Iron Mask escrita por Luisy Costa


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao derradeiro fim.



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Devo ter dormido quase todo o dia, a exaustão de noites em claro havia finalmente me alcançado. Foi apenas a luz da tocha chegando ao aposento que me despertara, Edward estava parado na entrada e me olhava com intensidade. Ele trazia novas tochas para os suportes e as acendeu para iluminar o ambiente. Quando terminou, se aproximou da cama e tocou a minha perna, meu corpo reagiu o puxando para um abraço apertado. Afundamos no calor um do outro por um longo tempo antes que algo fosse dito.

 

— Conversamos muito sobre os acontecimentos recentes, principalmente sobre você. Mas meu pai ainda não revelou sua decisão — ele acariciava meu cabelo enquanto falava. — Todos falamos positivamente sobre você, até mesmo Tanya e Irina confirmaram que sua história era a mesma que havia nos contado, exceto pelos novos detalhes. Eu tive que me conter para não te elogiar sem revelar nada, mas deixei que soubesse o quanto seus ensinamentos me tornaram um guerreiro e uma pessoa melhor.

 

— Crê que sairei viva daqui? — perguntei sinceramente. — Não estava sendo leviana quando disse que minha família precisa de mim durante o inverno, normalmente é a única época que as vejo. Reúno dinheiro e mantimentos durante todo o ano e levo para todos no inverno.

 

— Meu pai é um homem justo, acima de qualquer coisa. E ainda que você tenha escondido sua identidade, ele te fez uma promessa e deu sua palavra — ele apontou. — E se ainda assim ele não for favorável, eu farei o impossível para que possa retornar para sua família.

 

— De toda forma, nosso tempo juntos está por um fio — acariciei seu rosto. — Não me importa o que ocorra amanhã, não quero desperdiçar essa noite.

 

Comecei a beija-lo, mas ele me afastou com um sorriso suave e buscou uma trouxa que não havia percebido antes. Ele trouxe o pacote para cama e o desamarrou, dentro havia um pão, alguns pedaços de queijo, além de frutas secas e frescas. Ele dispôs o tecido entre nós dois e me observou com carinho.

 

— Sabia que você não iria sair dos túneis até amanhã, pensei até que correria sem rumo para além da corda — ele sacou a adaga que sempre trazia agora e cortou o pão em fatias. — Então decidi checar as provisões que chegaram com meu pai e encontrei algumas coisas bem melhores que a comida de Tanya.

 

— Qualquer coisa é melhor que a comida da ruiva — ele me serviu uma fatia de pão com queijo e algumas frutas. — É uma forma decente de nos despedir?

 

— Temo que sim — ele me olhava intensamente, com o brilho das tochas refletidos no mar esmeralda dos seus olhos. — Devemos partir amanhã pela tarde, quase todos os preparativos já foram feitos e meu pai quer regressar de uma vez para o castelo.

 

— Quais casamentos devo esperar pelos próximos dias? — perguntei sem nenhum entusiasmo, apenas para reafirmar no meu coração que nos separaríamos pelo bem de todos.

 

— A informação de Alec sobre a aliança com Castela era verdadeira, afinal. Porém isso custou ao meu pai a mão de Rosalie, ela será uma princesa consorte para o herdeiro do trono — disse enquanto se recostava sobre o colchão, mirando o dossel. — Mas isso só ocorrerá dentro de algumas semanas, primeiro teremos que selar um acordo de paz com os emissários franceses que chegarão em alguns dias.

 

— Um acordo de paz parece frio demais para se referir ao seu casamento — me recostei sobre o seu peito, sabia que ele não queria me dizer toda a história, mas, de uma forma sadomasoquista, precisava saber de tudo. — Não precisa minimizar nada Edward, sempre soubemos que esse era o fim da nossa história.

 

— Não quero que nossa noite seja sobre dores e pesares, minha Bella.

 

— Me conte tudo e depois nós faremos um piquenique, quando estivermos com a fome saciada, vamos deixar que nossos corpos sejam um do outro mais uma vez — acariciei seu peito, enquanto sua mão vagava pelas minhas costas. — Será a nossa forma de dizer adeus.

