Crônicas de Sieghart escrita por xGabrielx


Capítulo 13
Colônia de Gosmas 13 — Fúria


Notas iniciais do capítulo

Última parte de "Colônia de Gosmas". Provavelmente vou dar uma pausa por um tempo para já ter a maioria dos detalhes do resto planejados ao começar a escrever.

Se possível, adoraria que comentasse se notou alguma diferença entre os primeiros e os últimos capítulos até agora. Eu tenho a impressão de que houve melhora na progressão e narração, mas não posso realmente confiar no meu julgamento, pois fui eu, afinal, quem escreveu a história.

Finalmente, tiver alguma crítica, eu adoraria ouvi-la!

Boa leitura!



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A sala era desnecessariamente grande.

Na parede oposta à da entrada de duas portas, estas, de tamanho comum, um gigante quadro segurava a pintura de um mar calmo com tempestades ao fundo. Abaixo, uma escrivaninha larga o suficiente para, com outra ao lado, cobrir atingir de uma parede a outra do cômodo se transpunha entre Laethelin e o homem que ouvia sua história, separando-os com o comprimento da altura de um homem comum. A única coisa depositada em sua superfície eram os braços daquele que escutava.

A cadeira em que Laethel sentava era extremamente macia. De tão confortável, o espadachim imaginou que poderia contar a história de sua vida, ouvir a de mais dezenas de pessoas e ainda assim não teria seus posteriores doloridos ao terminar. As partes de madeira estavam esculpidas com diversas formas de flores, e o homem poderia jurar que a fragrância doce de alguma planta realmente emanava do assento.

– O menino descreveu sua face como sanguinária. – disse o homem de cabelos pretos. Seu rosto anguloso não demonstrara emoção alguma durante toda a história.

Doze anos mais novo que Trilel. Isso, Laethel sabia. O que queria saber era como parecia tão jovem. O homem vestia um casaco azul com detalhes em amarelo que esbanjava ar de “realeza” e cobria duas camadas de camisas brancas, também provavelmente de algum tecido extremamente caro. Laethel, por sua vez, nem pudera trocar-se – ainda usava os trajes com que se dirigiu à Floresta Gosmenta mais cedo, embora agora estivesse sem a armadura no braço. Forçou um sorriso com o canto dos lábios:

– Eu não diria exatamente “sanguinário”... Excitado, talvez?

– Pela perspectiva de tirar suas vidas?

Sabia que a pergunta não era para ser respondida, mas desejou ter conseguido realmente pensar em alguma resposta. Ele estava certo. Sieghart tentou matá-los.

– Nós o contivemos. – argumentou Laethel, encarando aqueles olhos de verde translúcido como aquelas gosmas e levemente azulado perto das pupilas. “Nós o contivemos.” pensou novamente. Fizeram somente graças à sorte, mas fizeram.

Ficaram em silêncio por tempo suficiente para que o espadachim começasse a imaginar se o homem à sua frente esperava que ele dissesse mais algo, a despeito de já ter contado tudo que fora pedido.

Finalmente, com um pesado suspiro pelas narinas e recostando-se na cadeira, dispensou Laethel com um simples “Pode ir.”. Ele se levantou ao lado da cadeira, e, com um leve inclinar para frente como reverência, dirigiu-se em direção às portas.

O homem andava por um corredor mal iluminado, com tochas demasiadamente espaçadas umas das outras para permitir uma boa inspeção da maior parte do chão onde se pisava. Era espaçoso o suficiente para dois, ou até talvez três homens andarem lado a lado, embora no último caso a situação provavelmente se tornasse demasiadamente desconfortável. As paredes não demonstravam sinal de idade. Era recente a construção, e, para o crédito dos construtores, o local aparentava solidez suficiente para, em caso de necessidade, proteger aqueles que lá se abrigassem. Vez ou outra passava por portas hora à esquerda, hora à direita nas paredes.

Bem que os dias estavam calmos demais. Era como se os problemas tivessem acumulado pouco a pouco para então todos eles explodirem ao mesmo tempo. Não imaginaria que uma simples missão de repressão da colônia de gosmas poderia se transformar... naquilo. Dezenas de mortes, inimigos desconhecidos, o comportamento anômalo das gosmas e o fenômeno de “chuva” delas, a estranha falta de julgamento do Comandante Trilel, que frente à situação, deveria na hora ter recuado, e Sieghart Kriewalt.

