A Serpente escrita por Heva Paula


Capítulo 8
Capítulo 8 - Perdida




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- Acorde! – meus olhos estavam tão pesados, ainda podia sentir meu rosto inchado, por consequência das lágrimas – Melanie e Samantha estão esperando por você lá em baixo.

- Não estou com vontade de sair. – minha voz rouco o suficiente para pensar que não a havia usada por dias.

- Hoje é o nosso último dia em Paris seria bom se despedir da cidade não? Vamos voltar para Dubai na madrugada de hoje.

- Continuo sem vontade.

- Embora eu goste do fato de você não querer sair com elas, é melhor você sair, passear, esfriar a cabeça, e se despedir da cidade, estarei esperando por você na sala.

Ele saiu e por mais que fosse tentador sair da minha gaiola, hoje eu queria poder ficar aqui, não ver ninguém, me levantei e fiquei um bom tempo em baixo do chuveiro, a água quente precisava melhorar meu rosto, demorei bem mais do que devia meu cabelo estava muito molhado e eu precisava secar, enquanto secava fiquei praticando meus sorrisos, aquelas mulheres não mereciam me ver triste ou aparentemente de mau-humor com o mundo, afinal elas foram tão gentis comigo:

- Estou pronta! – ele me observou uma última vez.

- Então vamos!

Foi cansativo, Melanie e Samantha me levaram as compras, sinceramente não senti vontade de comprar nada:

- Querida anime-se tenho certeza que irá gostar de algo se observar melhor.

- Esta tudo bem Melanie, é que eu não estou com vontade de fazer compras.

- Você esta triste por que vai embora hoje não é? Eu fiquei sabendo que Baldi encurtou a viagem.

- Sim.

- Isso deve ter algum dedinho da outra esposa dele.

- SAM!?!?! – Melanie parecia chocada com as palavras de Samantha.

- Ora Melanie, para os árabes a bigâmia é permitida. – suas palavras pareciam golpes de navalha em meu corpo, mas procurei ser sensata e não entrar no assunto – logo agora que ela acabou de perder mais um filho de Badi, ela deve esta louca por que não nesta viagem com ele. – filho? Essas mulheres conversavam como se eu não estivesse junto delas.

- Sam já chega, o que Safia vai pensar?

- Esta tudo bem. – essas palavras me abalaram, mas procurei me manter serena.

Andamos mais um pouco, elas paravam e olhavam algumas vitrines conversavam, enquanto eu fazia tudo mecânicamente, mas eu vi uma vitrine que me chamou atenção, era uma joalhereia e lembrei do quanto papai me fazia falta, e de como eu não consigo perdoar ele, por que de repente tudo mudou? Eu era apenas uma criança, agora eu sou a mulher, a esposa, o pássaro que teve suas asas cortadas, quando eu seria livre novamente? Quando voltei meu olhar para encontrar Melanie e Samantha, não havia rastro de suas sombras, como elas simplesmente desapareceram? Andei pela calçada olhando de loja em loja, onde elas estariam? Busquei no bolso do meu casaco o celular que Baldi me entregou, mas não encontrei, este casaco era novo, os bolsos estavam limpos, comecei a ficar aflita eu precisava de ajuda e como eu iria conseguir, comecei a perguntar no meu pobre inglês aos francêses que encontrei pela rua onde ficava o hotel Aragon, mas o pouco que entendi é que ficava muito longe, eu precisava ficar calma para poder pensar em como eu poderia reverter esta situação.

Em um momento de loucura cheguei a pensar se isso não seria o destino, que estava me dando a chance de fugir, para Badi nunca mais me encontrar, mas se fosse o destino ao menos eu teria algum dinheiro comigo, para onde eu iria com apenas a roupa do corpo? Não muito longe e Badi me encontraria, ele é um homem muito poderoso, ele moverá ceus e terras até me encontrar, eu simplesmente preciso manter o foco, eu estava tão distraida olhando as placas que indicavam o nome das ruas que meu corpo se chocou contra uma pequena banca de flores, quebrando alguns vasos, foi o momento mais aterrorizante da minha vida, a senhora da floricultura saiu da pequena loja e começou a gritar comigo, por mais que eu lhe pedisse perdão, ela não aceitava, ela queria dinheiro e isso eu não tinha, as pessoas que passavam por mim, me observavam com seus rostos de desdém, pensei em chorar, no entanto havia uma alternativa, a pulseira que carregava em meu pulso poderia pagar por todo o estrago que causei e muito mais, foi dificil tirar, era um presente do meu pai, uma lembrança de momentos felizes, mas não havia escolha lhe entreguei, ela observou aquela pulseira – que não tinha valor material e sim sentimental – sorriu e entrou em sua loja.

