem o direito de impedir ele de viver a dele”

     Ela estava certa... Elizabeth tinha de ir. E isso era pra ser simples, mas seria mais fácil se Elizabeth soubesse como fazer isso.

     Coraline, a cobra coral “conhecida” de Albus, rasteja junto aos pés de Elizabeth. Embora Elizabeth fosse descendente direta de Salazar Sonserina, Elizabeth não a entendia, pois a habilidade de ofidioglota era herdade apenas por descendentes do sexo masculino, mas mesmo com esse empecilho, Elizabeth conversava com a cobra, e talvez fosse loucura, mas ela poderia jurar que Coraline a entendia pelo olhar... E talvez, até ela mesma entendia Coraline de alguma maneira.

         - Não deve ser fácil ser uma cobra... – comentou Elizabeth com Coraline – Mas... Deve ser sim... Vocês conseguem se defender... Mas, ei, Coraline, não viu uma pedra por aí não? Preta e pequena, com o símbolo das relíquias no meio? – Elizabeth balançou a cabeça e riu de si mesma – Estou falando com uma cobra!

         Coraline sibilou qualquer coisa, mas fosse o que fosse, Elizabeth nunca entenderia o que era, mas a garotou levou o sibilo da cobra como um “não” já esperado.

         - Sim, sim, foi o que eu imaginei...

         E essa vinha sendo a rotina de Elizabeth Gaunt. Vaguear sem rumo pela floresta proibida, a fim de encontra algo que ela já nem sabia se podia ou não ser encontrado.  Às vezes Elizabeth se pegava no passado, era como dormir e sonhar, mas ela não dormia, ela não sonhava. As lembranças eram fortes, mas do que ela podia controlar. Tais lembranças eram vividas, ela quase podia sentir as coisas, ela via Dorea, via Charlus, via Abraxas, via várias pessoas que há muito já deixaram esse mundo, e tão instantaneamente quanto mergulhava em tais lembranças, instantaneamente ela voltava.

         Elizabeth sentia falta disso. Sentira falta de estar viva.

         Sua vida, sempre fora muito complicada. Não conhecera sua mãe que morrera na hora do parto. Não podia dizer que conhecera o pai, pois não conhecera. O que sabia dele era apenas o nome. Morfino. Foi criada por sua tia materna, mãe de Dorea. A tia, apesar da postura extremamente rígida, muito lhe ensinou na infância, e nunca lhe deixou nada faltar. Elizabeth foi criada no meio dos Black, como sendo um deles. Sua tia sempre lhe lembrara de quanto o sangue de Elizabeth era puro, e de como devia dá valor a isso. E esse era o maior orgulho de Elizabeth, ser sangue puro e descendente de Salazar Sonserina.

          Quando chegou a idade escolar, Elizabeth não teve a mínima dificuldade de se interagir. Sempre fora muito bonita, carismática e inteligente. Logo chegando a Hogwarts chamara atenção especial dos professores. Claro que o fato de sua descendência contribuiu para sua ascensão na escola, mas a garota estava ciente disso, e pouco ligava.

           Notas altas, bons amigos, vida estável, precisava ela de mais coisa? Não. Mas Charlus aparecera como um bônus extra para preencher sua vida, que aos quinze anos, Elizabeth já a julgava completa. O garoto Potter se destacava pelas artimanhas que aprontava na escola, e por ser um dos melhores jogadores da época – fato que Elizabeth desconfia ter passado para as gerações seguintes – mas apesar de tudo isso, ele era um fidalgo traidor do sangue. Algo extremamente repulsivo. Era quase um... Sangue-ruim.

           Mas em algum momento de sua vida, Elizabeth sentiu-se incompleta. Ela não entendera como isso pode mudar tão de repente, era como se algo estivesse faltando, mas o que seria? Não fazia sentido, afinal, antes tudo era um perfeito mar de rosas, mas agora...

            Foi então que ela percebeu o que estava errado. Ela estava cansada da monotonia perfeita de sua vida. Cansada das pessoas se voltarem a ela, apenas por ela ter o titulo que tinha, e não por ela ser ela. E a chave para fuga dessa nostalgia era Charlus.

             Ele não a via como a Gaunt, mas sim como a Lizzie. Ele não se aproximara dela por seus status, mas por se interessar por que ela era de verdade, e com apenas um tiro, Elizabeth conseguiu sair da nostalgia de sua vida, e encontrou alguém que realmente gostava dela.

             Mas estamos tratando da década de 30. Se hoje ainda grande parcela da população bruxa é conservadora, não pode se imaginar como era naquela época. E sua tia não poderia aceitar que sua protegida de apenas quinze anos se exibisse por aí com um vulgo namorado, ainda mais sangue-ruim. Audácia maior não tinha.

             E foi nesse momento em que tudo desencaminhou.

             Nem Dorea ficou ao lado de Elizabeth quando a mesma decidiu que seu futuro seria Charlus. Mas Elizabeth não se importava com isso. Ninguém sabia o que passava em sua cabeça, muito menos em seu coração.

             Era uma época em que bruxos e bruxas se casavam com que mais favorecia a família. Elizabeth não poderia escolher alguém para si sozinha, não tinha essa autonomia, mas ela escolhera Charlus.

                Coraline ainda se arrastava ao lado de Elizabeth enquanto a loira caminhava sem rumo, remoendo as memórias do passado, as quais a cada dia ela se lembrava com mais intensidade. Quando deu por si, Elizabeth estava no coração da floresta proibida, mais conhecido como A teia. Um nome muito óbvio para denominar o lugar onde aranhas e mais aranhas gigantes resolveram habitar. Deveria ser pavoroso para um ser humano, mas Elizabeth duvida que as via, ou até poderia as ver, já que a cobra a via... Não fazia diferença. A loira seguiu caminho, passando por entre as teias, e se concentrando em voltar a lembrar... Mas era difícil se concentrar, mesmo podendo passar por entre teias, arvores, aranhas e tudo o mais, incomodava! Isso fazia Elizabeth se lembrar que não pertencia a esse mundo, mas que mesmo assim continuava ali, diabo!

                Era frustrante. Coraline parecia não ter dificuldades em si esgueirar por baixo, sem se importar, queria Elizabeth ter tal capacidade, não se importar. E numa tentativa falha, Elizabeth tentou com o auxilio das mãos se livrar das gigantes teias que a envolviam. Por que tinha de se importar com isso?

        O que se seguiu aconteceu de forma muito rápida. Em um momento, Elizabeth fazia caretas tentando em vão afastar as teias, até conseguia, mas elas eram fortes e consistentes. Em outro momento, Elizabeth se deparou com uma pequena pedra envolvida por uma teia logo a sua frente. Irônico o destino? Provavelmente.

          E assim que Elizabeth encostou na pedra, ela sabia o ela significava, e sabia o que tinha de fazer. Ela apenas não esperava que esse pequeno toque enchesse sua mente com um turbilhão de lembranças.


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Notas finais do capítulo

Eeei pessoas .O. Antes de tudo, não me matem, por favor. É eu demorei horrores pra postar, mas ta aí :D Como perceberam, ponto de vista da Elizabeth e blablabla, gostaram? É ficou paia... Mas precisava, sabe? :/ Eu juro solenemente não demorar a postar mais capítulos D: E... Bom, é isso, beijos.