Seu cabelo se confundia com a penumbra e escuridão que preenchia a região entre as tochas, mas a pouca luz do local era já suficiente para de seus olhos verdes fazer emanar a ilusão de que brilhassem. Atraídos pelo som de passos apressados que vinham de trás, viraram-se para encontrar um jovem de cabelo loiro. Reconhecendo sua presença, o homem continuou em seu caminho, acompanhado por seu assistente ao lado:

– Os Kriewalt responderam. – uma pausa. – Disseram para pararmos de desperdiçar o tempo de todos e sugeriram que o colocássemos para trabalhar junto dos faxineiros.

– Não esperaria menos. – escória do reino. Caem na graça da realeza e seus egos inflados fazem-nos esquecerem de seus lugares. O suficiente para abandonar o próprio sangue. – Não importa. Se tivessem alguma intenção de ajudar, ele estaria com eles, e não conosco.

Alguns segundos se passaram – o tempo exato para atravessarem a distância de uma tocha à outra.

– Imagino se não deveríamos realmente considerar a opção...

O comentário não era desprovido de méritos. Mesmo com cinco pessoas trabalhando em conjunto para imobilizá-lo, conseguira ferir profundamente dois deles poucos segundos. Se não tivessem a água-clara; se não tivesse sobrado aquela uma gota, teriam todos os cinco morrido.

– Ele é um Kriewalt. – disse o homem – Fazê-lo varrer o chão, isso sim, seria desperdiçar o tempo de todos.

– Acha mesmo que vale a pena o risco? Se no frasco de Trilel não tivesse sobrado água-clara... E parece ter sido indispensável o mago chamar atenção dele para que tivessem a possibilidade de imobilizá-lo.

Um sorriso surgiu em seu rosto. Gostava de ser lembrado que ainda existiam pessoas que discordariam dele e expressariam suas opiniões. Não era o mais prático, mas era infinitamente melhor do que estar rodeado daqueles vermes que concordam com tudo e o enchem de bajulações.

– Não estou aberto a sugestões dessa vez, Marco. – respondeu.

A caminhada continuou por uns dois minutos até que chegassem ao fim do corredor, com uma última porta na parede esquerda.

A sala a que a porta dava entrada não era muito grande, e, ao fundo, em uma cela, um jovem de cabelos pretos desarrumados olhava com ar de desespero as duas novas pessoas. Sua perna direita estava totalmente enfaixada – a grossura da camada em volta do membro era provavelmente suficiente para impedir qualquer movimento daquelas articulações.

– Eles estão bem? – perguntou Sieghart, agarrando-se às barras. – Ninguém me diz nada!

– Se fala daqueles que você feriu, eles sobreviverão. Não houve nenhum dano permanente.

Sieghart, ao ouvir a última frase, soltou as barras, relaxando os ombros tensionados e sentou-se no colchão ao lado. Ficou olhando para o chão até que o homem falasse:

– Sabe quem sou?

– Alguém importante. – disse, após percorrer seus olhos pela roupa que usava e o jovem ao lado.

– Sou Terre Arharen, Intendente Chefe do Reino de Canaban.

Por um momento, os olhos do jovem se expandiram em surpresa: reconhecia o nome. Então, suas sobrancelhas se contraíram. Levou alguns segundos para perguntar, após observá-lo.

– Quantos anos você tem?

– Mais do que aparento. – respondeu automaticamente. – Sabe por que estou aqui?

Sieghart ficou em silêncio, até que percebeu que Terre de fato esperava uma resposta.

– Vai me mandar para a prisão? – respondeu, com um sorriso sarcástico.

– Já está preso. E para isso eu não desperdiçaria meu tempo. Sabe a sua situação? Você entende a sua situação?

O Kriewalt, por um momento, exprimiu raiva me seu olhar ao homem, mas logo seu rosto ficou sem expressão. Com uma profunda respiração, falou:

– Não sou burro. Vocês me querem por causa do meu clã. Eles ajudam vocês, mas não estão sob o comando do exército. ... Quanto eu me alistei, aposto que vocês pularam de felicidade. Imagina só: poder mandar em alguém com o poder dos Kriewalt! – Sieghart se calou por algum tempo, e ergueu os ombros – Mas, que decepção, né? No final das contas eu não tenho servido de muita coisa.

