Crônicas de Sieghart escrita por xGabrielx


Capítulo 17
A Princesa 4 — Insuportável


Notas iniciais do capítulo

Adicionado em: 30/09/14, por volta das 3 da tarde.

Não sei se ficou bom, mas sei que foi um inferno terminar essa parte. Espero que o divertimento para quem lê seja inversamente proporcional ao que eu tive ao escrever tudo isso.

Boa leitura.



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— As reservas de água foram utilizadas sete por cento a mais que o planejado. — observou Gamoloon, olhando para o relatório.

— Ainda estamos na estação de chuva. Não é um problema. — disse Erkor.

— É o quarto mês seguido que os cálculos foram excedidos.

— Nossos dados podem estar ultrapassados... — concluiu, em voz alta Agar. Excepcionalmente competente, mas... chata. — Mas outro levantamento? As pessoas já expressaram incômodo com o excesso de pesquisas.

— Certamente concordarão que o uso de água dos reservatórios é um assunto de grande importância.

— Nosso plano mensal foi divulgado há somente dois dias, e explicitamente informamos pretender diminuir as pesquisas. — disse Terarron. Seus cabelos devem estar chorando pela necessidade de serem aparados. Ou talvez estejam mais tentando devorar sua face...

— A insatisfação era com a natureza dos dados pesquisados, não a frequência. — observou Menarara. — Concordo com Gamoloon. Quanto mais cedo organizarmos o levantamento, melhor será.

— Não pode ter sido somente o clima? — quem perguntava era Perran, um dos Representantes. Um dos mais novos. Bonito. — Este ano tem estado mais quente que o anterior, então o consumo de água não aumentaria naturalmente?

— A temperatura certamente foi levada em conta nos cálculos. — respondeu Lorra, Ministra do Desenvolvimento. Cabelos compridíssimos. Só de imaginar o pesadelo que é cuidar... — Podem observar que o consumo de energia está dentro da margem de erro.

— A frequência das pesquisas definitivamente pesou no desconforto da população. Um momento... — Malar começou a folhear os documentos que estavam em suas mãos. — Dentre as reclamações, “frequência de entrevistas” acumulou vinte e sete por cento dos votos.

— A quantidade de escolhas nesta pesquisa foi livre. — refutou Gamoloon — Pelo menos três outros fatores receberam mais votos.

Não aguento.

— Não digo que não devemos realizar o levantamento, mas nosso método deverá ser... Princesa? — viu?

A mesa era circular. E grande. Certamente maior que cômodos de casas mais simples. Não era de se espantar, já que deveria haver espaço para no mínimo trinta pessoas se sentarem à sua volta.

Tinha me levantado bruscamente, literalmente chutando e derrubando sua cadeira para trás. Poderia ter chamado a atenção de todos com menos, mas não era essa a minha intenção e nem me passou pela cabeça tal ideia.

— Arkaran, Evor! — gritei enquanto me dirigia à porta, dando a volta na mesa — Acompanhem-me. Vamos à residência de que vocês falaram.

Conseguia até sentir os olhos de todos acompanhando meus movimentos. Quando eu, Arka e Evor passamos pela porta, finalmente alguém à mesa se pronunciou.

— O suspeito de espionagem? — primeiro foi um murmúrio. Erkor, talvez? — Mas, Alteza, a discussão...

— Façam sem mim. — falei, olhando de soslaio e a ponto de fechar a porta — Darei suporte ao que a maioria decidir.

Comecei então a andar pelo corredor, em direção ao elevador. Após alguns segundos de silêncio...

— Alteza, está tudo bem? Nessas últimas semanas...

A voz era de Arkaran, Capitã da Guarda Norte. Sua altura e voz e corpo poderiam fazer um desconhecido confundi-la com um homem, mas a aparência de seu rosto era o suficiente para que muitas mulheres com a mesma beleza ficassem satisfeitas consigo mesmas. Ela e Evor tinham quase a mesma altura, e eram chamados de Gigantes da Guarda. “Perto deles, até mesmo a rainha parece uma criança.” Lembrei, divertindo-se com a ideia da frase que uma vez escutara. Uma criança não tem responsabilidades, e junto deles...

— Está. Há algo mais que eu deva saber sobre o suspeito?

