É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 45
Capítulo Bônus - Por: Griffin Carmichael


Notas iniciais do capítulo

Vamos testar a lealdade de vocês a "É Segredo" agora. haha
Mil desculpas pela demora, eu mereço um puxão de orelha, mas quando a autora esperta aqui sugeriu converter cinco capítulos para o POV Griffin não considerou que seriam todos juntos, o que resultaria em um capítulo monstro. (ficou gigante, desculpem)
Em minha defesa eu não sabia que o Griffin falava tanto.
Bom, eu não queria que esses capítulos fossem simplesmente reprises dos capítulos de Bellie, então tentei mudar um pouco o estilo de escrita. O Griffin é menos escandaloso e menos desajeitado que a Bellie, então tentei deixar a escrita mais sofisticada, e acho que consegui. Estou muito satisfeita.
Nesse capítulo vocês vão conhecer um pouco mais sobre Griffin Carmichael e sua relação com a irmã, Bellie, o novo colégio e outras surpresinhas. 'kkk
Com vocês, um dos meninos mais perfeitos do mundo rsrs
Boa leitura!



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"É preciso andar muito para se alcançar o que está perto."

- José Saramago

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Capítulo 9 - Três, dois, um, valendo/ Capítulo 10 - Competição



– Aqui está. Obrigada e bem vindo. - Disse a mulher da secretaria, me lançando o décimo terceiro sorriso da manhã.

– Obrigado. - Falei, enquanto pegava a folha que ela me estendia.

Saí do cubículo que era a secretaria e respirei fundo. Era difícil acreditar que estava deixando o West High. Passei os olhos rapidamente pelo "Manual do Aluno", e pela folha de transferência com as boas-vindas.

Meus pais não entenderam o por quê de eu querer trocar de colégio assim, no meio do ano, mas eu realmente não esperava que entendessem. Não queria que entendessem.

Ouvi apitos não muito longe de mim e lembrei que tinha um bom motivo para estar ali, afinal. Segui o barulho e me deparei com um ginásio grande e bem cuidado. Um pouco menor do que o do West High, talvez.

Eu respirei fundo de novo e empurrei a porta, me deparando com um jogo de vôlei não inicado. As jogadoras ainda estavam se aquecendo, as do West High se exibindo desnecessariamente, mas isso não era novidade. Eu me sentei no canto da arquibancada e senti alguns olhares em mim. Coloquei fones de ouvido tocando qualquer música e tentei ignorá-los.

Parecia que Blake já tinha me visto, e me mandara seu olhar de desprezo habitual. Eu sorri.

Menininhas de quinta ou sexta série passavam repetidamente ao meu lado, dando algumas risadinhas quando eu despropositalmente levantava meus olhos na direção delas. Eu suspirei.

Não foram só as crianças que me viram - as jogadoras do Westward também repararam em mim. Passei os olhos pela quadra de meu novo colégio, e posso dizer que não, mas eu sabia perfeitamente o que estava procurando ali.

Eu encontrei a amiga antes de encontrá-la. Loira, olhos azuis, excesso de beleza evidente, eu não sabia o nome dela. Mas não era no nome da amiga que eu estava interessado. Meu coração disparou quando a vi. Perto da amiga que descrevi, alta, as pernas longas e bronzeadas, os cabelos castanhos-claro com ondas na ponta, os olhos verdes e o piercing discreto na orelha direita, que eu reconheceria em qualquer lugar. Era ela. Era Bellie.

A amiga dela já tinha me visto, e parecia bastante abalada com isso. A loira isolou a bola sem querer e Bellie virou-se para pegá-la, a camisa número "12" sobre a qual ela já tinha me contado roçando delicadamente na pele exposta da barriga dela. Eu mordi meu lábio.

Assim que conseguiu o controle da bola de novo, Bellie levantou os olhos verdes de gata para mim, e eles se arregalaram um pouco. Senti os meus se arregalando também. Eu não tinha certeza se ela sabia meu nome e se lembrava de algo sobre mim, ou arregalou os olhos apenas pelo mesmo motivo que todas as outras meninas aqui, as quais eu estava fazendo força para fingir que não estava percebendo.

Bellie me deu as costas lentamente, as ondas na ponta dos cabelos compridos balançando pelas costas dela enquanto voltava para a quadra. Apesar de não ter muita certeza se ela sabia quem eu era, já tinha valido a pena ficar para o jogo. Eu só queria vê-la de novo.

Ela comentou alguma coisa com a amiga, que parecia estar se desculpando. Um homem alto de olhos azuis chegou ao lado de Bellie e colocou uma das mãos com afeto no ombro dela. Minhas mãos se fecharam em punhos. Ele colocou os lábios perto do ouvido dela e sussurrou-lhe alguma coisa. Tentei não sentir ciúme e olhei para o outro lado.

Ridículo. Ciúme de uma garota que tinha acabado de acontecer.

O homem entregou a Bellie alguma coisa que ela enrolou no braço direito. A braçadeira de capitã, parecia. Aquele devia ser o treinador, então. Paul. Patrick. Peter. Tanto fazia. Ela havia me contado dele. Coisas bem ruins sobre ele, que me faziam perceber que eu não devia sentir ciúmes.

Eu ri quando uma voz mais ou menos masculina anunciou o começo do jogo. Aquele devia ser o tal Steve com quem ela me disse já ter ficado. Ele anunciou os nomes das jogadoras, que entravam em quadra quando eram apresentadas.

– E a nossa capitã, jogando como ponteira esquerda, Isabelle Harper!

Bellie entrou na quadra graciosamente e cumprimentou todas as outras meninas. Depois da apresentação, os técnicos chamaram os times do lado de fora da quadra para últimas conversas de combinações de jogadas.

Eu já havia visto Bellie jogar, e ela chamara minha atenção. A cisma de Blake com ela só havia aumentado ainda mais minhas expectativas em relação a ela.

Minha irmã e Bellie se juntaram com o juiz principal para o cara-ou-coroa. Blake ganhara.