– Acha que o recebemos de braços abertos? – Arharen saiu de perto da porta e avançou em direção ao prisioneiro. Marco continuou na entrada. – Ninguém o queria. Se mesmo seu clã já desistiu de você, por que é que esperaríamos ser diferente com o exército?

Terre estava a centímetros de Sieghart, os olhares de ambos separados pelas barras de metal e a diferença de altura entre o jovem sentado e o homem de pé. Era possível notar a confusão do Kriewalt, embora ele fizesse uma ótima demonstração de manutenção de compostura.

– Do quê você tá falando? Vocês me aceitaram na hora e já começaram a me mandar para os treinamentos! Nem precisei fazer aqueles testes que duram dias!

– Por que precisaríamos? Passar nos testes físicos é mínimo que esperaríamos de um Kriewalt. Ainda assim, quem quer segurar uma bomba que pode explodir a qualquer momento? Se dependesse dos outros, você nunca colocaria sequer um pé em nossos campos. – Terre podia ver no jovem a tensão de seus músculos. Mesmo com o obstáculo entre os dois, conseguia imaginar que estava preparando-se para saltar, seja em ataque ao inimigo à frente, ou para recuar – Eu sou a última pessoa com quem devia se preocupar, Sieghart Kriewalt. Se não fosse por mim, não estaria no exército. – de um dos bolsos de sua roupa, retirou uma folha de papel branco – E, depois de ontem, passaria o resto de seus dias nessa cela. – ao aproximar o papel da cela, a folha começou a emanar um brilho azul, que se apagou ao ser encostada na porta da cela. – Estou aqui para libertá-lo. – “Não faça eu me arrepender disso.” completou, ao abrir a porta metálica.

Sieghart andava pelo corredor com duas muletas debaixo dos braços. Tinha que fazer esforço para mover a perna direita, que não podia dobrar. Pelo menos, diferente do que esperava, não sentia impacto algum quando a encostava no chão. Viu a arqueira saindo do quarto. Ela não carregava nenhum equipamento e a roupa parecia ser a mesma do dia anterior. Sua memória após a batalha não estava boa, mas conseguia reconhecê-la.

– Como está sua perna?

– Bem. ...eu acho... Na verdade não consigo sentir nada, mas disseram que é normal.

– Espero que entenda. Não foi por...

– Obrigado por me parar. – o jovem imaginou se teria sido rude, mas ele já estava cansado. De qualquer modo, ele falava a verdade. – Sou eu que não devia ter perdido o controle. Mesmo que ficasse sem as minhas pernas, ainda seria grato.

A mulher, de braços apoiados um no outro, forçou um leve sorriso e seguiu para o caminho de onde o Kriewalt veio. “Ela também está exausta.” notou, ao observar seu rosto e movimentos.

Ao adentrar o cômodo, viu, primeiramente, Mer Ellot na cama. Estava deitado de costas, coberto até a barriga com lençol e tinha o tórax todo envolto em gaze. Sua cabeça descansava em um travesseiro bastante grande e, aparentemente, bem macio.

Perto de uma das paredes, uma mulher de uns trinta anos estava sentada de pernas cruzadas em um colchão, com a cabeça apoiada em uma mão, que, por vez, tinha o braço apoiado no joelho. Ela usava um vestido todo branco que cobria do pescoço aos cotovelos e calcanhares.

– Não sabe bater? – perguntou a mulher. – E o paciente precisa descansar.

– Só preciso de um minuto.

– Para se virar e ir embora? Não vai levar tudo isso. A porta está logo atrás de você, caso não tenha percebido.

Sieghart fez uma careta:

– E quem diabos é você?

– Uma médica. Estou cuidando do menino. E você? Vai sair logo daqui ou não?

– Você... – falou contra a mulher, mas então virou-se para Mer Ellot – Você tá tão mal assim? – e só então percebeu que ele poderia estar dormindo.

– Sim. – respondeu a médica, descruzando as pernas, mas mantendo a cabeça e o braço ainda apoiados – Se você não sair logo daqui ele vai morrer.

– Não precisa escutar ela. – a voz veio da direção da cama. Ele estava ainda com a cabeça virada para cima e, pelo tom de voz, estivera se divertindo com a situação. – Só está irritada porque não para de entrar gente aqui.

