Iron Mask escrita por Luisy Costa


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei, estamos chegando na reta final agora. Espero que gostem



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Edward seguia com sua palavra e não fazia promessas, tampouco reclamava da nossa complicada relação. Isso deveria me apaziguar, mas me deixava cada vez mais inquieta. Eu queria ter meu conto de fadas com ele, acordar com seu sorriso suave e olhos brilhantes todos os dias, queria ser companheira, confidente e amante por toda a vida. Mas não era certo confessar esses desejos e muito menos alimentar eles, cada beijo e carícia que trocávamos escondidos pertenciam ao presente e não deveriam interferir em seu futuro. Esses sentimentos eram mantidos longe das nossas longas noites de conversa e beijos, mas me arrasavam quando ele seguia o seu caminho pelo corredor.

 

Ninguém pareceu notar a minha constante variação emocional, mesmo que fosse seguida de perto quase todo o dia. Afinal, derrotando o grupo de Volturi, o humor de todos voltou a ser mais leve, os deixando menos propensos para a desconfiança. Mesmo as princesas, com quem eu gastava boa parte do meu dia, não pareciam notar como me sentia. Estava justamente sentada com elas ao redor da cachoeira agora, enquanto ambas me faziam diversas perguntas.  Nesse momento, estavam interessadas na minha família.

 

— Bella, qual é o nome da sua irmã? — perguntou suavemente Alice, depois de me haver contando sobre seus primos e primas de realezas distantes. — Você nos falou sobre ela, mas nunca seu nome.

 

— Renesmee — disse, esboçando um sorriso ao pensar na sua imagem. — Minha mãe a nomeou assim em homenagem a rainha. Ela sempre admirou a família real e, mesmo depois de tudo que passamos, tinha certeza que seu pai iria conseguir nos tirar dessa guerra.

 

Rosalie mordeu o lábio inferior em resposta ao meu comentário e olhou para Emmett, que nos vigiava da entrada para o complexo.

 

— Não duvido disso — disse com um tom triste. — Mas receio que serão seus filhos que pagarão pela paz.

 

Ela sofria em antecipação pela mesma razão a que eu agonizava, os destinos dela e de seu irmão não eram direcionados ao amor, e sim ao dever. Alice poderia ter um pouco mais sorte, se nenhum outro reino resolvesse nos apoiar, ela teria a chance de ao menos escolher dizer sim ou não. Mas ambas pareciam refletir as palavras amarguradas de Rosalie, estampando no olhar em quem pensavam. Queria não compreender ou ao menos não compartilhar da mesma dor, mas do lado inversa, de quem jamais poderia ser amada.

 

Passos pesados tiraram meus pensamentos desse caminho vertiginoso, procurei sua fonte e vi Jasper seguindo em nossa direção. Antes que ele se aproximasse, Alice exalou um suspiro quase inaudível. Ele parecia cada dia mais recuperado, as machas roxas não existiam mais e seu dedo em breve seria retirado da tala, mas o nariz ficaria eternamente levemente torto.

 

— Senhorita Swan, poderíamos conversar em privado? — ele tinha um tom sombrio, mas polido comigo. De qualquer forma, não poderia recusar um pedido dele, não queria me indispor e causar mais uma má impressão.

 

— Por certo que sim, com a licença de vossas altezas — ambas assentiram com a cabeça, mas encaravam Jasper como um aviso.

 

O segui até o Grande Salão, que agora se via livre das camas dos guardas, voltando a ser a bifurcação confusa de antes. Ele parou na entrada do túnel para os depósitos e ala real, me encarando enquanto eu me aproximava. Senti certo medo, eles haviam tirado todas as minhas armas e agora só contava com a minha própria força. Mas me tranquilizei quando seu rosto se mostrava mais cauteloso do que hostil.

 

— Não queria falar desse assunto na frente das princesas — disse, quando enfim parei ao seu lado, esperei que continuasse. — O agente italiano que não morreu durante a luta ainda está vivo.

 

Uma onda de choque me tomou, pensei que Alec havia sido executado enquanto eu ainda estava inconsciente, se passaram muitos dias e nunca ninguém havia deixado escapar esse pedaço de informação. Jasper me encarava enquanto absorvia a notícia, era desconfortável que agora as pessoas pudessem ver tão facilmente no que pensava através das minhas expressões.

 

— E por qual razão eu deveria saber disso agora? — respondi um pouco mais irritada do que queria, estava acostumada a participar desse mundo e agora era excluída mais do que antes.