Andando para a direção da linha de fundo, para o primeiro saque, Blake lançou a mim um olhar de nojo. Já posicionada, visualizou Bellie com os olhos tranbordando veneno. De repente, a atmosfera ficou pesada demais. Me levantei e saí do ginásio.


○ ○ ○



Eu voltei não muito depois. Ainda estavam no primeiro set, mas eu calculava que Steve Puttyn já devia ter soltado três centenas de besteiras e duas de palavrões.

Eu ficava impressionado com a habilidade de Bellie. Ok, as outras também eram boas, inclusive a loira, que sempre achei que nunca poderia jogar tão bem, com medo de quebrar uma unha, mas Bellie tinha algo a mais. Em todos os sentidos.


○ ○ ○


Depois de um pedido do tempo do técnico do Westward, Bellie foi para o saque. Ela jogou a bola para cima e pulou para sacar, mas a bola foi para fora com um eco. Algumas pessoas atrás de mim comentaram impressionadas a potência do saque da capitã do Westward. Apesar do ponto jogado fora, me senti orgulhoso dela.

A diferença era grande. Cada ponto valia muito àquela altura.

O saque do West High foi em Bellie. Ela mandou perfeitamente para a levantadora, que se precipitou no levantamento, colocando-o muito na rede. Três bloqueadoras rivais, uma delas Blake, pularam para bloquear, mas Bellie parecia tão determinada a fazer a bola passar que enfrentou as mãos adversárias, mas observei que uma delas forçou o pulso de Bellie.

O ponto foi de Westward. Todos comemoraram, mas eu não consegui ver a alegria. Bellie segurou o pulso e mordeu os lábios para não gritar.

Sem pensar, eu me levantei. Eu queria falar com ela, chegar até ela, ajudá-la.

O treinador chegou perto dela e falou alguma coisa. Ela respondeu com a boca meio fechada, em desacordo com ele.

Por fim, ela saiu de quadra de qualquer jeito, e se sentou no banco. Uma substituta foi chamada.

Olhando-a de onde eu estava, a vontade de ir até lá aumentou. Tive que colocar as duas mãos no banco para me impedir de ir até lá.

Mas uma coisa eu sabia, aquela garota ia ser minha.



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Capítulo 19 - Experiências

Eu não sabia como me sentia em relação a isso. Haviam me convidado para ser técnico do time de vôlei no lugar de Peter, mas essa história tinha dois lados a serem considerados. Na verdade é o mesmo lado, com pontos de vista diferentes. A parte boa é que eu veria Bellie. A parte ruim é que eu veria Bellie. Apesar de continuar feliz só pela visão de seus olhos e as ondas dos cabelos emoldurando seu rosto, essa visão me mostrava exatamente o que eu queria ter e não podia.

Mas eu aceitei, de qualquer jeito.

– Boa tarde. - Cumprimentei-as, em nossa primeira aula.

As meninas me responderam, provavelmente achando que eu não conseguia ver o quanto estavam excitadas por dentro por me terem como treinador.

O time ficou de pé e começou uma série de excercícios. Havia mais meninas ali do que eu poderia imaginar.

– O que estão fazendo? - Perguntei.

– Alongando. - Helaina me respondeu.

– Tudo errado. - Falei, em voz baixa.

Vi o queixo de Bellie caindo a alguns metros de mim. Ela era a mais distante, e pareceu ultrajada de me ver questionando o método de treino delas.

As outras meninas, por outro lado, pareciam interessadas no que eu tinha para dizer. A visão de Bellie de onde eu estava era tão engraçada que resolvi brincar um pouquinho também.

Mandei as garotas darem as mãos, fazendo uma roda. Dei mais algumas instruções, mandando-as andar e pular seguindo o círculo. Bellie pareceu ainda mais irritada quando ordenei que cantassem. Alguém começou qualquer música e as outras acompanharam, com exceção da capitã, brava demais para abrir a boca.

Depois da brincadeira, decidi treinar sério. Separei as meninas em duplas e em seguida iniciei o coletivo.

A verdade era que eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Tentei me lembrar dos treinos que recebíamos no West High, mas eu nunca prestei muita atenção neles. Na maioria das vezes eu não precisava de treino.

Coloquei para jogar as titulares junto com as reservas. Bellie passou os olhos pelas reservas como se estivesse achando aquilo um grande absurdo. Pelo jeito, isso era algo que Peter nunca faria.

Eu não queria que ela jogasse, ainda estava preocupado com o pulso dela. Mas pelo que eu tinha observado do treino de duplas, a habilidade de Bellie continuava a mesma.

Separei Bellie e Megan, colocando cada uma em um time. Me encostei na trava da rede e observei algumas meninas comentando minha barriga. Lembrei que o jogo não tinha começado ainda e soprei o apito.

A partida correu até Bellie e uma ponteira do outro time se enfrentarem no bloqueio. Meu coração disparou com a possibilidade de prejudicar o pulso de Bellie e quase invalidei o lance. No entanto, não foi Bellie quem se machucou, e sim a outra garota. Ela tropeçou e caiu em cima do próprio braço.

Uma rodinha se formou em volta da garota. Eu me ajoelhei do lado dela e peguei seu braço machucado. Ela prendeu a respiração quando a toquei.

– Não foi nada demais. - Eu disse - Alguém leve-a para a enfermaria, mesmo assim.

Duas outras meninas a levaram. Eu olhei para as garotas que não estavam jogando para decidir qual eu poria no lugar.

– Jogue com a gente, Griffin. - Pediu Trishia, a levantadora do time de Bellie.

– Não, tenho que deixar outras novatas jogarem - Respondi.

– Não precisa. - Todas elas disseram ao mesmo tempo.

– Vamos, Griffin, jogue. - Falou Helaina. - Você é nosso treinador ou não é?

Olhei para Bellie como se esperasse dela a resposta. Ela estava de braços cruzados, fazendo de tudo para não olhar para mim.

– Tudo bem. - Eu disse, tirando a camisa.

Um segundo de silêncio se fez. Ouvi algumas meninas ofegando perto de mim e sorri comigo mesmo.

