A Serpente escrita por Heva Paula


Capítulo 10
Capítulo 10 - União




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Quinze dias!

Era muito estranho, nunca pensei que ele ficaria longe por tantos dias, isso não era comum, Badi não era o marido que estava todos os dias a me visitar, entretanto ele não costumava demorar tanto, queria entender a ansiedade que eu estava sentindo, não era de costume sua ausência me preocupar, talvez fosse nossa despedida, calorosa e insignificante para ambos, sempre tentei reagir como se seu jogo de sedução não me afetasse, meu marido não era como os outros homens dos Emirados, sua beleza, seu charme, seu poder, tudo isso em conjunto formavam uma arma letal, que atravessava minha alma, que me fazia tremer cada vez que sua respiração forte tocava meu rosto, porém meu ânseio por liberdade chegava a ser minha força para não me permitir ser vencida nesta batalha.

Não nos falamos sequer uma vez, ao menos ele havia me liberado para fazer pequenos passeios na companhia de Ester e seus seguranças e motorista particular, toda essa pompa chegava a me assustar, para alguém que foi acostumada a correr livrer pelas estreitas ruelas de minha cidade, algo assim parecia muito impactante, tentei absorver e fingir não me incomodar, embora esta liberdade que Badi me proporcionava não chegava a ser algo desejado por mim, ele agia como se conseguisse adivinhar meu pensamento, como se soubesse que a qualquer momento eu pudesse fugir.

Minhas cartas para Rafiq apenas se acumularam em minha gaveta, soube que Abdul não fazia mais entregas para Ester do mercado, foi desanimador, procurei me entreter, ler livros, observar além do horizonte os grandes prédios, entretanto dançar era animador, meu corpo reagia a música me dominava, minutos que transformavam minha mente que me fazia esquecer tudo.

- Perfeita? – seus olhos em chamas percorriam meu corpo, fazendo com que eu  me sentisse muito envergonhada.

- Desculpe. – minhas buchechas queimavam.

- Por que se desculpa? Você realmente me surpreendeu, não sabia de seu talento para dança.

- Não esperava por você. – tentei me recompor, eu não usava o típico traje de dançarina do ventre, mas meu vestido possuía fendas que faziam minhas pernas ficarem à mostra.

- Um erro, você deve sempre esperar pelo seu marido

- Desculpe.

* * *

Seu olhar e o rubor em sua face me deixava em êxtase, eu queria tê-la em minha cama e possuir seu corpo mesmo, definitivamente eu estava doente, ela era uma maldição, quando Safia deixaria de ser meu pecado? Quando ela simplesmente deixaria de ser parte dos meus sonhos, de ser o meu desejo, percebi que esses dias longe não mudaram os estimulos que ela ainda continuava a produzir em meu corpo.

- Eu quero você, eu quero você agora.

- Por que diz isso? – Safia estava amedrontada.

- Você é a minha doença – eu a peguei bruscamente – você não entende o quanto esta sendo difícil, eu quero odiar você. – eu falava por entre os dentes.

- Por que diz isso?

Simplesmente odiar Safia era tudo o que eu precisava, meus ultimas dias pareceram infernais, Naíma deixou de ser minha adorada amante para virar uma mera sombra todas às vezes que a levei para cama, não era ela que eu sentia gemer em meus braços, era Safia que me beijava, que delirava e que adormecia em meus braços, eu estava insano, meu distanciamento foi minha única alternativa.

- Saia daqui, saia agora!

Cai ajoelhado no chão, minha respiração estava pesada, me senti inquieto, pedi para Ála me afastar desses pensamentos, embora minhas suplicas jamais foram atendidas, arranquei o cinto de minhas calças e mais uma vez me dei a minha dose de dor, eu não pensar em Safia, não como eu pensava, de uma forma mundana, errada, doentia, minhas roupas escondiam as marcas que eu estava carregando há alguns dias, tentei me recompor, respirar, caminhei em circulos algumas vezes, observei todo o cômodo e por impulso comecei a abrir portas e gavetas até me deparar com uma porção de envelopes, Safia parecia escrever muito:

Rafiq,

Sinto sua falta querido irmão,

Você não entende o quanto eu gostaria de ser livre, para correr com você por aquelas ruelas de nossa cidade, eu estou infeliz, principalmente por saber que essas cartas não irão chegar em suas mãos.

Eu estou sozinha e triste demais por aqui, não se importe com as minhas lágrimas, são tolas assim como eu, sinto sua falta.

