É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 15
Capítulo 15 - A Estufa


Notas iniciais do capítulo

Eu quero agradecer a todo mundo que está lendo. Falando sério, é por isso q eu chego todo dia correndo do colégio só pensando em escrever mais e mais. Obrigada e um grande beijo a todos!

Boa leitura ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/141789/chapter/15

"Na vida todos temos um segredo inconfessável, um arrependimento irreversível, um sonho inalcançável e um amor inesquecível."

                                       - Diego Marchi

Ele quer se encontrar comigo. Não acredito nisso até agora. Já revirei o papel mil vezes e decorei cada palavra dele. Estou deitada na minha cama, ainda com o bilhete no colo.

Estou ansiosa para amanhã, mas confesso que não tenho muito certeza do que devo fazer. Será que não é melhor eu fingir que não recebi o recado, assim como venho fingindo que não o conheço? E é obrigatória a presença no jogo. E se nos pegarem?

Imagino como ele sabe da estufa do colégio, considerando que ele chegou na escola tem pouquíssimo tempo. Lá é só um lugar onde ficam algumas flores e coisas do gênero, e só visitamos a estufa na terceira série. Estou começando a achar que devo ignorar o bilhete dele. Mas pensando bem, é melhor eu me encontrar com ele e esclarecer as coisas de uma vez. Tenho algumas perguntas e preciso das respostas.

                                                ○               ○               ○

Entro na escola tremendo e não é a primeira vez que isso acontece. Encontro com as meninas do vôlei quando chego e vou para o vestiário com elas. O time está nervoso, com a confiança abalada, desde a última derrota, na qual perderam uma de suas jogadoras titulares.

Dou uma olhada em volta. Megan ainda não chegou, e a braçadeira é dela hoje. Achei que ela seria a primeira a estar aqui, mas ela já deve estar chegando, apesar da demora me deixar um pouco preocupada.  

As garotas trocam de roupas conversando sobre os jogos, mas eu não presto atenção no assunto. Sinto minhas mãos suando, minhas pernas se mexem involuntariamente. Tento respirar normalmente, mas não consigo. Tensy percebe que estou nervosa, mas, pelo que eu pude perceber, prefere não perguntar em frente às outras.

Olho no relógio de dez em dez segundos. O jogo começa daqui a cinco minutos, e tenho que estar fora daqui sem ninguém me ver nesse pouco tempo. Me levanto, coloco somente o rosto para fora do vestiário e olho a quadra. Está lotada. O colégio todo está aqui. Volto a sentar, mais nervosa.

- Meninas. - Peter entra, depois de bater na porta. Ele não pode entrar no vestiário feminino, mas ele entra mesmo assim, tanto que a faxineira que trabalha nos vestiários já desistiu de impedí-lo.

Peter começa o discurso costumeiro e decido que já é hora de ir. Espero ele acabar de falar, me despeço da meninas, desejando boa sorte a todas.

Disparo pela quadra, me preocupando em olhar para trás a cada passo para me certificar de que estou segura.

Chego ao corredor onde ficam os laboratórios de física e química, e a estufa fica logo no fim dele. Olho para dentro de cada sala, mas congelo quando chego à sala de informática. O senhor Vickinn ainda está lá, desligando os computadores, enquanto explica a alguém como fazer alguma coisa em um programa de computador complicado. Suando, entro no banheiro mais próximo, correndo. Quando ouço o barulho das passadas dele se tornando afastado, saio e alcanço o final do corredor.

Paro e respiro fundo quando chego à estufa. As portas desnecessariamente grandes e brancas na minha frente, e eu não tenho coragem de abrí-las. Se bem que já cheguei aqui. Giro a maçaneta e entro.

Dou uma olhada ao redor e vejo que ele já está lá. Sem uniforme, com uma camisa branca que permite às mais sortudas verem o contorno da barriga dele. Uma calça jeans escura, o relógio prateado de sempre e um tênis Puma. Está interessado em uma flor roxa em particular, que não sei identificar. Ele só percebe que estou aqui quando as portas se fecham.

O garoto olha para mim, os olhos azuis faiscando na minha direção.

- Bellie. - ele diz, como se fôssemos grandes amigos. O que não somos.

Aceno com a cabeça para cumprimentá-lo.

- Achei que não viesse. - ele diz.

- Eu também achei. O que quer falar comigo?

Ele olha a planta de novo, provavelmente pensando em alguma resposta de última hora. Por fim, ele dá de ombros e levanta a cabeça.

- Achei que seria bom só... conversar. Aproveitei que hoje você não joga, e não temos aula, a combinação perfeita.

Assinto.

- Acredito que talvez você tenha algumas dúvidas... - ele diz, com um tom sutil de ironia na voz.

- Qual é o seu nome? - começo, com ar desconfiado, interrompendo-o com talvez um pouco de rispidez.

Ele toca em uma das pétalas da flor lilás, apesar do grande aviso escrito em negrito na parede: "Favor não encostar nas amostras." Enquanto finge concentrar sua atenção na planta, ele hesita. Parece que acabei com todo o mistério que envolvia o nome dele.