Encarei Bellie um pouco antes de jogar minha camisa na arquibancada e vi que ela também estava me olhando. Sorri mais ainda.

Eu entrei no jogo e tentei mandar a maioria de minhas bolas na direção de Bellie. Ela pareceu irritada com isso por um tempo, mas depois ficou determinada a pegar todas. Apesar de eu sempre ter sido um dos principais jogadores do vôlei no West High, sentia que Bellie jogava tão bem quanto eu.



○ ○ ○


Era meu segundo treino com as meninas. Eu e Bellie tínhamos nos desentendido um pouco antes quando a informei que a colocaria no banco de reservas, durante a detenção daquela professora de filosofia, Sabrinna qualquer coisa, por causa do acidente de Peter.

Eu não sabia como Bellie havia interpretado isso, mas eu não queria que jogasse, seu pulso, apesar de tudo, ainda parecia um pouco fraco quando ela tentava fazer força, e eu não queria que piorasse.

Enquanto andava para o ginásio, eu ria pensando na aula de detenção, quando a professora mandou que Bellie fizesse um excercício de confiança comigo. Ela pareceu ter odiado cada segundo, mas eu não poderia ter ficado mais feliz de ter ficado perto dela, pegando-a quando ela se jogava para trás e sentindo seu perfume cada vez que ela se inclinava.

Entrei no ginásio e vi que todas já estavam lá. Tentei não olhar na direção de Bellie, pois eu sabia que, se eu olhasse, começaria a rir. Mandei-as cantar novamente e, quando terminaram, elas se sentaram na arquibancada, ofegando um pouco.

– Griffin... - Uma voz miou o meu nome. Lilly. Ou Lola, eu não me lembrava. - Estou com cólica, posso ir à enfermaria?

Minha mente voltou sem que eu percebesse até à noite em que conheci Bellie. Ela já havia me contado algo sobre isso, não havia? Eu sorri quando lembrei, lançando um olhar breve à Bellie.


" - Eu amo vôlei, sabe. Mas às vezes simplesmente não estou a fim de fazer.

– E o que você faz? - Ele perguntou.

– Nós, do vôlei, temos um esquema.

– E qual é? - Ele questionou, tirando uma mecha de cabelo dos meus olhos.

– Uma de nós diz que está com cólica. Peter nunca reclama, os meninos não questionam muito essas coisas de mulher. Enfim, uma vai embora ajudada por outras duas, e ficam assistindo o futebol dos garotos. Uns quarenta minutos depois elas voltam e outras saem, já que esse problema pode acontecer no mesmo período...

– E o treinador não fala nada?

– Nada. É por isso que sempre dá certo."

Tentei não gargalhar, mordendo o lábio de leve.

– Está com o quê mesmo? - Perguntei, levantando as sobrancelhas.

– Cólica. - Ela me respondeu, piscando com força, a expressão de dor esvaindo da face.

– Aham. E acha que engana quem? - Falei.

O rosto dela perdeu a cor.

– Mas... - Gaguejou.

– Tudo bem. - Balancei a cabeça. - Se está com cólica, pode ir. Mas não acho que precise de outras duas, não é? Se bem que deve ser mais legal ver os meninos sem camisa com as amigas...

Senti as outras meninas se contraindo também. Eu sabia que resultaria nisso, provavelmente. Me virei e me deparei com Megan, os lábios lançando a pergunta silenciosamente.

Quem foi a vadia que contou?
Meus olhos voaram pelo time todo e, sem que eu mandasse, pousaram em Bellie.


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Capítulo 26 - Novo, não único/ Capítulo 27 - Não faça isso

Pela primeira vez na vida, eu me sentia inseguro em relação a uma garota. Eu não estava no clima de festa, mas ouvi que Bellie iria e festas normalmente atrapalham quem está apaixonado. Eu sentia como se ela pudesse encontrar alguém de quem realmente gostasse nessa inauguração. Sei lá, meninas sempre acham que vão encontrar suas almas gêmeas nas festas.

Os convites já tinham esgotado. Claro, era uma festa bastante divulgada, e eu decidi ir em cima da hora, mas o cara com quem falei no telefone conseguiu seis convites de repente para mim quando eu lhe disse meu sobrenome.

Meus amigos do West High estavam curiosos sobre tudo que envolvia Bellie. Foi difícil para eles me ver gostar de verdade de alguém, do mesmo jeito que foi para Blake. Nunca fui muito o que se pode chamar de "garoto bonzinho". Ou até mesmo "fiel". Mas desta vez era diferente. Porque as outras vezes não foram com Bellie.

O gelo no copo de cerveja belga na minha mão já estava quase completamente derretido quando eu finalmente a vi. Linda, como sempre. Estava com Tensy, e uma outra loirinha que deu a festa em que nos conhecemos. Eu não ia muito com a cara da última.

Ela entrou na boate e pareceu impressionada. Seus olhos vagaram pelo chão brilhante, se demoraram um pouco na estátua de gelo em formato de cisne completamente extravagante e desnecessária no meio do salão e finalmente, me acharam.

Eu não consegui desviar meus olhos. Austin disse alguma coisa para mim mas não me dei ao trabalho de ouví-lo. Ela piscou os olhos bem maquiados e, por fim desgrudou-os dos meus.

É. Parecia que a noite ia ser boa.



○ ○ ○



Eu estava em dúvida se ele estava dançando ou tendo um derrame cerebral. Uma tentativa de imitar o ato do acasalamento de galinhas caipiras talvez fosse uma boa alternativa também.

Por mais que eu odiasse isso, eu precisava dele. Bellie e as amigas tinham ido para a pista de dança, ela parecendo ter sido um pouco arrastada para isso, mas considerando o jeito como ela estava linda, eu não tinha muito tempo.

– Eu já volto. - Disse aos meus amigos.

Cheguei perto dele com receio. Minhas sobrancelhas se juntaram quando me aproximei, mas eu não tinha escolha.

– Steve. - Chamei-o.

Ele não pareceu me ouvir. As pessoas em volta olhavam assustadas para ele, e eu tentei deixar bem claro que não o conhecia. Não sei se convenci.