 

— Não quero que seja assim — me abraçou apertado. Ele não falou nada mais e concluí que se sentia tão sem esperança quanto eu.

 

Essa realização escavou fundo no meu peito, fazendo com que algumas lágrimas silenciosas escorressem pelo meu rosto e manchassem sua camisa. Mas depois de alguns instantes me recompus, não queria perder nossos últimos momentos íntimos chorando. Limpei meu rosto, depositei alguns beijos no seu peito e me levantei, focada em fazer dessa noite a mais memorável das nossas vidas.

 

Agarrei o pão que ele havia me servido e provei com satisfação um alimento saboroso, para variar.

 

— Me fale sobre esse acordo de paz — disse antes de começar a mastigar algumas frutas. Ele se levantou para me acompanhar e começou a preparar uma fatia de pão para si.

 

— Algumas concessões e sanções foram negociadas pelos nossos emissários com a França para impedir mais mortes — ele mordiscou sua fatia antes de continuar. — Houveram algumas modificações ao longo das negociações, mas no fim o rei francês aceitou nossos termos e assinou a rendição. Para garantir que a França cumpriria seu lado do acordo, um matrimônio foi proposto para selar a paz. Alguns emissários franceses devem chegar em uma ou duas semanas com os papéis para firmar a união entre a princesa Jehanne e eu.

 

Ele baixou os olhos para comida outra vez e deixou que eu processasse a informação. Terminei de mastigar as minhas frutas, ganhando tempo para pensar no que ia dizer.

 

— Você a conhece? — perguntei por fim.

 

— A conheci quando éramos crianças em um compromisso oficial, ela é alguns anos mais nova do que eu — ele pareceu incomodado em falar desse assunto. — Ela prefere ser chamada de Jane entre os amigos e família.

 

— Jane será mais fácil para que todos aqui se acostumem — ofereci com um sorriso sincero. — Espero que ela se adapte à corte inglesa. Quando será a cerimônia religiosa?

 

— Um pouco menos de um mês depois a assinatura dos papéis — disse em um tom de voz triste. — Meu pai quer ter tempo de fazer uma celebração digna para o casamento do seu herdeiro, além de preparar presentes tal qual em tempos de paz. Um sinal de boa fé do nosso reino com a França.

 

— Ele está certo, é melhor cultivar uma relação mais amigável e evitar outra guerra — envolvi minha mão com a sua. — Estamos todos fazendo a coisa certa aqui Edward, bem talvez não tão certa quanto deveríamos, mas não vamos machucar ninguém.

 

— Só um ao outro, Bella — ele apertou um pouco mais minha mão. — Vai doer por toda a vida não a ter em meus braços, não poder contar com a sua visão singular de mundo e com os seus golpes no traseiro.

 

A tristeza transbordava dele e se chocava com a minha, mas essa era uma conversa vital entre nós dois que não podia ser deixada de lado para amanhã. Não haveria mais um amanhã juntos e ambos estávamos cientes disso, teríamos que seguir em frente como possível.

 

— Eu partilharei da sua dor, Edward, ao menos até a parte dos golpes, esses me trazem alegria — ele riu da minha tentativa de melhor o humor, mas eu precisava fazer meu último pedido antes de ser sua uma única vez mais. — Sei que deixei claro que não haveriam promessas sendo feitas, mas eu preciso garantir que você vai cumprir com sua palavra.

 

— Peça, minha Bella, e eu farei de tudo para cumprir com a minha palavra — ele beijou meus dedos. — Debaixo dessas rochas está o senhor do nosso reino, mas você é a soberana do meu coração.

 

— Prometa em nome da paz no nosso reino e por tudo que sente por mim que vai se dedicar ao máximo ao seu casamento — ele pareceu atordoado com o meu pedido, mas eu ainda não havia terminado. — Quero que seja fiel à princesa Jane, que a respeite, seja carinhoso e atencioso. Construa uma família com ela. Tente ao máximo ser e fazer ela feliz e, sobretudo, busque uma forma de ama-la.

