Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 6
Capítulo 6 - Susto


Notas iniciais do capítulo

Mais uum. *---*



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Caminhando pelo saguão do hotel, acabei encontrando a noiva do meu pai, Cristina. Ela era atraente do ponto de vista físico, com os cabelos ruivos curtos e o corpo levemente rechonchudo. Possuía uns 10 anos a menos que meu pai, havia feito faculdade de Gastronomia, pois acreditava que isso a ajudaria a encontrar um bom marido e realizar a única coisa que ela realmente queria ser, dona de casa. Não que isso fosse ruim, mas o fato dela ter procurado um cara casado pra construir a própria família destruindo outra fazia com que eu a desprezasse. Ela tinha um ar de pessoa boazinha, mas nós nos detestávamos. Ela por talvez pensar que seu futuro marido ter filhos e um antigo casamento estragava seu sonho de família feliz. E eu por achar que ela estava roubando o pouco do pai que me restava.

– Onde você estava? – ela disse arrogante.

– Na praia. Dã. – levantei minhas cadeiras e minha sacola e ela revirou os olhos.

– Seu pai está te procurando.

– E onde ele está? – ela me encarou por mais alguns segundos, mas acabou apontando na direção do bar do hotel. Dei um acenosinho antipático enquanto me arrastava e fui até lá. O bar que meu pai estava era o da área fechada, não o outro que dava de frente para o mar. Ele tomava um suco provavelmente com tônica, debruçado no balcão, enquanto conversava com o garçom. Podia imaginar sua voz polida e animada, sempre simpático e caloroso, como um bom corretor de imóveis que ele era. Parei ao lado dele. – Chamou?

– Sim. – ele sorriu um pouco. – Se divertiu na praia hoje?

– Arran.

– Isso é bom... – Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns segundos. Impaciente, resolvi quebrar o silêncio.

– Pai, porque não fala logo o que tem a dizer?

– Certo. – ele respirou fundo. Como sempre fazia quando iria dizer algo que me aborreceria. – Queria saber se você se importaria se eu fosse jantar com a Cristina no restaurante no centro da cidade.

– Só vocês dois?

– É.

Eu ia protestar, falando que me importava. O que era meio que verdade, mas eu já estava começando a me acostumar em ser deixada em segundo plano. Não que eu e meu pai fossemos melhores amigos antes de Cristina. Muito pelo contrário, dividíamos uma gigantesca casa, preenchida por nossos silêncios e mágoas, uma acerta aversão ao contato verbal e físico e tínhamos ainda um monte de palavras não ditas um para outro para dificultar ainda mais nossa relação. Eu sentia raiva do meu pai pela sua infidelidade nos tempos de casamento com a minha mãe, mas não podia deixar de querê-lo bem. Ele por outro lado não tinha coragem de tentar me explicar os motivos que o levaram a cometer tal erro e muito menos conseguia falar o nome da minha mãe por perto. Era sempre ‘sua mãe ligou’, ‘sua mãe mandou você ligar’, ‘sua mãe não ia gostar disso’. Sempre colocando aquele sua na frente, como para me lembrar que ela existia, mas pertencia somente a mim. Que seu casamento com ele era uma coisa que ele sequer gostava se lembrar, como se o nome de minha mãe fosse o suficiente para ofendê-lo. Respirei fundo, pensando os prós e contras do meu pai ir jantar fora. Os prós venceram. Então, sorri cansada para meu pai, pensando que ele jantar fora seria melhor do que aguentar duas refeições seguidas com Cristina.

– Tudo bem, pode ir.

– Obrigado. – ele sorriu bem mais animado, não sorri de volta dessa vez. – Você tem certeza? Não quero te deixar sozinha e...

– Pai. Eu adoro ficar sozinha. Não se importe.

– Devia ter convidado alguma amiga pra vir com você, assim não ficaria tão sozinha.

– Elas foram viajar com as mães... – Meu pai fez uma careta. Eu também. Fazia alguns dias que eu não ligava para minha mãe e meu pai sabia disso. Ele se importava por eu não passar tanto tempo com ela, mas eu não ligava tanto assim. Procurei deixá-lo mais a vontade, dando um tapinha de leve em seu braço. – Não se preocupe. Estou ótima. É sério.