 

Ele se surpreendeu um pouco com a minha reação, mas se recuperou rapidamente para cumprir com o propósito da conversa.

 

— Todos havíamos concordado que você não participaria mais dessa parte da vida aqui — disse simplesmente, usando um pouco da sua autoridade. — Mas há outra perspectiva em mente agora, então reconsideramos essa decisão. Alec é mais tenaz do que pensamos e mesmo passando tanto tempo sob interrogatório ainda não nos revelou nada útil.

 

— Repito, no que isso me inclui? Vocês disseram, não sou prisioneira, mas não tenho mais responsabilidades de protetora. Meus peitos parecem ter mudado isso.

 

Meu ataque foi recebido com espanto, todos me tratavam quase como uma dama agora e pareciam ter enterrado o fato de que eu sabia ser grosseira como um homem. Exceto que nenhum deles havia se insinuado para mim, eles ainda lembravam bem que eu não precisava de armas para ser letal.

 

— Sinto muito se não lhe convém ser tratada como uma dama, senhorita Swan, mas foi um pedido da rainha que todos mantivessem o decoro com a sua pessoa.

 

— A senhorita Swan está se escondendo em uma floresta, eu prefiro ser chamada de Bella — disse como uma oferta de paz. Estava realmente interessada no que ele queria me dizer, afinal. — No que posso ajudar?

 

— Bem, Bella — ele disse meu nome de forma arrastada, com um breve sorriso que deu lugar a um semblante duro. — É do conhecimento geral que você conhece algumas técnicas de tortura.

 

Isso bastou para que eu entendesse a questão, eles precisavam de respostas que Alec se recusavam a dar. Para sorte dele, não eram Félix ou Demetri em custódia, jamais conseguiria quebrar qualquer um deles. Alec era outro assunto, um amador jamais arrancaria algo dele, entretanto, eu conhecia bem o que ele não suportaria. Mas temia que agora esse tipo de atitude pudesse quebrar a Isabella que eu sempre tentei proteger, sem a minha camada de Iron Mask a dureza dos meus atos poderia ser demais para compartimentalizar. Porém, estava sedenta pelo verme que havia ajudado a ferir as pessoas que eu protegia e que havia cometido tantos outros atos horrendos contra inocentes. Foi então que a ideia surgiu na minha mente.

 

— Vou precisar da minha máscara.

 

.

.

.

 

Os olhos de Alec pareciam saltar das órbitas quando atravessei a entrada da caverna, ele estava em choque em me ver outra vez. Assumir novamente o meu rosto de metal havia se tornando um tanto sufocante, mas ao mesmo tempo aliviava todo o excesso de sentimentos que me atormentavam nos últimos dias.

 

Aproveitando desse alívio, me concentrei na tarefa que me esperava, tirar o máximo de informação exterior possível. O conjunto de objetos que eu havia pedido estava disposto em uma manta no chão, perto o suficiente para Alec contemplar o que lhe esperava. Os homens ao meu redor pareciam desconfortáveis em me ver novamente em roupas masculinas, mas ninguém ousou se impor contra. Apenas Jasper, Emmett e Jacob estavam presentes na câmara onde Demetri nos encontrara.

 

Julgara que os guardas passando perto das minhas acomodações no estoque estavam apenas me vigiando ocasionalmente, não havia considerado um verdadeiro prisioneiro na equação.

 

Me aproximei primeiro de Alec, seu rosto estava inchado e roxo em muitos lugares, o deixando quase irreconhecível, enquanto suas roupas eram as mesmas do dia da invasão. Haviam se tornados trapos sujos, manchados de sangue e poeira, deixando exposto as contusões novas e antigas pelo seu corpo. Apenas bater nele não traria resultados, Alec havia sido treinado para aguentar um interrogatório como aquele pelo próprio Demetri. Era um sádico e aposto que, enquanto o golpeavam, havia sorrido todo o tempo.

 

— Veja só, o bicho papão não morreu — disse com desdém, mostrando um sorriso de escarnio com alguns dentes a menos. — Demetri pegou você bem feio, eu vi, mas você sobreviveu. Talvez todo seu corpo seja de metal enferrujado.

 

Eu acariciei sua bochecha com as costas da mão enluvada, ele se retesou e tentou me morder, mas eu fui mais rápida e lhe dei um tapa.

 

—  Você tem um rostinho bonito, Alec — me levantei e andei calmamente e direção a manta. O olhar perplexo de todos pensando sobre minha pele. —  Sempre foi seu maior orgulho, principalmente quando rastejava para a cama de uma mulher.