Com carinho de sua irmã Safia.

Safia estava infeliz? Nunca me senti tão engando, peguei os outros envelopes e sempre encontrei as mesmas palavras “infeliz, triste, sozinha, liberdade” Safia era meu diamante, minha esposa, e sinceramente eu nunca me fiz notar sua infelicidade, sempre pensei que seu jeito, seu olhar distante era apenas uma situação passageira, eu estava me enganando, eu poderia fazer Safia feliz? Eu tentaria!

* * *

Nunca me senti tão apreensiva, ele estava trancado a longos minutos, eu desejava que ele fosse embora, que ele demorasse em voltar, a maneira como ele me olhou mostrava apenas o fogo que jamais se apagaria em seu corpo, eu escutei passos pesados descendo pelas escadas, me levantei e não sabia como reagir, se devia encaralo ou não?

- Safia! Venha, vou levá-la comigo.

- Para onde? Vou precisar trocar de roupa? Levar alguma coisa?

- Para onde você vai não precisa de nada. – ele parecia tão frio.

Dentro do carro, ele não pronunciou nenhuma palavra, quando avistei as formas do labirinto que ermegiam no deserto, um gemido amedrontado escapou de minha garganta, eu conhecia aquela paisagem, era minha cidade, minha família estava ali, eu havia deixado minha alma naquele lugar, mas infelizmente eu não enxergava a felicidade, algo estava errado! Eu me sentia como um animal acoado, o que estava para acontecer? Quando chegamos próximo o suficiente da rua onde minha casa ficava senti um tremor percorrer minha espinha, minhas mãos estavam geladas, eu suava como se estivesse dentro de forno, Badi continuava caminhando silênciosamente, entrar novamente em minha casa era a realização de um sonho noturno, mas porque eu não me sentia feliz?

- Safia! – mamãe me avistou ao longe.

- Safia! Querida! – papai correu em minha direção.

- Senti saudades! – eu os abracei, mas tentei conter as lágrimas.

- Badi, como vai? – meu pai me observou o bastante para perceber que havia algo errado.

- Muito bem – sua expressão gelada – como você esta Nabih?

- Me sentindo muito bem, principalmente por receber sua visita e de minha filha – ele me apertou forte em seus braços – poderia ter me avisado, eu teria preparado uma festa!

- Não será necessário, eu já estou de saída.

- Como?

- Vim apenas lhe entregar Safia. – ele desistindo de mim? O ar de meus pulmões desapareceram.

- Por Ála o que Safia lhe fez? – meu pai parecia transtornado.

- Nada.

- Badi vamos conversar e nos entender.

- Nabih, eu estou lhe entregando Safia – suas palavras eram tão duras – cuide do meu diamante, voltarei em quinze dias.

- Como? – minhas pernas perderam a força, me agarrei forte ao meu pai.

- Safia ficará em seus cuidados durante quinze dias, eu preciso viajar, e não quero que ela se sinta sozinha, acredito que a presença da família lhe fará bem.

- Entendo. – meu pai parecia alíviado, assim como eu também me sentia assim – ficarei feliz em ter a minha filha ao meu lado por alguns dias.

- Pode me dar um minuto para me despedir de Safia?

- Ela é sua esposa, te darei todas as horas do dia. – seus braços afrouxaram do meu corpo.

- Porque? – eu não entendia.

- Você precisa da sua família, eu apenas quero vê-la feliz. – ele me abraçou e eu inalei seu perfume, minhas mãos se agarraram em seu corpo, como se ele fosse unico meu salvador, minha unica esperança de sobreviver – quinze dias, e eu estarei de volta. – seus pareciam não querer me largar também.

- Prometa que irá voltar! – porque eu dizia essas palavras, suas mãos tocaram meu rosto me levando a encará-lo.

- Uma vez eu pus meus olhos em você, e eu prometi a mim mesmo que teria de ter você para mim – seu rosto parecia tranquilo – eu só quero vê-la feliz, e quero muito um dia ser o motivo do seu sorriso.

Seus lábios tocaram meu rosto, impulsivamente meus lábios capturaram os seus, eu queria aquele beijo, eu queria que suas mãos continuasse a percorre meu corpo, porque eu me sentia aliviada? Porque eu me sentia em êxtase?

- Não me faça desistir de deixá-la aqui. – eu não pude deixar de  sorrir com suas palavras.


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