Não havia; tudo fora dito na reunião: recentemente surgiram alguns relatos sobre a presença de uma pessoa estranha na cidade, sendo a maioria da região noroeste da cidade. Um grupo de crianças teria decidido seguir o estranho e teriam encontrado a residência que o abrigava. Quando ouviu o relato, teve que se segurar para não rir na frente de todos.

— Cuidado, Guardas. — avisei — Continuem desse jeito e eu substituirei vocês pelas crianças da cidade. Enquanto vocês jogavam cartas elas realizaram com sucesso a maior operação do ano.

— É uma prova de nossa bênção. — respondeu Evor — Mesmo em uma cidade deste tamanho, a enorme maioria das mortes são naturais. Este ano tivemos apenas um assassinato. Outros atos de violência são também quase inexistentes e basicamente todos os conflitos podem ser resolvidos pelo diálogo.

— Evor, não estrague a piada. Vai você, Arka!

— Entendido, Alteza! Provarei meu valor e superarei as crianças! — falou a Capitã.

— Viu? Muito melhor.

— A reunião tão chata assim, Alteza?

Chata? Não. “Chata” não era a palavra certa.

— Sei que não foi próprio de uma rainha sair daquele jeito. Tenho tido alguns problemas e... Acabei agindo de modo indevido. — parei e me virei para os dois que a acompanhavam logo atrás — Peço perdão.

— Sabe o quanto todos nos importamos com você. Se houver algo em que possamos ajudar...

— Não hesitarei em pedir ajuda. — sorri e voltei a andar. Por fim, chegamos ao elevador. Pelo lado exterior, de vidro transparente, era possível ver a parte sul de Taelia. Dentre todos os prédios, o maior era o dos Ministérios. Ainda assim, o tamanho desse nada se comparava com o “Castelo”, onde estávamos.

Logo que entramos no elevador, Evor falou.

— Alteza, não creio que seja muito sábio nos dirigirmos ao local imediatamente.

— Duvido que a pessoa seja um espião. Se for, é um muito ruim para deixar-se notar por tanta gente.

— E se os relatos forem parte do objetivo? Para uma armadilha, talvez.

— De quem? E para quem, aliás? Mesmo que seja para a Guarda, nunca esperariam que eu fosse pessoalmente. De qualquer modo, a casa é habitada, certo? Não há como os donos do lugar não saberem desse “estranho”, então se ele não estiver lá eu mesmo posso adquirir a informação.

— O resto da guarda não ficará feliz.

— Como assim?

— Você está tomando a única ação em meses para si mesma.

— Diga a eles então que é isso que acontece quando deixam crianças fazerem um melhor trabalho que um bando de homens. E quem reclamar será substituído na Guarda pelos filhos.

— ...Assim farei, Alteza. — respondeu Evor, com um leve e quase imperceptível sorriso.

A descida levava por volta de três minutos. A princípio não era muito perceptível, mas pouco a pouco os prédios começavam a chegar mais perto. Quase todos eram diferentes uns dos outros, demonstrando diversas formas de variados estilos que em sua coletividade formavam uma paisagem prazerosa de se observar. Os detalhes eram quase infinitos, mas não sufocavam. Era sempre possível notar algo novo na mesma paisagem, e era sempre algo divertido.

O primeiro andar estava praticamente vazio de pessoas. O motivo era óbvio. Poucos deixariam de comparecer ao Festival. Um mal necessário. ...Se bem que chamar o evento de “mal” talvez fosse algo injusto. Um “bem necessário com mais aspectos ruins do que se desejaria”, talvez fosse uma melhor descrição.

Tudo isso irrelevante, no entanto.

No final das contas, não ocorreu muito no dia. De quê adiantaria pensar nisso tudo? Coisas aconteceram e, como era de se esperar, o tempo passou. Se por qualquer necessidade os eventos tivessem de ser descritos, “mundanos” seria a resposta perfeita. Mundano do tipo que se conta para um conhecido ou amigo, do tipo que se comenta porque por algum motivo veio à mente, ou talvez somente porque é algo talvez interessante a se compartilhar com o outro durante uma conversa ociosa.

Por quê saíra da reunião, afinal? Verdade seja dita, tudo isso acabara sendo tão chato quanto a reunião.