 

—  Não é um atributo que você tenha, não é verdade? — desdenhou de mim. Fingi que não o escutava e procurei por dois objetos específicos.

 

— Bem, é algo a ser discutido — agarrei o espelho de mão, uma fina peça dourada com pequenas pedras preciosas alojadas no entalhe e uma pequena adaga afiada. Escondi o espelho atrás das costas e a adaga na bota, antes de voltar a me aproximar dele. — Todos esses golpes repetidos são mais do que suficientes para mudar esse panorama.

 

E então ergui o espelho em sua direção, por alguns breves segundos sua expressão de presunção migrou para o terror. Porém, se recompôs rapidamente para não perder qualquer vantagem.

 

— Contusões como essa somem, Iron, e um nariz torto só me tornará mais atrativo.

 

— Bem, talvez você precise de uma cicatriz igual a minha para manter viva a memória — para ilustrar meu ponto, saquei a adaga e a apresentei para ele. — Entretanto, pode ser mais fácil uma troca, não crê?

 

— Uma troca? — riu histérico. — Eu sei que já sou um homem morto, então não tenho nada mais que possa me tirar.

 

— Esse é meu ponto, Alec — levantei a adaga até o seu pescoço. — Eu poderia deixar que te batessem até a morte, ou que cansassem de você e finalmente o enforcassem.

 

Passei a adaga pelo seu queixo, abrindo um pequeno arranhão que não deixaria marcas, mas ele tremou.

 

— Como você é conhecido no norte mesmo? — fingi pensar sobre durante alguns segundos. — Ah claro! Alec, O Belo. É um apelido lisonjeiro demais para um Rastejador como você.

 

— É melhor do que ser conhecido como sem rosto.

 

— Você vai preferir ser conhecido assim, se não der o que queremos — aproximei a lâmina na mesma bochecha que havia tocado. — Eu mal podia suportar toda a sua exibição e falatório, ignorava quase tudo. Uma das coisas que eu não ignorei, Alec, foi sua aversão a ter um rosto como o meu.

 

Pressionei a ponta da adaga no alto da sua testa, do lado direito da cabeça. Seus olhos vacilavam em tentar manter a bravata, ao mesmo tempo em que fazia o maior esforço possível para não se mover. Percorri meio centímetro com a lâmina abrindo sua pele, era superficial, mas deixaria uma pequena cicatriz. O sangue começou a escorrer lentamente pelo seu rosto, pingando em suas roupas ao alcançar o queixo, levantei o espelho outra vez em sua direção.

 

— Eu ainda poderia conquistar as damas atraídas por um homem perigoso — disse, mas mal podia manter a firmeza na voz.

 

— Não se preocupe com isso, nós temos tempo e eu tenho muita paciência — olhei para trás e os homens ao meu redor tentavam manter uma máscara de indiferença, mesmo diante aos meus atos. — Poderiam me passar o sal, por favor?

 

Jasper assentiu e trouxe uma bolsa de couro com sal, deixei a adaga no chão e desamarrei os cordões que mantinham a bolsa fechada. Peguei uma pequena quantidade de sal e espalhei sob a ferida. Pequenos sons engasgados saíram da garganta de Alec, uma tentativa de esconder suas reações de dor.

 

— Precisa entender uma coisa, Alec — deixei a bolsa ao meu lado e saquei a lâmina outra vez. Puxei seu cabelo para trás, para fazer com que me olhasse nos olhos. — Eu vou pintar seu rosto com cicatrizes até que cada centímetro da sua pele seja irreconhecível. Você pode escolher morrer desfigurado ou prezar a única coisa que valoriza.

 

Ele cuspiu na minha máscara, sua saliva podre escorrendo no que deveria ser a minha bochecha. Afundei a lâmina um pouco mais dessa vez, fazendo o sangue escorrer com mais profusão enquanto seguia a primeira linha lentamente. Metade do seu rosto apresentava um carmim intenso quando eu retirei a adaga e sua respiração estava ofegante. Precisava que ele pudesse ver o meu trabalho, então me levantei, busca na manta a cuia que havia pedido. A enchi com a água do rio e joguei sobre o seu rosto, em seguida, apliquei mais sal ao longo de toda a linha de cicatriz. Levantei o espelho outra vez e ele parecia apavorado ao ver a nova seção ferida.

