Então toda a minha vida, minhas esperanças, meus sonhos, se esvairam ao mesmo tempo.
           Levantei-me do chão com alguma dificuldade. Sentia minha cabeça girar e todo o meu corpo tremer.
           - Você está bem, Kay? - Steve perguntou, assustado com a minha reação.
           Eu não estava bem.          
           - Estou sim, Steve. Só assustada. - respondi, mentindo. Acho que pela primeira vez na minha vida contei uma mentira que foi realmente convincente – Eu tenho que ir embora.
           - O que? – Steve perguntou, incrédulo – Não Kay, nós temos que ir jantar, comemorar essa noticia!
           - Me desculpe, mas eu vou pra Londres agora.



            Chapter 10 - It's time to know the truth {first part.}

 - Londres?
           - Joanne Steele tem muito a me contar – disse, caminhando em direção a BMW preta. Steve veio correndo atrás de mim, com o rosto sério, como se analisasse a situação em si.
           - Eu vou ligar para o aeroporto e providenciar as passagens. Espero que esteja disponível para viajar em 2 horas. E espero que não se importe em irmos juntos.
           - É claro que não me importo. Como você vai conseguir uma passagem assim, pra daqui a 2 horas?
           - Você vai ver que o sobrenome “Walker” abre muitas portas. Inclusive essas - Steve disse, abaixando-se para ficar no meu nível, já que estava sentada no carro – Eu não esperava essa sua reação, mas eu te entendo. Só quero que entenda que é muito bem vinda a minha família, a minha vida, minha filha.
           Pela primeira vez na minha vida, eu me senti verdadeiramente amada.
           Sorri fracamente para Steve, não tinha cabeça para formular uma resposta adequada agora. Liguei o carro e parti para casa.
           - Opa, já em casa – Amber me cumprimentou assim que coloquei meus pés em casa. Ela estava deitada no sofá da sala, assistindo um programa de culinária.
           - Ei Amm – disse e segui para o meu quarto, indo arrumar minha mala para a viagem.
           - O que você tá fazendo, Kay? – Amber perguntou, vendo-me dobrar algumas peças de roupa e guardar em uma mochila.
           - Amber, eu vou para Londres resolver um problema, você fica aqui sozinha esse final de semana?
           - Fico, mas que problema você tem em Londres?
           - Joanne Steele.
           - O que tem minha mãe, Kylie? – Amm me perguntou, e eu simplesmente ignorei – O QUE TEM MINHA MÃE, KYLIE?! – gritou.
           - Simples, ela mentiu para mim. Durante toda a minha vida! – respondi, com toda a minha raiva transparecendo em cada palavra.
           - Como assim mentiu Kay? – Amber sussurrou, com medo do tom que eu havia falado.
           - Eu não sou filha de Daniel Steele. Meu pai se chama Steven Walker.

           MATT POV.
          
           Eu estava cochilando no meu quarto quando alguém começa a bater compulsivamente na porta. Levantei com raiva e fui atende-la, dando passagem a um  Jimmy esbaforido.
           - Telefone Shadows. Você não atende o seu – Rev disse, tentando voltar a respiração ao normal. Ele devia ter subido os 5 lances de escadas que separam meu quarto do dele correndo. Peguei o celular e atendi.
           - Alô?
           - “Matt, sou eu” – Kylie disse do outro lado da linha.
           - Hey Redhead – disse carinhosamente, tentando identificar onde ela estava. Havia muito barulho de pessoas conversando.
           - “Não posso falar muito. Estou no aeroporto, indo para Londres” – Kay disse, e eu estranhei o tom de voz dela. Parecia muito sério.
           - O que aconteceu?
           - “Steve Walker é meu pai. Fizemos o DNA hoje, estamos indo pra Londres para falar com Joanne”.
           - Por que não me contou que havia feito o DNA, Kay?
           - “Eu ia te ligar, mas foi tudo rápido demais. Quando resolvemos que iriamos faze-lo, foi tarde da noite. Fizemos o exame pela manhã, depois tive que correr para a orquestra. Na hora do almoço eu não consegui falar com você, e só consegui com o Jimmy agora. Me desculpe”
           - No problems. Como você esta?
           - “Eu ainda não sei. Estou sentindo muita raiva, e doí sabe? Saber que minha vida é uma mentira”.
           - Eu sinto muito. Mas acho que é melhor assim.
           - “Concordo. Matt, meu voo tá na primeira chamada”
           - Claro. Tchau, quando eu chegar em Londres te ligo para nos encontrarmos.
           - “Ok. Beijos, e valeu por tudo”

           - O que rolou pra Kay me fazer subir essas escadas todas correndo só pra você atender o telefone? – Jimmy me perguntou,
           - A Kylie é filha do Steve Walker, o novo patrocinador da banda – respondi. REV arregalou os olhos.
           - Eu sabia que aqueles dois tinham alguma coisa em comum – Jimmy disse. Sempre esperto, apesar de toda a babaquice aparente.
           - É, os dois fizeram o exame de DNA hoje e confirmaram. Estão indo para Londres nesse momento.
           - Quer dizer que agora a Kay é 200x mais rica do que nós 5 juntos – Jimmy disse, rindo.
           - Eu só espero que os Walker não tratem mal dela, como os Steele faziam -  disse, sentando na minha cama.
           - Se eles fizerem mal a ela, nós a protegeremos - Rev falou, sentando-se ao meu lado - Afinal, a Kay pertence a nossa família.
          

