Meu Querido Cunhado escrita por Janine Moraes


Capítulo 5
Capítulo 5 - Amigo 'golfinho'


Notas iniciais do capítulo

Nota da Autora: A partir de agora é em como eles se conheceram e como chegaram aonde estão agora.



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Arrumei minha cadeira de praia nova; firmando seus pés com firmeza na areia. Totalmente desajeitada coloquei minha bolsa e sacolas na cadeira ao lado, igualmente firmada no chão. Ajeitei me na cadeira e me estiquei, satisfeita com a brisa gostosa do fim de tarde no rosto. O sol havia abrandado e o céu tinha a coloração de um azul anil calmante, as nuvens passavam devagarzinho como que dançando sobre o céu e o mar parecia sorrir para mim.

Eu estava de férias com meu pai, sua namorada e o irmão dela. Eles decidiram vir para a praia, bem longe da capital, para passar o Ano Novo então estávamos hospedados em um hotel. Um hotel bem legal na verdade, novo, com um bom atendimento e com grande movimentação de turistas. Olhei para frente, avistando o surfista que eu tinha visto mais cedo. Ele se equilibrava com facilidade entre ondas numa intimidade assustadora. O invejei, não gostava de entrar no mar. Gostava de senti-lo em minhas canelas, seu cheiro e adorava olhá-lo. Mas morria de medo de mergulhar naquela imensidão azul, aparentando muitas vezes fúria, como se me convidasse para me perder lá dentro. E eu tinha pavor de me afogar. Evitava piscina e o mar, então? Inimigo, mas ao mesmo tempo amigo querido e conhecido.

Pra ser sincera, a única coisa com grande concentração de água que eu encarava era a banheira, adorava minha banheira. Talvez eu só tivesse medo das ondas e em como elas arrastavam tudo por perto. Convidando-os devagarzinho para embarcar dentro do mar. Assim como aquele surfista. Comecei a observá-lo por distração, apenas. Só distração... Não o olhava porque ele parecia maravilhosamente lindo e atlético. É claro que não! O olhava porque ele surfava bem. Bem demais! Depois de algum tempo me ‘distraindo’ acabei sentindo fome e fui vasculhar minha bolsa. Abrindo nada mais nada menos que... Um lanche do Mc Donalds. Eu sabia que era porcaria, fazia um mal tremendo para a saúde, eu até gostava de salada, sempre comia verduras desde pequena. Mas; céus, não resistia a um bom lanche do Mc Donalds! Eu parecia uma caipira da cidade, no meio da praia com minha caixinha do...

– Mc Lanche Feliz? – Uma voz rouca disse acima de mim. Dei um pulo na cadeira. Olhei para cima, dando de cara com o garoto da prancha. Ele respondeu a pergunta em meus olhos de forma rápida, como se realmente soubesse o que eu estava pensando. – Você estava sozinha e seus olhos pareciam me chamar, então... Aqui estou eu.

– Meus olhos te chamando? – controlei uma risada. Começamos bem nosso contato, pensei. Uma cantada desse calibre? Uau. Me apaixonei. – Nossa, cara... Essa foi realmente péssima.

– Tem razão. – ele fez uma careta momentânea, mas sorriu diante da minha sinceridade. Ainda molhado; e céus, como ele estava bem só de sunga. Firmou a prancha no chão ao lado da outra cadeira, tirou minhas bolsas e sacolas e colocou no chão e sentou-se ao meu lado. Olhando o mar...

– Ei, essa cadeira é minha. – reclamei, ele sorriu luminosamente, se ajeitando na cadeira.

– Eu sei, não achei que você se importaria.

– Mas eu me importo.

– É só um pouco, para eu pensar.

– Pensar em que?

– Numa cantada boa o suficiente para te convencer a ficar comigo. – ele inclinou a cabeça, olhando em minha direção.

– Entre as duas cantadas, escolho a primeira.

– Isso é um sim?

– Não... Isso é um: cale a boca e volte para o mar, amigo golfinho. – ele soltou uma risada alta e melodiosa. O encarei, ele continuou largado na cadeira. Eu não podia negar que ele era bonito com seu porte físico atlético; cabelos curtos e castanho-aloirados e sorriso aberto. Sem poder me conter sorri de volta.