 

— Dentre tudo que podia pedir, você deseja justamente o bem da pessoa que é razão para que eu não possa tê-la por toda vida. Você é sempre tão surpreendente, minha Bella — ele me tomou em seus braços. — Como eu posso fazer tal promessa se tudo que anseio é dedicar todos esses sentimentos para você? Seria tão doloroso.

 

— Você tem que tentar ser feliz, Edward. Não quero que seja tomado pela amargura e que torne a vida dessa pobre em uma tormenta — beijei seu pescoço. — Além disso, mesmo estando separados, enquanto eu souber que você é feliz, posso viver tranquila tendo certeza que seguimos o caminho certo.

 

— Então eu prometo, minha Bella — ele me beijou delicadamente. — Mas não posso prometer que a esquecerei, você sempre governará meu coração.

 

— Tão pouco posso prometer o mesmo, meu amado. Você sempre será o único a reinar no meu peito — lhe dei um beijo suave. — Agora vamos nos dedicar apenas um ao outro uma vez mais.

 

Ele não concordou com palavras, mas suas mãos começaram a tirar as camadas de tecido que nos separavam, para logo serem acompanhadas pelas minhas. Nós passamos a noite mergulhados em carinhos e momentos apaixonados, risadas e longos momentos de silêncio abraçados.

 

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Como solicitado pelo rei, na manhã seguinte me apresentei ao Jardim bem cedo. Havia enviado Edward de volta aos seus aposentos ainda pela madrugada, precisávamos estar apresentáveis pela manhã. Aproveitei que quase todos estavam dormindo para tomar um banho e ficar decente outra vez. As princesas haviam me presenteados com algumas das muitas peças de roupas em baús pelo depósito, escolhi o mais bonito para melhorar a minha figura.

 

Com uma aparência digna, me senti mais confiante e não hesitei para entrar na luz brilhante da manhã. Toda a família real estava presente, bem como as aias, Jasper e Emmett, também haviam um par de homens da guarda do rei. Todos me esperavam com rostos ansiosos, mas não apressei meus passos, havia relembrado algumas das lições de etiqueta da minha mãe. Uma dama, como eu deveria ser, jamais seria descortês na presença da realeza.

 

Cheguei a uma distância aceitável de todos e apresentei minha mais elegante reverência. As sobrancelhas de Edward se arquearam para meu modo de agir, em um misto de divertimento e incredulidade. Havia golpeado ele vezes demais para que se esquecesse dos meus modos brutos ao imitar o comportamento masculino. Emmett também parecia muito divertido com a situação, mas seu sorriso morreu rapidamente ao olhar outra vez para Rosalie.

 

— Senhorita Swan, pude ver que conquistou a amizade de minhas filhas e até mesmo a simpatia dos meus homens — começou o rei, esperava que suas palavras continuassem amigáveis. — Todos foram muito positivos pela sua pessoa e, embora também tenham ficado surpresos, me confessaram compreender as suas ações guiadas pela necessidade.

 

— É uma honra ter o presente da confiança mesmo que tenha escondido um segredo tão grave, Vossa Majestade — lhe respondi sinceramente.

 

— Um segredo realmente grave, senhorita — ele concordou de forma pensativa. — Ainda que a sua atitude seja completamente reprovável, você não cometeu nenhum crime. Não se alistou ao exército ou se aproveitou para obter algum direito masculino.

 

Todos agora tinham atenção plena no rei, até mesmo pássaros pareciam haver se calado para escutar melhor. Sua mão estava gentilmente apoiada sobre a da esposa e pude ver como ela lhe fazia carícias suaves.

 

— Para além disso, há algumas coisas mais que somam a seu favor, senhorita — ele enfatizou as próximas palavras gesticulando com a mão livre. — Primeiramente, cumpriu com sua palavra, trouxe meu filho vivo e cuidou da minha família. Em seguida, o fez tão bem que chegou ao ponto de quase perder a própria vida e expor seu segredo, demonstrando qualidades de um cavaleiro.

 

Era quase risível que eu estivesse corando por ser elogiada por ter a atitude esperada de um homem.

