Abri os olhos e sentei-me, jogando a coberta longe. Esperei o mundo ao meu redor parar de girar. Levantei-me e observei o céu estrelado pela janela. Senti um cheiro conhecido se aproximando, sorri e corri para o andar de baixo. Pude ver Seth e Sally levantando-se ao notarem minha presença, não me importei e corri para a porta. Por entre as árvores saiu meu pai, logo depois Ephraim saiu com algo nos braços, parecia uma coberta, mas parecia mais aquela coisa com a qual eles cobriam os mortos, achei realmente estranho. Tentei manter a calma.

                Corri e abracei meu pai, procurei por Anthony, meu coração se apertou.

-Onde está Anthony?- perguntei aflita, olhando para a coberta nos braços de Ephraim. Meu pai e meu irmão olharam para baixo, Ephraim balançou a cabeça em forma negativa. Senti meu lábio inferior tremer e diversas emoções se apoderaram de meu ser, era uma mistura de raiva, dor, esperança e um pouco de agonia. Fui até Ephraim e puxei a coberta, ali em baixo havia o que ontem mesmo eu chamava de irmão, hoje eu chamaria de cadáver.

                O corpo de meu  irmão estava desfigurado, haviam arranhões e cortes não cicatrizados por todos os lados, havia uma marca de dentes próxima ao pescoço de Anthony, toquei-lhe o rosto, senti não o usual calor, mas sim uma coisa fria e flácida.

                Arfei.

                Afastei-me sentindo as lágrimas vindo. Seth, Nahuel e Sally saíram de dentro de casa, Sally desesperou-se.

- Desculpe Sarah, não pudemos fazer nada.- Ephraim desculpou-se.- O vampiro surgiu do nada e atacou ele, eu estava longe e nosso pai também, só chegamos quando ele já estava assim.- ele disse triste. Tirei Anthony dos braços de Ephraim.

-Levante-se, Anthony.- eu disse.- A brincadeira acabou, você já me assustou o suficiente!- gritei, eu queria, precisava, ver que tudo aquilo era uma brincadeira.- Anda Anthony, abre os olhos!- berrei com raiva. Fiquei segurando-o por mais alguns instantes, tudo a minha volta parecia em câmera lenta.- Por favor.- pedi, lágrimas salgadas e quentes molhavam meu rosto. Deixei meu peso levar-nos para o chão, continuei chorando agarrada a seu corpo. Ondas de calor e arrependimento me inundavam.

                Anthony era meu irmão, meu mala favorito, o cara mais sem graça do mundo, e eu o deixei ir sem ao menos dizer-lhe que eu o amava.

-Anthony, por favor, acorda.- eu implorei baixinho.- Não me deixe aqui sozinha.- minhas lágrimas se misturaram com a chuva fina que começará a cair.- por favor.- murei, já sem forças.

                Os soluços vieram com força total, as lágrimas então nem se fala. Senti alguém me abraçando, era Nahuel, pude ver que ele também chorava, eu e Anthony sempre fomos como filhos para ele, só ele poderia entender o que eu sentia, ele e minha mãe. Pensar nela foi como tornar aquele momento pior ainda, mamãe e Anthony eram muito apegados. Abracei Nahuel e deixei-me levar pela dor, chorei por mim, por Anthony, por minha mãe.

                Chorei por tudo o que passamos durante esses anos sem nosso pai, por toda a dor e humilhação que já passamos, chorei por chorar. Queria Anthony ali, queria suas piadas sem graça, seus abraços e chiliques inoportunos. Queria suas regras imbecis e sua implicância, queria sua proteção. Queria meu irmão de volta.

                Nahuel afastou-se de mim e Seth me guiou para dentro. Eu não sabia ainda, mas a pior parte viria agora. Nahuel pegou o celular e logo eu pude ouvir a voz doce de minha mãe do outro lado da linha.

-Olá, Nahuel.- ela disse doce. Mamãe não tinha ideia do que estava acontecendo, ela me parecia tão feliz que tive pena de contar-lhe a verdade, tive vontade de mandar Nahuel desligar aquele telefone, mas eu sabia que ele não o faria, mesmo que eu implorasse. Minha mãe tinha o direito de saber, afinal Anthony era seu filho.

-Oi, Nessie.- ele disse apreensivo.- Nessie, eu tenho que te pedir algo, só fique calma.- ele falou, mamãe agitou-se.

-Não vou voltar, Nahuel.- ela afirmou.- Sei que Sarah e Anthony sentem minha falta, também sinto a deles, mas sabe que eu não posso, não dá.- ela respondeu apreensiva.

-Nessie, aconteceu uma coisa com o Anthony e...- Mamãe cortou-o apressada.

-O que aconteceu? Ele está bem?- Ouvi-la falando dele como se ele ainda estivesse vivo fez meu coração se apertar, as lágrimas vieram com mais força e eu gritei de dor.- Isso foi a Sarah?- ela perguntou.- Minha filha está bem? Eu quero falar com ela, Nahuel.- ela gritava ao telefone. Peguei-o com as mãos tremulas.

-Mamãe.- murmurei com a voz embargada.

-Sarah, minha filha, você está bem? O que aconteceu?- perguntou desesperada.

-O Anthony.- eu disse. Fiz uma pausa.

-O que aconteceu com ele?- ela perguntou mais calma.

-Foi mordido por um vampiro.- eu disse, lutando contra as lágrimas.

-E ele está bem? Posso falar com ele?- perguntou apressada.

-Mãe- eu disse com a voz vacilante. - ele morreu.