É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 13
Capítulo 13 - O Começo do Fim


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo que mais gostei de escrever até agora. Espero que gostem. Beijoos ♥



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               "Coincidência demais para ser ao acaso..."

                                    - Bruno Roger

 

Isso não está acontecendo. Quero dizer, por que ele está aqui? Eu queria poder apagar da minha memória que o conheço. Mas não posso.

Fico apreensiva cada vez que entro em uma sala de aula, pois não sei quais aulas terei com ele. História eu já tenho, de modo que metade da minha vida já está acabada.

Tensy veio falar comigo depois que ele foi embora, me perguntando o que ele queria. Eu respondi que era comentar do jogo, e nada mais. Porque foi isso mesmo que ele foi fazer.

Às vezes penso que eu estou me achando importante demais. Porque, bem, um menino daquele tem coisas melhores para fazer do que ficar prestando atenção nos segredos que uma garota contou a ele um dia desses. Mesmo que esses segredos possam acabar com a vida dela.

De cinco em cinco minutos alguma garota desocupada vem comentar conosco o "gato maravilhoso" que padeceu por aqui. Eu e Tensy sorrimos para ela e falamos dele também, como se achássemos a beleza alheia uma coisa muito excitante.

Pondero se não devo mudar de escola, já que ter uma pessoa que sabe todos os seus segredos no mesmo ambiente é como ter o seu diário aberto para todo mundo ler. Mas não, eu não posso trocar de colégio, uma vez que Tensy não acompanharia, teria que dizer aos meus pais a razão do desejo de mudança e não quero largar, de jeito nenhum, o time de vôlei. Vou ter que me contentar com o que eu tenho.

Cruzei com ele uma vez no corredor, e estava cercado de garotas babando aos seus pés querendo saber qual é a marca de perfume que ele usa. Danem-se elas todas. E dane-se o perfume dele também. Mesmo que a fragrância seja muito boa, tenho que admitir.

Andei dando uma olhada por aí e a aposta do "Quem Vai Ficar Com O Novato?" já tem quarenta nomes. Quarenta nomes tentando fazer a coisa que eu fiz e da qual mais me arrependo na minha vida. A aposta tende a ganhar mais nomes, esse é só o primeiro dia. Além disso, há garotinhas da quinta série que ainda estão decidindo se vão entrar ou não. Bobinhas.

— A próxima aula é de quê? - pergunto a Tensy quando voltamos aos nossos armários.

— De Geografia. - ela responde, e em seguida faz uma careta.

Eu e Tensy temos todas as aulas juntas. Conseguimos isso depois que ambas escrevemos cartas à escola e falsificamos a assinatura de nossas mães para nos manterem juntas e, assim, não prejudicarem nossa "eficiência e desenvolvimento em sala de aula". Deu tão certo ano passado que esse ano eles ainda nos colocam na mesma sala. O pessoal da escola e nossos pais nunca descobriram a verdade, o que é muito, muito bom. Porque provavelmente nos expulsariam, ou coisa parecida. 

Já os armários perto um do outro conseguimos dizendo ao garoto gordinho que possuía o armário do meu lado que uma linda garota loira cujo armário ficava perto do de Tensy queria desesperadamente sair com ele. Mentira, claro. Mas o gordinho aceitou trocar de armário sem que pronunciássemos qualquer outra mentira, o que tornou tudo muito fácil depois. Não sabemos se ele já descobriu que aquela menina não deve nem ter reparado na existência dele até agora, mas, se ele ainda não se tocou, que bom para nós.

Nosso professor de geografia é um daqueles vegetarianos, que têm horror a computador, televisão ou qualquer coisa desse século. Na verdade, desconfio muito que o senhor Wabell vive em um barraco a alguns quilômetros da cidade e tem uma fossa no quintal, que ele usa de banheiro. Não estou brincando. Parece também que ele só se alimenta de cenoura, brócolis, cebola e todas essas coisas que eu não comeria nem se minha vida dependesse disso. Não acho que ele goste muito, já que ele é muito magro. Poderia ser bonito, se não parecesse uma tábua de passar roupa.

Eu e Tensy entramos na sala e ocupamos nossos lugares. Senhor Wabell chega na classe e diz bom dia. Ele está anotando a data no quadro negro quando ouvimos uma batida na porta. Pacientemente, ele a abre e alguém murmura alguma coisa.

— Claro, entre, senhor Carmichael.

Meu queixo decididamente vai ao chão quando o garoto da festa entra. 

 Carmichael?

E eles não eram ex-namorados, afinal. Porque, das duas uma: ou ele e Blake são casados, ou pior: eles são irmãos.

Ele percebe que estou assustada e dá um sorrisinho de satisfação que tenho vontade de arrancar da cara dele.

Enquanto ele passa por mim, rezo para que eles sejam casados. Paro quando percebo que é ridículo. Sei que Tensy já entendeu pelo modo como se vira para mim.

Retribuo o olhar de assombro dela enquanto o irmão mais novo de Blake Carmichael se senta no fundo da sala.

 

                                                 ○          ○          ○

 

Blake Carmichael. Eu contei todos os meus segredos para o irmão da Blake Carmichael.

E ainda falei mal da família dele na cara-de-pau.

A aula já acabou faz uma hora, mas eu ainda não consigo parar de pensar nisso. Estou deitada na minha cama, tentando fazer um dever de matemática, sem ver os números realmente. Heath está na sala vendo uma porcaria de desenho animado como se fosse surdo. Tenho vontade de desligar aquela televisão - meninos de 12 anos não devem assistir desenho animado, sob nenhuma circunstância. Mas decido deixar para lá e continuar minha lista mental do que eu poderia ter contado àquele garoto no dia da festa. E a lista está enorme, uma vez que passei muito tempo com ele, e nos beijamos muito pouco, segundo Tensy.