Foi muito triste não sentir mais a minha pulseira, aquela pulseira tão importante, ele possuía uma pequena medalha, onde eu carregava o coração do meu pai, e por mais longe que eu estivesse o coração dele sempre estaria comigo, agora eu estava sozinha, perdida, entre milhares de pessoas desconhecidas, seus rostos eram apenas borrões diante de minhas lágrimas tolas.

* * *

A a última reunião dos investidores acabara cedo, ainda teria tempo de descansar e jantar com Safia, cheguei ao hall do hotel e encontrei Samantha e Melanie, elas já haviam chegado, ótimo:

- Onde esta Safia? – Melanie parecia aflita, e paciência não era meu ponto forte – onde esta Safia?

- Badi sua esposa...

- Badi nós nos perdemos de sua esposa. – Samantha completou.

- Quê? – o que estava acontecendo? – o que vocês estão me dizendo? O que vocês fizeram com Safia?

- Nada, nada, nós juramos, nós apenas estavamos fazendo compras quando nós atravessamos a rua, eu pensei que Safia estivesse junto de nós...

- Vocês pensaram? Vocês nãos sabem que Safia não conhece nada desta cidade!!!

- Desculpe, foi erro nosso. – Melanie começou a choramingar.

- Eu preciso encontrá-la. – liguei para o seu celular, ninguém atendia, será que o sumiço de Safia seria algo programado? – Safia fugiu? Não me escondam nada!

- Badi por que Safia fugiria? – Samantha conseguia ser a única a manter a calma entre nós.

- Ela não atende o celular, vou procurá-la, ela não pode esta muito longe, onde vocês estavam da última vez que se viram?

- Saint-Honoré, nós vasculhamos tudo, não conseguimos encontrá-la.

- Eu moverei Paris de ponta cabeça, mas eu a encontrarei.

Corri em direção a saída do hotel, eu precisava do meu carro, eu precisava saber o motivo do seu desaparecimento, ela não escaparia de mim tão fácil, mas quando cheguei a porta, um táxi parava bem diante de mim, Safia estava nele, seu rosto estava triste:

- Onde você esteve? – eu abri a porta e a arranquei daquele carro.

- Eu me perdi. – seus olhos estavam cheios de lágrimas.

- E o seu celular?

- Esqueci no bolso do outro casaco, você precisa pagar o táxi. – informei na portaria que eles precisavam pagar o taxista.

- Precisamos conversar, venha agora.

Arrastei a pelo braço, pude escutar pequenos gritos de felicidade de Melanie e Samantha ao reverem Safia comigo, onde ela teria ido? O que estava pretendendo fazer, teria ela pensando em fugir? Quando chegamos ao apartamento a joguei no sofá:

- O que você pretendia? Fugir? – eu andava de um lado para o outro queria evitar perder o controle e ser violento com ela.

- Não, eu não estava fugindo, eu me perdi, acredite em mim, eu estava de frente para uma joalheria, quando olhei ao meu redor Melanie e Samantha haviam sumido.

- Você quer que eu acredite nesta história?

- Sim. – ela começou a chorar.

- Você quer que suas lágrimas me convença de suas mentiras.

- Badi eu não estava fugindo, porque eu fugiria assim, apenas com a roupa do corpo? Para onde eu iria?

- Por que não estava com seu celular?

- Eu já disse esqueci no bolso do outro casaco, eu não estou mentindo, você mais do que ninguém sabia que eu não queria sair hoje, VOCÊ SABIA!

- Não grite comigo! Eu vou acreditar em você. – ela chorava incesantemente – não precisa chorar, eu já disse que acredito em você.