Mas “chato” não era a palavra certa, correto?

A palavra certa...

Irritante?

Não...

A palavra certa?

Insuportável.

Ioreon. Abri a porta logo que senti sua presença. Tinha acabado de levantar, então não tinha me vestido propriamente, mas a camisola que eu usava era dificilmente inapropriada.

— Alteza. — sua reação parecia dizer o contrário. Seus olhos verde-escuros por um momento se arregalaram, e era como se sua voz tivesse suspirando o último ar ao falar. Seu cabelo, naquele tom daqueles das Terras Baixas, uma mistura de preto com verde, estava bem desarrumado. Provavelmente fora acordado para realizar algum dever urgente. Sua roupa, no entanto, era o uniforme dos soldados. Teria ele dormido assim?

— Onde vai?

— Os mestres pediram por certos documentos, e fui buscá-los. — respondeu, levantando umas folhas de papel escurecidas pelo tempo pelas quais passava os dedos nervosamente.

— Você, um mensageiro? Então amanhã choverão facas, suponho?

Ele sorriu:

— Pelo modo como agiam, a previsão de amanhã poderia muito bem ser uma chuva de meteoros. ...Você não saberia de algo...?

Então eles já sabem. Era mesmo hora.

— Que documentos são esses que precisam mandar você buscar?

—Pelo que entendi, não estão digitalizados. E eu aqui, pensando que papel impresso já tinha ficado obsoleto há séculos. — ele forçou outro sorriso.

— Entre. — comecei a andar em direção à escrivania.

— Alteza...?

De novo.

— Talvez os papéis em si contenham alguma informação. Quero vê-los.

— Mas o Conselho...

Me voltei para ele e mirei-o.

— Mas...

— Entre. É uma ordem.

Por fim, ele me seguiu até a sala da escrivania, à esquerda do quarto.

— Vai colocar as folhas contra a luz? — perguntou quando eu me sentei.

— Algo do tipo.

Testei a maioria dos métodos. Iluminação vetorial, difração de Tela, intrometria, os testes de Meron... O conteúdo dos textos não era nada especial. A maior parte, conhecimento comum. Alguns trechos continham informações restritas, mas isso também poderia ser encontrado em outros lugares.

— Os mestres se decepcionarão. — comentei.

— ...nada?

Comecei a reorganizar as folhas.

— A não ser que eles planejem usar alguma mágica de larga escala, eles não verão nada a mais do que eu vi. Um monte de documentos velhos.

— Algo como... Eidomanipulação?

Parei e me virei bruscamente para ele. Nunca eu esperaria por algo do tipo. Se algo estivesse escondido nas folhas, esta certamente poderia ser uma opção, mas por que saltariam tantas outras magias de larga escala, direto para...?

— Está falando sério? Uma Magia Universo? — quais foram suas bases para essa pergunta? Algo tão específico como isso... — O quê você sabe?

— Eu digo se você me responder o quê está acontecendo.

Digo a ele? Os mestres devem ter suas razões para esconder, e ele eventualmente saberá. Se eu contar agora... Mas se eu contar agora, quantos meses ele ficará sob esse peso? Quantos meses ele...

— Alteza...

Terceira vez.

— Esqueceu meu nome?

— ... Como?

— Estou perguntando se lembra o meu nome.

— Eu... nunca poderia esquecer. — virou seu rosto para o lado. Do quê tem medo, Ioreon?

Levantei-me, de frente para ele.

— Diga. Diga meu nome.

— Elear Eleea. — esse tom... Que emoção é essa? É ódio que sente? Asco? O que você sente por mim?!

— “Nunca poderia esquecer”, pois fui eu que matei seu pai, não?

Me olhou nos olhos, e então desviou novamente. Essa expressão de choque... Não esperava que eu dissesse isso? Realmente esperava que eu não soubesse o que você pensa?

— Ele também foi meu pai, Ioreon. Acha que eu não sofro por não ter estado ao lado dele? Acha que todos aqueles anos, eu estava passeando e me divertindo?!

— Alte... — de novo!