– Posso não poder fazer nada quanto a esses comandantes e gente pomposa da realeza, – a mulher levantou-se, esticando os braços – mas um aleijado eu posso botar para fora.

Aleijado?! Olha aqui, senhora, acho que não sabe...

– Sei muito bem quem você é. Quem acha que salvou essa sua perna?

O jovem congelou com um misto de raiva e surpresa. A médica foi elegante o suficiente para não rir da imagem cômica que se formou na face do jovem.

– Não tem problema. – disse o paciente – Eu não me incomodo com ele aqui.

– Não me interessa o que você pensa.

– Por favor. – pediu Sieghart. – Eu preciso me desculpar. Tudo isso... Tudo isso foi culpa minha, então...

– Olha que bom: ele já estava aqui para escutar. Agora pode ir indo.

O Kriewalt não moveu. Tentava fazer o máximo para não demonstrar súplica em suas feições. Por algum tempo ficou encarando a mulher à sua frente, até que, ela balançou o braço na direção do jovem. No momento seguinte, ele sentiu como se algo fisgasse sua perna direita por dentro e puxasse o interior em todas as direções possíveis. De algum ponto debaixo do joelho a dor começou a se alastrar em rápidas ondas para o pé, coxa e até a barriga. A força na perna que sustentava o corpo subitamente se esvaiu, fazendo-o se ajoelhar e então sentar no chão.

– O que foi isso? – perguntou o outro jovem ao ouvir o grito de Sieghart.

– Removi parte da anestesia. Se você sair agora eu aplico de novo.

As ondas pareciam chegar até a cabeça. Sua perna enfaixada agora fazia o corpo todo pulsar e doer. Sieghart estava com os cotovelos apoiados no chão e o mundo parecia balançar à sua volta. Até mesmo a ideia de cortar a perna lhe pareceu atraente – pelo menos se livraria daquela gigantesca fonte de dor. Colocando toda sua energia em manter consciência em meio à tontura, o máximo que conseguiu fazer foi balançar a cabeça para os lados em resposta negativa. Estava de olhos fechados, mas era melhor que a visão borrada e dançante que seus olhos forneciam. Diversas vezes pensou estar tombando para frente ou para trás, logo após se assegurando estar ainda sentado ao se lembrar dos braços dobrados e apoiados no chão.

No início não percebeu, mas a intensidade da dor passou a diminuir levemente. Ao abrir os olhos, viu a mulher de pé ao seu lado. Ela pareceu dar um suspiro:

– É gente burra como você que morre cedo. – e andou em direção ao sofá. Sieghart a seguiu com os olhos e continuou a olhá-la após ela ter se sentado. – Fala logo o que você tem de falar.

Encaixou as muletas e fez força com a perna boa para levantar-se. A dor ainda continuava, mas a súbita falta de força nem parecia ter ocorrido. Andou até o lado da cama e observou o jovem deitado. Lembrava-se de tê-lo golpeado no peito forte o suficiente para atirar seu corpo a alguns metros de distância. Seus cabelos azuis estavam desarrumados, e ele voltou os olhos para Sieghart por um momento, embora sem mover a cabeça. Quantas costelas quebrara? E os órgãos...?

– Desculpa, mas se eu tentar mexer a cabeça fica desconfortável... – disse Mer Ellot.

– Eu quase matei você.

– Pois é.

Sieghart esperou que ele falasse mais algo, nada mais veio da pessoa à cama.

– Você não quer algo de mim? Não quer que eu... faça algo? Em troca?

Alguns segundos se passaram, e então a resposta:

– Bom... a Linea e os outros pararam você, e parece que sua perna tá bem mal, então, no final das contas... não acha que estamos quites?

– ...quê?

– Você lembra depois que levou a flechada? Laethel e um outro te seguraram e um deles fez você beber água-clara. Do jeito que você começou a se contorcer, parecia que ia morrer também.

Um calor surgiu no interior de Sieghart. “Ele tá louco?!” pensou.

