Thalia estava com fome. Annabeth estava com fome. A única coisa que as meninas tinham, eram água e pão duro. Annabeth nunca sofrera por causa de fome, sempre tivera tudo do bom e do melhor, sempre tivera coisas boas para comer. Thalia já estava acostumada. Apesar de ter muito dinheiro, muitas vezes se trancara em seu quarto, por muitas vezes não querer ver seu pai com alguma de suas novas namoradas.

- Anda Stephanie.

- Eu não posso fazer nada por você, minha querida. Estamos o mais rápido que podemos.

- Então não é suficiente. Eu quero ver minhas amigas ainda esse ano.

Silena andava na frente de todo mundo, lado a lado com Stephanie. Gostaria de ser a primeira a tirar as amigas dali. Ela odiava Stephanie com todas as suas forças, até mesmo, por fazer Thalia sofrer, por ter aparecido na vida de Thalia, por ter apresentado seu irmão a Thalia.

- Chegamos.

Os cinco estavam parados em frente a uma casa velha, em ruínas, com uma porta de madeira, toda acabada, sem pintura. O lugar era muito pequeno. Só dava para ter uma salinha, cozinha e um banheiro. No máximo.

- THALIA? ANNABETH?

Ninguém respondeu. Silena estava começando achar que fora enganada por Stephanie até que olhou para o lado, e encontrou Annabeth e Thalia desmaiadas.

- Omg.

- O que foi, Silena?

- Olhem.

A expressão de todos foi de puro horror. Demorou um tempo para cair à ficha, mas logo as duas meninas estavam sendo carregadas por seus respectivos namorados em direção a um hospital na próxima quadra.

Algumas horas se passaram e nada das meninas acordarem. Os médicos diziam que haviam passado muitas horas com fome, e isso fez com que as mesmas desmaiassem.

Nico estava preocupado, Percy pior ainda. Os dois pareciam que haviam levado um choque. Não havia caído a ficha ainda de tudo que havia acontecido.

- A senhorita Grace acordou e quer ver o senhor Nico. – Disse a enfermeira.

Nico não disse nada, apenas se levantou e foi em direção ao quarto.

- Nico...

- O que aconteceu, Thalia? Stephan fez algo com você?

- Na... Quer dizer, sim. Mas não ele. Você tá bem?

- Fico melhor agora sabendo que você está bem. O que aconteceu, Thalia? – Repetiu a pergunta.

- Stephanie... Bem, ela me bateu. Eu estava acorrentada, Nico. – Thalia mostrou as mãos, onde tinha marcas vermelhas e em alguns lugares, cortes.

- Mas o mais importante... Ele te abusou? – Disse o menino, passando as mãos pelas pernas da menina, delicadamente.

- Não quando eu estava consciente.

- Ótimo.

- Você está mais preocupado se ele tirou minha virgindade, do que comigo mesmo, Nico di Ângelo? Você tá mais preocupado em VOCÊ tirar a minha virgindade, do que se a minha saúde está boa?

- Não foi isso que eu quis dizer, Thalia. Eu só...

- Não foi o que quis dizer? Mas foi o que significou.

É, todos os relacionamentos existem brigas. E já estava mais do que na hora disso acontecer.

- Incrível como você entende tudo errado.

- Eu entendo tudo errado? Nico, você fala errado, e não quer que eu entenda tudo errado? Sai daqui, Nico.

- Mas Thalia...

- Sai Nico.

 - Eu não vou sair.

- Quer que eu grite?

O menino não respondeu. Continuou ali parado. Até se sentou e pegou uma revista, fingindo ler. Mas não dava nem para fingir, estava de cabeça para baixo. Mas Thalia não estava de brincadeira. A menina conseguiu forças de não se sabe onde, e gritou.

- SOME DAQUI, NICO DI ÂNGELO!

Nico se assustou. Não sabia da onde aparecera aquela força de Thalia. Mas apenas levantou e saiu.

Silena e Charles estavam ali sentados, olhando para Nico, de olhos arregalados. Percy estava muito... Percy. Estava desligado.

- O que aconteceu, Nico?

- Sua amiga. Ficou maluca. Veio com um papinho de “você tá mais preocupado se ele tirou minha virgindade do que com minha saúde” e blá, blá, blá.

- Nico, você é um completo idiota, sabia?

- Sempre soube Silena. Escuto isso direto desses dois ai. Mas e Annabeth?

