É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 23
Capítulo 23 - Fortaleza




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                 "Verdade ou felicidade. Nunca os dois."

                                          Lie to Me

 - Me passe aquele pincel, por favor, Bellie. - Pede Helaina.

Me passe minha vida e minha dignidade de volta, por favor, querida.

Nós começamos isso aqui tem um bom tempo, e ainda não acabamos. São quatro horas da tarde e pintar um muro não é a coisa que eu mais gosto de fazer depois do almoço.

Griffin já tentou falar comigo umas dez vezes até agora, mas toda vez que ele chega perto de mim, eu, coincidentemente, acho uma coisa interessante para fazer do lado oposto. Ei, não é porque estou aqui que sou obrigada a falar com ele. Griffin que se contente com a atenção das fãs.

Meu Deus, seja quem foi que comprou essa tinta, parabéns. A marca é de muito boa qualidade, já que temos que esfregar uma parte pequena do muro umas setecentas vezes até que a tinta comece a sumir.

Quando finalmente terminamos, meus braços parecem a ponto de se desconectar do meu corpo. Nós nos sentamos um pouco até que ouvimos um barulho meio estranho.

Foi Helaina. Ela atirou um pouco de tinta na nuca de Griffin.

- Ah, isso não vai ficar assim. - O garoto diz, pegando uma lata com um pouco menos da metade de tinta e começando a correr atrás de Helaina, que pula dando gritinhos agudos de excitação.

A garota, em uma tentativa de acertar Griffin, atira tinta bem no meio da testa de Trishia, que se levanta com um salto e corre atrás dos dois. Alguém acerta a cabeça de Tensy.

- Ah, não, encostou no cabelo o negócio fica sério. - Ela diz, e entra na brincadeira.

Em poucos segundos tudo ali vira uma guerra de tinta. Tento ficar o mais longe de tudo possível, mas isso não evita que eu seja atiginda vez ou outra.

A brincadeira prossegue por mais cinco minutos até que Helaina, fugindo de Trishia, esbarra em Griffin e os dois caem no chão, o corpo dela sobre o corpo dele.

Eu, assim como todas as outras, estou próxima da cena e vejo que os rostos dos dois ficam tão próximos que os narizes chegam a se encostar.  As garotas observam Griffin e Helaina, esperando, é claro, um beijo ou alguma coisa, você sabe, íntima.

- D-desculpe. - Fala Helaina, e se levanta, meio sem-graça, mas amando aquilo tudo, com certeza.

Ela dá a mão a Griffin para ajudá-lo a ficar de pé também. Ele balbucia um pedido de desculpas e todas nós juntamos as coisas para irmos embora. As meninas se despedem de Griffin com um aceno, com exceção de Helaina, que faz questão de chegar perto dele para plantar-lhe um beijo no rosto um pouco mais demorado do que o normal.

- Vamos embora daqui. - Eu digo, rápido, para Tensy.

Minha amiga me segue e entende que não deve me fazer perguntas.

Dou uma passada rápida na sala de sra. Mckingdom para avisá-la que está tudo bem para a inspeção de amanhã. Ela me olha meio desconfiada e me pergunta se eu fiz meu trabalho voluntário de hoje. Balbucio a coisa mais parecida com "sim" que consigo, apesar de não ter feito nada, na verdade. Porque ninguém consegue pintar um muro e fazer trabalho voluntário ao mesmo tempo, mas agora não consigo pensar em mais nada.

                                 ○               ○               ○ 

Ciúme. Eu fiquei com ciúme deles. Não aceito ter ciúme de Griffin. É, eu não tenho, então. E ele pode agarrar, quase-beijar e ter um momento romântico com quem ele quiser e eu não estou nem aí.

É triste como eu não consigo mentir nem para mim mesma.

Mas dane-se. E sabe por quê? Porque meninas ajuizadas como eu não precisam ter nada a ver com um garoto completamente indigno de confiança, que passa as horas vagas pichando o muro do colégio rival. Não precisam mesmo. E não me interessa que não tenha sido ele. Griffin confessou.

O muro ficou praticamente intocado depois que pintamos, de modo que hoje a visita do inspetor pode ser tranquila.

Griffin já tentou vir falar comigo esta manhã, mas eu não o dei ouvidos. Não quero ouvir o que ele tem a dizer, e não é só porque eu não acho que ele não tem nada a falar, mas também porque não quero mais ter nenhum tipo de contato com ele.

Eu entro na sala para a aula de química e Tensy já está no seu lugar. Enquanto passo pela porta, escuto Vinni e seus amigos conversando sobre uma festa que vai ter hoje à noite, a inauguração de uma boate chique. Os garotos estão falando dessa festa já tem um mês e fico feliz que finalmente aconteça, para pararem com essa empolgação.

- Você trouxe, Vinni? - Ouço um dos amigos do garoto perguntar.

- O quê? - Ele pergunta.

- As bebidas. Não temos certeza se vamos conseguir lá...

- Ah, eu trouxe sim. - Confirma Vinni. - Deixei todas no boxe do canto do banheiro ontem, estava muito pesado.

Paro de andar na hora. Respiro fundo. Não, ele não fez isso. Não é possível que alguém seja tão burro assim. Me viro lentamente, tentando não matar ninguém.

- Você deixou bebida no banheiro do colégio? - Pergunto a Vinni, tentando controlar a minha voz.

