Você ta quente.

Os olhos do meu pai faiscaram de alegria.

E agora? Pensa, pensa, pensa...

- É que eu fiquei muito tempo no banho quente, mãe.

O sorriso do meu pai ficou desconfiado, senti que ele não engoliu essa. Mas deixou quieto.

Pequei uma maçã e sai de lá correndo disfarçadamente, eu faria tudo por isso.

18h37min

Estava na beira do penhasco, com o Erick e a Rebeca esperando o meu avô para nos levar até o lugar onde o meu odioso ritual iria acontecer. E o pior de tudo –além do calor- era que as minhas costas pareciam estar sendo pisoteadas.

- Oi gente, desculpe a demora – disse meu avô surgindo de traz da arvores.

- Finalmente – arfei.

- O Que foi Meg?

- Minhas costas, estão doendo.

- Ai meu deus, já é tarde. Vamos logo.

O Erick passou a empurrar a velha cadeira de rodas do meu avô em quanto o mesmo nos mostrava o caminho que vai acontecer meu ritual.

Paramos em um cemitério abandonado, eu podia ver a neblina e o som de gralhas esperando algum idiota cair na armadilha delas para se alimentarem. Era um lugar muito sombrio, eu estava arrepiada.

- Erick, tire essa pedra grande daí.

Ele obedeceu, e retirou a pedra como se fosse algo de 300 toneladas. Em baixo dela avia um alçapão velho e quebrado, a Rebeca o abriu revelando uma escada cheia de teias de aranha.

- Vamos.

Descemos as escadas e me deparei com algo monstruoso, era um tipo de toca cheia de correntes, e algo me dizia que eu era a que ia ficar acorrentada.

- Desculpe por isso Meg, não tem outra maneira, vai ter que ser acorrentada.

- Ótimo.

- Mais uma coisa – ele tirou um garrafa com um liquido esverdeado do bolço da jaqueta- vai ter que beber isso.

- O que é isso?

- Uma mistura de ervas que vai deixar você fraca e não machucar ninguém.

- Ok.

Peguei dele e abri, quando o liquido tocou a minha boca, ardeu e eu grite, e ouvi o meu avô dizer para eu beber tudo. E o Erick derramou tudo em minha boca.

De repente alguma coisa iluminou o lugar e um feixe da luz da lua invadiu o local, que atingindo. Eu sofria com isso, parecia fogo, eu estava queimando, como a minha lembrança.

Flash back on

Óbito... Lendas... Lua... Cheia... Prata... Maldição... Mito... Queimadura... Manto... Negro...

Essas palavras rodavam em minha mente, me sentia muito irritada, demasiadamente irritada pra falar a verdade, poderosa, e havia algo, que tomava parte de mim e havia calor, não calor não, era mais quente, muito mais, aparecia queimando, eu estava queimando, queimando dolorosamente como as acusadas bruxas antigas... FOGO! Havia fogo, mas onde? Eu não via, só sentia uma tortura pra mim. Estou muito quente, eu estou tremendo, mas por quê? Tirem-me daqui! Tirem-me daqui agora! Por favor, alguém me ajuda! Não me deixem morrer! Onde estão vocês? Também tem algo molhado em minha testa, cheira a hortelã e canela, uma combinação adorável. Um alivio em tanto fogo. Tirem-me daqui! Está escuro! Não me deixem! Eu estou morta? Diga-me, eu estou morta? Eu vou encontrar com a minha avó? Sarah! Pode me ouvir? Vovó, a senhora não me conhece e visse versa, mas me ajude, sou Megan, sua netinha.

Flash back off

Minhas costas doíam muito, tanto que cai no chão, me apoiando nos joelhos e cotovelos.

- Acorrente-a!

Eu gritava e não podia fugir da luz, eu estava presa por correntes. Arqueei minhas costas, eu estava me transformando, doía de mais, senti uma vertigem. Cai, levantei e cai de novo, nessa ordem, varias vezes, parecia uma eternidade. Cai pela ultima vez e vi tudo melhor.

Não tinha ninguém na sala, eles estavam de traz de uma cerca alta, eu não ia conseguir pular, mas me joguei contra aquilo e arrombei. O que eu estava fazendo? Eu estava fora de controle como o poema.

O resto da noite não passou de um borrão.