– Steve. - Chamei de novo, um pouco mais alto dessa vez.

Ele não me ouviu de novo. Eu bufei com raiva.

– STEVE. - Falei, apertando o ombro dele.

Steve se contorceu meio estranhamente e pareceu querer reclamar, mas pareceu se controlar quando viu que o dono dos chamados insistentes era eu.

– Ah. Griffin.

– Posso falar com você? - Perguntei.

– Claro. - Respondeu, chegando mais perto de mim. Eu dei um passo para trás.

– Olhe, eu não devia estar te contando isso, mas - Comecei, mas me interrompi. - Por favor, não dance.

Ele parou de imitar um polvo gigante e olhou para mim com curiosidade.

– Me contar o quê?

Por mais que eu não quisesse, e acreditem, eu realmente não queria, puxei-o para perto.

– Bellie ainda é a fim de você. - Cuspi as palavras, por causa da repulsa que me causavam.

– Que Flefie? - Ele perguntou, franzindo a testa e colocando o ouvido perto da minha boca por causa da música alta.

– Bellie. Bellie Harper.

O rosto dele se iluminou, fazendo minha raiva aumentar.

– Sério?

– Sério. - Disse, os dentes cerrados.

– Eu sabia que ela não tinha esquecido. - Ouvi ele dizendo para si mesmo. - Mas então, o que você acha que eu devo fazer?

Eu teria que soletrar?

– Falar com ela, óbvio. Mas tome cuidado. Ela vai se fazer de difícil. Pode até te dizer que não quer nada com você.

O sorriso dele desapareceu.

– Por quê?

– Porque meninas são estranhas. Agora vai. - Falei, já sem paciência, empurrando-o.

– Ok.

Enquanto ele andava na direção de Bellie, o ouvi sussurrando "seja você mesmo, seja você mesmo, seja você mesmo". Se ele fosse ele mesmo, aí nada daria certo. A menos que Bellie gostasse de garotos que dançam como galinhas e usam o zíper aberto e eu não sabia.

Steve chegou ao lado de Bellie e colocou uma das mãos na cintura dela, colou os lábios em seu ouvido e disse alguma coisa.

Não pude evitar de sorrir quando percebi o corpo de Bellie enrijecer totalmente. Ela apertou os olhos ligeiramente e se virou lentamente para ele.

Bellie disse alguma coisa para Steve, tentando se afastar o máximo dele. Ele a respondeu fazendo uma cara estranha (provavelmente uma tentativa de seduzí-la), que a fez gargalhar. Mesmo de longe e sem saber realmente o motivo da graça, eu ri com ela.

Com isso, Bellie o mandou embora e ele veio diretamente a mim.

– Como foi? - Perguntei, embora soubesse a resposta.

– Muito bem. - Disse ele, dando um sorriso e passando por mim.

A menina loira que deu a festa no beco chegou perto de Bellie e comentou alguma coisa com ela. Em seguida, vi a loira apontando com a cabeça para mim, e depois para um grupo de meninos à direita delas. Cerrei minhas mãos e estreitei meus olhos com raiva. Eu não precisava ser uma garota para entender o que ela quis dizer.

A loira deixou a companhia de Bellie e Tensy e se dirigiu ao grupo de garotos. Disse algo para eles, que se viraram para Bellie e sorriram. Apertei minhas mãos com mais força.

Bellie pareceu sem reação por um momento, mas Tensy agarrou um de seus braços obrigando-a a acenar para eles. Os garotos retribuíram o gesto. Em seguida, Bellie virou-se para mim e dali onde eu estava pude ver seu rosto corar. Eu não sabia o que aquilo significava. Desviei o olhar do dela e fingi estar muito interessado em uma rodinha de garotas perto de mim. Elas deram risadinhas quando perceberam que meus olhos estavam nelas, mas meu interesse em olhá-las só durou até Bellie parar de olhar para mim. Nenhuma delas chegava aos pés de Bellie.

A loira voltou para o lado das duas com sua animação escandalosa que eu já tinha notado ser habitual. Fez uma pergunta a Bellie e, depois de alguma enrolação,voltou para o grupo de garotos, dessa vez para falar com um em particular. Segundos depois, ela deu as costas novamente para os meninos e fez uma dancinha alegre para Bellie. Aquilo estava me irritando. Olhei ao redor procurando Steve, mas ele devia ter sido expulso da festa por aterrorizar demais as pessoas com sua dança da galinha. Eu acharia hilário se eu não precisasse dele.

Eu não o encontrei. Em vez disso, dei de cara com uma das meninas da rodinha para a qual eu fingi estar olhando. Ela vinha na minha direção, as mãos unidas na frente do corpo, cabelos escuros longos e cacheados, olhos cor-de-mel.

– Oi. - Ela me disse.

– Oi. - Respondi, tentando não dar muita continuidade à conversa.

– Dakota. - Ela falou.

– Griffin. - Disse, a voz saindo meio rápida demais.

Ela com certeza esperava mais de mim. Assentiu brevemente, olhou para as amigas em busca de socorro, respirou fundo e disse:

– Você não quer ir conversar um pouco?

Passei as mãos nos cabelos tentando ganhar tempo para formar uma resposta adequada. Não, eu não queria conversar. Talvez quisesse, se Bellie não existisse. Acho que prefiria ficar observando Bellie de longe do que falar com uma menina bonita sobre uma besteira qualquer.

Eu virei para a garota e abri um sorriso de compaixão para ela. Eu a vi ofegar.

– Desculpe, mas estou acompanhado. - Falei a primeira coisa que me veio à mente.

Seu rosto se apagou.

– Ah. Bem, que pena. Eu é que peço desculpas. Tchau.

– Tchau. - Respondi.

Ela pareceu bem grata em deixar a minha presença. Voltei a concentrar meu olhar em Bellie.

– Quer um binóculo? - Senti um braço pesado em um dos meus ombros. Austin.

De todos os meus amigos, Austin foi sempre de quem eu mais gostei. Embora os outros fossem gente boa, estavam mais preocupados em mulheres, festas e bebidas, achando que seriam sempre sustentados pelo dinheiro dos pais. Às vezes eu pensava que esse era um dos lados bons de ter deixado West High.