– Acho que fui bem estúpido. Podemos começar de novo?

– Depende.

– Do que?

– Vai haver mais cantadas?

– Talvez...

– Então desisto de você. – ele riu novamente, alto e melodicamente, de modo meio estremecido, sacudindo seu corpo e arrepiando-me os pelos da nuca. Que risada gostosa e contagiante, pensei. Não apenas a risada, conclui. Ele riu mais baixinho dessa vez. Vencida pela sua risada, estiquei minha mão. – Meu nome é Malu.

– Igor. – ele apertou minha mão por tempo demais. Até eu puxá-la com um pouco mais de força. – Então... Você vem sempre aqui?

– Eu te dou uma segunda chance e tudo o que você tem é isso?– comecei a rir pela situação e ele me acompanhou.

– Tecnicamente a culpa é sua.

– Hãn?

– Você me deixa nervoso. – O olhei incrédula. Ele era péssimo em matéria de paquerar, verbalmente falando, mas todo seu fascínio estava contido na voz, e nos olhos. Quase não me importei com o que ele falava. Ele podia recitar uma passagem em latim da Bíblia que ele ainda pareceria agradável. Sua presença era agradável. –  Pode crer, é mais estranho pra mim do que pra você.

– Oh... – Ficamos em silêncio e eu sem saber o que fazer. Normalmente eu era bem soltinha, principalmente quando estava semi-interessada em alguém. Eu não era boa com garotos, não no sentido de se relacionar com algo além de um ou dois beijos e longas conversas sobre modelos de skate. Mas agora perto desse cara, simplesmente... Não sabia o que falar.

– Você sabe? – ele me tirou dos meus devaneios.

– O que?

– Surfar...–  disse, apontando mar.

– Eu não sei nem boiar.

– Sério? – ele disse, rindo de leve.

– Arran. O mar parece meio... grande.

– Essa foi uma ótima definição. – ele mordeu o lábio entre os dentes e provavelmente o riso também. Não me deixei abater por sua cara sexy:

– Obrigada. Ah... Ele é assustador também.

– Ele só é assustador de longe, de perto ele é a coisa mais doce do mundo. – O olhei incrédula. Como ele podia achar doce o mar que afundou tantos navios tantos anos atrás? O mesmo mar que engoliu homens inteiros pela suas profundezas, que destruiu embarcações inteiras de viajantes espanhóis, portugueses e ingleses? Eu tinha medo do mar pelas histórias. Pela convivência. Por todo seu esplendor. E por toda a intimidade que possuíamos. Eu cresci com o cheiro salgado do mar no meu nariz. Era e sempre fora a minha vida, vê-lo de longe, seu vento dobrando-me as páginas de um livro desde os 9 anos. E não importa se era aqui no Rio ou do outro lado do mundo. O mar nunca seria doce, sempre teria o doce salgado do sangue, da tristeza, da esperança e da minha infância. Refleti por alguns segundos e acabei sorrindo diante de sua declaração, não era culpa dele se eu era fadada ao medo do mar e a esses pensamentos exagerados e dramáticos, ele tinha sorte de conseguir enfrentá-lo. Arrisquei até uma pequena piadinha:

– Doce não, o mar é salgado. – seu rosto distendeu-se em um meio sorriso.

– Eu poderia te ensinar.

– Esqueça jow, você não ia querer passar vergonha com uma garota de boias no braço no meio do doce mar...

– Você não me conhece. Não sabe do que sou capaz...

– Sério? Tem razão. Você é um desconhecido, eu não deveria falar com você. – Fiz uma cara de assustada, colocando a mão no coração. – Você pode ser um psicopata!