- Não acordou.

- Percy, calma. – Silena.

- Não dá pra ter calma, Silena. É minha namorada que está ali. Thalia já acordou. E Annabeth? Bem que ela poderia acordar agora.

Houve um silencio de cinco segundos, até a porta do quarto de Annabeth ser aberto e todos olharem esperançosos.

- Senhor Jackson?

- Eu!

- Sua namorada acordou.

- OH SENHOR! MUITO OBRIGADO.

- Fique quieto menino! Isso é um hospital, não a casa da mãe Joana. Vamos, entre.

Percy entrou. Annabeth estava melhor do que nunca, até porque, não passara muito tempo naquela situação de Thalia.

- Percy!

- Annie. Como você tá? Bem? Eu quase tive um filho pela boca quando te vi daquele jeito.

- Calma! O mais importante é que eu acordei, certo? O resto é resto. E Thalia?

- Rum, nem te conto.

- O que aconteceu, Perseu Jackson?

- Calma Annie! Thalia já acordou. Já até brigou com Nico.

- Você tá brincando?

- Lógico que não. Ela veio com um papo estranho e ele, cabeçudo do jeito que é, reclamou.

- Nico idiota. Fala pra ele que quando eu sair daqui é melhor ele correr.

Percy ia responder, mas foi interrompido pela enfermeira avisando que Annabeth teria que se trocar, pois já poderia sair do hospital. Percy tentou insistir, mas a enfermeira o expulsou dali.

- Que chata ela!

- Com certeza! Vem colocar palavras na minha boca, falando que eu to preocupada com a virgindade dela, ou algo assim.

- Quê?

- Foi isso que ela disse.

- A enfermeira?

- Não, a Thalia. Em que mundo você tá?

- Eu to falando da enfermeira, seu idiota.

Percy e Nico continuaram a discutir, até que duas portas abrem ao mesmo tempo, revelando Annabeth e Thalia.

- Vocês já podem ir?

- Eu posso.

- Eu estou meio fraca, mas já posso ir também.

- Então vamos.

Silena saiu cantarolando pelo hospital todo e no caminho todo. Parecia uma boba alegre. Mas parou subitamente.

- O que aconteceu?

- Olha. – Silena apontou para frente. Ali estavam parados Stephanie, Stephan e Dan. O ultimo estava machucado.

- Solta ele, Stephan. – Disse Thalia, com a voz baixa.

- E você vai fazer o que, princesa negra?

- O que for preciso. Dan é meu amigo.

- Amigo? Ah não. Não mesmo. Amigo que é amigo, não conta onde a amiga mora, ou senão, o que a amiga faz de manhã.

- Eu não acredito em vocês.

- Você quer o quê? Que ele diga?

- Quero.

- Fale, Daniel.

- Falar o que, Stephan?

- A verdade.

- Que verdade? Que você quer separar Thalia do namorado?

- A outra verdade. Que você entregou ela.

- Já conversamos sobre isso e você sabe que é mentira.

- Então diga adeus a sua vida. – Stephan tirou algo da mochila meio aberta que estava e colocou na cabeça de Dan. Stephan apertou o gatilho da arma.

- DAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAN. – Thalia tentou correr até o amigo, mas foi segurada pela cintura pelo namorado.

- Você não vai.

- NICO, ELE É MEU AMIGO!

A menina se debatia, até que conseguiu se soltar do namorado. Correu até o amigo que jazia no chão, sem vida.

- O QUE VOCÊ FEZ COM ELE, STEPHAN?  VOCÊ É UM ASSASSINO! – A menina gritava, soluçando.

- Stephanie, vamos. – Disse Stephan, desesperado.

- VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM. – Thalia segurou o ex-noivo.

- Solta ele, Thalia. – Gritou Annabeth.

- EU NÃO VOU SOLTAR COISA NENHUMA! ELE MATOU UM DOS MEUS MELHORES AMIGOS E AGORA VAI PAGAR.

Annabeth e Silena olhavam a cena, horrorizadas, abraçadas em seus namorados, chorando. Stephan conseguiu se soltar de Thalia e saiu correndo, seguido por sua irmã.

Thalia mais nada fez. Apenas sentou ali, no meio da rua e chorou. Chorou muito. A menina não sabia, mas não havia perdido apenas uma pessoa querida. Mas duas.