           Kylie PDV

           O vôo para Londres foi tranquilo. Estavamos sentados confortavelmente em poltronas da primeira classe. Steve dormia tranquilamente ao meu lado, com um pequeno sorriso nos lábios. Meu pai. Era tão estranho pensar que um cara novo como ele tinha uma filha da minha idade. Ele se passaria pelo meu irmão mais velho tranquilamente. E era também estranho ver a felicidade que ele emanava desde que descobrimos que ele é meu pai.
           Ao contrário de Steve, eu não conseguia pregar os olhos, me perguntando como seria minha vida daqui pra frente. Me perguntava se conviver com os Walker iria me modificar de alguma forma.
           - Kay? Não vai dormir nem um pouco, filha? - Steve disse, me tirando tão bruscamente dos meus devaneios que me assustou.
           - Não tenho sono nenhum Steve. - respondi tentando ser amavel.
           - Sei que tudo isso é fresco, mas tenta descançar. - Steve retrucou, passando a mão levemente pelo meu rosto, aquele toque quente do meu pai. Eu poderia me acostumar com isso.
           - Volte a dormir. Eu não estou com sono, nem me sentindo cansada. Mas quando eu me sentir, vou dormir tranquilamente. - respondi sorrindo fracamente - Não se preocupe comigo.
           - Tudo bem então, teimosa. - ele disse, se aconchegando melhor a poltrona - Eu vou dormir.
           - Boa noite. - desejei. Segundos depois percebi que ele tinha apagado em sono profundo.
           E eu me senti sozinha no mundo. De novo. E senti falta do Matt, muita falta.
           40 minutos depois o avião pousou tranquilamente no Aeroporto de Heathrow, em Londres. Steve estava com a cara amassada de tanto dormir, e me xingou quando fiz esse comentário displicente. 
           - Vamos pra minha casa, descançamos e depois vamos lá falar com a Joanne. - Steve disse, com todo o plano já traçado.
           - Não. - disse, sentando-me numa das cadeiras da lanchonete de Heathrow, olhando o cardapio com seriedade - Vou falar com aquela louca agora, assim que comer alguma coisa. Enquanto menos tempo eu ficar em Londres, menos este lugar vai me tragar.
           - Você esta cansada e sem dormir a mais de 24 horas! - Steve protestou, sendo interrompido por uma garçonete. Fizemos nossos pedidos e ele retomou o sermão - Acho que nós deveriamos dar um tempo para sua cabeça esfriar.
           - Eu tive tempo o suficiente, Steve! - reclamei, queria resolver isso logo e voltar para casa - No avião, esqueceu?
           Steve só me olhou, avaliando se o que eu tinha dito era verdade. Por fim, só suspirou fundo, resmungando algo como "adolescentes".
           - HAHAHA! Eu sou quase da sua idade, pai. - disse, dando uma mordida no meu sanduiche que havia acabado de chegar.
           - Você me chamou de pai - Steve disse, os olhos transboradando em lágrimas. Minha aceitação foi tão rapida que eu simplesmente falei, sem perceber.
           - Mas é isso que você é, não é? - perguntei retoricamente. - Se não quiser que eu te chame assim, só me avise por...
           - Cale a boca, Kylie Walker! - ele disse, sorrindo abertamente, limpando algumas lágrimas que tinham teimado em cair dos seus olhos. - Eu quero mais do que tudo.
           Sorri em resposta. Minutos depois estavamos em um carro alugado, indo para Candem Town, onde eu havia crescido. Paramos em frente a uma casa relativamente grande, o gramado muito bem aparado. A única coisa que havia mudado desde a ultima vez que tinha vindo aqui era a cor: antes amarela, hoje verde-claro.
           Quando paramos o carro vi que meu irmão do meio, Chris, estava no quintal, lavando o carro. Sorri ao vê-lo, sentia tanta falta do meu Cheat. Descemos do carro, sem levar as malas, e eu entrei pelo portão como se ainda vivesse naquele lugar. A única coisa que o rosto do meu pai expremia era nostalgia.
           - Hey! Cheat! - gritei o apelido que eu havia dado pro Chris desde quando eramos adolescentes. Ele olhou para todos os lados, até me ver e abrir seu sorriso que era sempre safado.
           - Cherry! - ele gritou, vindo na minha direção. Apesar dele ser um ano mais novo que eu tinha uns bons 20 centimetros a mais. Chris me pegou num abraço apertado, tirando meus pés do chão, e me rodopiando, fazendo nós dois cairmos na grama.
           - Quanto tempo se passou desde a ultima vez que nos vimos? - ele perguntou me ajudando a levantar e depois tirando pedaços de grama do meu cabelo ruivo.
           - 3, 4 anos? - perguntei sem ter certeza.
           - Isso, ou mais. - respondeu, passando a mão sobre meus cabelos, deixando-os bagunçados - O que veio fazer aqui, de ultima hora?
           - Saber a verdade - disse Steve entrando na conversa.
           - Quem é você? - Chris perguntou, olhando de Steve para mim e vice-versa. A semelhança era gritante.
           - Ele é meu pai, Chris - disse, e meu irmão arregalou tanto os olhos que eu achei que iriam cair no chão.