– Não foi isso que eu quis dizer. Ei! Aonde você vai? – levantei da cadeira, pegando minhas sacolas extras, cheias de lixo e fui caminhando cambaleando até uma lixeira perto de onde eu estava sentada. Eu havia dado ao garoto do mar uma chance de me entreter, fora divertido, é claro. Mas não sei... Ele me deixou confusa e senti esse desejo repentino de deixá-lo com seus pensamentos confusos. Pude ver alguns garotos jogando vôlei em um canto. Seus olhares convergiram na minha direção. Um deles, mais corajoso me lançou um alto, sonoro e animado ‘hey’, brindando-me com um sorriso gigantesco. Ignorei-o e seus amigos soltaram risadinhas. Voltei para minha cadeira... Onde o tal de Igor ainda estava sentado, observando meus movimentos. Dobrei a minha cadeira, que graças aos céus dobrava fácil e ficava bem pequena, então delicadamente, com toda a intimidade do mundo empurrei Igor da outra cadeira. Ele caiu na areia e me olhou indignado. Sorri irônica, dobrando a outra cadeira e colocando as duas cadeiras na sacola maior. Peguei minha bolsa de praia e a sacola e comecei a andar, deixando um garoto e uma prancha para trás.

– Ei, espera. Não sabia que você levaria aquela coisa de desconhecido a sério. – ele me alcançou em passos largos. A prancha pendurada no braço, perguntei se ela não seria pesada para ele, mas vendo seus braços... Vi que talvez ela fosse leve. – Você é meio bipolar?

– Na verdade... Sou.

– Bipolaridade é algo super sexy, pode crer. – Me virei para ele, meio que rindo.

– Certo, eu fico com você. – senti que corava pela minha cara de pau. Mas era engraçado testá-lo. Vi que quando eu disse isso ele deu uns dois passos a frente, ficando mais perto. – E você vai ir embora?

– É uma troca? Um beijo seu e tenho que ir embora? – O dedo dele se ergueu, tirando uma mecha de cabelo do meu pescoço. Eu apenas fiquei parada. Sem saber o que fazer. Só conseguia pensar que ele estava perto... Demais. Esperei que ele me beijasse. Eu havia quase esquecido como era sentir os lábios de alguém nos meus. Ele me surpreendeu, mais uma vez. – Se for, recuso. Não poderei cumprir esse trato.

– Então você sempre cumpre promessas?

– Só quando as pessoas valem à pena.

– Ninguém vale a pena. – tirei sua mão da base do meu rosto e sorri desapontada.

– Você acha isso?

– Eu sei disso.

– Pra uma garota nova, você é meio amarga. – É o que dizem. Eu quis dizer, mas me calei. Preferindo outra resposta.

– Você nem sabe minha idade. – Eu disse, dando alguns passos para trás. Na defensiva. Parecia que ele conseguia me ler...

– Tem 15 anos, se chama Malu e gosta de Mc Lanche Feliz. Eu sei até onde você dorme!

– Como?– cruzei os braços desafiadoramente.

– Bem, você tem um quarto de solteiro no hotel, enquanto seu pai e uma mulher ficam uns 4 andares acima. Sua cama deve ser meio parecida com a minha, colchão macio, fronha do travesseiro azul...

– C-como você sabe disso?

– Seu quarto no hotel é do lado do meu. Você fica no numero 11 e eu no 12.

– Como você sabe disso... também? – arregalei os olhos, ainda mais assustada.

– Eu vi você fazendo reserva com seu pai.

– Oh! – Isso fazia mais sentido.

– Então, para seu completo azar, você não vai se livrar de mim tão cedo. Te vejo depois, Maria de Lourdes.– Então ele simplesmente me deixou lá e foi caminhando para o mar. Eu fiquei parada no mesmo lugar, completamente boquiaberta enquanto ele se afastava. Completamente confusa e raivosa, por ele ter dito meu nome em voz alta. Meio assustada, mas surpresa. Se era de um jeito bom ou ruim... Não consegui me decidir. Ele olhou para trás uma vez e pude enxergar seu sorriso torto. Sacudi a cabeça, caminhando para o meu hotel. Que cara estranho! Talvez ele seja mesmo um psicopata. Ou não... Talvez só fosse meio imbecil por conversar comigo e querer repetir a dose.


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Notas finais do capítulo

=D Postei vários capítulos. Queria pedir, por favor, se for possivel... Que comentem em todos. #pidona
BjsBjs