 

— Por fim, foi além de suas atribuições e se dedicou a ensinar ao meu filho como lutar, tendo mais paciência do que qualquer outro mestre já foi capaz. Seus ensinamentos foram de extrema importância para que meus filhos estejam com vida hoje — ele olhava para cada um dos filhos com profundo amor e orgulho. — E além, minha rainha me deixou saber que lhe deu sua palavra que teria a sua recompensa. Considerando tudo isso, lhe disse uma vez que sua recompensa seria entregue mesmo que eu morresse, portanto, não vejo razão para que isso mude.

 

Todos sorriram, mas eu me contive para não pular de felicidade. Não me interessava a recompensa, apenas saber que poderia ver outra vez minha família, mesmo que carregasse o pesar de jamais estar ao lado de Edward.

 

— Porém, o ouro que lhe foi prometido me parece insuficiente para todo sacrifício que você realizou, por isso peça o que quiser e será seu — ele estava me dando mais esperança do que meu coração precisava, havia apenas um algo mais que queria para além da minha família.

 

Edward me encarava com esse mesmo sentimento, fazendo o impossível para mascarar o sorriso que crescia no seu rosto. Podia quase sentir as palavras se formando, até podia ouvir o som delas reverberando nas paredes da Muralha. Por um segundo me permiti imaginar anos no futuro, parada ao lado de Edward enquanto nossos filhos brincavam em um belo jardim. Durante a noite seríamos amantes devotos apenas um ao outro, enquanto de dia estaria ao seu lado para apoiar seu reinado.

 

E então outra visão me tomou, nossos filhos com medo e angustiados dentro desse castelo subterrâneo, esperando pelo fim de uma guerra causada pela minha imprudência. Também pude imaginar milhares de homens inocentes, dos dois lados, usados como peões no jogo de poder entre reis. Milhares de família que passariam pelas dificuldades que conhecia bem, mulheres chorando pelos filhos e maridos perdidos para a guerra ou para fome. Vilas queimadas, o choro angustiante de um bebê pequeno no colo da mãe moribunda, a ferida no peito ainda sangrando depois da espada ser retirada.

 

Olhei para Edward outra vez e uma lágrima escorreu pela minha bochecha, de alguma forma ele soube qual caminho eu havia escolhido, seu sorriso contido foi se transformando em um reflexo da minha dor. Eu poderia pedir uma vida ao seu lado, mas isso apenas traria mais devastação.

 

— Perdão, Majestade, estou emocionada pela sua generosidade — disse por fim, dando uma desculpa para meu repentino estado de lágrimas. — Como lhe disse ontem a noite, minha vila na região litorânea foi invadida por tropas inimigas e está tomada desde então. De forma que, se assim for da vontade de Vossa Majestade, quando as terras de minha família forem liberadas, gostaria de retomar os bens uma vez concedidos aos meus ancestrais. Assim poderia trazer de volta minha família e os aldeões para seu lar.

 

— É muito nobre da sua parte pensar em todos dessa forma, senhorita Swan — a rainha falou pela primeira vez.

 

— Concordo, minha rainha, não vejo razão para que a senhorita não possa retomar algo que já lhe pertence — apontou o rei. — Me alegra que seja fiel aos seus. Assim será feito, as tropas francesas devem evacuar todos os territórios invadidos antes mesmo que o acordo de paz seja assinado, como sinal de rendição e boa fé do inimigo. Tão logo eles tenham partido, poderá retornar ao seu lar, então enviarei meus homens para garantir que estejam seguros e para lhe entregar sua recompensa.

 

— É mais do que eu poderia pedir, Majestade.

 

— É o justo e deve ser feito — disse. — Pode ir se preparar para partir, senhorita. Partiremos hoje pela tarde e a senhorita será livre para seguir seu caminho, mas temo que a aparência de uma jovem tão bela não seja muito segura para viajar sozinha. Portanto, destacarei dois dos meus guardas que já a conheçam para acompanha-la até que esteja em segurança. Também terá todas as suas armas de volta, uma vez que demonstrou merecer nossa confiança.

 

— Serei eternamente grata pela sua generosidade, Majestade. És tão justo e sábio quanto meus pais me contavam quando menina — olhei para todos com sincera gratidão. — Com vossa licença, gostaria de me retirar agora.