Eu ri e Austin se virou na direção de Bellie.

– Então aquela é a garota que deixou meu amigo apaixonadinho. - Comentou.

Eu não respondi, porque Austin não precisava de resposta. Nós nos conhecemos bem.

– Ela é linda. - Austin disse.

Eu olhei para ele. O garoto ergueu as mãos.

– Mas é sua, calma.

Eu relaxei o rosto e virei-me para Bellie. Um dos meninos estava se encaminhando para ela.

– Parece que não é, não. - Constatei.

Eles se cumprimentaram e, em seguida, deram as mãos. O garoto a encaminhou para uma sala privada perto deles à direita.

Tensy, de brincadeira, deu um tapinha no bumbum de Bellie e, quando ela virou-se sorrindo para implicar, seu olhar cruzou com o meu.

Eu percebi que ela hesitou por um momento, seus olhos mostrando a dúvida, mas isso não impediu que o menino entrasse naquela sala com ela.


○ ○ ○




Eu juro que o copo de cristal ia partir na minha mão a qualquer momento, tamanha a força com que o apertei. Austin precisou tirá-lo de perto de mim para que eu não o quebrasse.

– Ei. Calma. Eles só vão se conhecer. - Ele disse, mas evitou ficar muito próximo de mim caso eu explodisse. Fez bem, porque a frase me deixou com mais raiva ainda.

Eu comecei a andar de um lado para o outro, apesar da boate estar lotada.

– Onde está o filho da puta do Steve Puttyn que não está lá naquela sala impedindo que Bellie "conheça" aquele garoto?

As pessoas ao redor olharam para mim com uma cara estranha.

– Griffin. Se acalma. - Disse Austin, mais sério, a mão em um dos meus ombros.

Eu respirei fundo, parei de andar e finquei meus pés no chão. Eu ia ficar parado ali olhando para aquela sala até Bellie resolver aparecer.

Encostei as costas na parede, os olhos em fendas, as duas mãos nos bolsos para evitar que eu arremessasse algo caso o pior acontecesse.

– Você vai ficar bem, cara? - Perguntou Austin.

Dei a ele um mínimo aceno de cabeça, e ele percebeu que eu preferia ficar sozinho. Austin sumiu na multidão à minha frente - eu tinha reparado que ele estava olhando Tensy há algum tempo.

Eu já havia bebido mais três copos de cerveja belga quando Steve Puttyn apareceu na minha frente. Bellie ainda não havia dado nenhum sinal de que sairia da sala.

– E aí? - Ele falou para mim, o hálito exalando vinho, o rosto coberto de suor.

Eu levantei as sobrancelhas, mas Steve não pareceu perceber.

– Você viu Bellie? Acho que estou pronto para tentar de novo.

Eu soltei uma risadinha, que ele não interpretou corretamente.

– Ela está com outro garoto. - Falei, e fiquei feliz pela cara que Steve fez em seguida. Tornou a coisa toda mais divertida.

– Ela o quê?

Eu cruzei os braços e não respondi. Nessa hora, de onde eu estava, vi a sombra de Bellie saindo com o garoto da sala. O rosto dela estava meio assustado, e eu me perguntei o que poderia ter acontecido. Mas considerando o modo como seus dedos estavam entrelaçados, o cara não deve ter feito nada para estragar alguma chance com Bellie.

– Ali estão eles. - Apontei.

Steve conferiu o acompanhante de Bellie e pareceu meio nervoso ao olhar de novo para mim.

– O que eu faço? - Perguntou.

O que ele fazia?

– Vira homem, Puttyn. - Falei, sem paciência. - Que tal?

Ele lançou um olhar irritado para mim que me fez perceber que ele começaria uma briga comigo ali mesmo pela gracinha, se eu não fosse maior e mais forte que ele.

Steve saiu da minha frente e eu me juntei aos meus amigos como se estivesse ali o tempo todo. Austin me dirigiu um olhar preocupado, e me flagrei me perguntando se ele havia tentando alguma coisa com Tensy. Não, pelo visto.

Bellie e o garoto foram para a pista de dança e eu cuidei para não perder os dois de vista. Cheguei a dar três passos para frente quando vi que ele estava tentando beijá-la.

– Griffin. - Austin me advertiu.

Eu revirei os olhos e me encostei na parede de novo, esperando que pelo menos Steve fosse esperto o bastante para fazer a parte dele, mas tentando não me decepcionar se ele não conseguisse. Era o Steve Puttyn, afinal de contas.

O garoto saiu de perto de Bellie e eu o observei ir até um garçom. Tensy e a outra loira apareceram dando pulinhos, dez segundos depois. Assim que elas saíram, Steve apareceu. Colocou uma das mãos na cintura de Bellie e tentou obrigá-la a beijá-lo. Eu larguei o copo de qualquer jeito em cima de uma mesa prateada no canto da boate e abri caminho entre algumas pessoas. Machucar Bellie ou forçá-la a fazer alguma coisa não estava no combinado. Eu deixaria Puttyn inconsciente ali mesmo se ele não soltasse Bellie naquele segundo.

Senti alguns pares de mãos nas minhas costas.

– Griffin, cara. - Disse a voz de Bratt.

– Me larguem. - Falei.

– Não. - Respondeu Chad. - Para arrumar confusão agora, Griffin? Espera a festa acabar.

Eu bufei e me rendi. Olhei para Bellie mais uma vez para ver se ela notou a movimentação à direita dela. Ela não pareceu perceber.

O garoto com quem Bellie estava chegou pouco tempo depois e arregalou os olhos quando viu Steve agarrado a ela. Bellie se contorcia nos braços de Puttyn, como se quisesse explicar ao outro o por quê do abraço. Após mais algumas tentativas para fazer Steve soltá-la, o outro garoto deu um soco em Steve, contornando o corpo de Bellie.

Depois que me certifiquei de que o golpe não tinha acertado Bellie, dei às costas para a briga e voltei para o canto da boate com um inevitável sorriso nos lábios.