- Eu estou chorando... Porque perdi a pulseira que ganhei do meu pai... Eu perdi!

- Como isso aconteceu? Me conte toda a verdade.

- Quando percebi que não podia mais encontrar Melanie e Samantha... Eu perguntei a algumas pessoas na rua onde ficava este hotel, mas o pouco que consegui assimilar era de que eu estava longe para ir a pé – ela pausou e esfregou a manga do casaco no nariz – então... Enquanto eu estava olhando o nome daquela rua em uma placa sem querer eu me choquei contra uma pequena bancada de flores e vasos, e a senhora daquela floricultura começou a brigar comigo – ela encarava o chão – então a minha única alternativa, já que eu não tinha dinheiro foi dar a minha pulseira.

- Mandarei fazer outra para você.

- Não, você não entende, foi um presente, nela tinha um pequeno coração entalhado em ouro, era o coração do meu pai, eu perdi o coração dele, eu perdi. – ela chorava como se realmente tivesse perdido o coração de alguém especial, aquela peça tinha muito valor para ela.

- Acalme-se! Você lembra o nome da floricultura?

- Aube ou L’aube, era mais ou menos assim.

- Vamos pegá-la de volta. – seu rosto se iluminou.

- Badi eu nunca esquecerei do que você esta fazendo por mim, obrigado – ela me abraçou – obrigado!

- Ela é muito importante para você não é?

- Sim, lá esta o coração do meu pai.

Desci e pedi para que que David procurasse por uma floricultura chamada L’aube, e que se informasse da jóia que Safia deixou, e me trouxesse informações de tudo que aconteceu. Algumas horas se passaram, embora eu estivesse preocupado em não adiar o voo, eu precisava entender se realmente eu poderia confiar em minha esposa, David demorou muito em voltar com a pulseira e a verdade:

- Então você conseguiu o pulseira?

- Sim senhor, foi difícil a senhora daquela floricultura parecia entender que aquela pulseira valia mais que seu comércio, mas consegui reverter o caso.

- Ela contou sobre o ocorrido?

- Sim, falou que sua esposa causou um grande estrago na frente de sua loja, e disse não entender muito bem o seu idioma, apenas algumas palavras sobre esta perdida, entretanto entendeu muito bem quando ela lhe ofereceu a pulseira em troca dos vasos quebrados. – então Safia não estava mentindo.

- Obrigado David você foi de grande ajuda, minha esposa não conseguiria viajar sem esta pulseira, me faça um favor chame Henri o joalheiro do hotel e peça que venha imediatamente a minha sala.

- Sim senhor.

Henri um senhor de meia idade, que costumava pintar os cabelos para esconder os fios brancos – diga-se de passagem um puro mau gosto – entrou em minha sala, como profundo conhecedor de jóias eu necessitava da ajuda dele:

- O senhor me chamou?

- Sim, quero que veja esta jóia. – ele observou, com um toque delicado, seus profundos olhos azuis buscavam identificar o objeto em suas mãos enrugadas.

- Mas é de muito bom gosto, quem criou esta jóia é um verdadeiro artista.

- Meu sogro foi o criador, ele deu de presente para minha esposa.

- Belíssima, veja o detalhe do coração, é a imagem de um verdadeiro coração humano, seu valor chega a escala dos cinco digitos, é prefeita.

- Obrigado por legitimar, mas o que eu desejo mesmo é que você consiga um diamante para mim, que seja em formato de coração, e que seja de muito bom gosto, não importa quando custe, e eu quero que o senhor acrescente a esta pulseira, ficarei agradecido se conseguir fazer este feito antes de viajar.

- Farei o possível senhor Badi, lhe entregarei antes de sua viagem.

- Obrigado.

Continuei em minha sala, precisava assinar alguns papéis antes de viajar, checar como anda o funcionamento dos meus negócios é necessário, deixei Safia aos cuidados de Genevieve, ela parecia esta em choque depois de tudo que aconteceu aqui, talvez Paris tenha sido uma viagem forte demais para ela, mas não adianta pensar nos problemas que causei a ela desde que chegamos, enfim eu fui o único culpado de toda essa grande confusão.


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