 

Ele assentiu e eu me retirei, tentava manter a maior calma possível, caminhei sem pressa até o meu buraco. Reuni todas as coisas que iria carregar, o saco de dormir, as bolsas de Durna, os vestidos que havia ganho das princesas e até mesmo a minha armadura e máscara. Era tudo que possuía e todo que levaria comigo, afinal teria que deixar meu amor por Edward perdido pelos túneis.

 

Não haveria um dia em que não me arrependesse da minha decisão, eu tivera a chance de seguir ao lado de Edward e não a agarrei. Mesmo que houvesse sido por uma boa razão, não poderia aproveitar essa oportunidade com a consciência limpa. Antes vivesse cem anos com a dor de perder o amor da minha vida do que condenar milhares de pessoas inocentes. Tínhamos o amor, mas nossa vida estava voltada ao dever.

 

Ainda assim eu desejava que ele viesse ao meu encontro outra vez, que me tomasse em seus braços, me beijasse e fizesse as mais inebriantes promessas. Mas esse era apenas o meu desejo, minha necessidade por sentir outra vez a sua pele mesclada a minha. Fiquei quase a manhã toda sentada sob o colchão de palha, mas ele não veio. Sabia que não viria, deveria estar com raiva de mim por nos haver negado a esperança de uma união eterna.

 

Edward ainda era impulsivo demais para saber que o mundo não estaria em torno das nossas vontades e sentimentos, que romper com o acordo de paz poderia gerar mais morte e devastação. O regente francês não teria seu coração tocado ao saber que sua filha havia sido rejeitada em favor de uma nobre de baixa importância que se vestia de homem e amaldiçoava como uma puta.

 

Por fim, decidi não mais esperar que ele aparecesse, mas ainda necessitava de algo que lembrasse a nós dois. Por isso fui em direção a caverna que havia sido nosso abrigo nos últimos dias. Queria resgatar um pedaço das nossas noites de amor e luxúria, pensava em agarrar o lençol que nos envolvera e esconder junto aos vestidos. Ninguém reclamaria ou buscaria por um lençol desparecido quando haviam outras dezenas espalhadas pelo depósito.

 

Me assustei ao ver de longe a luz, ele estava a minha espera ou estaria roubando uma última lembrança como eu queria fazer? Só havia uma forma de descobrir.

 

Seus olhos encontraram os meus assim que entrei em seu campo de visão, estavam vermelhos de lágrimas e acompanhavam um rosto distorcido. Em suas mãos estavam o lençol que viera buscar. Me aproximei lentamente, tentando medir se sua reação.

 

— Você poderia ter pedido para ser minha — foi tudo que ele disse quando estava finalmente a sua frente, sua voz soava derrotada e triste. — Se meu pai tivesse dito não, eu poderia passar o resto da minha vida culpando-o por não ter você ao meu lado.

 

— E se ele aceitasse estaria jogando o reino em outra espiral de guerra — coloquei uma mão sobre seu ombro.

 

— Não importo com isso, Bella! — ele explodiu, se levantando e agitando minha mão para fora do seu corpo. — Eu mesmo iria para guerra e mataria a qualquer um que quisesse me impedir de estar com você.

 

— Isso é errado, Edward! — gritei de volta — O nosso amor não justifica milhares de mortes! Você já esteve em um campo de batalha depois dela, Edward? Já esteve em um vilarejo atacado?

 

Ele estava paralisado agora, me olhando com raiva e dor.

 

— Eu estive nos campos de batalha no nosso litoral, vi corpos de garotos, que mal podiam ser chamados de homens, mutilados e destroçados. E enquanto resgatava as pessoas no meu vilarejo, vi crianças mortas pelas ruas, homens com os membros cortados, mulheres que haviam sido estupradas e depois mortas — minha voz estava ficando cada vez mais inflamada. — Eu vi uma mãe morta, a marca de uma espada enfiada no peito e nos braços seu bebê ainda chorava de desespero. Foi a última pessoa que pude salvar naquele dia, um pobre bebê nos braços frios e sem vida da mãe!