Ele dá de ombros.

- Deixei, mas no boxe do canto. Você sabe que ninguém usa aquele boxe.

É verdade. Ninguém usa o boxe do canto. Dizem que ele é meio assombrado, e ninguém sabe muito bem o por quê. Alguns contam que um garoto morreu ali depois de ficar trancado por dias, quando fugiu de uma prova surpresa de álgebra, de um professor que já se aposentou. Enfim, o caso é que a história é famosa e ninguém o usa mesmo. Nem os faxineiros o limpam mais. Por isso, de uns tempos para cá, ele virou um depósito de bebida e outras coisas ilegais que alunos imbecis trazem para o colégio.

- É, eu sei. - Digo. - Mas você já tirou a bebida de lá, não tirou?

- Não. - Ele fala, completamente tranquilo.

- NÃO?! - Grito. - Você está louco?

- Qual é o problema, Bellie? - Vinni pergunta, ficando irritado.

- O problema, Vinni, é que não pode bebida no colégio.

- Eu sei, mas você nunca seguiu as regras, Bellie. Por que está preocupada com isso agora?

Quem disse que eu nunca sigo regras? Sinto vontade de perguntar, mas não posso pensar nisso agora.

- Estou preocupada porque nos outros dias em que você pôs bebida ali não tinha nenhum inspetor vindo para cá, ou tinha?

O queixo de Vinni cai. Ele solta um palavrão com raiva.

- Não posso fazer nada agora. - Ele diz, por fim.

- Claro que pode! - Grito de novo, ficando desesperada. - Vinni, você tem que fazer alguma coisa!

- Por que você está tão preocupada com isso, Harper? Está no banheiro masculino, se acalme.

- Está brincando comigo? Eu sou a chefe do trabalho voluntário, não se lembra? Eu devia fazer a vistoria dos vestiários e dos banheiros.

- E por que não fez? - Ele pergunta, rude.

- Porque eu estava muito ocupada pintando um muro para lembrar que na minha série tem um idiota que gosta de trazer bebida para a escola!

- Certo. Mas eu não vou lá e me arriscar a ser pego. A inspeção já deve estar começando e se me pegarem recuperando as caixas, eu vou ser expulso.

- Vinni, por favor. Eu prometi para a senhora Mckingdom que seria mais responsável com isso. Também prometi que faria uma vista fina no colégio antes da inspeção de hoje.

- Não. Nada que você disser vai me fazer mudar de opinião. A menos que você tenha duzentos dólares, aí eu posso pensar no seu caso.

- Está louco? Não vou te pagar para consertar uma besteira que você fez!

- Então o problema é seu. Já disse que não tem nada que eu possa fazer. Se quiser, vá e recolha as caixas sozinha.

- No banheiro masculino?

Ele assente com arrogância. Vou embora sem falar mais nada e me sento no lugar. Vinni é patético. O que ele estava pensando, quando resolveu que talvez seria uma boa ideia trazer bebida para a escola em um dia de visita de inspetor? Eu vou ser expulsa se o homem pegar aquelas caixas no banheiro, porque fui em quem dei carta branca a sra. Mckingdom ontem, depois que pintamos o muro. Tudo porque eu estava muito ocupada tentando ajudar o retardado do Griffin. Retardado que nem está aqui agora, aliás.

Me levanto abruptamente. Não vou tomar nenhuma suspensão por causa de Vinni. Sem pensar muito bem no que estou fazendo, saio correndo da sala dando uma desculpa qualquer à Tensy e vou para o banheiro masculino. Olho para os dois lados para me certificar de que estou segura e entro. Me dirijo ao famoso boxe do canto, mas para minha surpresa, já tem alguém lá dentro.

Griffin me olha com uma expressão meio estranha.

- Bellie?

- O que está fazendo aqui?

A expressão dele muda de confusa para irônica.

- O que eu estou fazendo aqui? É perfeitamente normal nesse colégio que as meninas entrem em banheiros masculinos?

- Não. Mas o idiota do Vinni deixou caixas de bebidas aqui e hoje é o dia da inspeção e...

Paro de falar quando percebo o que Griffin está fazendo. Já está esvaziando as latas de cerveja no vaso sanitário. Vou para o lado dele e começo a ajudá-lo.

- Como sabia disso aqui? - Questiono.

- Eu não sabia. Só entrei aqui por acaso e vi essas bebidas.

- E como adivinhou que não deviam estar aqui? - Pergunto.

Com um suspiro, Griffin se abaixa e pega um pedaço de papel no chão escrito "Propriedade de Vinni Prettery". Eu solto uma risadinha. Só alguém sem inteligência nenhuma colocaria aquilo em cima de latas de cerveja ilegais.

Meu coração para quando escutamos passos. Meu Deus. A inspeção já chegou aqui? Não é possível. Eu e Griffin nos encolhemos contra a parede e fechamos a porta do boxe, apesar de saber que é inútil. Nos verão do mesmo jeito.

Esperamos a porta ser aberta, mas ela não é. Ouvimos barulho de chaves na porta e depois mais passos. Nós nos olhamos aterrorizados e eu vejo que estou pensando a mesma coisa que ele. Eu e Griffin saímos correndo do boxe e tentamos abrir a porta, mas não adianta nada. Está trancada.


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