 

— Sabe que eu posso continuar até que seu rosto não tenha nem a sombra de pele lisa — ele estava começando a ficar mais fragilizado agora, talvez oferecer a chance de acabar com isso o agradasse. Jasper havia me passado uma lista de informações que seriam úteis, decidi começar com a mais simples. — Quem vocês estavam esperando na clareira, Alec? Vamos, eu posso ter um pouco de unguento aqui.

 

— A puta da sua mãe — ele riu sem nenhuma graça. — Ela queria me dar um tratamento especial com a boca.

 

Dessa vez eu o fiz rápido, dois cortes em diferentes direções em cada bochecha, levemente profundos. Depois de limpar o sangue outra vez, abri a ferida com uma mão, enquanto a outra esfregava o sal. Ele havia começado a gemer mais alto de dor e, quando o espelho refletiu seu rosto, o choque parecia ser mais intenso. Segurei a adaga perto da sua boca, antes de voltar a falar.

 

— Podemos ir bem melhor do que isso, Alec, muito melhor — deixei que o metal beijasse seus lábios, sem causar nenhum dano, mas o deixara sem se mexer. — Demetri teria afogado um por um se não tivesse outras ordens, então, quem vocês esperavam?

 

Ele parecia prestes a dizer outra ofensa, mas pressionei outra vez a lâmina na sua boca.

 

— Faça melhor do que a última tentativa — ele engoliu o que quer que fosse dizer e pareceu considerar um segundo.

 

— Demetri estaria muito orgulhoso de você agora, Iron. Todos pensávamos que era um fracote — estava prestes a continuar a cortar seu rosto, quando ele voltou a falar. — Eu posso morrer como um homem ruim, mas não com um rosto como seu.

 

— Não seja por menos, estou todo a ouvidos.

 

— Nossos éramos um grupo de caça, como você bem sabe — ele me olhou com escárnio. — Mas havia um grupo um pouco maior, de dez a vinte soldados que estavam a caminho. 

 

— E qual era o plano? — queria me aproveitar que ele finalmente estava cantando como um passarinho, deixaria que Jasper e Emmett se preocupassem com as implicações de mais inimigos por agora.

 

— Eles deveriam ter chegado pela manhã e levado a família real para a Itália.

 

Emmett apareceu ao meu lado com o unguento, passei pelos cortes de Alec e ele pareceu aliviado. Um sequestro não era novidade, negociar a rendição em troca da família real era a saída mais covarde e, ao mesmo tempo, a mais benéfica para os italianos. Ainda assim, era uma ação desesperada e arriscada demais, os Volturi eram conhecidos pela sua paciência e estratégia.

 

— Você nos ajuda e terá um resto de vida mais agradável, não é bom? Agora me diga, qual a razão de os Volturi se arriscarem tanto ao enviar soldados ao interior do reino inimigo?

 

— Eles estão enfraquecidos, França e Itália estão em desvantagem — ele virou o rosto em direção ao espelho no chão e fez uma careta. — Perderam muitas batalhas e haviam rumores que Castela estava se unindo a favor dos ingleses.

 

— Rumores nem sempre são verdadeiros — acrescentei para que ele soubesse que queríamos informações sem distorções. — Por quem você soube disso?

 

— Quando a missão de sequestrar o príncipe falhou, nós nos separamos dos sobreviventes e nos infiltramos pelo reino para buscar o príncipe — apontou ele. — Depois que perdemos o rastro, voltamos para o litoral e nos hospedamos em estalagens que recebiam os mensageiros. Em uma noite embebedamos alguns deles, que nos deram a informação que oficiais de alta patente foram enviados a Castela para negociar o casamento da princesa Rosalie. Em troca, Castela sufocaria a França por terra com algumas tropas.

 

Não podia conferir, mas tinha certeza que Emmett estava chocado por perder a ilusão de amar a princesa. Infelizmente, o destino se cumpria, mesmo quando o desejo de seguir outra direção era intenso. A pesar de sentir sua dor, agora eu precisava continuar focada em Alec.

 

— Você está indo bem, Alec — o incentivei a continuar, por fim embainhando a adaga. — Agora me conte, se estavam no litoral coletando informações, como encontraram esse lugar?

 

— Demetri tinha essa carta escondida na manga, ou deveria dizer, ele tinha uma amante escondida debaixo dos lençóis — riu do seu trocadilho sem graça. — Ele não falou nada até que as ordens dos Volturi chegassem, eles queriam que esperássemos a guarda que enviaram infiltrados em um navio mercante português. Mas Demetri deixou um espião como mensageiro e partiu em rumo as pistas que sua amante havia deixado.