– Então tudo bem. Vou trazer algo do centro pra você.

– Perfeito. – sorri para ele, que esfregou meu braço em um gesto de carinho raro. Acabei ficando sem graça e procurei escapar. – Hãn, vou subir para tomar um banho e guardar essas coisas, certo?

– Espera. Toma o dinheiro pro seu jantar, já que sei que não gosta da comida do hotel. – ele me esticou algumas notas, que eu apertei entre meus dedos suados. – Carlos está aí, vá jantar com ele.

Carlos era o irmão mais novo de Cristina. Era um moreno com cachos, o que sempre me fazia crer que Cristina pintava os cabelos e havia feito permanente. Só isso explicava os cabelos tão ruivos e lisos. Enfim, ele era alto, tinha 22 anos e era quase tão insuportável quanto a irmã. Possuía verdadeiro prazer em me provocar e acompanhar meus passos, como se me monitorar agradaria de alguma forma meu pai e o tornaria mais generoso.

– Não, obrigada. Eu me viro.

– Nada de sair por aí a noite sozinha.

– Pai... Por favor, né? Sou bem grandinha já. Bom jantar pra você.

– Obrigado. – virei as costas e subi pelo elevador calmamente. Parei em frente a porta marrom do meu quarto e não pude deixar de olhar para a porta ao lado. Balancei a cabeça em desaprovação, meio confusa e mexida pelo encontro da praia girando a maçaneta. O quarto estava bem organizado, uma coisa bem rara para uma garota desorganizada como eu. Então para mudar um pouco, joguei as sacolas na cama e caminhei para a minúscula varanda que tinha, deixando meus chinelos cheios de areia para trás. Dando de cara com a vista das palmeiras e uma piscina própria do hotel. Olhei para o lado.

Havia outra varanda igualmente minúscula, idêntica a minha em muitos aspectos. O espaço que separava a minha varanda daquela era razoavelmente pequeno. Imaginei o tal de Igor no quarto ao lado. Sabia que há essa hora ele ainda estaria na praia, curtindo as últimas ondas, já que começava a escurecer. Olhando mais uma vez a varanda, tive a certeza que não me livraria tão fácil dele. Em outros tempos, eu esqueceria aquele episódio. Ele meio que me recusara de uma forma educada, mas eu não queria me envolver com alguém neste lugar, mesmo que fosse só amigavelmente. Não era boa com qualquer tipo de relacionamento. Meu status de relacionamento era sempre: não existe relacionamento. Mesmo com as minhas ‘amigas’, era algo muito superficial. Fazíamos trabalhos da escola juntas, íamos a praia, trocávamos SMS sobre garotos novos, filmes novos e cd’s novos, mas frequentemente eu trocava elas para ficar sozinha com meu skate, que ganhei aos 13 anos do meu pai, quando implorei muito por isso. Depois de dezenas de tombos, eu era razoavelmente boa com minha prancha do asfalto.

Bem, eu sabia que eu devia fazer amigos, já que eu era até uma pessoa comunicativa, mas não conseguia evoluir para algo mais íntimo. Não tinha amigos de infância, não tinha uma melhor amiga ou melhor amigo. E isso meio que fazia falta... Suspirei, sentindo o calor me sufocar um pouco, mesmo não estando tão quente quanto de tarde. Voltei ao quarto, tomando um banho frio.

Saí bem mais relaxa e despreocupada depois do banho super frio e relaxante, e da minha cantoria rotineira. Eu gostava de cantar no banho, como uma boa adolescente feliz. Era divertido, principalmente quando a água era fria e eu tremia de leve enquanto cantava alguma música que possuía muitos gritos e screamos. Enrolada na toalha felpuda e branca do hotel, fui até a minha mala, que eu não desfizera, e com preguiça de vasculhar algo para vestir, peguei apenas um vestidinho, meio arroxeado que marcava bem minha cintura, era um vestido de verão, alegre e leve que ia até um pouco acima dos joelhos. Coloquei uma sandália preta nos pés. E decidi descer para comer alguma coisa.