- Griffin. - ele responde, finalmente.

Griffin. É um nome bonito.

- Por que está aqui?

 Essa pergunta o pega de surpresa. Ele solta uma risadinha.

- Para estudar.

- No meio do ano? - levanto uma das sobrancelhas.

Ele parece meio desconfortável.

- É.

- Onde estudava antes?

- No West High.

- E por que exatamente você saiu de lá?

- Queria mudar um pouco. Enjoei daquela escola. E não tem jeito melhor de mudar de ares do que ir para o rival de onde você estava antes.

- Por isso você e Blake não estão bem?

Percebo que toquei em um assunto profundo demais. Mas não vou voltar atrás, não agora.

Ele suspira. É um suspiro pesado, cheio de culpa.

- A minha irmã nunca gostou daqui e quando decidi vir para cá, ela ficou com raiva de mim também.

Isso está muito mal explicado. A história que ele me conta não me convence nem um pouco.

Griffin solta um suspiro cansado e se senta na parede direita da estufa, em frente ao vidro translúcido, e em seguida bate a mão no chão, me chamando a me juntar a ele. Sento-me do lado dele, e nós respiramos silenciosamente por um minuto.

- Olha, alguém ia ter que falar disso alguma hora. Os segredos que eu te contei sem querer... - começo.

- Ah, isso.

- Eu não lembro das coisas que eu te contei. Espero que você as esqueça também.

Ele engole em seco.

- Claro.

- Mas, antes de esquecê-las, será que pode me dizer por alto algumas coisas que eu te disse?

E ele começa. Despeja para mim todos os segredos que eu o contei, que coincidentemente são todos os meus segredos também. É cada fofoca pior que a outra. Quase desmaio quando ele diz o motivo pelo qual briguei com Megan na festa dela, no ano passado. Eu achei que já tinha esquecido aquilo, e não que eu fosse ressucitar esse fato de séculos atrás. Eu não acredito que contei isso a alguém.

- Posso te fazer mais uma pergunta? - digo.

Ele assente, e os cabelos grossos escorregam pelos olhos azuis. Fico concentrada na beleza dele por um instante, até que lembro que devia estar dizendo algo.

- Por que realmente você me chamou aqui?

Griffin hesita de novo. Sinto que ele não sabe nenhuma as respostas das perguntas que fiz a ele, de modo que ele só pegou a primeira coisa que lhe veio na cabeça a atirou-a para cima de mim.

- Porque eu gostei de você. Mesmo. - ele fala.

Meu coração falha uma batida.

- G-Gostou de mim? - pergunto, confusa.

- É. - ele aproxima o rosto do meu.

- E por que você gostou de mim?

Griffin para de novo.

- Porque... bem, você é bonita, e é legal.

- Legal?! Você conversa comigo enquanto eu estou bêbada, te conto absolutamente todos os meus segredos, alguns que deviam fazer você sair correndo se tivesse pelo menos um pouco de juízo e depois você vem aqui me dizer que eu sou legal?

 Ele parece pensar no que disse.

- Bom, é. Tanto faz.

O tom de voz rude dele me pega de surpresa. Não estou entendo realmente o que está acontecendo.

- Você jura pra mim que nunca vai contar aos outros os segredos que eu te disse? - Mudo de assunto.

Griffin se vira totalmente para mim.

- O que me dará em troca para manter segredo?

O quê?

- Te dar alguma coisa em troca? C-Como assim?

- Quero que me dê algo que me faça querer te ajudar. - Ele diz, sugerindo na própria voz que isso já está óbvio.

- Acabou de dizer que gosta de mim. Não basta?

- Não o suficiente. - Ele morde o lábio.

- Para quem você iria contar esses segredos? - Pergunto, a voz falhando.

- Para a escola inteira. - Ele dá de ombros. - Eu sei muita coisa interessante.

Eu não acredito nisso. Ele é um canalha. Como eu pude me fazer acreditar que ele gostasse de mim? Ou que ele pelo menos fosse uma pessoa boa?

Me levanto. Griffin diz meu nome, mas é ignorado. Saio correndo e bato as portas. Desço três lances de escada e entro no primeiro banheiro feminino que vejo. Fico surpresa de, ao chegar lá, me encontrar com Megan.

- O que está fazendo? - Questiono. - Você não devia estar jogando?

- Eu sei, mas não tenho ideia de quando vou voltar. Fiquei de recuperação em matemática e meus pais, como castigo, não me deixam treinar mais.

- Ah.

- E você? Por que está aqui?

- Eu vim... é... pegar um livro...

- E onde está?

- O quê?

- O livro. - ela fala, olhando para mim como se eu fosse louca.

- Ah, é. - Bato na testa de leve teatralmente. - Esqueci.

Megan me olha e pondera se deve continuar no assunto. Vejo que ela decide que é melhor não, e em vez de me sugerir algum hospício da esquina que provavelmente me aceitaria, me pergunta:

- E por que está chorando?

- Não estou chorando. - digo, com rispidez e saio da banheiro.

Então, ao fechar a porta com força, coloco a mão no rosto e seco as lágrimas que banham minha pele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!