○ ○ ○




Os acordos de paz que Bellie tentava estabelecer entre os dois eram ignorados pelos dois pares de mãos que ansiavam uma briga. As pessoas em volta também ansiavam alguma coisa para deixar a noite mais interessante, e eu ansiava por qualquer coisa que fizesse realmente ter valido a pena ser visto em público com Steve Puttyn.

E, nunca pensei que fosse falar isso, mas parecia estar valendo.

Bellie desistiu de tentar transformar os dois em figuras civilizadas e saiu do caminho. Assim, a briga começou livremente.

O ápice da briga foi quando o outro garoto empurrou Steve em cima da estátua de gelo em forma de ave no meio do salão. Reparei que todos prenderam a respiração quando o gelo se partiu, assim como quando dois seguranças chegaram para expulsar da festa os infratores. Mais ainda, expulsaram Bellie, Steve e outro cara da boate permanentemente. Vi o queixo de Bellie cair com a sentença, mas seria fácil para mim consertar isso depois. Algumas notas para o cara da recepção e você vira um rei.

As meninas arrastaram Bellie para fora da boate e eu saí logo depois com meus amigos, todos se divertindo com o acontecido. Eu e Austin trocamos um olhar divertido.

Enquanto caminhávamos para fora da boate, vi o rosto de Bellie virar-se para o meu. Estava fechado, triste, mas ainda lindo. Concluí uma coisa que eu já sabia antes mas tinha medo de pensar desde que a conheci: eu estava completamente apaixonado por ela.


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Capítulo 35 - Nada que você fizer/Capítulo 36 - Nada mais que a verdade/Capítulo 37 Vale mais que mil palavras


– Segure na minha mão e coloque o outro braço na minha cintura. Não, mais embaixo. Aí está pegando na costura do vestido. Pega na minha mão com mais vontade, você está morto, por acaso? Quero você sorrindo o tempo todo, tá? E quero que segure a minha bolsa quando eu cansar.

Eu respirei fundo e coloquei o braço de qualquer jeito na cintura de Megan, ignorando quando ela chiava dizendo que minha brutalidade ia acabar soltando os paêtes do vestido e me mandando ser um cavalheiro. Eu bufei.

A última coisa que eu queria era ser obrigado a ir naquele baile tendo Megan como par. E ser obrigado também a assistir Bellie desfilando com Jason.

– Onde estão seus dentes, Griffin? Abra um sorriso para a câmera. Ficar de mau humor não vai fazer de nós o rei e a rainha do baile. - Repreendeu-me Megan.

Rei e rainha do baile? Eu estava ali tentando não fugir na primeira oportunidade que tivesse e ela pensava em ganhar um título de nobreza sem valia alguma.

Eu e Megan caminhamos pela entrada do baile como se fôssemos um casal famoso e feliz. A cada passo que dava, Megan fazia questão de colocar o braço magro no ar e acenar para fãs que só ela via. Eu me recusava a mostrar tamanha felicidade, mas me forcei a abrir um sorriso quando ela me deu uma cotovelada nas costelas e grunhiu "você está estragando tudo."

Meus olhos se desviaram da alegria de Megan, que não fazia nenhum sentido para mim, e encontraram Bellie. Meus olhos tinham a mania irritante de ficar procurando por ela o tempo todo.

E ela era de longe a mais linda de todas. Os cabelos castanhos perfeitamente arrumados, uma maquiagem leve que só aperfeiçoava suas feições, o que eu imaginei ser obra de Tensy, que também estava muito bonita.

Megan soltou um som estranho ao ver Bellie, como se estivesse brava por ela estar tão linda. Em vez de fazer algum comentário maldoso como eu pensei que faria, ela só sussurrou "continue sorrindo", com uma voz que parecia um latido, de tanta raiva, enquanto me arrastava para perto de mais fotógrafos.




○ ○ ○




Eu havia tentado falar com Bellie antes de entrarmos, mas ela não pareceu disposta a me ouvir. Virou-se de costas para mim e andou na direção de Jason, que fechou a cara no instante em que me viu. Eu sorri. Ainda tinha a noite toda para convencê-la a falar comigo, e não seria esse cara que achava que era capaz de alguma coisa porque tirava algumas notas altas que iria me impedir - pensei, enquanto meus olhos acompanhavam a visão de Bellie de costas. Os cachos na ponta de seus cabelos chacoalhando, as formas de sua silhueta emolduradas pelo vestido justo.

A festa começou de verdade depois de um discurso repleto de revelações desnecessárias por parte da diretora, sra. Mckingdom. Estava impossível me livrar de Megan, uma vez que ela queria mostrar a todos que éramos o par perfeito para as duas coroas de plástico. Além de me fazer tirar mil fotos, a garota ainda queria que parecesse que nutríamos uma paixão sem fim um pelo outro, o que era uma tarefa difícil considerando que eu adoraria que ela desaparecesse e ela gostaria que eu fizesse o mesmo.

Megan me arrastou para a pista de dança no primeiro segundo da primeira música.

– Dance como você nunca dançou na sua vida. - Ela disse, entredentes. - E lembre-se: sorria.

Eu revirei os olhos, mas a acompanhei para a pista de dança mesmo assim. Nós demoramos um pouco para achar um lugar que ela gostasse e que pudesse ser vista pelas outras pessoas.

Dei uma olhada pela pista de dança e não encontrei Bellie. Imaginei, então, que ela devia estar sentada em uma das mesas, por causa da clara incapacidade de Jason de dançar. Eu ri com a ideia. Decidi que eu devia ir falar com ela naquele momento, e eu não ligava que ela estivesse com Jason, talvez fosse até melhor, chegar lá e tirá-la dele.

– Já volto, Megan. - Disse.

O sorriso que ela estava forçando se transformou em uma carranca.

– Não. Você não vai a lugar nenhum.

– Vou sim, eu preciso.

Ela olhou para o teto.

– Aonde você vai? Eu vou com você.

– Desculpe, mas vou ao banheiro e não gosto muito de plateia.