 

Meu coração retumbava no meu peito, eu o amava e todo meu ser desejava estar ao se lado, mas eu não arriscaria que outra horrenda guerra acontecesse.

 

— Nós condenaríamos vidas inocentes, Edward — pus as duas mãos sobre o seu peito, ele não se afastou ou se quer se moveu. — Arriscaríamos a vida de todos que amamos outra vez. Estaríamos seguros aqui, mas Rosalie estaria longe de casa e com a honra manchada pelo comportamento do seu irmão. E Alice ainda tem uma chance de encontrar o amor.

 

— Eu compreendo, minha Bella — ele parecia derrotado ao dizer isso. — Você tem mais honra e amor pelo próximo que qualquer outro, por isso seria a melhor rainha para estar ao meu lado.

 

— Queria que tudo fosse diferente, Edward. Todavia, se assim fosse, jamais haveria conhecido você.

 

— Eu tampouco mudaria nada, Bella, não se isso significasse jamais encontrar o amor da minha vida.

 

Ambos sofreríamos, mas nossa dor seria privada e segura, não uma ameaça a todos. Ele me puxou para os seus braços e eu soube que havia me perdoado. Fora fácil para ele, mas eu jamais me perdoaria, não importava o quanto soubesse que essa era a coisa certa a ser feita, jamais deixaria de me odiar por deixa-lo ir.

 

— Você veio aqui esperando me encontrar? — perguntou depois de alguns instantes de silêncio.

 

— Pensei que você me evitaria como diabo à cruz — lhe confessei. — Vim buscando uma memória para levar comigo.

 

Ele então me deixou e se virou para cama, pegando justamente o lençol que eu pensava tomar.

 

— Chegou a minha hora de desrespeitar nosso acordo, minha Bella — ele agarrou a sua adaga e começou a cortar o lençol no meio, quando terminou, dobrou as duas metades, me estendendo uma delas. — Vou te prometer algo e você não poderá me impedir.

 

— Eu não quero — lhe respondi, ainda que não fosse uma pergunta.

 

— Um dia, minha Bella, nós vamos nos reencontrar, seja no céu ou no inferno — ele me beijou ternamente. — Depois teremos uma eternidade de paz ou de danação, mas será uma eternidade juntos. E isso é uma promessa.

 

— Eu estarei te esperando, não importa onde for — respondi.

 

Edward então se afastou e andou a passos lentos para longe e eu soube que nunca mais o veria. Meu peito sofria com a dor intensa, mas ao mesmo tempo estava em paz consigo mesmo. Esperei até que seus passos deixassem de ecoar para seguir meu caminho.

 

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Durna parecia animada por reconhecer o caminho, estávamos em direção ao acampamento e ela deveria estar ansiosa para finalmente ganhar maçãs de Renesmee. Acariciei sua crina e me inclinei para sussurrar no seu ouvido.

 

— Estamos quase lá, minha menina. Não me faça ficar com ciúmes outra vez, você não pode amar maçãs mais do que a mim.

 

Quill e Paul me observaram com sorrisos zombeteiros, eles se divertiam muito em me ver falando com Durna. Ambos haviam sido destacados para me acompanhar, os dois pareciam agradecer por poder estar outra vez ao ar livre e não terem ido diretamente para a confusão da capital. Eram boas companhias e não questionavam muito quando eu agia como um bom e velho caçador de recompensas, usando armadura e caçando nosso jantar.

 

Eu fazia o máximo para não pensar no dia que havia partido, mas era a única coisa na minha cabeça quando deitava para descansar. Depois de Edward ir embora, eu não o vi mais, nem mesmo quando toda a família real e os guardas haviam ido se despedir de mim. Rosalie tampouco parecia muito feliz, mas ela podia mascarar muito melhor seus sentimentos, uma vez que não estava habituada a já ter o rosto escondido como eu. Todos foram muito gentis e Alice chegara a me abraçar e desejar poder me visitar algum dia no meu vilarejo. Lhe respondi que seria uma honra, mas sabia que era pouco provável que a ela permitissem viajar por um longo tempo.

