A Serpente escrita por Heva Paula


Capítulo 11
Capítulo 11 - Férias


Notas iniciais do capítulo

A distância pode criar novos sentimentos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/140347/chapter/11

Relembrar o quanto eu senti falta de correr com Rafiq por aquelas ruelas, de gargalhar com Ranya e mamãe na cozinha, e conversar com papai em seu ateliê:

- Agora você cuida de muitos corações? – eu observei o coração de diamente que Badi havia colocado em meu bracelete.

- Badi ficou enciumado pelo fato de que eu carregava o seu coração comigo.

- Você tem sorte de ter um marido como o seu.

- É. – eu não sabia o que dizer, meus sentimentos por Badi estava causando bastante confusão para minha cabeça.

- Querida, apenas respire e deixe seus sentimentos lhe indicarem a direção.

- Meus sentimentos estão confusos. – apoiei minha cabeça em minhas mãos.

- Sua mente esta em conflito, a razão e a emoção estão em uma grande batalha, mas lembre-se haja o que houver, seu coração indicará a direção. – ele beijou o topo da minha cabeça.

- Agir com o coração não significa que eu estou sendo imatura?

- Às vezes escutar seu coração é a unica forma de agir com maturidade, você sabe muito bem que a nossa cultura pode ser rígida, mas não usamos armaduras, existe sangue correndo em nossas veias, nós sentimos fome, choramos e amamos, eu protejo minha família não apenas por um dever, mas por que amo cada um de vocês, entenda isso e verá que não estou errado.

- Eu apenas queria ser livre.

- E isso não é liberdade? Agradeça pelo marido que tem, por ele respeitar você, eu gostaria que você enxergasse que ele esta colocando o mundo aos seus pés.

- Isso aqui é passageiro. – me levantei e comecei a mexer em algumas peças pré moldadas – e... Badi não é tão respeitoso assim... – meu pai me lançou um olhar duvidoso.

- Ele violou as leis?

- Ele me beijou. – senti um suspiro de alívio.

- Safia, você é muito bonita, uma jovem muito bonita, talvez tenha sido dificil para ele.

- Badi tem outra esposa! – não entendia o motivo de sentir um aperto em meu coração, deixei minhas lágrimas cairem, eu precisa senti-las talvez o alívio chegasse.

- Querida! – meu pai me abraçou forte – não chore, não se magoe com o que você não conhece.

- Esta sendo difícil.

- Esqueça, apague este tipo de sentimento.

- SAFIA! – Rafiq me chamava ao longe – preciso lhe mostra algo, venha depressa! – enxuguei minhas lágrimas o mais depressa possível.

- O que você tem para mim?

- Vamos a loja do senhor Aanisan, ele trouxe mahmoul, vamos.

- Que saudade de comer mahmoul, vamos agora. – meu pai apenas piscou e sorriu para mim.

Rafiq era um bom irmão, ele sabia da minha paixão por doces, dividir comigo era especial para ele, meu irmãozinho era mais que especial, ele era meu melhor amigo nem nossa diferença de idade – pois eu era três anos mais velhas que ele – Rafiq me fazia muito bem, nós gostavamos de olhar as mercadorias perto de nossa casa, olhavamos tudo e imaginavamos quanto tempo teriamos que economizar para comprar:

- Você não precisa economizar, seu marido é rico, pode comprar a rua inteira.

- Hum... - sempre tinha alguém para me lembrar que eu sou casada – economizar não é tão ruim assim.

- Fale por você, um dia eu vou ser tão rico quanto Badi.

Final de tarde, os poucos raios de sol ainda iluminavam a rua, porém as frestas de luz estavam se dissipando:

- Safia! – uma voz doce e calma me chamava.

- Sim.