Megan deixou escapar um suspiro.

– Ah.

Eu desviei de algumas pessoas no caminho e me encaminhei para a mesa onde já tinha visto Bellie e Tensy. Ao chegar lá, fiquei surpresa de encontrar apenas Jason. Mas eu não ia recuar, agora que já estava ali.

– Onde está Bellie? - Perguntei, tentando fazer uma voz mais calma.

Jason juntou as sobrancelhas antes de me responder.

– Não é da sua conta.

Eu ri.

– O que quer com ela? - Perguntou ele, a voz rude.

– Não é da sua conta. - Devolvi. - Diga a Bellie que estou procurando por ela quando a vir, por favor.

Jason se levantou da cadeira e parou a dois passos de mim.

– O que você quer com ela? - Perguntou de novo.

– Jason, isso é entre mim e ela. Se você não sabe onde ela está, não tenho mais nada para falar com você. - Completei, virando-me para ir embora, mas parei quando senti uma das mãos de Jason no meu ombro direito.

– Bellie está comigo hoje. Nem pense em chegar perto dela.

Eu fiquei de frente para ele e meus olhos se estreitaram.

– Ah, é? E você vai fazer o quê?

Minha frase ficou no ar por cinco segundos. Vi as duas mãos de Jason me empurrarem, um golpe do qual eu poderia ter desviado facilmente, mas eu queria que ele me empurrasse. Ele só estava me dando o motivo que eu precisava para poder brigar com ele sem culpa.

Eu o empurrei de volta e ele, apesar de alto, deu cinco passos para trás. A série de empurrões continuou.

Reparei vagamente que o DJ havia abaixado a música e que pessoas se juntaram em volta de nós, curiosas, excitadas. Minha mente só parou de pensar em algo que não era brigar com Jason quando vi Bellie se aproximando. Sem saber se ela entendia que a briga era por causa dela, a vi colocar a mão em meu braço esquerdo, o que me fez relaxar, e dizer com a voz baixa:

– Não faz isso.

Eu olhei para os lábios dela e tive que reunir toda a força de vontade que tinha para não beijá-la ali mesmo. Para evitar que eu colocasse meus braços na cintura dela e a puxasse para perto de mim, tentei fazer o caminho inverso e ser rude:

– Saia do caminho, Bellie.

– Não fique aqui, Bellie. - Recomendou Jason. Ela nem sequer olhou para ele.

– Griffin, por favor, vamos embora. - Ela pediu, os olhos verdes nos meus, mas eu tentei encarar Jason, que fechou as mãos em punhos.

A frase foi tudo o que eu precisava ouvir. Ter ela ali, aquela hora, a mão no meu braço, pedindo para que eu fosse embora com ela. Me contive o máximo que pude para não sorrir.

– Só vou embora se você me ouvir. - Falei.

Bellie pareceu pensar um pouco, mas não hesitou.

– Eu vou. - Respondeu.

– Então vamos sair daqui.

Encarando Jason, tirei lentamente sua mão quente do meu braço e entrelacei seus dedos nos meus. A sensação foi uma das melhores do mundo.


○ ○ ○



Eu havia contado tudo para ela. Percebi que eu devia ter feito isso há muito tempo, mas errei ao dizer como foi de verdade a primeira vez em que nos falamos, naquela festa no beco.

Eu, realmente, já a conhecia antes daquela noite, e pelo jeito, ela provavelmente não me conhecia. A princípio, confesso que meu interesse nela foi exclusivamente relacionado a Blake, mas a personalidade de Bellie me conquistou desde os primeiros minutos de conversa, e por isso a beijei.

Vi seu rosto se contorcer em uma expressão estranha e seus lábios se mexendo e ordenando que eu a deixasse em paz. Eu me odiei por ter dito aquilo. Eu tentei fazê-la ficar, mas Bellie estava decidida a ir embora. Mas eu não a deixaria ir. Tinha esperado muito para me explicar, e não seria uma frase mal dita que me impediria de ficar com ela.

Bellie caminhou até ficar debaixo da chuva, e as gotas começarem a escorrer pelos braços nus e os cabelos arrumados. Eu a segui e parei debaixo da marquise.

– Me desculpa. - Falei. - Eu não queria ter feito isso...

Bellie me encarou, os olhos verdes brilhando no escuro.

– Fazer o quê? - Disse - Ser bonzinho comigo fingindo que gosta de mim para eu me apaixonar por você?

As palavras chegaram ao coração antes de chegar aos ouvidos. Um sorriso se formou em meus lábios antes que eu pudesse entender o que elas significavam.

– Está apaixonada por mim?

Bellie pareceu não querer ter dito aquilo para mim.

– NÃO! - Gritou, dando-me as costas e recomeçando a andar na chuva.

Eu saí de baixo da marquise e andei em direção a elas, sentindo as gotas geladas molharem meu rosto.

– Bellie! - Tentei, de novo.

Ao contrário do que eu esperava, ela virou-se para mim. Era a minha chance. Minha única chance de provar a ela que tudo o que eu sentia era verdade.

– Um dia você me perguntou por que eu gosto de você. - Falei, respirando fundo. - Não quer ouvir a resposta?

Ela estendeu os braços.

– Ah, é? E por que você gosta de mim? Por que eu fui a única que se humilhou para você?

Me aproximei dela. As gotas escorrendo em ambos os rostos, mas isso não tirava a beleza dela. Passei os dedos pela lateral de seu rosto macio e sussurrei:

– Não. Porque eu sei todas as coisas que fazem você ser quem você é.

E, com essas palavras, eu a beijei.




○ ○ ○




Exatamente como eu me lembrava. O beijo dela era exatamente como eu me lembrava. Relutantemente, eu me separei de Bellie e sugeri que voltássemos.

Chegamos na hora da coroação e senti Bellie se enrijecer quando abri a porta. Eu soltei uma risadinha imperceptível - era engraçado o modo como ela odiava ser o centro das atenções, quando na verdade ela era boa parte do tempo.

– Parece que já temos nossos rei e rainha do Baile. - A diretora anunciou, o microfone nas mãos.