 

Depois das despedidas, Quill e Paul me acompanharam imediatamente para o estábulo, preparei rapidamente Durna e partimos em seguida. Não houve uma brecha para ver o seu rosto outra vez, além das memórias, agora podia senti-lo apenas pelo cheiro deixado na metade de lençol, que eu usava como travesseiro à noite.

 

As risadas infantis me tiraram da dor e culpa que era pensar em Edward. Estávamos a poucos passos do meu destino final, mas os cavaleiros pararam.

 

— Ficamos por aqui, Bella — disse Paul. — O rei nos disse que ficássemos com você até que estivesse segura, e pelo som, aqui não há perigo.

 

— Obrigada senhores, espero que tenham sorte na viagem de volta.

 

— Obrigada, Bella, tenha cuidado e não esqueça da máscara para enfrentar os soldados inimigo — caçoou Quill, ele ainda se divertia com a minha história.

 

Um troca curta de adeus e eles já estavam galopando na direção contrária à minha. Assim que foram engolidos pela floresta, dei o comando para que Durna seguisse lentamente. Atravessamos com calma os poucos metros até a clareira, a última vez que estivera aqui eu era pessoa inteira, mas agora era uma metade rasgada de algo maior. Era igual ao lençol abrigado junto aos vestidos, uma peça que um dia fora algo único, mas que agora representava apenas uma parte. Edward e eu havíamos nos tornado todos inacabados naquele dia.

 

Afastei esses pensamentos dolorosos para me concentrar no crescente som de vozes e atividades, a vida estava a toda marcha naquela clareira. Os preparativos do inverno deviam ter começado, todos haviam aprendido a lição depois do primeiro, mas eles ainda precisavam do que eu trazia. Não mais, antes que as temperaturas abaixarem mais, iríamos retornar à casa. Seria uma longa e lenta viagem, mas valeria a pena recomeçar a viver.

 

— Bella voltou!

 

Foi assim que soube que haviam me avistado, logo todo o acampamento anunciava minha chegada e pude ver como todos deixavam seus afazeres para vir me cumprimentar. Desmontei de Durna para receber suas boas vindas, seguindo lentamente em direção a tenda da minha mãe e Renesmee. A multidão de repente começou a se abrir e eu as vi correndo em minha direção.

 

Minha mãe jamais havia perdido sua compostura de dama nobre mesmo vivendo no meio da mata, mas parecia ter deixado de lado qualquer bom modo para me alcançar mais rápido. Nessie havia crescido mais do que da última vez que estivera aqui, era quase uma jovem mulher agora e provavelmente teria pretendes buscando a aprovação de mamãe em breve.

 

Elas me alcançaram em um abraço apertado, que me fazia sentir segura outra vez. Ao lado delas eu poderia viver com alguma felicidade, tentando me manter bem, mesmo que agora fosse só um todo desmembrado. Viver para a minha família daria um sentido a minha existência enquanto esperava o dia em que reencontraria Edward para a eternidade.

 

 

 

FIM

 


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Notas finais do capítulo

Durante muito tempo eu planejei o final da história e desde a primeira vez eu tinha certeza que Edward e Bella não iriam ficar juntos. Aos longos dos anos essa ideia amadureceu comigo e finalmente entendi a razão, ambos, principalmente Bella, compreendem que suas ações podem ter consequências. E por isso esse não era o momento de viver um conto de fadas.

Algumas pessoas podem não gostar desse final, afinal sempre torcemos para que tudo dê certo. Embora não possa agradar a todos, espero que tenham gostado. Agradeço aos que chegaram recentemente e aos que me acompanham desde 2011, quando uma adolescente sonhadora e fã de Crepúsculo começou a escrever.

Obrigada pela paciência, o carinho e os comentários de vocês ao longo do caminho. Considero essa fanfic meu primeiro romance completado, algo que jamais me pareceu possível, mas que agora se mostra real. Como disse algumas vezes, estou revisando tudo para repostar no wat**** e deixarei vocês atualizadas sobre.


Não sou de dizer Adeus, então, até breve a todas.


Abraços,


Luisy.