 

— Não havia como ela ter deixado pistas, o rei foi muito cauteloso ao trazer todos aqui — respondi exasperada. — Não minta para mim.

 

Saquei a adaga outra vez e pressionei contra seu queixo. Ele recuou um pouco e me olhou chocado.

 

— Não sei como ela fez isso, mas Demetri encontrava as pequenas pistas que ela deixou para trás até que chegássemos nas proximidades da cachoeira — afastei a adaga do seu rosto, para que falasse livremente. — Percorremos a região por algum tempo, voltando ao local da última pista e seguindo diferentes direções, até que Demetri considerou explorar a cachoeira. Descobrimos a entrada alguns dias antes de invadir, ele enviou um pombo para chamar a guarda e esperou até ter a resposta que estavam a caminho.

 

— Você acha que a guarda ainda está vindo? — a voz calma de Jasper me surpreendeu.

 

— Eu deveria esperar que sim — disse em um fio de voz. — Mas aposto que não. Ou eles desistiram ou foram capturados, mas não estão mais a caminho. Deveriam ter chegado pouco depois que invadimos esse esconderijo e levado a família real.

 

Plantar qualquer esperança era perigoso, mas pude ouvir um conjunto de suspiros aliviados atrás de mim. Os guardas ainda se recuperavam da última batalha, por isso não teriam forças para enfrentar outra, mesmo que o inimigo lutasse mais limpo que o anterior. Mais tranquila, ponderei se havia alguma outra coisa que Alec pudesse informar, mas não tinha mais perguntas. Olhei para Jasper, mas ele indicou com a cabeça que também não queria mais nenhuma informação.

 

— Creio que chegamos ao fim desse interrogatório, Alec — comecei a recolher os objetos, os depositando outra vez na manta, inclusive a adaga. — Você foi útil e por isso espero que considerem uma morte rápida para você, embora você mereça uma lenta e excruciante.  

 

— A rainha já o sentenciou a ser decapitado — acrescentou Jasper. — Mas permitiu que, se colaborasse, seus sentidos fossem anestesiados.

 

Depois que Jasper falou, dei as costas para todos e segui para a saída daquela câmara, precisava desesperadamente de ar fresco. A máscara nunca me havia sufocado tanto em todo o tempo em que a usei, sempre fora mais meu abrigo que um esconderijo. Entretanto, depois de experimentar a leveza da verdade, o metal parecia ter triplicado de peso.

 

— O condenado ainda pode pedir um último desejo? — perguntou antes que eu saísse, parei, ainda de costas, para ouvir suas palavras. Aparentemente os outros concordaram que sim, pois Alec continuou. — Eu quero ver seu rosto, Iron Mask, quero ver algo mais horrendo do que eu antes de morrer.

 

Se ninguém ali já não soubesse, eu teria negado de imediato e fugido dali, mas todos já sabiam. E eu tinha aprendido que mesmo o mais vil dos seres humanos merecia ser ouvido por uma última vez, quer seja por redenção ou para danar mais sua alma. Por isso, sem excitar, joguei o capuz da cota de malha para trás e comecei a desamarrar os cordões que prendiam a máscara. Tirei a fita que segurava meu cabelo e o deixei cair pelas costas. Quando finalmente me virei a expressão de vitória de Alec caiu para uma de choque, me aproximei mais dele para que visse melhor o meu rosto.

 

— Você é uma mulher? — vociferou a pergunta. Começou a se debater enraivecido enquanto olhava meu rosto — Nenhuma mancha de sol ou cicatriz! Uma pele perfeita! Você me condenou a morrer desfigurado enquanto ostenta uma face de seda! Eu te odeio! Minha alma irá te atormentar pela eternidade!

 

Sorri para ele e saí da câmara, escutei suas ameaças e pragas até mesmo da área dos depósitos, mas ele não me importava mais. Eu havia dado a ele um décimo da crueldade que ele entregara ao mundo, era menos do que merecia. Igualmente havia me libertado do peso de também ser um monstro, correndo até o Jardim, deixei que a lua banhasse o meu rosto e lavasse a minha alma. Inalei o ar frio da noite e sorri, todos os meus sentimentos poderiam ser confusos, menos a crescente esperança de ser alguém melhor que me assomava.

 


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Notas finais do capítulo

Eu demorei, mas voltei. Neste ponto estamos encaminhados para o fim dessa história que eu venho construindo por longos anos. E espero não decepcionar ou, ao menos, agradar um pouco quem me acompanha desde o início. Obrigada apenas por ler até aqui!


Abraços,

Luisy.



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