Os alunos bateram palmas com a frase. Nós subimos no palco, recebemos a coroa falsa e agradecemos. Não nos demoramos muito porque eu percebi que Bellie estava morrendo de vontade de sair correndo dali.

Assim que descemos, Tensy, que provavelmente daria muito valor à coroa, veio arrumar os cabelos e roupas molhadas de Bellie.

– E agora a valsa do Rei e da Rainha do Baile. - Sra. Mckingdom disse.

Bellie piscou desesperada. Por um segundo, achei que ela ia simplesmente se recusar a dançar ou fazer qualquer obrigação como rainha, mas Tensy a empurrou, fazendo-a ficar de frente para mim.

A valsa começou. Era mil vezes melhor dançar com Bellie do que com Megan. A mesma graciosidade que Bellie mostrava quando andava ou jogava vôlei era a mesma do que quando ela dançava. Eu sorri.

Depois que a valsa terminou e os outros casais se juntaram na pista de dança, Bellie e eu achamos que já tínhamos feito o que tínhamos que fazer ali e nos encaminhamos para uma mesa, mas olhei para trás quando percebi que Bellie havia parado, e falava alguma coisa com sra. Mckingdom. Ela havia tirado a coroa de sua cabeça e colocado na da diretora.

– Você também é uma rainha, sra. Mckingdom. - Ouvi-a sussurrando.

Eu abri um sorriso.

Nós nos sentamos e, depois de um tempo de conversa, respirei fundo para fazer a pergunta que eu queria fazer desde o instante em que a vi.

– Namora comigo?

Bellie pareceu meio confusa por um momento. Piscou os olhos verdes, colocou uma mecha de cabelos castanhos para trás da orelha e disse:

– Namoro.

Apertei ainda mais meu braço ao redor dela e a beijei de novo.


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Capítulo 38 - Quando se precisa da coragem/ Capítulo 42 - Tarde demais


Eu não conseguia me mover. Os pés plantados no chão, os olhos se recusando a piscar, as mãos tremendo descontroladamente.

Eu não queria estar vendo aquilo. Eu queria ir embora, voltar e descobrir que aquilo nunca aconteceu. Mas eu não podia. A visão de Bellie e Jason ali não podia simplesmente ser imaginação minha.

Bellie se sobressaltou quando me viu. Eu não esperava outra coisa.

– Griffin...

Não respondi. Mesmo sabendo que poderia deixar Jason incosciente com um único golpe, eu me virei e fui embora.

– Griffin... - Ouvi Bellie chamando de novo.

Sem pensar muito bem, peguei a chave do meu carro, entrei dentro dele, bati a porta e pressionei minha cabeça contra o banco de couro com força.

Por que ela havia feito aquilo? E com Jason, acima de tudo. Podia parecer ridículo, mas eu realmente acreditei que ela talvez gostasse um pouco de mim. Eu bufei. Era claro que não.

Não sei quanto tempo fiquei ali, as mãos apertando o volante, os olhos fechados. Havia percebido que Bellie tinha ligado algumas vezes para meu celular, e mandado mensagens de desculpas, que eu havia ignorado após reunir muita força de vontade. Eu desliguei meu celular - ver que ela me ligava doía mais.



○ ○ ○



Eu havia conversado com Bellie no dia do final do campeonato de vôlei sobre isso e não podia ter sido pior. Ela me acusou de ter contado ao juiz que Megan e Peter gostavam de brincar de namoradinhos nas horas vagas e eu a acusei de ter beijado Jason. Depois da conversa, eu senti que tudo estava destruído.

Eu não consegui ir embora depois. Sentei-me no chão e senti o vento frio varrendo as lágrimas finas de vez em quando. Bellie voltou depois e me disse estar arrependida por ter me acusado, mas não me fazia sentir melhor. Quero dizer, era um pouco mais aliviante saber que ela tinha conhecimento da verdade, mas nenhuma das outras acusações, ou até mesmo a cena de Bellie e Jason não estavam dispostas a deixar meus pensamentos.

Tentando não chorar ou fazer qualquer outra coisa que tirasse o efeito das palavras, pedi a ela que me deixasse sozinho e fui embora.



○ ○ ○



Eu não a vi voltar. Dei a volta quando a deixei, e me posicionei nos fundos do ginásio para me certificar de que Bellie voltaria a tempo do segundo set, mas ela não apareceu. O juiz já havia chamado o nome dela ao microfone duas vezes, e eu sabia por experiência que ela não tinha muito mais tempo.

Eu temia que ela não estivesse ali por minha causa, por causa do que eu disse a ela. E elas não podiam perder por isso. Virei-me destinado a encontrar Bellie de novo e levá-la ao ginásio sob qualquer circunstância, porém, ao me virar com um pouco de brutalidade demais, me deparei com sra. Mckingdom.

– Griffin, onde está Bellie? As meninas estão perdendo porque ninguém a encontra.

– Eu sei onde ela está, mas não daria tempo de ir buscá-la a essa altura.

A diretora olhou para o chão.

– É uma pena que tenhamos que perder de novo.

Olhei para ela e de repente tive uma ideia.

– Talvez não.


○ ○ ○



Fiquei surpreso que tivesse dado certo, pedir a sra. Mckingdom que se responsabilizasse pelo atraso de Bellie, mas no final o juiz cedeu mais pela pose de durona que a diretora consegue adquirir quando quer do que pela justificativa.

Entrei no ginásio para terminar de ver o jogo, não me importando se minha irmã iria se importar ou não de me ver ali.

Encontrei sra. Mckingdom enquanto me encaminhava para o lado de meu colégio. Ela me mandou um sorriso.

– Obrigado, sra. Mckingdom. - Falei.

– De nada, querido. - Ela piscou para mim. - Você gosta mesmo de Bellie, não é?

Eu sorri para ela.

– Mais do que eu consigo te dizer.


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Notas finais do capítulo

Contagem regressiva para o fim de "É Segredo".
PERGUNTINHA IMPORTANTE:
De qual vocês gostaram mais?
Muito obrigada por ler!
Um beijão! s2'