Entrei no elevador, e acabei dando de cara com o garoto que havia dito ‘hey’ para mim enquanto jogava vôlei. Como havia umas cinco pessoas junto conosco no elevador ele se limitou a sorrir para mim, um sorriso malicioso que acabou me deixando vermelha. Ele era bonito; estatura mediana, meio magro, com dois enormes olhos azuis. Feito bolinhas de gude. Sem graça com o contato visual ininterrupto, desviei olhar. Quando a porta do elevador se abriu, eu saí dele rapidamente. Pensando em deixar o carinha de elevador para trás. Mas não pude me conter, acabei olhando para trás. Uma garota o tinha parado logo na frente do elevador, abraçada a sua cintura. Mas ele ainda olhava para mim. Típico galinha.

Andei pelo hall, com o dinheiro para meu futuro jantar, que seria algum lanche por aí, na minha bolsinha de lado. Sem saber o que fazer, resolvi dar uma volta. Caminhei pela rua, próxima a praia, andando devagar. Minhas sandálias fazendo um barulho conhecido aos meus pés. Observando como só parecia ter casais no caminho. É dia dos namorados e eu não estou sabendo? Estamos em pleno novembro!

 Quando cheguei em uma rua razoavelmente vazia comecei a sentir passos atrás de mim. Gelei na hora, odiava a sensação de ser seguida. Apressei o passo, sentindo um frio terrível na espinha. Querendo encontrar logo alguém. Não me atrevi a olhar para trás, mas comecei a sentir uma espécie pânico crescente. Me controlei para não correr, até que senti os passos ainda mais rápidos, meu perseguidor estava a poucos passos de mim. Então, sem poder me conter, comecei a correr. Senti que a pessoa atrás de mim começava a correr também. Uma mão me girou, me puxando para uma parede e me prensando nela. Soltei um grito agudo.

– Bu! – Uma voz gritou junto comigo e depois desatou numa risada escandalosa. Respirei fundo de alívio, sentindo meu coração socar entre minhas costelas, apertando os braços e controlando o susto, a mão no coração. Depois comecei a sentir raiva e dei tapas a torto e a direito sobre a figura a minha frente. Até ele se encolher, ainda rindo.

– Seu idiota! – Igor ainda ria, esfregando o braço onde eu tinha batido. – Quer me matar de susto?

– Sua cara foi hilária!

– Não foi hilária. Eu poderia ter morrido! E se eu tivesse morrido, você também estaria morto. Porque eu iria te matar!– O que foi que eu acabei de dizer mesmo? Que droga sem sentido... Mas isso foi um incentivo, já que ele começou a rir ainda mais. Raivosa, esperei ele parar de rir:

– Para de ser melodramática. Você só se assustou um pouquinho... – Então ele fez uma careta de pânico, bizarra e engraçada, seus traços se contorcendo numa falsa imitação de medo, talvez tentando me imitar. Acabei soltando uma risadinha e bati novamente no braço dele.

Estúpido. – cambaleei, recomeçando a andar. Ele começou a andar na minha frente, ainda soltando risadinhas. Maldito! Realmente me assustou... – Porque estava me seguindo?

– Eu não estava te seguindo...

– Imagina!

– Certo. Eu apenas vi você saindo do hotel sozinha e vim perguntar se você gostaria de companhia. Isso não é seguir.

– Se eu disser que não quero companhia, você vai ir embora?

– No. – ele me cutucou com o cotovelo e eu revirei os olhos.

– Você gosta de ser chutado, é isso?

– Claro que não! Só que o difícil me atrai. – ele começou a andar a minha frente, virado na minha direção.

– Você não desiste fácil, não é?

– Não. – Finalmente chegamos a uma rua mais movimentada. As pessoas passavam e algumas nos notavam, sorrindo. Os casais se dispersavam entre a rua em que havia uns 5 restaurantes/lanchonetes. Paramos, ele me encarando. Esperando o que eu iria dizer. Suspirei, derrotada:

– Certo. Vamos comer! Que tal o...

– Mc Donalds?

– Você aprende rápido. – Mordi o lábio e ele me puxou para uma loja de fast food. Segurando minha mão. Lá estávamos, mais um casal no estranho dia dos namorados. Em pleno novembro!



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