Me deparei com uma bela mulher, apesar da palidez que apresentava em seu rosto, fiquei sem ar diante de sua beleza, olhos marcados, um belo vestido, um lenço de seda cor de pérola em volta dos cabelos, ostentava uma bela gargantilha em ouro, seus traços tão suaves me faziam crêr que uma mulher como essa parecia um anjo, não consegui pronunciar nenhuma palavra, quem era essa mulher tão bonita que me conhecia? Ela se movimentou lentamente do carro onde estava, então eu pude ver o pequeno simbolo dos hotéis de Badi gravado na porta:

- Quem... é você? – segurei a mão de Rafiq com força.

- Jovenzinho vá para sua casa, tenho algo para falar com Safia. – Rafiq afrouxou sua mão da minha, e correu como se fugisse de um demônio – Há muito tempo que estou ansiando por esse encontro.

- Eu não conheço você. – ela sorriu, mas seus olhos pareciam queimar minha pele.

- Eu sou a primeira esposa. – foi um choque ouvir aquelas palavras.

- O que deseja?

- Meu desejo? – ela sorriu mais uma vez, foi amedrontador – sua morte lentamente. – o que estava acontecendo?

- Mas o que eu fiz? – minha voz parecia fraca.

- Você ousou entrar na minha vida, você é a serpente que veio envenenar meu casamento, você é o meu tormento! – ela falava tão serenamente.

- Mas eu não fiz nada. – conforme eu piscava as lágrimas iam caindo feito cascatas.

- Você faz Badi se punir, você faz ele sofrer enquanto dorme, ele repetir seu nome em minha presença, estou conhecendo você agora, mas sua presença sempre esteve em minha casa, em minha cama.

- Volto a repetir, eu não fiz nada.

- Não fez? Mas quero que faça algo, quanto você quer para sumir de nossas vidas? Para desaparecer no deserto?

- Você conhece nosso marido – ela estremeceu – você sabe que ele me caçaria feito um leão faminto.

- Pode ser, mas eu o faria esquecer rápido de sua imagem leviana.

- Pare de me defamar! Eu não lhe dei esse direito, se você esta se sentindo ameaçada, não sinta, não vou brigar pelo amor de Badi, se quer fazer isso brigue sozinha! – não sei de onde reunir forças para falar o que falei, mas dei as costas e continuei a caminhar.

- Badi quer apenas um filho, ele não ama você! – filho? – ele vai largar você depois que conseguir um filho!

Um filho? Porque essas palavras feriram meu coração? Badi pretende que eu lhe dê um filho? Depois ele irá me largar? O carro se foi e eu continuei caminhando lentamente, meu corpo ardia como se um chicote tivesse me atravessado:

- Safia?! O que esta havendo? – minha mãe falava comigo, mas minha voz não existia mais – por Ála nossas preces foram atendidas! Safia seu sangue!!! – uma onda de pânico preencheu mais ainda minha dor, eu senti que algo escorria lentamente em minha perna formando uma pequena mancha em vermelho no chão.

- Safia você se tornou uma mulher!!! Somos tão abençoados, você é abençoada! – abençoada? Ranya estava tão errada.

- Querida você esta bem?

- Estou um pouco tonta. – como não ficar? Eu queria cavar um buraco e me enterrar.

- Venha querida, vou preparar um banho quente, e um chá para você. – Ranya sorria e saltitava a todo momento, minha querida irmã, eu havia roubado seu pretende, mas o futuro lhe guardava um presente, o noivo de Ranya a fazia sorrir só de esperar pelo seu casamento dentro de um mês.

Sozinha naquela banheira, minhas lágrimas jorraram feito uma cachoeira, eu tentei engolir meus gritos de indignação, chorei baixinho, chorei para mim mesma, para minha dor, eu queria morrer, mas sabia que estava longe disso, Badi me largaria? Badi apenas queria um filho? Badi não sentia nada por mim? Porque eu estava me perguntando isso? Eu não desejava o amor do meu marido, eu apenas desejava ser livre, mas minha gaiola estava se tornando confortável demais para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pobre Safia!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Serpente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.