Andei em direção a ele. Ele tentou recuar, mas avancei junto até ele dar de costas com a parede, ao lado da porta para o quarto. Com meus braços estendidos, agarrei seus ombros com minhas mãos. Conseguia sentir a sua tensão, os músculos duros e sua respiração pesada.

E eu... Meu coração batia. Eu realmente o sentia batendo, como se quisesse saltar do meu corpo. Não conseguiria me lembrar da última vez que me senti assim. A última vez que faria algo que eu queria. Algo que eu realmente, realmente queria. Finalmente... Quanto tempo eu guardei... isso?

— E você, Ioreon, foi meu irmão, e meu único amigo. — levei minha mão esquerda ao seu rosto, descendo até a nuca. Minha boca chegava justamente à altura de seu pescoço. Com a mão direita eu percorria seus ombros e peito... Conseguia sentir seu cheiro. Ou era perfume? Sempre teve um cheiro bom, mas nem me recordo mais se é o mesmo de todos esses outros anos. Sua pele a tão poucos centímetros de meus lábios... — Você me ama, Ioreon? — Sua respiração pesada, seu coração trabalhando em desespero... E seus cabelos, tão macios... O quê você está pensando? Vai me rejeitar? É isso? Está pensando em como escapar disso, não? — Seja meu...

— Vossa Alteza!... — tapei sua boca com a mão.

Por quê você insiste? Quantas vezes já não disse para... não me chamar assim? Por que é que até você precisa... Desde quando eu voltei, desde aquele dia, você nunca mais me chamou pelo nome. Malar é a única que ainda me chama de princesa, e você... Era o único que ainda me chamava pelo nome. Nunca quis ser “Alteza”... O que eu sempre quis... O que eu quero...

Envolvi os dois braços até as suas costas, e apertei meu corpo contra o dele. Meus peitos contra o seu, e então beijei seu pescoço. E beijaria seu queixo, e então...

— Elear! — gritou, e me empurrou. Ele não empenhou força, mas o suficiente para me desequilibrar e fazer cair.

Me chamou pelo nome, afinal.

Enquanto o momento afundava em minha mente, enquanto meu corpo doía pela queda, enquanto o tempo passava, fiquei a observar suas pernas. A princípio, tremiam e mal o mantinham em pé. Era como se dentro das calças, sustentando seu corpo, tivessem umas duas varas prestes a se quebrar. Mas acabou se recompondo. Mais rápido do que eu pude pensar no que ele fez. No que eu fiz. Por fim, acabei por aceitar a mão que ele estendeu.

— Você está estranha. — disse ele quando me pus de pé. — ...Aconteceu algo?

Fingir-se de ignorante? É essa a sua saída? Se quer correr do problema, por que é que pergunta?

Isso é o tanto que se preocupa comigo? É essa a importância que tenho para você? Você realmente precisa fingir estar... Realmente... Não faz ideia de como isso... machuca...?

E eu estou estranha?! Eu?! Foi você quem... sem dizer nada, me abandonou...

Quantas vezes mais preciso ignorar a minha vontade? Quantas vezes mais preciso sacrificar meus desejos?!

Nem mesmo agora eu posso...

...

Pois jogarei esse jogo, essa farsa uma última vez, irmão.

— Os... — minha voz morreu, como se eu me esquecesse de como falar. Me virei, fui à escrivania e enquanto juntava os papéis, de costas para ele, fechei os olhos e respirei fundo. Ioreon era meramente filho de Omoron. Nada mais. Ambos crescemos, e cada um agora tinha seu dever, como tinha de ser e como sempre seria. Nada mudaria. Com os papéis em mãos, voltei-me e estendi-os para ele. — Os mestres estão esperando por você, correto?

Deitada na cama dela, ainda conseguia sentir seu cheiro. Nos lençóis e em seu travesseiro... Não faz sentido, faz? Já se passaram tantos anos.

Você... ainda está aqui?

Não sei o que fazer, Marea.

Nunca reclamei, não é? Sempre fiz o que tinha de fazer, e nunca pedi ajuda. Então, só dessa vez, você não podia...

— Só dessa vez... — disse as palavras, e os olhos se molharam. De novo.

Pisquei os olhos até secar as lágrimas. A cada vez, o quadro na parede voltava a ficar nítido e era mais fácil distinguir as estrelas ali pintadas. Nunca entendi o porquê daquela pintura. O céu do observatório era tão mais belo, e as imagens, tão mais... nítidas. E minha mãe fizera tantos outros quadros mais bonitos.

