A Serpente escrita por Heva Paula


Capítulo 7
Capítulo 7 - Verdades e mentiras




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Quando chegamos ao restaurante que possuia uma bela vista para o rio Sena, Safia parecia desconfortável, eu gostaria de que ela pudesse lembrar desta semana em Paris, principalmente de quando estive ao meu lado, nossa convivência era bastante restrita principalmente por mim, e eu também a mantive sempre presa naquela casa, sequer uma vez a liberei para sair e dar um passeio:

- O que acha?

- É um bom restaurante. – ela apenas fixava seu olhar na comida e parecia esta pensativa demais.

- Você não gostou?

- Sim, é que...   

- O que?

- Nós estamos é um restaurante árabe na França!

- Entendo, desculpe não levar você para um restaurante francês, mas algumas comidas não agradariam seu paladar.

- Mas os doces são bons!

- Não só os doces, mas os queijos, os pães, só acho que de repente não lhe faria bem provar alimentos que você não esta acostumada, digo isso por mim, que senti meu estômago recusar algo que ingeri, prefiro que você comece bem devagar, quando tentar experimentar o exótico.

- Como desejar. – ela parecia bastante desapontada.

Depois do jantar caminhamos um pouco, estava cansado, mas eu precisava sempre esta de olho em Safia e no trabalho, esta viagem acabou me deixando sobrecarregado, busquei me manter tranquilo, ela andava a minha frente uma mão apoiando na pilastra de um poste enquanto um pequeno e timido giro se formou, Safia era apenas uma menina:

- Vamos esta tarde! – dormir seria uma boa ideia, mas antes eu ainda tinha um pequeno compromisso.

- Já? – ela observou mais uma vez o céu e correu em minha direção – pensei que poderiamos ficar mais um pouco.

- Quem sabe amanhã – respirei profundamente pensando em um outro passeio e como ficaria mais uma vez cansado – hoje eu já estou muito cansado.

* * *

Eu gostaria de ter ficado mais, me sentia em liberdade, era boa a sensação, entretanto já estava de volta para minha gaiola para apenas apreciar de longe a vista que a mim era dada, Badi parecia não ligar para o mundo lá fora – ele parecia ter criado um mundo só para ele – mas eu sim, eu queria abraçar todas aquelas sensações, cheiros, as pessoas, as paisagens, enfim tudo o que era novo, exótico ou até estranho que me parecia confiável, infelizmente as grades ainda me deixavam aqui, perdendo todas as coisas boas que o mundo tinha a me oferecer:

- Deveria ir dormir, ficar olhando pela janela, pode fazer mal a sua vista – isso não fazia sentido algum, dei de ombros – Safia, eu disse que seria melhor, você ir dormir! – por que ele precisava agir tão autoritário?

- Não estou com sono.

- Deite-se e o sono chegará.

- Porque eu não posso ficar? Eu não estou atrapalhando ninguém!

- Quantas vezes eu preciso informar você, que precisa me obedecer! – ele estava em pé diante de mim, apesar de querer enfretá-lo, ele parecia alto demais e forte demais, seria uma perca de tempo.

Covarde! Covarde! Covader! Não cansei de repetir mentalemente, mas um dia eu estaria livre dele! E quando este dia chegar eu juro que nunca mais me casarei, Alá esta de prova que eu não queria esse casamento, que eu não estava pronta, eu queria gritar, bater, socar, no entanto eu precisa agir calmamente, chutei minhas roupas pelo chão do banheiro, um pequena cólica sentida me avisava que não podia continuar com esta união, que eu não poderia esconder para sempre este segredo, que um dia esta notícia chegaria a ele, e nosso casamento seria consumado, eu sentia medo, medo por não saber o meu próximo passo, medo por mentir, mas para me proteger eu precisaria ser a criança e não a mulher.

Vesti um pijama limpo, abri a porta bem devagar e observei pelo corredor, eu ainda estava sem sono, talvez tivesse sorte de encontrá-lo dormindo em algum lugar, enfim minha expectativa durou pouco, ele esta ao telefone:

- Você esta se sentindo melhor? – quem seria? – trabalhando como sempre – minhas chances de adivinhar foram diminuídas ao nosso país, ele falava em nosso idioma – quando retornar estarei com você novamente, você me fez falta – quem lhe fazia falta? – não se preocupe, minha viagem foi encurtada, na madrugada de amanhã estarei de volta a Dubai, você é muito importante para mim Naíma...

- Quem?! – ele me ouviu, acabei eu mesma me denunciando, senti pânico ao vê-lo me encarando com aquele olhar frio de sempre.

- Preciso desligar, depois conversaremos – ele pausou – apenas trabalho, até logo.

Voltei para o quarto, o medo estava agarrado a mim e parecia não ir embora, eu queria me esconder debaixo das cobertas, como uma criança fugindo de um monstro em seus pesadelos:

- Nunca mais seja sorrateira!

- Eu não estava espionando você.

- O que você ouviu?

- Nada. – seria melhor fingir que nada havia acontecido.

- Não minta para mim! – ele parecia determinado a sugar qualquer informação.

- Naíma... Porque ela é importante... Para você? – eu tentei pausar ao máximo minhas palavras, evitando gaguejar, ele respirou profundamente e se sentou ao meu lado.

- Ela é minha esposa! – como? Quando? Porque? Ele notou meu choque – ela é a minha primeira esposa – ele se levantou e bagunçou o cabelo – não contei a você por não achar necessário.

- Minha família sabe? – eu estava incrédula.

- Sim!

Senti as primeiras lágrimas cairem, como meu pai pode fazer isso? Por que? Eu sei que nossas leis permitem um homem se casar com mais de uma mulher, mas isso era errado, eu cresci com o meu pai apenas desejando o amor de minha mãe, agora me vi presa em um grande labirinto, longe das pessoas que eu amo, presa a um homem que sabe lá o que ele planejou para mim:

- Safia, não chore, seja compreensiva.

Eu não queria escutar, eu estava em choque, me vinham lembranças em minha mente, do por que dele sempre demorar a me ver – não que isso fosse preocupante – mas significava que ele estava com Naíma, a primeira e mais importante esposa:

- Você tem outras esposas? – eu precisava saber.

- Eu só tenho você e Naíma. – ele beijou o topo da minha cabeça.

O sono sequer apareceu esta noite, Badi parecia sentir o mesmo, ele me aninhou em seus braços buscando me confortar, ele mexia em meus cabelos e embora eu quisesse mantê-lo bem longe de mim, eu queria receber aquele carinho, ele era um estranho e ao mesmo tempo minha única família nesta momento.


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Notas finais do capítulo

notícia chocante essa que Safia recebeu, hein?



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