– Onde é que a gente tá quite?! Você tá aí... assim...! Podia ter morrido! Por minha causa! Grande coisa se eu morresse! Fui eu que... É a sua vida que... – parando a si mesmo, fez a pergunta – Você não tem raiva de mim?! – não se passou muito tempo; o mago não falara, mas não parecia estar prestes a admitir que “sim”, que tinha raiva. A médica ainda estava no lugar, escutando tudo. Provavelmente não guardaria a informação para si mesma, mas, “Que se dane” – Eu não lembro dos detalhes, mas... Eu... eu lembro que eu queria matar. ... Não só você... Todo mundo. Eu... sabia que ia me sentir bem. E eu queria... – fez uma respiração profunda – Naquele momento, eu quis tirar a sua vida.

O calor sumira, mas fora substituído pelo tremor. Estava suando frio – nunca admitira esse fato. Mesmo para si mesmo, tinha demorado a reconhecer. Todas as vezes, mesmo que sua lembrança dos acontecimentos não fosse clara, as emoções, as sensações, estas a memória guardava. Seus parentes chamavam isso de “fúria”. Um estado de melhora dos sentidos e sensação de euforia. Mesmo com os Kriewalt não ocorre normalmente, mas com treinamento, era possível a eles controlar seu início, duração e fim, mantendo a consciência durante todo o processo.

Muitos passam a vida toda sem entrar em fúria. Sieghart, no entanto, já tivera vários desses episódios, e nenhum dos métodos do clã pareceu surtir efeito algum para ajudá-lo a controlar. No final, descartaram-no como “caso perdido”, dizendo que tinha poder de mais e força mental de menos. Batalhas forneciam situações propícias para a fúria, de modo que os Cavaleiros Vermelhos nunca aceitariam Sieghart. Foi então que ele se voltou para Canaban em si, e seu Exército Real.

Mer Ellot finalmente falou:

– Dizem que no começo, algumas pessoas nasciam com uma enorme força dentro de si; amaldiçoadas. Não conseguiam controlar esse poder tão próximo ao dos deuses que elas carregavam. Elas traziam ruína e morte à sua volta, mas, deixadas sozinhas, um dia elas mesmo se destruiriam. Mas aí, em algum momento, em algum lugar, surgiram três sábias que falavam sobre como controlar esse poder. O conhecimento começou a se espalhar: todo mundo tinha dentro de si o potencial, só que alguns o tinham com mais força. Com o tempo, em vez de rejeitar, as pessoas passaram a aceitar e estudar esse poder que só causava destruição. Então aprenderam que poderia ser usado também para transformar, criar... – Ellot levou uma das mãos ao seu peito, em cima das faixas, e sorriu. – Curar. – ao tirar as mãos de cima de seu corpo e colocar novamente ao lado, na cama, completou – Não guardo rancor contra você.

Nenhum dos dois disse mais nada, e um bom tempo se passou até que a mulher quebrasse o silêncio:

– Pronto, Kriewalt. Agora saia e deixe-o descansar. – Sieghart levantou e começou a andar em direção à porta – E você, também, fique parado nos próximos dias. Pode não estar sentindo nada, mas sua perna não sarou nem um pouco. Continue se mexendo assim e a anestesia acaba antes que a pior dor passe.

– Ah! – exclamou o jovem na cama – Se você quiser, tem algo que pode fazer. Sabe a biblioteca no oeste da cidade? Tem uns livros que eu gostaria q...

Sem leitura. Quantas vezes tenho que repetir isso?

– Mas ele pode ler para mim!

– Você entendeu muito bem o que eu quis dizer. Ambos precisam descansar.

– Quais livros? – perguntou Sieghart, para quem a atenção da mulher então se voltou. Ela saltou para perto do jovem, o empurrou para além da porta, fazendo que ele caísse de costas e fechou a entrada para o quarto.

De trás da porta, ouviu o grito de Ellot dizendo para voltar no dia seguinte.

Embora fosse agora muito mais suportável, sua perna ainda doía. O ombro com que batera no chão estava dolorido e o assoalho duro e frio não era nem um pouco confortável.

O mago estava errado – sua fúria não poderia criar. Seu único uso possível era a destruição. Não estava certo sair desse jeito, impune. Mas, ainda assim, mesmo as coisas não sendo do modo que o mago disse, mesmo estando ele errado, as palavras que ouvira ajudaram a levantar do coração o enorme peso que sentia desde que acordara.

Em sua mente estava agora desculpar-se para o outro homem que ferira e, então, descobrir onde ficava essa biblioteca.


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