Por quê justo aquele?

Talvez não tivesse motivo algum. Também não adiantaria mais eu me perguntar sobre isso, adiantaria?

Sentei-me e olhei para o outro quadro. Um que Marea fez. Minha mãe criança, sentada em um banco de mármore, segurando uma das flores que enfeitavam o campo ao fundo.

Quem sabe eu não tivesse o meu quadro, se também ela ainda estivesse aqui? E se estivesse aqui, talvez até mesmo ela...

Não. Ninguém poderia fazer nada. Com os dias que se passaram, pude perceber. A escala disso... Nem mesmo Er poderia fazer algo. Não importa quantos anos se passem, eu nunca poderei...

...

...Bem, o culpado disso tudo tinha sido Er, então talvez ele pudesse ao menos carregar o peso. Estivesse ele vivo, este seria indubitavelmente seu dever.

Rolei para o outro lado da cama e me levantei, andando até a janela, que agora eu já alcançava sem saltar. Abri com um leve empurrão, deixando o ar entrar. Acariciou minhas mãos, braço, pescoço e face e o cabelo.

Mesmo daquela altura as bordas de Taelia estavam a quilômetros de distância da visão. Quantas vidas, só nessa cidade?

E toda essa responsabilidade...

— Não faça nada. — pedi, e encostei a base da cintura na janela. Me inclinei para fora, e mais, e soltei do chão meus pés, e me inclinei um pouco mais.

Meu cabelo não se movia. O ar parara como pedi. Era quase como se prendesse a respiração, embora ele talvez não entendesse muito disso. Conseguia ver os prédios, um mais alto que o outro, mas nenhum sequer chegava perto de ultrapassar a janela. Conseguia também ver as nuvens, também abaixo. Faziam um movimento quase imperceptível pelo céu.

“O topo do mundo” pensei. Logo me dei conta do pensamento e afastei-o. Também senti algo como nós na barriga. Poderia dizer que era por vergonha de mim mesma, mas muito provavelmente fosse algo como uma lembrança distante do perigo da minha posição. Medo, pelo menos, não era. Não disso.

Quantos segundos de queda? O ar não faria nada. Não era algo que entenderia, não enquanto tivesse tempo de fazer algo. Se caísse agora...

Se caísse agora, sentiria uma última vez o vento, e então chegaria ao chão e morreria. Seria livrada do peso, dessa injustiça, desse... absurdo. Dessa futilidade.

Vivesse ou morresse, lutasse ou fugisse, não faria diferença. Estivesse a minha mãe viva, estivesse Marea viva, estivesse até mesmo o Herói do Êxodo vivo, nada faria diferença. E esse enorme peso, esse imensurável encargo que é as vidas de todos, esse peso ridículo, injusto, esse maldito legado, isso também algum outro teria de carregar. E até mesmo Er poderia se queixar de injustiça, e ele estaria certo.

No final das contas, o resultado vai ser o mesmo, mas... Ainda preciso decidir... Lutar ou fugir. E nenhum outro teria o direito de falar qualquer coisa. Que eu lutasse, que eu fugisse, o máximo que qualquer um poderia fazer, se é que realmente tivesse que dizer algo, seria agradecer.

Ninguém pediria por essa droga de destino. Ninguém.

Mas alguém precisa escolher, e alguém precisa carregar o fardo, certo, Omoron?

Marea?

...

E Ioreon... Ioreon escolheu fugir. ...Talvez eu devesse ter sido menos... Não. Ele escolheria o mesmo, e... Devo respeitá-lo. Ele fez sua escolha. E eu, eu também, já escolhi há tempos.

...Não...

A escolha já tinha sido feita.

Minha opção sempre foi uma só.

Nunca realmente tive uma escolha, tive?

Pus os pés de volta ao chão, olhei pela última vez o quarto e saí.


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Notas finais do capítulo

Acho que romance (ou... quase...?) e introspecção de personagens provavelmente estão entre meus pontos mais fracos. Não sei se consegui passar com sucesso o que eu queria, mas é uma parte necessária para a história.



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