- Você o quê?! – Sam gritou, me fazendo tirar meu olhar de Anny e me virar para ele.

- Shiu, Sam! Pare de gritar! – eu gritei de volta.

Por que é que ele estava gritando? Eu não tinha percebido até agora, mas minha cabeça estava doendo demais.

Eu resolvi me levantar e ir até a bolsa de Sam, onde eu sabia que tinha uma aspirina. Procurei na bolsa e encontrei o bendito remédio, destacando um e colocando na boca após um grande gole de água.

Eu fiz tudo isso sob os olhos cuidadosos de Sam e Anny. Assim que terminei de engolir, eu prendi meu cabelo num coque frouxo e olhei para os dois com a sobrancelha levantada.

- O quê? – eu perguntei indecisa se meu olhar ficava em Sam ou Anny.

- Você realmente lutou com ele? – Sam me perguntou novamente.

- Acho que sim. – respondi.

Sam bufou de frustração e eu vi que Anny não aceitaria essa resposta. Ela veio até mim e me segurou pelos ombros e me fez olhar em seus olhos acolhedores.

- Você precisa nos contar. – ela disse, seus olhos crepitando de curiosidade e ansiedade.

Me movi até a cama que estava deitada a pouco e me sentei. Eu não sabia que estava tremendo bastante até olhar para as minhas mãos e ver que elas chocalhavam muito. Eu respirei fundo ainda sem coragem de olhar para Sam e Anny e fechei os olhos.

Eu não queria reviver aquilo realmente. Lembranças, imagens, gritos, a luta em si. O problema é que eu tinha que tinha que fazer aquilo para conseguir ter um pouco de paz.

Eu abri os olhos e focalizei uma parte escura do quarto. Eu não poderia dar para trás agora. Eu já tinha vindo longe demais para desistir logo agora.

Então eu contei. Tudo. Sem omitir nada. Contei da primeira vez que Kairos apareceu para mim, quando Eve e Andras me atacaram e o que me disseram, e finalmente contei da minha luta com Lúcifer.

Sam odiou o que eu contei e, é claro que eu só omiti a parte em que Kairos perguntou dele e de Dean para mim.

- Ok, isso está começando a fazer sentido. – Sam comentou.

- Está? – perguntou Anny. Ela franziu o cenho e se virou para Sam que estava encostada no batente da porta do banheiro. – Eu não vejo sentido algum nisso.

- Anny, pense bem. Qual seria o sentido de Kairos ser a casca de Lúcifer...

Eu não o deixei terminar e concluí por ele.  Estava tão na cara! O pior é que eu não tinha percebido ainda.

- Se eu não fosse a casca de Miguel. – eu sussurrei e me lembrei de quando, numa tarde chuvosa na casa de Bobby, o mesmo me contou sobre o apocalipse.

“– Que droga, Bobby! Me conte. – eu pedi mais uma vez, implorando para ele tocar no assunto em que Sam e Dean nunca tocavam.

- Kera, por favor. Os garotos me matam se descobrirem que eu falei sobre isso com você.

- Eles não vão nem saber. – eu sussurrei, mesmo sabendo que não tinha ninguém perto, o medo era pior ainda quando se estava sozinha com Bobby. Já pensou se Sam ou Dean aparecem logo agora?

- Diabos... – ele resmungou apertando as minhas mãos e começando a falar. – Ano passado começou o que chamamos de apocalipse.

- Sim? – eu o incentivei e arqueei uma sobrancelha.

- Sam e Dean o causaram. Mas especificamente Sam. – Bobby olhou em meus olhos e eu me senti culpada por fazê-lo lembrar daquelas coisas. – Mas ele não sabia. Lillith o enganou e o que ele não sabia, era que ela era o último selo para abrir a caixa de Lúcifer e libertá-lo. Ele estava tão decidido em matá-la que nem Dean conseguiu pará-lo. Enfim, no final de toda a confusão, Sam disse sim a Lúcifer e o mesmo tomou seu corpo, e Dean não tinha como dizer sim a Miguel, por que esse já estava no corpo do Adam, então ele não desistiu e foi lutar pelo irmão. Mas no final mesmo, Sam acabou sendo condenado ao inferno e quando voltou estava sua própria alma, que havia ficado presa na jaula junto com Lúcifer e o próprio Miguel. – eu abri a boca para perguntar que merda era aquela de ficar sem alma, mas Bobby me parou com um dedo. – Essa fica para outro dia.

Ele se levantou e se afastou e eu ouvi a porta da frente bater e soube que os garotos haviam chegado.”

Oh, merda. Merda, merda, merda mesmo. Kairos não tinha mencionado nada sobre isso. Ele tinha deixado implícito. Muito, na verdade. E agora, por incompetência do meu irmão, eu fiquei sabendo que era a casca de Miguel e tudo começou a desmoronar de novo.

- Merda! – Anny esbravejou. -  Que droga! Castiel não disse nada sobre isso!

Eu me levantei, atordoada, sabendo que muita coisa ainda estava debaixo dos panos. Castiel estava mesmo escondedo coisas de nós. Eu não sabia mais se poderia confiar nas palavras de Castiel.

Eu me levantei e Sam veio junto comigo, ficando de frente para mim. Ele segurou as minhas mãos e eu vi que eu não estava mesmo bem. Eu não tinha pensado nisso até agora, por que eu estava evitando e tanto que eu achava que não seria possível, mas eu...

- Sam, eu não quero matar o meu irmão de novo. - eu sussurrei para e vi que já estava chorando.

Ele me abraçou forte e eu me segurei nele. Eu não queria soltar nunca mais. Eu não queria soltar para ver o que o mundo lá fora estava fazendo comigo. Meu irmão, aquele que eu já tinha matado uma vez, seria morto pelas minhas mãos novamente?

Lágrimas e mais lágrimas transbordaram do meu rosto e eu não conseguia mais me manter em pé.  Minhas pernas bambearame eu me segurei em Sam. Em um momento fugaz, eu me lembrei que não tinha comido quase nada hoje.

Sam me levou até a cama, me fez deitar e ligou rapidamente para Dean. Eu estava absorta a todos aqueles ruídos e não percebi quando Anny foi embora. Eu respirava pesadamente, as lágrimas caiam pelos lados do meu rosto. Eu levantei o braço e levei a mão até a minha testa, tentando achar alguma explicação naquilo tudo.

- Sam? - eu chamei baixinho.

- Hey. - ele se deitou ao meu lado, afagou a minha barriga e me deu um beijo no rosto.

- O que nós vamos fazer agora? - eu sussurrei, com mais lágrimas nos olhos.

- Eu... - ele parou. - Não vou mentir para você, mas eu não sei.

- Sam, por favor... não me deixe matar o meu irmão de novo. - eu pedi.

Sam assentiu e beijou a trave da minha boca.

Eu me virei para abraçá-lo, mas eu ouvi a porta sendo escancarada e Dean entrar com Monique atrás dele. Ele nos viu juntos na cama e ofegou, Sam  se espantou e fez menção de se afastar, mas eu segurei seus braços e o parei.

- Não, pare. - eu sussurrei. Ele assentiu e me deu o seu melhor sorriso.

- O que houve? - Dean perguntou. Eu percebi que ele estava ofegante e Monique também. Eu franzi o cenho, mas esqueci. Talvez eles tivessem subido correndo e por isso estavam daquele jeito.

Eu me levantei, contornei a cama e parei de frente para Dean. Ele me olhou confuso, mas eu quase dei um sorriso, mas logo uma lágrima escapou de meus olhos e Dean se assustou, olhando de Sam para mim.

- Sou a casca de Miguel.