Estou sentindo que esse menino irá me causar problemas demais...

 

                                                     ○          ○          ○

 

Saio do carro tremendo. Minha escola está na minha frente, e eu faria qualquer coisa para não ter que entrar ali. Tenho aula de história hoje e não quero encontrar com a pessoa que eventualmente pode causar o fim da minha vida.

A aula da senhora Nichols é no primeiro horário, de modo que eu teria que faltar o primeiro e acabou. Pedi isso para os meus pais e eles disseram que eu estava enlouquecendo. Pais. Sempre querendo fazer a coisa certa.

Encontro Tensy na frente do colégio e mando a ela um sorriso. Ela me retribui e caminhamos aos nossos armários em silêncio.

Após pegarmos os livros, nos dirigimos à sala e vejo que ele já está lá. Sorrindo, esparramado na cadeira, e já pareceu ter tido sua cota de assédio sexual diário por parte das meninas desse manicômio, digo, colégio.

— Bom dia, turma. - a senhora Nichols entra, carregando livros e uma infinidade de papeis.

A turma a responde, mas ela não espera o final da saudação coletiva para começar.

— Vamos fazer uma prova surpresa hoje. - ela anuncia.

A turma começa uma série de reclamações e xingamentos que, graças a Deus, ela não ouve.

— Não quero saber. Vocês tinham que ter estudado. Na verdade, essa matéria vocês já deviam lembrar, aprenderam no ano passado.

Eu não lembro nem do que eu almocei ontem.

A turma implora para a professora não dar a prova, porque provavelmente vão todos tirar zero. Eu sou uma dessas pessoas.

— Me poupem das desculpas de vocês. Nada vai me fazer desistir de dar essa prova hoje. - ela diz, entregando a prova aos alunos desesperados, mas interrompe a ação e dá talvez o maior sorriso que eu já vi no rosto daquela mulher.

Percebo, então para onde ela está olhando. Ou melhor, para quem ela está olhando.

— Bom, vou pedir um favor a você, senhor Carmichael. - ela diz, com uma voz doce que ela parece ter roubado de uma pobre velhinha, porque não é dela, não mesmo. Também não entendo porque esses professores insistem em chamá-lo pelo sobrenome. Eles não nos chamam assim. - Já que você chegou aqui ontem, não posso exigir que você saiba tudo que já dei aqui - onde diabos está aquele papo de "aprenderam no ano passado?" - Então, o favor que quero pedir é que você seja o fiscal da prova, só por hoje.

A turma toda para de falar. Como assim, esse professora louca vai deixar um aluno ser fiscal de prova?

— Claro, senhora Nichols. - ele responde, com uma animação repentina e com um sorriso que visivelmente faz a professora derreter.

— Obrigada. - ela tenta imitar o sorriso sedutor dele, mas não consegue. - Vou deixá-los por esse tempo então. Estou na sala do cafezinho, se precisar de alguma coisa. - ela sorri de novo. A senhora Nichols já sorriu três vezes, só nessa aula. Acho que o mundo acordou meio errado hoje.

Ela sai para a "sala do cafezinho". Uso aspas, porque, se ela vai para a sala do cafezinho, eu moro na Disney. Todo mundo sabe que ela vai é se pegar com o senhor Priddy, o professor de álgebra. Não sei porque os dois continuam fingindo que não dão uns bons amassos no vestiário, no amário do faxineiro, na sala dos professores, no banheiro, na secretaria e em todos os outros lugares que você possa pensar. A farsa deles acabou quando descobrimos que não existe nenhuma "sala do cafezinho". É claro que o fato de termos achado uma folha dentro do caderno de notas dela com o nome "Amanda Priddy" escrito nela toda também ajudou.

A classe ainda não se aquietou desde que "senhor Carmichael" foi promovido a fiscal.

Eu congelo de repente. Não consigo me mexer, não consigo repirar, nem piscar e nem pensar mais. Sinto como se tivesse touros sapateando na minha barriga quando uma parte da minha memória volta.

 

"E então me vejo contando a ele sobre todos os professores imbecis da nossa escola, e entregando para ele todo o nosso esquema de cola durantes as provas finais e de recuperação."

 

Por Deus, eu não fiz isso.

 

" - Ei, sabe como nós fazemos?

— Como? - ele pareceu interessado.

— O mais nerd da sala escreve todas as respostas da prova em uma folha de papel escondido, então ele amassa e a joga no chão. Nós a pegamos discretamente, olhamos, copiamos e passamos à carteira do lado, com os pés, dando chutinhos.

 Ele deve ter ficado impressionado com a nossa técnica. Ou deve só tê-la achado muito idiota.

— E se o professor ver?

— A gente levanta e joga no lixo, como se estivesse conosco o tempo todo.

 Isso já aconteceu?

Eu pisquei para ele.

— Uma vez."

 

Percebo, com o coração a mil por hora, que eu não sou a única a lembrar disso: ele está olhando os pés de todo mundo. Ele vai ver a cola, vai correr para contar para a professora e todo mundo vai descobrir que fui eu que contei para ele.

Não posso acreditar que eu tenha feito algo assim. Eu sou burra demais. O olhar dele ainda está fixo nos pés da turma inteira.

Vinni Prettery, um dos valentões da escola se irrita e pergunta a ele:

— O que está olhando?

Ele sorri.

— Nada. Sapatos bonitos, a propósito.

Os olhos dele levantam e chegam até mim, e sinto como se eles pudessem me perfurar. O garoto ainda sorri, e olha com satisfação para mim.

 

 

E esse foi o segredo número um.

 

 

 

 

 

 

 

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